“O que é o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o
quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei."
(Santo Agostinho, 354-430)
- Senhor professor não vou conseguir fazer o trabalho. Não tenho tempo. É impossível. Não consigo fazer tudo! Ao mesmo tempo que fazem esta afirmação colocam uma máscara de angústia, em que a palidez se acompanha, às vezes, de umas gotículas de suor a nível da fronte. Não se ouve o coração, mas posso imaginar o seu compasso bem acelerado e a boca desprovida de saliva – Não tem tempo? Tem, pois! Esforço-me por os convencer que a perceção da pressão do tempo é que o verdadeiro responsável pela ansiedade, muito mais do que a falta de tempo. Tento acalmá-los, dando conta do que se passa comigo. Chego a dizer-lhes que tenho, praticamente desde que me conheço, um conflito com o tempo. Nunca me entendi com ele. Julgo não ter tempo para nada e, no fim, acabo por ficar com tempo de sobra ao ponto dos meus trabalhos apanharem “teias de aranhas” antes de os apresentar.
A propósito do tempo, acabo de ter conhecimento de um interessante trabalho em que foi demonstrado que se for transmitido às pessoas que não têm tempo para realizar as suas tarefas, ou se as mesmas estiverem convencidas de que não conseguem, então, entram mesmo em sofrimento e não vão lá. Em contrapartida, o facto de ser-lhes comunicado que tinham tempo foi suficiente para que conseguissem realizar os trabalhos e com qualidade superior. Os autores concluíram que o mais adequado não é dar mais tempo, mas sim mudar a perceção do tempo.
Aqui está um problema filho de um outro. O que é o tempo?
Suskind descreve no seu livro, “Sobre o amor e a morte”, semelhanças entre o amor e o tempo. Ao analisar este último, na perspetiva agostiniana, afirmou o seguinte; “quando menos refletirmos sobre ele, mais ele parece explicar-se por si mesmo; mas se começarmos a cismar nele, ficaremos completamente desorientados”.
De facto o tempo é muito esquisito e desorienta-nos frequentemente. Sei que há filósofos que se dedicam a este tema, mas, quando os leio, confesso que fico mais confuso. Heidegger, um dos principais pensadores, fez a seguinte reflexão: “Que é o tempo? Se o tempo encontra o seu sentido na eternidade, terá que ser compreendido a partir daí”. Pois é! Temos de fazer o caminho a partir da eternidade, mas para isso é preciso conhecê-la e compreender. Mas não consigo! Bem tento. Houve, no entanto, uma passagem do seu livro que me deu um certo conforto ao afirmar: “eu sou o tempo propriamente dito, tenho tempo. Na medida em que o tempo é em cada caso meu, tempos há muitos. O tempo é sem sentido; o tempo é temporal”. Pensei imediatamente: eu sou apenas tempo. Esta conclusão heideggiana já tinha sido bem poetizada, em tempos, por Jorge Luís Borges ao afirmar que “tempo é a substância de que sou feito”. Sendo assim, quase que me apetecia concluir que, afinal, os que andam em bolandas com a “falta de tempo”, ou, se quisermos ser mais corretos, os que têm uma má perceção do tempo andam mas é em conflito com eles próprios. Fazer o melhor que pudermos no tempo disponível é a melhor solução. Quando acabar, acabou! E se não acabar, fica para a próxima. Tenho que poupar o meu “tempo” e não dar cabo da cabeça, senão quem se amola sou eu!
quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei."
(Santo Agostinho, 354-430)
- Senhor professor não vou conseguir fazer o trabalho. Não tenho tempo. É impossível. Não consigo fazer tudo! Ao mesmo tempo que fazem esta afirmação colocam uma máscara de angústia, em que a palidez se acompanha, às vezes, de umas gotículas de suor a nível da fronte. Não se ouve o coração, mas posso imaginar o seu compasso bem acelerado e a boca desprovida de saliva – Não tem tempo? Tem, pois! Esforço-me por os convencer que a perceção da pressão do tempo é que o verdadeiro responsável pela ansiedade, muito mais do que a falta de tempo. Tento acalmá-los, dando conta do que se passa comigo. Chego a dizer-lhes que tenho, praticamente desde que me conheço, um conflito com o tempo. Nunca me entendi com ele. Julgo não ter tempo para nada e, no fim, acabo por ficar com tempo de sobra ao ponto dos meus trabalhos apanharem “teias de aranhas” antes de os apresentar.
