Confesso que aprendi muitas coisas. O professor comunicava bem e utilizou uma linguagem perceptível para disléxicos de economia, que é o meu caso. Mas, a certa altura, fiquei um pouco confuso e ansioso. Ao falar de crises, das recessões, afirmou que já tínhamos sofrido muitas e que todas elas podem ser iguais ou podem ser diferentes, depende de alguns pontos de vista. Depois lá deu as explicações. Quando elencou as crises que já vivemos, pensei, porque razão, se são iguais, os “economistas” não as resolvem ou não as previnem? Ainda a propósito da actual crise, destacou que, sendo esta a quinta conferência realizada num espaço de um ano, tem modificado as suas opiniões. No ano passado estava mais pessimista do que hoje. Mas, mesmo hoje, disse, quando acordou de manhã, estava um pouco optimista, “economicamente falando”, só que à tarde, quando teve conhecimento de certas notícias, ficou mais apreensivo. Aqui comecei a fazer alguns diagnósticos que adiante pormenorizarei.
Adoro ouvir os políticos, os comentadores, os analistas, os economistas, e outros que tais, quando se lembram de usar metáforas médico-cirúrgicas, para melhor “explicarem” o que se passa!
Daniel Bessa, bom comunicador e académico respeitável, também gosta. Usou o exemplo de um doente que já entrou no bloco operatório, neste caso a “crise”, meio anestesiado, com um diagnóstico mais ou menos bem feito (!), com uma ideia do prognóstico (!), mas que, só depois de abrir, a tal “crise”, é que se podia ver a extensão e gravidade do problema. Exemplos destes são perceptíveis por qualquer um, já que temos grandes hipóteses de cair num bloco operatório. O problema é que nós, médicos, vulgarmente uns ignorantes em matéria de economia e de “economês”, divertimo-nos com estas metáforas.
Neste caso concreto, quase que me apeteceu dizer-lhe que há uns anos atrás, as laparotomias e as cirurgias exploratórias eram formas adequadas de conhecermos a realidade. Eu próprio tenho experiência desses tempos. No entanto, hoje, a medicina está muito desenvolvida e, graças às novas tecnologias, já não se abre o doente para saber a gravidade da situação. Posso até afirmar que as novas tecnologias pré-operatórias vão muito mais longe do que o simples tacto ou exploração visual utilizados no momento operatório. Afinal, eu pensava que a medicina era a últimas das disciplinas a ser cientificada, pelo menos é o que tenho transmitido aos alunos. A partir de agora, vou dizer-lhes que não é bem assim, existe uma outra área do conhecimento humano que está atrás da medicina em termos de “cientificação”, a economia! Além do mais, a velha expressão “de médico e de louco todos temos um pouco” deverá ser substituída por uma outra: “de economista e de louco todos temos um pouco”. Porquê? Por causa da “confabulação” dos economistas e das suas mudanças de humor, sugestivas de uma “doença bipolar economista”, de manhã eufóricos, à tarde deprimidos, tal como as bolsas!
Agora, com este arrazoado, estou tramado! Neste blogue estou acompanhado de economistas muito competentes que vão dizer: - Mas que bicho lhe mordeu para meter-se com os economistas? É médico! Não percebe nada de economia! Pois! Não sei se percebo ou não, o que sei é que os raios dos economistas estão a pôr-me cada vez mais louco!
Um dia destes ainda vou socorrer-me de metáforas economistas para explicar alguns conceitos médicos. Às sete horas estamos felizes, às sete e um quarto ficamos tristes, às sete e meia enchemo-nos de esperança, às oito menos um quarto ficamos novamente ansiosos, às oito afinal tudo vai resolver-se em bem, às oito e um quarto, só se sabe a gravidade depois de abrir o doente (às tantas já estão a fazer mas é a autópsia!) e às oito e meia a fome já não me deixa ver nem ouvir mais a crise! Mas ainda tive que esperar mais uma hora para saborear a sopita... É a crise!
Adoro ouvir os políticos, os comentadores, os analistas, os economistas, e outros que tais, quando se lembram de usar metáforas médico-cirúrgicas, para melhor “explicarem” o que se passa!
Daniel Bessa, bom comunicador e académico respeitável, também gosta. Usou o exemplo de um doente que já entrou no bloco operatório, neste caso a “crise”, meio anestesiado, com um diagnóstico mais ou menos bem feito (!), com uma ideia do prognóstico (!), mas que, só depois de abrir, a tal “crise”, é que se podia ver a extensão e gravidade do problema. Exemplos destes são perceptíveis por qualquer um, já que temos grandes hipóteses de cair num bloco operatório. O problema é que nós, médicos, vulgarmente uns ignorantes em matéria de economia e de “economês”, divertimo-nos com estas metáforas.
