sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

“Que liberdade há em Portugal?”

Já há algum tempo que se vem comentando à boca cheia que existe um ambiente de medo e de cerceamento das liberdades. Quanto ao primeiro, já tive oportunidade de falar, escrevendo um pequeno texto, intitulado “epidemia do medo”, no qual, o medo, fruto de várias circunstâncias, às vezes até de coisas aparentemente benignas, acaba por se transformar em fonte de perigosas ameaças entre as quais se destaca a limitação da liberdade. O silêncio passa a ser uma regra preciosa.
Fiquei a saber que o empresário Belmiro de Azevedo “se queixa das dificuldades de discordar do Governo”! Se for verdade, então as coisas não devem andar muito bem.
No Parlamento, esta semana, através da televisão, ouvi o deputado do PSD, Pedro Duarte, a denunciar a existência de movimentos “socialistas” destinados a intimidar os professores! No final, o senhor Ministro dos Assuntos Parlamentares, em defesa da Ministra da Educação, fez o seu papel político, - que gosta de fazer -, atacando a líder do PSD a propósito da “suspensão da democracia”, dando a entender precisamente o contrário, ou seja, que não há ninguém melhor do que os socialistas para defender a democracia.
Pessoalmente estou convicto de que não há quaisquer orientações superiores para provocar medo a nível dos cidadãos. Seria mesmo terrível e perigoso se tal ocorresse. Mas, já acredito que, cá por baixo, alguns “zelosos” devotos tenham tendência para executar tarefas, eticamente condenáveis, por “iniciativa própria”. De qualquer modo, não deixa de ser preocupante, porque uma atmosfera de medo vai levar a situações propícias ao surgimento de ameaças às liberdades. Penso que tem que haver coragem para denunciar esses casos.
Lembro-me de, em 2004, ter lido o livro de José Gil, “O Medo de Existir”. Um livro interessante que tenho que reler. Nessa obra, Gil afirma que “Os portugueses não sabem falar uns com os outros, nem dialogar, nem debater, nem conversar. Duas razões concorrem para que tal aconteça: o movimento saltitante com que passam de um assunto a outro e a incapacidade de ouvir”.
O medo, não é novo, vem dos tempos da ditadura, e impede que se assuma a liberdade plena. E quando passamos a não dizer o que pensamos...

4 comentários:

  1. ÚLTIMA HORA:
    COMUNICADO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
    21:00h, 5 de Dezembro de 2008

    1 – Chegou hoje ao fim o processo de negociação das medidas tomadas pelo Governo no dia 20 de Novembro para facilitar a avaliação do desempenho dos professores.
    2 – Os sindicatos, neste processo, não apresentaram qualquer alternativa ou pedido de negociação suplementar, pelo que o ME dá por concluídas as negociações, prosseguindo a aprovação dos respectivos instrumentos legais.
    3 – O ME, mantendo a abertura de sempre, respondeu positivamente à vontade dos sindicatos, expressa publicamente, de realização de uma reunião sem pré-condições, isto é, sem exigência de suspensão da avaliação até aqui colocada pelos sindicatos. Foi por isso agendada uma reunião para o dia 15 de Dezembro, com agenda aberta.
    4 – Os sindicatos foram informados que o ME não suspenderá a avaliação de desempenho que prossegue em todas as escolas nos termos em que tem vindo a ser desenvolvida.

    Mário Nogueira, dadas as suas declarações nos telejornais d ehoje à noite, é um mentiroso compulsivo e não pode ser um parceiro fiável para nada!
    MFerrer

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  2. Só me faltava ter que aturar "Cucos"! O MFerrer adoptou um estratégia. Vai a diferentes blogs e nos comentários publicita os seus comunicados.
    Um verdadeiro "cucoblog". Será porque o seu blog está com alguma dificuldade ou quer aproveitar-se dos outros?
    Realmente Gil tinha razão quando disse: “Os portugueses não sabem falar uns com os outros, nem dialogar, nem debater, nem conversar. Duas razões concorrem para que tal aconteça: o movimento saltitante com que passam de um assunto a outro e a incapacidade de ouvir”.
    O MFerrer anda a saltitar de um lado para outro. Oh homem de Deus (apesar de auto-intitular ateu), acalme-se! Tome um ansiolítico qualquer ou um chá de tília!

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  3. “(...) Pessoalmente estou convicto de que não há quaisquer orientações superiores para provocar medo a nível dos cidadãos. Seria mesmo terrível e perigoso se tal ocorresse. Mas, já acredito que, cá por baixo, alguns “zelosos” devotos tenham tendência para executar tarefas, eticamente condenáveis, por “iniciativa própria”. De qualquer modo, não deixa de ser preocupante, porque uma atmosfera de medo vai levar a situações propícias ao surgimento de ameaças às liberdades. Penso que tem que haver coragem para denunciar esses casos”

    Caro Professor Massano Cardoso:

    No entanto, este medo que “alguns zelosos” de forma sub-reptícia e sempre escudados nos habituais despachos “concordo”, exarados sem terem em conta o “elemento humano”, em primeiro lugar, acabam por permitir e até incentivar os tais zelosos a domesticarem pelo medo iniciativas individuais. Aos que se atrevem a estrebuchar é-lhes dito, de forma descarada, que não vale a pena, que é tempo perdido, que ninguém os vais ouvir…
    Até podem ser atitudes pontuais tomadas por gente cá debaixo, mas afigura-se-me que são cada vez mais...

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  4. Caríssimo Senhor Professor, compreendo muitíssmo bem o espírito do texto que publica. São cada dia mais evidente as manifestações individuais e sociais desse medo que vai alastrando e ao qual muitas vezes não se consegue identificar a origem. A mim parece-me que tem uma ligação muito directa com a desmoralização que as medidas adoptadas pelo nosso governo, têm gerado na população em geral. As aberrâncias que a todo o momento surgem, envoltas num clima de absoluta incerteza e até, de promessa de que num futuro próximo poderemos esperar pior, causam em todos um desânimo crescente. Por certo que na sua vida de médico já teve oportunidade de testemunhar o "fenómeno". Casos de doentes que lhe chegaram sem esperança, a quem ja fora traçado um quadro clínico preocupante, com complicações de difíceis ou poucas ou nenhumas hipoteses de tratamento. Contudo, se o médico lhes apontou possíveis soluções, se traçou um plano concreto de tratamento, em suma, se conseguiu incutir no doente, a esperança da cura, consegue no mínimo predispô-lo a enfrentar a doença e a colaborar nos tratamentos, aumentando desse modo as probabilidades de êxito. Se ao contrário o médico, um dia apontar um tratamento, no dia seguinte, outro diferente e no 3º dia acusar o doente de falta de colaboração e decidir opera-lo, não tenhamos dúvida que o doente falecerá antes de que o coração pare de funcionar.

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