As ideias e o pensamento são a maior riqueza do homem, a sua própria essência. Quanto à origem das ideias muito se tem discutido. Há quem considere que são inatas, como que a sugerir um toque divino, enquanto outros apontam para uma mente humana tipo tela em branco à espera de ser pintada. Seja como for, parece que não se alcança o entendimento sem passar, previamente, pelos sentidos.
De todos os sentidos, a visão ocupa um lugar de destaque. Basta ver a importância que o povo dá aos olhos e as inúmeras alegorias que, em todos os tempos e culturas, se constroem ao redor da visão. Os olhos também foram objeto de terríveis castigos humanos e divinos. A Sansão, os filisteus começaram por arrancar-lhe os olhos; o imperador Justiniano acabou por cegar o seu maior general, Belisário, que, ao mendigar, entoava a seguinte frase: “Dai uma esmola ao desgraçado Belisário, “a quem a fortuna cobriu de glória e a quem a inveja cegou”. O desespero ou a vontade de melhor compreender os fenómenos também fazem as suas vítimas, como aconteceu com Édipo quando quis aplacar a fúria dos deuses, e com Demócrito que, segundo a lenda, chegou, também, a extrair os olhos, no seu caso, para compreender a natureza do átomo.
“Não há pior cego do que aquele que não quer ver”. Frase tão comum e que se aplica a várias situações, mormente quando se quer atestar menoridade, demonstrar ignorância ou denunciar má-fé. Mas, simultaneamente, também releva o facto de que a condição de cegueira orgânica não inviabiliza a realização do ser humano, ultrapassando muitos cegos os não cegos, na arte, na literatura, na ciência e na filosofia. Por vezes, as suas perceções até assustam, fazendo recordar Tirésias, a quem Hera cegou por não ter ganho um debate com Zeus, sobre se era o homem ou a mulher quem mais teria prazer. Como já tinha passado pelos dois sexos afirmou que era a mulher, facto que desagradou profundamente a Hera que considerava que era o homem. Foi então que Zeus minimizou a perda da visão atribuindo-lhe a capacidade da mântica, da previsão.
É difícil no mundo atual construir ideias a propósito de muitos acontecimentos que vemos ao nosso redor. Há os que nos querem cegar de todas as formas, como “castigo” por pormos em causa a sua “divina” presença. Há os que nos consideram cegos mentais, utilizando todas as artimanhas e falcatruas, legais e não legais, para continuarem a manter-se nos pedestais. Há os que se deliciam com as epidemias de cegueira, à boa maneira descrita por Saramago, porque dentro do caos há vantagens para alguns. Há os que se vestem de boas roupas, contrariando a moral do conto de Andersen, “A Roupa Nova do Imperador", segundo o qual “o rei vai nu!”. Os reis não vão nus, vão muito bem vestidos, só um cego orgânico é que não vê. Há também os que julgam que “no reino dos cegos quem tem um olho é rei”, o que não é, forçosamente, verdade, conforme a bela obra de H.G. Wells, “Em Terra de Cegos”, onde um pobre diabo com olhos, ao cair naquele reino andino, se deu conta das vantagens dos não conheciam o verbo ver. Enfim, talvez seja oportuno ler a obra de Diderot, “Carta sobre os Cegos para uso daqueles que veem”, para verificarmos a relatividade de todas estas reflexões, em que a normalidade pode ser considerada noutro lado a exceção.
As perversidades e as falsidades da sociedade, que pululam por ai como cogumelos, contrastam com o equilíbrio, a tranquilidade e a soberania dos cegos do conto de Wells no qual o ancião acabou por propor ao invasor com visão uma cirurgia para lhe extrair “esses corpos irritantes” - os olhos! Ah! Não vou nessa, porque poderia ser compensado com o dom da profecia de Tiresias o que seria ainda mais angustiante. Além do mais, continuo a comover-me com a beleza que me cerca, e que ainda vou conseguindo ver. Beleza que só os olhos podem descobrir...