Neste caso concreto, quase que me apeteceu dizer-lhe que há uns anos atrás, as laparotomias e as cirurgias exploratórias eram formas adequadas de conhecermos a realidade. Eu próprio tenho experiência desses tempos. No entanto, hoje, a medicina está muito desenvolvida e, graças às novas tecnologias, já não se abre o doente para saber a gravidade da situação. Posso até afirmar que as novas tecnologias pré-operatórias vão muito mais longe do que o simples tacto ou exploração visual utilizados no momento operatório. Afinal, eu pensava que a medicina era a últimas das disciplinas a ser cientificada, pelo menos é o que tenho transmitido aos alunos. A partir de agora, vou dizer-lhes que não é bem assim, existe uma outra área do conhecimento humano que está atrás da medicina em termos de “cientificação”, a economia! Além do mais, a velha expressão “de médico e de louco todos temos um pouco” deverá ser substituída por uma outra: “de economista e de louco todos temos um pouco”. Porquê? Por causa da “confabulação” dos economistas e das suas mudanças de humor, sugestivas de uma “doença bipolar economista”, de manhã eufóricos, à tarde deprimidos, tal como as bolsas!
Agora, com este arrazoado, estou tramado! Neste blogue estou acompanhado de economistas muito competentes que vão dizer: - Mas que bicho lhe mordeu para meter-se com os economistas? É médico! Não percebe nada de economia! Pois! Não sei se percebo ou não, o que sei é que os raios dos economistas estão a pôr-me cada vez mais louco!
Um dia destes ainda vou socorrer-me de metáforas economistas para explicar alguns conceitos médicos. Às sete horas estamos felizes, às sete e um quarto ficamos tristes, às sete e meia enchemo-nos de esperança, às oito menos um quarto ficamos novamente ansiosos, às oito afinal tudo vai resolver-se em bem, às oito e um quarto, só se sabe a gravidade depois de abrir o doente (às tantas já estão a fazer mas é a autópsia!) e às oito e meia a fome já não me deixa ver nem ouvir mais a crise! Mas ainda tive que esperar mais uma hora para saborear a sopita... É a crise!
Um colega meu contou-me um dia destes que alguém já se deu ao trabalho de fazer o back testing das análises económicas e respectivas previsões. Ao que parece, foram analisadas 2000 previsões e o facto mais relevante foi que o desvio padrão das várias previsões era ridículo quando comparado com o desvio face à realidade observada, demonstrando o efeito de "manada" entre os vários analistas sobre um consistente fracasso das previsões.
ResponderEliminarFace a isto, prof, sugiro que evite usar linguagem de economista nos diagnósticos, senão encontra conjuntivites nos dedos dos pés.
Caro Senhor MFerrer
ResponderEliminarMuito obrigado pela informação. Não sei porque se deu a este trabalho e a este post! Por acaso já sabia dos 42,5%. Ouvi à noite na SIC Notícias às 24 horas.
Parece-me que está muito satisfeito e alegre com a notícia. Ainda bem, pelo menos ficamos a saber que há portugueses felizes.
Queria, no entanto, comentar o seguinte: Quando o povo quer ser governado por um partido temos que o respeitar. Nem mais nem menos! Em termos de eleições quero dizer-lhe que já fui a muitas e de diversos tipos, desde associações, na faculdade, na universidade, nas autarquias, para a assembleia da república, dentro do partido, eu sei lá que mais. Foram muitas. Perdi algumas e ganhei outras tantas. Quando perco não me sinto derrotado nem humilhado. Quando ganho não humilho nem revelo soberba, apenas quero dar o meu modesto contributo para a sociedade. O seu desejo “religioso”, “sobe PS, sobe”, não me incomoda minimamente, se quer que lhe diga. Mas quanto a subir espero que não seja “muito”. Sabe porquê? Imagine que um dia chega alto, muito alto, aí pelos 95%! Olhe que não seria uma coisa agradável, nem mesmo para os socialistas responsáveis que, felizmente, existem. Portanto, quando afirmar “sobe PS, sobe” é melhor dizer mas só até X%! Não muito!
Espero que o seu fervor se manifeste nas suas opiniões e em participações cívicas em prol de uma sociedade mais justa e solidária.
Já me esquecia! Parafrasenado Paracelso, "Tudo o que sobe, desce". Felizmente!
Com os meus mais respeitosos cumprimentos.
Massano Cardoso
Caro Professor:
ResponderEliminarEconomista sou, da microeconomia,da verdadeira economia que vai sustentando este país, lutando contra as as desgraçadas políticas macro que vêm tendo efeitos desvastadores.
