sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O desafio da travessia...


Portugal continua a ter uma economia extremamente vulnerável porque não foi capaz de criar um tecido empresarial competitivo e de fazer as reformas necessárias para dotar o contexto económico e social de condições que facilitem o investimento. Se aos investidores e empresários lhes compete investir, correr riscos e gerir os negócios, ao Estado compete reformar a justiça e a educação e mudar a organização e o funcionamento da administração pública, só para citar algumas das áreas vitais para melhorar a competitividade.
Os diagnósticos estão feitos, bastando, para tal, olhar para a evolução dos pesos da despesa pública no PIB e do Estado na economia, do peso da carga fiscal, dos níveis do endividamento externo e das famílias, dos níveis de poupança da economia e das desigualdades sociais, apenas para mencionar alguns indicadores.
Atingidos pela crise internacional sofremos agora duplamente pelas fragilidades da nossa economia e pela falta de “reservas” financeiras que tanta falta fazem em tempos de “vacas magras”. Com este pano de fundo, o aumento do desemprego deve ser levado muito a sério (dados do IEFP vindos hoje a público revelam que se inscreveram, em média, de Setembro a Novembro 63.700 pessoas por mês, o que representa um crescimento homólogo de 19,7%, o maior desde Abril de 2003) não só pelo seu dramático impacto na deterioração das condições de vida dos portugueses atingidos e nos níveis de pobreza e de exclusão social, afectando uma parte importante da população, mas também porque retira à actividade económica capacidade produtiva que em tempo de crise se revela necessária para a retoma.
Para além das preocupações conjunturais que temos que ser capazes de ultrapassar, mantêm-se os problemas estruturais que o País precisa de resolver. Estes há muito que existem sem que tenhamos sido capazes de os arrumar. Por isso, as condições de partida para enfrentarmos a crise internacional são muito difíceis, pelo que me questiono como é que vamos resistir. Resistir já seria um bom resultado, se pensarmos que nos convinha que as condições de chegada fossem pelo menos iguais às condições de partida! É uma meta pouco ambiciosa? Talvez, mas poderá ser bem pior!

7 comentários:

  1. Diz aqui - http://downloads.officeshare.pt/expressoonline/PDF/1CAD_020109.pdf - que o património Unesco em Portugal se encontra em ruína.

    Não seria a recuperação (conservação) deste património de valor incálculável, uma fonte de emprego ?

    Um abraço e Bom 2009

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  2. Cara Drª Margarida Corrêa de Aguiar, Portugal sempre teve uma economia extremamente vulnerável, não é um problema de hoje, nem de ontem, é de sempre e tem a ver directamente com vários aspectos: Solos pobres, terrenos acidentados, mão de obra escassa, falta de visão e tacanhez na forma de administrar a força braçal e os recursos, egoísmo e cobiça desmesurados. Mais recentemente, completo desaproveitamento dos fundos para o desenvolvimento quer da agricultura, como das indústrias. Desde a fundação do reino,que o êxodo rural constituiu precupação de vários reis. Lembro-me que no reinado de D. Fernando, em 1375, foi promulgada em Santarem a lei das Sesmarias. Esta lei, visava fundamentalmente "obrigar" os trabalhadores do campo a fixarem-se às terras.
    Fundamental é tambem percebermos as características do nosso povo. Aquilo que é a nossa característica mais vincada, não tem a ver directamente com métudo, com organização, com planeamento. Somos um povo com características de aventureiro, de descobridor, de conquistador de missionário. Gostamos de construir onde não ha, a nossa aptência é para arriscar, para desafiar e no fim... depois de arrumarmos as botas, sentados à lareira, com a malga do caldo sobre os joelhos, recordar melancólicamente os feitos alcançados, como naturalmente inevitáveis.
    Somos assim, tal e qual como o escorpião que ferrou a lambeira da rã que acabara de o transportar para a margem de lá do ribeiro.
    Dito isto... transcrevo em seguida aquele poema de Ary de Los Santos:
    "Poeta Castrado...Non"
    (não quis castrar o poema, por isso deixei ficar "poeta" em lugar de "povo")
    Serei tudo o que disserem
    por inveja ou negação:
    cabeçudo dromedário
    fogueira de exibição
    teorema corolário
    poema de mão em mão
    lãzudo publicitário
    malabarista cabrão.
    Serei tudo o que disserem:
    Poeta castrado não!

    Os que entendem como eu
    as linhas com que me escrevo
    reconhecem o que é meu
    em tudo quanto lhes devo:
    ternura como já disse
    sempre que faço um poema;
    saudade que se partisse
    me alagaria de pena;
    e também uma alegria
    uma coragem serena
    em renegar a poesia
    quando ela nos envenena.

