segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Um Governo sempre atrasado e a reboque dos acontecimentos

Quando o Governo apresentou o Orçamento do Estado para 2009 (OE’2009), em 15 de Outubro último, todos os números nele contidos estavam já absolutamente desfasados da realidade.

Teimosamente, o Executivo teimou em não rever o que quer que fosse do OE’2009… até à passada sexta-feira, dia em que apresentou o chamado “Orçamento Suplementar” – que mais não é do que um Orçamento Rectificativo… Bem, na verdade, devia era ser o Orçamento do Estado para 2009 (assim mesmo, sem outros qualificativos), porque o divulgado em Outubro mais não era do que um exercício de ficção pura. Só que, mesmo na passada sexta-feira, quando os números deste OE’2009 foram conhecidos, logo se percebeu que a lição de Outubro não tinha sido aprendida – e que estávamos, mais uma vez, perante uma obra de pura fantasia. Vejamos, recorrendo a dois simples exemplos: crescimento económico e desemprego.

Agora, o Governo estima que, em 2009, a economia decresça 0.8%, devendo o crescimento ser retomado em 2010 (0.5%). Mas, como é sabido, já desde 2000 que o nosso país não cresce acima da média da União Europeia (EU-27). E, para 2009, são os próprios Governos espanhol e alemão que estimam que as respectivas economia decresçam 1.6% e entre 2% e 2.5%, respectivamente… Ora, tratando-se dos dois principais parceiros comerciais de Portugal (para onde se dirigem mais de 40% das nossas exportações…), como se explica que o nosso país vá crescer, de acordo com o Governo, (bem) acima destes números?... Pelas condições internas não será, dadas as debilidades estruturais conhecidas… E, portanto, a explicação deve ser semelhante à das projecções de Outubro, em que, embora com outros números, também já se admitia que a convergência fosse retomada… ou seja, com muita vontade e fantasia – e nenhum realismo. Bem mais realistas parecem-me ser as projecções da Comissão Europeia (-1.6%) e do The Economist (-2%), entretanto conhecidas…

Já para 2010, o Governo “deseja” que o crescimento volte a território positivo (0.5%) e seja mesmo superior a 1% em 2011… um verdadeiro wishful thinking: a Comissão Europeia e o The Economist estimam que continuaremos em recessão no próximo ano…

Já quanto ao desemprego, apesar de agora admitir uma subida em 2009 (até 8.5%) – algo que já desde há muito tempo, infelizmente, se prevê, perante a realidade que enfrentamos – depois, e qual conto de fadas, o desemprego desce, para 8.2% em 2010 e para 7.7% em 2011… Sucede que as alterações no mercado de trabalho andam normalmente desfasadas do crescimento económico num período entre 9 meses e 18 meses… Logo, se 2009 será, em termos de crescimento, um ano terrível, como explicar que o desemprego recupere em 2010?!... Mais wishful thinking, infelizmente… Já a Comissão Europeia e o The Economist continuam a prever uma subida do desemprego, que poderá atingir, no próximo ano (2010) o valor mais alto de sempre, em redor ou mesmo superior a 9% da população activa…

E já nem vale a pena falar, agora, nas projecções para o défice público e na dívida pública, claramente menos importantes nesta conjuntura recessiva do que num passado recente – mas que, ao dispararem em 2009 (a dívida atingirá, mesmo o maior valor de sempre, em redor de 70% do PIB), terão, depois, que ser reduzidos nos anos seguintes, quando se tornará claro que a consolidação orçamental pelo lado da despesa, que devia ter existido nos últimos anos, pura e simplesmente não existiu… pelo que… teremos novos aumentos de impostos?!...

