O senhor Presidente da República dirigiu-se aos portugueses na habitual mensagem de ano novo. Duas notas, a propósito.
A primeira para constatar que são cada vez mais raros os políticos cujas palavras ecoam, independentemente da substância do discurso. O Professor Cavaco Silva é um desses. É sempre com enorme expectativa que as suas intervenções são aguardadas, as suas palavras são escrutinadas e comentadas como uma intensidade ímpar. Basta ler a imprensa hoje publicada e as ondas de opinião espalhadas pela blogosfera.
Não deixa de ser significativa (sobretudo para mim que nunca acreditei num grande protagonismo do PR nesta conjuntura de maioria parlamentar absoluta) esta atenção polarizada em quem, sem poderes de acção legislativa ou governativa, parece ser ouvido e olhado como o grande referencial de estabilidade e de esperança.
Segunda nota, esta sobre as interpretações que as principais forças políticas fizeram do discurso presidencial. Ontem, logo após a mensagem de ano novo, o PS, por intermédio do seu porta voz, tinha na ponta da língua o comentário à pergunta que já sabia ser fatal como o destino: que não senhor, que a mensagem não era dirigida contra o governo.
Os outros partidos, procuraram ver na mensagem o que ela continha de censura à acção da maioria.
Fica-me a ideia de que, fosse radicalmente distinto o sentido da mensagem presidencial e as reacções partidárias seriam exactamente as que foram...
Porque é que as mensagens do PR são sempre comentadas e interpretadas no pressuposto de que têm de ser contra ou a favor do governo? Se percebo que este dualismo interesse aos media, aos comentadores e analistas encartados que vivem do conflito permanente, pergunto-me se interessará aos partidos, em especial num caso em que na mensagem se apelava precisamente ao abandono de querelas inúteis e conflitos desnecessários entre os agentes políticos, e a um esforço comum quanto ao essencial para vencer a crise.
Mais uma vez os partidos revelam não ter ouvido, e não ouvindo, não ter ponderado. Preferirão, talvez, continuar a subordinar-se ao tacticismo. Autismo! É deste autismo que há que ter medo. Muito medo...
Pareceu-me caro Dr. José Mário Ferreira de Almeida, que no seu discurso, o Sr. Presidente da República, fez questão de se dirigir tanto aos políticos como aos tecnocratas.
ResponderEliminarPareceu-me ainda que o Sr. Presidente da República, dirigiu as suas palavras, inclusivamente ao PSD, aconselhando a que terminem as lutas internas pelo poder e se operem a concertação e a conjugação de esforços num sentido muito definido, o do fortalecimento do partido com vista ao estabelecimento de uma cooperação saudável, consciente e responsável.
Não restou espaço no discurso do Sr. Presidente da República, para a comunicação social, introduzir outro conceito que não seja aquele que que define a actuação de Cavaco Silva, garantir que a democracia seja respeitada e mantida em Portugal.
É verdade, José Mário, as palavras do Senhor Presidente da República foram "bem" ouvidas, lidas, comentadas, interpretadas e analisadas uma a uma. Não foi (não é) por acaso. Se as palavras foram ou não escutadas é que não sei. Veremos!
ResponderEliminarNotei que os partidos políticos, julgo que com excepção do PCP que não se pronunciou, manifestaram a mesma reacção. Não estranhei. É que a "verdade" de que o Senhor Presidente da República falou é bem verdade. Uns por umas razões, outros por outras razões - com hipocrisia talvez sim ou talvez não - falaram dela, cada qual à sua maneira mas não a negaram.
Estou desapontado com Cavaco Silva. Precisamos duma revolução, não de 6 meses de ditadura, sim de 6 meses de revolução, como em 1974 e 1975. Precisamos que o Presidente demita o Governo, é preciso que o Poder caia na rua por alguns meses, para que os capitalistas tomem juízo, tal como aconteceu em 1975. Urge demitir o Governo, urge correr, a pontapé se necessário, os deputados (e os deputedo) que não põem os pés na Assembleia da República (das bananas)ou, quando lá vão é para tratarem dos seus negócios. Urge que os deputados cumpram o seu dever a tempo inteiro. A favor da revolta popular, contra o Governo, a generalidade dos políticos e dos grandes capitalistas. Depois da "limpeza" a construção dum sociedade humanista, onde os ideais comunistas e capitalistas não passem disso mesmo, de IDEAIS.
ResponderEliminarCavaco é uma desilusão.
Meu caro Bartolomeu, estou de acordo com a sua interpretação.
ResponderEliminarQuanto à comunicação social, atento o registo permanente, não era de esperar outra coisa.
Margarida, não a negaram, é certo, mas foi para todos irresistível responder á unica questão que interessa aos media: a quem é que o PR quer atingir? Reduzir a isto a mensagem do PR é uma tristeza.
Meu caro Carlos Silva, com tanto radicalismo da sua parte, é natural esse desapontamento com o PR. Revoluções, meu caro, nunca se pagaram barato. Salvo quando o preço da situação é demasiado alto. A democracia, essa tem soluções apesar dos seus defeitos e fragilidades. Não haja medo da mudança, e ela acontecerá. Não decaiamos no conformismo e as coisas podem ser diferentes amanhã.
Caro JMFA,
ResponderEliminar" independentemente da substância do discurso" é a expressão correcta ...
A mudança acontecerá se e quando os cidadãos e eleitores quiserem. Socialmente. Institucionalmente. Democraticamente.
ResponderEliminarCaro Tonibler, essa foi metida ali para que o meu Amigo não faltasse com o seu comentário ;)
ResponderEliminarCaro Núncio, é de facto nas mãos das pessoas comuns que reside o poder de confirmar a situação, ou iniciar uma mudança. Por muito dificil que sintamos que é o periodo que vivemos, não é legítima qualquer outra actuação que não seja a que deriva da vontade popular expressa nos termos e pelas formas constitucionais. Até porque essas dificuldades não significam qualquer ruptura da normalidade do funcionamento das instituições democráticas.
Para mudar, bastará que, sem medos - e reconhecendo a consistência das alternativas - os eleitores se expressem nesse sentido.