Presumo que em todas as épocas e regimes tenha havido a sensação de medo. Faz parte da vida das comunidades. Até aqui nada de novo. O pior é quando se transforma em epidemia. Então, abrem-se as portas da ameaça, que pode ser muito gravosa para a segurança e bem-estar dos cidadãos. Esta reflexão resulta da leitura da análise feita pelo semiológo russo Yuri Lotman.
Lotman, num artigo inédito, analisou como funcionam as epidemias do medo através do processo das caças às bruxas. De facto, houve desde a Idade Média processos que culminaram no esturricar de muitas pessoas, sobretudo mulheres, acusadas de feitiçaria. A caça, segundo alguns, teve, na sua base, além das superstições, o dedo da Igreja Católica e, também, dos protestantes. O que é curioso é o facto de o apogeu ter ocorrido entre os finais do século XV até meados do século XVII, precisamente durante a “Idade da Razão”. Um paradoxo. Como explicar que no momento de progresso científico e cultural, ocorra um fenómeno desta natureza ao ponto de originar o aparecimento de uma manual de diagnóstico para bruxas, o famoso Malleus Maleficarum? Esta obra, compilada e escrita por dois inquisidores dominicanos, acabou por ser colocada pela Igreja Católica no Index. Mesmo assim, continuou a vender-se como se tratasse de uma bíblia para acabar com a bruxaria. Um verdadeiro “martelo”!
Diz o semiólogo, a propósito dos processos contra as bruxas, que “não é a ameaça que cria o medo, mas sim o medo que cria a ameaça”.
As pessoas, através dos rumores, dos boatos, dos “bruás”, acabam por viver numa “nuvem de medo”. Os actos considerados normais, dentro da “nuvem”, passam a ser considerados como insensatos se ocorrerem fora das suas fronteiras.
O episódio da “Bruxas de Salém” ilustra, e bem, o “medo que cria a ameaça”. A escrava Tituba teve a má ideia de contar algumas histórias vudu a amigas, as quais ficaram com pesadelos. O médico foi chamado e concluiu que as raparigas deveriam estar embruxadas. Depois, foi o que se sabe. Acabou no julgamento de vinte mulheres declaradas culpadas de bruxaria e executadas.
O medo propagou-se à comunidade de forma epidémica abrindo as portas à ameaça da bruxaria culminada na execução de pessoas inocentes.
Hoje, sentimos na atmosfera medo, ou melhor, medos! São tantas as áreas, que dispenso comentá-las. São boatos, são “bruás”, são rumores, são notícias contraditórias, alimentados por máquinas poderosas que, de forma segura, vão tornando as pessoas cada vez mais intranquilas. A epidemia do medo é uma realidade que pode abrir a porta a ameaças inconfessáveis capazes de liquidar muitos cidadãos. Há muitas formas de liquidar as pessoas. Não é preciso assá-las ou passar à espada como aconteceu com a suíça Anna Goldi, a “última bruxa da Europa a ser executada”, basta ameaçá-las com os seus próprios medos...
Lotman, num artigo inédito, analisou como funcionam as epidemias do medo através do processo das caças às bruxas. De facto, houve desde a Idade Média processos que culminaram no esturricar de muitas pessoas, sobretudo mulheres, acusadas de feitiçaria. A caça, segundo alguns, teve, na sua base, além das superstições, o dedo da Igreja Católica e, também, dos protestantes. O que é curioso é o facto de o apogeu ter ocorrido entre os finais do século XV até meados do século XVII, precisamente durante a “Idade da Razão”. Um paradoxo. Como explicar que no momento de progresso científico e cultural, ocorra um fenómeno desta natureza ao ponto de originar o aparecimento de uma manual de diagnóstico para bruxas, o famoso Malleus Maleficarum? Esta obra, compilada e escrita por dois inquisidores dominicanos, acabou por ser colocada pela Igreja Católica no Index. Mesmo assim, continuou a vender-se como se tratasse de uma bíblia para acabar com a bruxaria. Um verdadeiro “martelo”!
Diz o semiólogo, a propósito dos processos contra as bruxas, que “não é a ameaça que cria o medo, mas sim o medo que cria a ameaça”.
As pessoas, através dos rumores, dos boatos, dos “bruás”, acabam por viver numa “nuvem de medo”. Os actos considerados normais, dentro da “nuvem”, passam a ser considerados como insensatos se ocorrerem fora das suas fronteiras.
O episódio da “Bruxas de Salém” ilustra, e bem, o “medo que cria a ameaça”. A escrava Tituba teve a má ideia de contar algumas histórias vudu a amigas, as quais ficaram com pesadelos. O médico foi chamado e concluiu que as raparigas deveriam estar embruxadas. Depois, foi o que se sabe. Acabou no julgamento de vinte mulheres declaradas culpadas de bruxaria e executadas.
O medo propagou-se à comunidade de forma epidémica abrindo as portas à ameaça da bruxaria culminada na execução de pessoas inocentes.
Hoje, sentimos na atmosfera medo, ou melhor, medos! São tantas as áreas, que dispenso comentá-las. São boatos, são “bruás”, são rumores, são notícias contraditórias, alimentados por máquinas poderosas que, de forma segura, vão tornando as pessoas cada vez mais intranquilas. A epidemia do medo é uma realidade que pode abrir a porta a ameaças inconfessáveis capazes de liquidar muitos cidadãos. Há muitas formas de liquidar as pessoas. Não é preciso assá-las ou passar à espada como aconteceu com a suíça Anna Goldi, a “última bruxa da Europa a ser executada”, basta ameaçá-las com os seus próprios medos...
Muito bem, é sempre bom recordar como é que se criam certos fenómenos e as suas consequências. Tanto mais que muitos julgam hoje que estamos a salvo deste tipo de mentalização, confiamos que a liberdade só tem uma face, a vísível, quando afinal ela pode manter as aparências e já não te a mesma firmeza nos seus alicerces. O medo é que faz ver as ameaças e as pessoas ameaçadas dispõe-se a aceitar que as defendam e protejam, mesmo à custa da sua própria liberdade.
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