Há uma certa diferença entre os economistas da micro e os especialistas da macro. Para os primeiros, existe uma realidade sobre a qual é preciso actuar, sem perder de vista o horizonte. Para os segundos, a realidade é virtual, trabalham sobre ficções, e são considerados tanto mais competentes quanto mais " cientificamente" explicam a razão pela qual a realidade se afastou, maldosamente, das previsões.
Dos micro economistas não reza a história. Muitos dos macro arriscam-se a ficar na história pela pior das razões: pela insistência em políticas económicas que servem o seu modelo de pensamento, mas não têm qualquer ligação às condições reais em que a economia se move.
Mas justiça seja feita, caro Professor: em diagnósticos e prognósticos económicos os economistas não têm exclusivo. Muitos outros especialistas de vários géneros são também autoridade na matéria. Aqui há dias, encontrei um ex- Ministro, engenheiro, que me disse, com grande ênfase, já ter passado a fase das engenharias e ter passado a um novo estádio, o de economista.
Como vê, oráculos nascem todos os dias!...
E eu que tenho andado aqui a cogitar sobre se devia ou não confessar no 4r as minhas perplexidades quanto aos economistas!! Afinal o meu caro Massano foi mais corajoso que eu!Subscrevo totalmente o seu post - com o devido respeito pelos ilustres republicanos que tantas e tão úteis vezes nos têm aqui ajudado a decifrar o "economês" das notícias e da política - mas não há dúvida que era melhor não exporem tanto as previsões e anunciarem só as decisões e os seus fundamentos. Quanto a estes últimos, há que reconhecer que se situam cada vez mais atrás da bola de cristal!
ResponderEliminarCaro Sr. Ferrer,
ResponderEliminarÉ errado para um apoiante do PS fazer um comentário como seu. Cria expectativas demasiado elevadas e depois quem fica desapontado é você!
Em 2002, o PS obteve 45.05% e o PSD 28.70%. Decerto recorda-se que o primeiro ministro da época foi cilindrado e humilhado sendo depois demitido, e avaliado pelos portugueses. Dificilmente o PS estará em condições semelhantes em 2009.
Caro Massana Cardoso,
VPV também verteu o seu fel sobre este assunto:
"Um novo paradigma económico?
05.12.2008, Vasco Pulido Valente
A crise financeira, a recessão mundial e a reacção imediata de alguns governos do Ocidente provocaram o anúncio do fim do capitalismo, da inevitável emergência de um "novo paradigma económico" e, estranhamente, de comparações com a crise de 1929. Convém, primeiro, dispor destes disparates, para tentar perceber o resto. O capitalismo, como sistema, continua bem e agradece o cuidado. Meia dúzia de nacionalizações (como, aliás, sempre houve) e a chamada "recapitalização" dos bancos não fazem um "novo paradigma". E a crise de hoje nada tem a ver com a crise de 1929, quando só existiam quatro países, por assim dizer, "industrializados" (a Inglaterra, a Alemanha, a América e a Bélgica) e quando a França, a Itália e o Japão eram ainda sociedades "semi-
-industrializadas".
Mas claro que as teorias básicas do que se convencionou chamar "neoliberalismo" aparentemente faliram. Cinco professores de Economia, por exemplo, publicaram um artigo neste jornal para declarar que a crise é também "um colapso" da teoria e afirmar, como se fosse uma descoberta, que "o económico não é uma esfera autonomizável do institucional, do político, do social, do psicológico" e até do "histórico". Infelizmente, esses cinco missionários não percebem, ou não confessam, que a essência do problema não está nesta ou naquela teoria; está no facto, para eles sem dúvida desagradável, de a economia não ser, por nenhum critério, uma "ciência". Se o fosse, não haveria agora crise (ou haveria uma crise com um remédio prescrito e infalível) e, como Keynes, num momento místico profetizou, talvez mesmo já não houvesse "subdesenvolvimento" e pobreza.
Os cinco (João Ferreira do Amaral e companheiros) pensam, com imensa virtude, que o "neoliberalismo" é "profundamente insensível à realidade" e que vive de "abstracções" sem prova empírica e "deduções lógico-
-matemáticas". Não lhes passa pela cabeça que toda a economia é profundamente insensível à realidade e vive de abstracções sem prova empírica e deduções lógico-matemáticas. De que vivem eles próprios? Propõem por acaso um modelo que não "autonomize o institucional, o político, o social, o psicológico"? Não propõem. O "novo paradigma" de que por aí se fala fica invariavelmente por uma crítica furibunda e genérica ao "neoliberalismo". E porquê? Porque o institucional, o político, o social e o psicológico" não são quantificáveis. Não custa constatar a sua ausência na teoria, como imensa gente há imenso tempo constatou. O resto é que é difícil. "
Cumprimentos,
Paulo