domingo, 9 de novembro de 2008

O pecado da acção e a virtude da omissão

É muito nosso. Exige-se a expiação severa quando o pecado é na actuação, mesmo que seja objectivamente um pecadilho. Mas é-se extremamente complascente com a omissão.
A par de um latente ódio pelo êxito e pelo sucesso, esta é uma característica da nação: boa parte dos portugueses não valoriza a obra, em especial quando descobrem uma fraqueza do actor, por pequena que seja. A partir daí, esquecem-se as coisas boas que se realizaram, submersas pelo peso do deslize, sempre agigantado por uma opinião publicada insaciável no que a escândalos diz respeito.
Vejam-se os índices de popularidade dos ministros. Quem menos realiza, ou pelo menos aquele de quem menos se conhece a actuação, é invariavelmente o mais cotado.
Já não assim com a omissão.
Quando a inacção não é em si mesma valorizada (tantas vezes ouvi o conselho "fica quietinho que quem não faz não pode ser acusado de fazer mal..."), é tolerada e comumente desculpada.
Nos tempos que correm percebe-se que a omissão não perde a sua virtude mesmo quando é ela a responsável pelos pecados que se deixaram cometer, e pelos quais todos temos de pagar.

3 comentários:

  1. José Mário
    Lembro-me de há uns anos atrás em pleno verão estar num jantar de amigos e alguém ter "reparado" que estava tudo muito sossegado, não acontecia nada, que não havia notícias. Foi então que um dos meus amigos, respondendo à "provocação", interveio para explicar que o País ganha quando o governo vai de férias. É que estando ausente, a banhos e a sol, nada decide e não decidindo não estraga.
    Dizia o meu amigo que nas férias de verão, com a temperatura a subir, a popularidade também sobe. Com as sondagens também de férias não acontece mesmo nada e os portugueses agradecem!

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  2. É verdade,caro Ferreira de Almeida. Tantas vezes se vêem homens e mulheres dinâmicos, empresários, autarcas, políticos, funcionários, que actuaram, realizaram,concretizaram, que deixaram balanço positivo, mas foram vítimas de pecadilhos que ninguém politicamente correcto perdoa. Sãovotados ao ostracismo.
    E vê-se gente, calada, inactiva, coberta por detrás das instituições que não funcionam e causam prejuízos pela inacção, tratadas como verddeiros bonzos e com douta opinião sobre tudo.

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