    Os que entendem como eu
    a força que tem um verso
    reconhecem o que é seu
    quando lhes mostro o reverso:

    Da fome já não se fala
    - é tão vulgar que nos cansa -
    mas que dizer de uma bala
    num esqueleto de criança?

    Do frio não reza a história
    - a morte é branda e letal -
    mas que dizer da memória
    de uma bomba de napalm?

    E o resto que pode ser
    o poema dia a dia?
    - Um bisturi a crescer
    nas coxas de uma judia;
    um filho que vai nascer
    parido por asfixia?!
    - Ah não me venham dizer
    que é fonética a poesia!

    Serei tudo o que disserem
    por temor ou negação:
    Demagogo mau profeta
    falso médico ladrão
    prostituta proxeneta
    espoleta televisão.
    Serei tudo o que disserem:
    Poeta castrado não!

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  3. Cara Pézinhos n' Areia
    Agradeço e retribuo os votos de um Bom Ano.
    Obrigada pela sua chamada de atenção. Sempre atenta e oportuna, Cara Pézinhos n' Areia!
    Li há pouco o alerta deixado pelo Expresso. Nem o património classificado escapa à falta de vontade de empreendermos uma política de defesa intransigente do património histórico. Ao permitirmos a sua degradação estamos a destruir a nossa própria identidade nacional que tanta falta faz. A preservação do património histórico não é apenas uma questão cultural, é também uma questão de desenvolvimento, na medida em que em torno dessa actividade, a montante e a jusante, impulsionam-se diversas actividades económicas susceptíveis de criar riqueza e de proporcionarem qualidade de vida e bem estar às populações das localidades onde está inserido. O turismo regional beneficiaria muitíssimo e a oferta turística ganharia novos públicos e novas possibilidades.
    Mas não, continuamos a construir betão, esquecendo que a educação e a cultura são valores muito importantes na indução do desenvolvimento, não apenas económico, mas social e humano. A falta de sensibilidade é assustadora. Não é uma questão de dinheiro. Quem viaja por essa Europa fora sabe bem como as coisas poderiam ter outro rumo.

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  4. Caro Bartolomeu
    Triste fado o nosso, não é?
    Mas, Caro Bartolomeu, essa de "Gostamos de construir onde não ha, a nossa aptência é para arriscar, para desafiar" é que me deixa surpresa! E de botas arrumadas estamos nós há muito tempo! E depois não poderia estar mais de acordo com "sentados à lareira, com a malga do caldo sobre os joelhos, recordar melancólicamente os feitos alcançados, como naturalmente inevitáveis". Só que estamos mesmo embriagados! Ou então é do calor! É que de feitos alcançados já só reza a história. Ultimamente não me lembro de nada digno de extraordinário!
    Mas, Caro Bartolomeu, há países bem mais acidentados do que o nosso, com climas adversos, sem mar, sem praias e sem sol, que também gostam de estar à lareira, mas que sabem que só trabalhando podem viver bem e progredir! Trabalhando de forma organizada e orquestrada, todos virados para os mesmos objectivos...

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  5. É verdade, cara Margarida, ha efectivamente países mais acidentados que o nosso, habitados por pessoas mais organizadas e ordenadas, mas... não estão cobertos pelas asas do "Espírito Santo", como o nosso.
    Assim, resta-nos um destino para cumprir, uma rota sem rumo definido à partida, mas inscrita no íntimo do sonho de cada um de nós.
    ;)

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  6. Cara Margarida
    O seu texto refere-se a matéria altamente rodada no momento actual,só que está apresentado de uma forma subtil, possuindo por isso especial interesse, por verdadeiro e correcto nas perspectivas que aborda.
    Por mim sempre direi que o que mais me admira e me aterra decisivamente, destruindo qualquer hipótese de melhorias a meu ver, seja qual for o prazo considerado, é a irresponsabilidade demonstrada pelo inefável Sr. Ministro Santos, quando há poucos meses atrás, dizia e apregoava alto e em bom som, que o estado da nossa economia estava de forma a enfrentarmos com êxito a conjuntura fortemente negativa que se aproximava a breve trecho. E quantos aos bancos, não se pode esquecer que sua excelência dizia também pela mesma altura, quando a crise finanaceira se
    avolumava, decorrente toda ela da crise económica, que a nossa banca eram instituiçõies robustas e preparadas para o que desse e viesse. Viu-se. Irra que é demais!

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  7. Caro antoniodosanzóis
    Enquanto não formos capazes de criar uma economia competitiva nunca estaremos preparados para enfrentar as crises. É claro que as enfrentamos, não temos outro remédio pois existimos, mas o problema é o preço a pagar, comprometendo ainda mais o esforço, já de si muito difícil, que precisamos de fazer.

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