Enfim, esqueçamos esta insinuação (a seu tempo voltarei a ela), porque o que importa, para já, é percebermos que o Orçamento Suplementar, apresentado na passada sexta-feira, já está completamente desactualizado e descredibilizado … Apenas três dias depois de ter sido apresentado!…

Quando apresentará o Governo um novo Orçamento?... Podia já tê-lo feito, com projecções realistas – e, assim, não só informaria devidamente os agentes, como anteciparia os acontecimentos. Que é o que os Governos devem fazer. E não andar sempre atrasado, a reboque dos acontecimentos. Como, infelizmente, tem sucedido com o Governo Português – que, assim, decididamente, confirma não estar à altura de conduzir os destinos do País. Desgraçadamente para todos nós…

8 comentários:

  1. Caro Dr. Miguel Frasquilho,
    em minha opinião, todo o optimismo que o governo projecta nas previsões de crescimento que augura já para 2010, cotinuando a subida em 2011, têm a ver certamente com a firme convicção de que o PSD será o vencedor das proximas eleições no final deste ano. Tem a ver certamente com o reconhecimento da má governação que tem feito do país. Desta forma, o governo demonstra depositar no próximo governo PSD, todas as suas esperanças de recuperação da nossa economia.

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  2. Quem dera, meu caro, quem dera que assim fosse!... :-)

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  3. Será, caro Doutor, estou certo disso.

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  4. O que me chamou mais a atenção foi o nervosismo e a falta de convicção demonstrada pelo ministro. Na minha opinião, Teixeira dos Santos, é uma das mais-valias deste governo e que, nesta situação, foi forçado a fazer um papel que não é o dele. Como bem diz Miguel Frasquilho, estamos perante uma obra de pura fantasia.

    Revejam de novo as imagens, e confiram se não tenho razão.

    Quanto à vitória do PSD em 2009, penso que ainda falta percorrer um longo caminho.
    Um dos primeiros passos é arrumarem de vez com o ministro da propaganda socialista. O homem é ridículo!!!!

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  5. "Como bem diz Miguel Frasquilho, estamos perante uma obra de pura fantasia." Será por esta e por outras que Campos e Cunha preferiu afastar-se precocemente do governo?

    Em relação ao PSD, interessa saber acima de tudo as suas propostas em relação à Justiça, às Finanças (vão ter a coragem de libertar recursos para as famílias e empresas?), e à Educação (convém preparar o futuro das próximas gerações de forma séria e exigente, e este sector é a principal causa do nosso atraso, com um facilitismo totalmente irresponsável e uma injustiça enorme para quem se "atreve" a fazer um percurso dito "normal").

    Também seria relevante perceber qual a estratégia para o Mar, principal riqueza do nosso país, que tanto nos deu e que é tão desprezado pelos governantes e população em geral (usam-no para pouco mais do que ir a banhos e despejar o esgoto), e que aproveitamento pretendem dar a uma das maiores ZEE do Mundo (pescas, infraestruturas portuárias, exploração de recursos naturais, etc...).

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  6. Anónimo10:55

    Caro Miguel,

    Em linguagem tipo Assembleia – concordo na especialidade mas discordo na generalidade


    É claro que o Miguel terá razão no rigor das previsões ou falta dele, na falta de credibilidade associada a revisões constantes de previsões do governo, etc

    Agora na generalidade e tendo em conta que o Miguel é um político da oposição, oposição que deveria constituir a luz ao fundo do túnel, já não dá as respostas que sustentem a tal alternativa tão necessária. A alternativa não pode ser apenas de ganhos de eficiência, baseada em contas mais bem feitas, em pessoas com mais credibilidade técnica até porque num futuro governo do PSD existirão igualmente governantes com cursos tirados à pressa.
    Em tempos de crise, em caso de algum desastre natural ou outro, quando a coisa está preta, o que importa é a mobilização geral. “Yes we can” em Portugal é o que a alternativa tem de constituir. E não Yes I can (I leia-se Governo). A liderança de qualquer organização - empresas, comunidades, etc passa 90% pela capacidade de mobilização, capacidade de pôr as pessoas a puxarem a carroça.
    O actual governo faz o contrário – chama a si todas as soluções, e claro desmobiliza tudo e todos. O PSD só tem de fazer o discurso contrário e depois ser consequente nas propostas.

    Desculpa a critica mas ansiedade de mudança é grande e penso que não é só minha.

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  7. Grande Agitador!...
    Ora aí está uma análise sintética, mas expressiva e significativa!...

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  8. Caro Dr. Miguel Frasquilho:

    Há toda uma nação que necessita de si no Governo! Consigo é possivel mudar mesmo.

    Força

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