quinta-feira, 20 de novembro de 2008

“Bundalelê”

Mostrar o traseiro começou a tomar proporções pouco habituais. Quem diria que podia ser utilizado no decurso de um jogo de futebol? E parece que resulta! Num encontro entre o Catania e o Torino, no momento de marcar um livre, um jogador do Catania baixou os calções e mostrou a retaguarda ao guarda-redes. Foi uma fracção de segundo, mas chegou para o distrair e sofrer um golo! Não sei se o regulamento proíbe estas atitudes. Aqui está a vertente anti-desportiva de baixar os calções.
Mostrar o traseiro é habitualmente conotado como forma de protesto, de desrespeito ou de insulto. Lembram-se dos estudantes que, num ensaiado coro de testosterónicos glúteos, protestaram contra a então ministra da educação, Manuela Ferreira Leite? Quanto à diversão, são inúmeros os exemplos. Entre nós, um jovem de 16 anos mostrou as nádegas a soldados da GNR. Tramou-se. Foi condenado a realizar trabalho comunitário, três horas ao fim de semana no posto onde trabalham os militares. Já deve ter perdido a vontade de rir!
O “mooning”, ou seja, o “acto de mostrar as nádegas recorrendo ao abaixamento da roupa”, é praticado em muitas culturas como sinal de protesto, para chocar, para divertir e para desrespeitar. É praticado desde longa data. Quem viu o filme “Braveheart”, com Mel Gibson, deverá ter reparado na cena em que os soldados expuseram nobremente os seus traseiros aos ingleses que não deverão ter perdido o momento para praticar tiro ao alvo. Imagino o que terá acontecido aos que foram atingidos na “mouche”! Parece que para aquelas bandas era usual esta prática, já descrita quando os normandos queriam provocar os ingleses antes das batalhas. E, mesmo hoje, os antimonárquicos, na Inglaterra, gostam de ser provocadores ao ponto de arrearem as calças frente ao Palácio de Buckingham!
Do outro lado do oceano, no sul da Califórnia, numa pequena comunidade, é costume, no segundo sábado de Julho, os habitantes baixarem a roupa expondo os traseiros à passagem dos comboios! Enfim, trata-se da variante americana.
O “mooning”, que tem uma interessante tradução para o português do Brasil, “Bundalelê”, constitui um grave insulto punido em vários países. Resta saber qual a sua origem. Não sou antropólogo, mas é curioso verificar que, em várias espécies de macacos e símios, os machos subalternos colocam-se em posição de coito “passivo” diante do alfa. O respeitinho é muito bonito! E ainda vão mais longe, caso dos chimpanzés que reconhecem os membros do seu grupo pelo traseiro. Estes primatas constroem representações mentais de todo o corpo dos seus companheiros. Associam os rostos com as nádegas. Não sei se este achado não poderá explicar a expressão “cara de cu”!
Não sei a origem da frase “nasceu com o cu virado para a lua”, que é utilizada como sinal de sorte. Quem sabe se não é já uma forma muito precoce de “mooning”! São muito poucos os que nascem com sorte. Deste modo, os outros, os que se dedicam a expor os traseiros, poderão tentar simular um segundo nascimento, apaziguar os ânimos dos chefes, divertir os mais sisudos, distrair os mais incautos, fragilizar os inimigos e testar as capacidades de reconhecimento dos seus pares, no pressuposto de que consigam imitar os chimpanzés. É que “um chimpanzé nunca esquece uma bunda”!

1 comentário:

  1. Nesta questão do "mooning", tenho de confessar, o masculino não me incomoda mínimamente, já o feminino... aí não me contenho, não me contenho caríssimo amigo.
    Bom, relativamente à sorte, no seu conceito de felicidade, considero-me alguem que tem sido ao longo da vida bafejado por ela. Isto porque o acaso e tem dado a conhecer pessoas excepcionais que me têm honrado com a sua valiosa amizade.
    A exemplo disso, recebi hoje pelo correio uma surpreendente encomenda, vinda de norte, em forma de três volumes. Confesso que fiquei emocionado com esta manifestação de apreço e carinho. E saí, saí para o meu alpendre, inspirei uma profunda lufada do ar fresco desta noite e, olhando o firmamento, mormurei uma pequena prece em honra deste grande amigo.
    Estes gestos singelos, mas demonstrativos de uma imensa dimensão humana, só podem ser retribuidos, oferecendo o que de mais genuíno possa existir em nós, a nossa essência cósmica.
    :)

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