A propósito do tempo, acabo de ter conhecimento de um interessante trabalho em que foi demonstrado que se for transmitido às pessoas que não têm tempo para realizar as suas tarefas, ou se as mesmas estiverem convencidas de que não conseguem, então, entram mesmo em sofrimento e não vão lá. Em contrapartida, o facto de ser-lhes comunicado que tinham tempo foi suficiente para que conseguissem realizar os trabalhos e com qualidade superior. Os autores concluíram que o mais adequado não é dar mais tempo, mas sim mudar a perceção do tempo.
Aqui está um problema filho de um outro. O que é o tempo?
Suskind descreve no seu livro, “Sobre o amor e a morte”, semelhanças entre o amor e o tempo. Ao analisar este último, na perspetiva agostiniana, afirmou o seguinte; “quando menos refletirmos sobre ele, mais ele parece explicar-se por si mesmo; mas se começarmos a cismar nele, ficaremos completamente desorientados”.
De facto o tempo é muito esquisito e desorienta-nos frequentemente. Sei que há filósofos que se dedicam a este tema, mas, quando os leio, confesso que fico mais confuso. Heidegger, um dos principais pensadores, fez a seguinte reflexão: “Que é o tempo? Se o tempo encontra o seu sentido na eternidade, terá que ser compreendido a partir daí”. Pois é! Temos de fazer o caminho a partir da eternidade, mas para isso é preciso conhecê-la e compreender. Mas não consigo! Bem tento. Houve, no entanto, uma passagem do seu livro que me deu um certo conforto ao afirmar: “eu sou o tempo propriamente dito, tenho tempo. Na medida em que o tempo é em cada caso meu, tempos há muitos. O tempo é sem sentido; o tempo é temporal”. Pensei imediatamente: eu sou apenas tempo. Esta conclusão heideggiana já tinha sido bem poetizada, em tempos, por Jorge Luís Borges ao afirmar que “tempo é a substância de que sou feito”. Sendo assim, quase que me apetecia concluir que, afinal, os que andam em bolandas com a “falta de tempo”, ou, se quisermos ser mais corretos, os que têm uma má perceção do tempo andam mas é em conflito com eles próprios. Fazer o melhor que pudermos no tempo disponível é a melhor solução. Quando acabar, acabou! E se não acabar, fica para a próxima. Tenho que poupar o meu “tempo” e não dar cabo da cabeça, senão quem se amola sou eu!
No meu caso gostaria de ter do do tempo disponível, algum tempo para entender umas tantas coisas que me assombram...
ResponderEliminarReflectindo sobre as suas reflexões, Senhor Professor Massano Cardoso, sou levado a divergir de teoria da relatividade enunciada por Einstein. Quanto muito, deverei reduzir deste modo o tempo, a duas dimensões distintas... a pessoal e a de quem me pergunta por ele.
ResponderEliminarSendo assim, para que me seja possível conhecer a verdadeira grandeza do tempo terei de me transportar instantâneamente para ambas as posições.
Este exercício, conduz-me inevitávelmente para o obsessivo desejo da manipulação do tempo, inclusivé para a obsessiva busca pelo conhecimento da forma eficaz de viajar no tempo, ou seja de alterar a frequência do tempo.
Assim, concluímos que o meu tempo é diferente do tempo daquele que, apesar de se encontrar dentro da minha esfera temporal, age e reage em tempo dissidente do meu. Contudo, é a conjugação dos diferentes tempos que formam o tempo comum.
Tal como nos tempos de Santo Agostinho, os tempos que o Senhor Professor contrapõe aos tempos dos seus alunos, incentivando-os a ganhar tempo, culminam no tempo relativamente útil.
Ou... será que não existe tempo e aquilo que existe é a percepção individual de sequência que decorre a rítmos tão pessoais quanto os rítmos da biose?