De todos os sentidos, a visão ocupa um lugar de destaque. Basta ver a importância que o povo dá aos olhos e as inúmeras alegorias que, em todos os tempos e culturas, se constroem ao redor da visão. Os olhos também foram objeto de terríveis castigos humanos e divinos. A Sansão, os filisteus começaram por arrancar-lhe os olhos; o imperador Justiniano acabou por cegar o seu maior general, Belisário, que, ao mendigar, entoava a seguinte frase: “Dai uma esmola ao desgraçado Belisário, “a quem a fortuna cobriu de glória e a quem a inveja cegou”. O desespero ou a vontade de melhor compreender os fenómenos também fazem as suas vítimas, como aconteceu com Édipo quando quis aplacar a fúria dos deuses, e com Demócrito que, segundo a lenda, chegou, também, a extrair os olhos, no seu caso, para compreender a natureza do átomo.
“Não há pior cego do que aquele que não quer ver”. Frase tão comum e que se aplica a várias situações, mormente quando se quer atestar menoridade, demonstrar ignorância ou denunciar má-fé. Mas, simultaneamente, também releva o facto de que a condição de cegueira orgânica não inviabiliza a realização do ser humano, ultrapassando muitos cegos os não cegos, na arte, na literatura, na ciência e na filosofia. Por vezes, as suas perceções até assustam, fazendo recordar Tirésias, a quem Hera cegou por não ter ganho um debate com Zeus, sobre se era o homem ou a mulher quem mais teria prazer. Como já tinha passado pelos dois sexos afirmou que era a mulher, facto que desagradou profundamente a Hera que considerava que era o homem. Foi então que Zeus minimizou a perda da visão atribuindo-lhe a capacidade da mântica, da previsão.
É difícil no mundo atual construir ideias a propósito de muitos acontecimentos que vemos ao nosso redor. Há os que nos querem cegar de todas as formas, como “castigo” por pormos em causa a sua “divina” presença. Há os que nos consideram cegos mentais, utilizando todas as artimanhas e falcatruas, legais e não legais, para continuarem a manter-se nos pedestais. Há os que se deliciam com as epidemias de cegueira, à boa maneira descrita por Saramago, porque dentro do caos há vantagens para alguns. Há os que se vestem de boas roupas, contrariando a moral do conto de Andersen, “A Roupa Nova do Imperador", segundo o qual “o rei vai nu!”. Os reis não vão nus, vão muito bem vestidos, só um cego orgânico é que não vê. Há também os que julgam que “no reino dos cegos quem tem um olho é rei”, o que não é, forçosamente, verdade, conforme a bela obra de H.G. Wells, “Em Terra de Cegos”, onde um pobre diabo com olhos, ao cair naquele reino andino, se deu conta das vantagens dos não conheciam o verbo ver. Enfim, talvez seja oportuno ler a obra de Diderot, “Carta sobre os Cegos para uso daqueles que veem”, para verificarmos a relatividade de todas estas reflexões, em que a normalidade pode ser considerada noutro lado a exceção.
As perversidades e as falsidades da sociedade, que pululam por ai como cogumelos, contrastam com o equilíbrio, a tranquilidade e a soberania dos cegos do conto de Wells no qual o ancião acabou por propor ao invasor com visão uma cirurgia para lhe extrair “esses corpos irritantes” - os olhos! Ah! Não vou nessa, porque poderia ser compensado com o dom da profecia de Tiresias o que seria ainda mais angustiante. Além do mais, continuo a comover-me com a beleza que me cerca, e que ainda vou conseguindo ver. Beleza que só os olhos podem descobrir...
Salvam-se os olhos de quem com os olhos nos incentiva ao COGITO ERGO SUM!
ResponderEliminar«Há também os que julgam que “no reino dos cegos quem tem um olho é rei”»
ResponderEliminarHá ainda aqueles que se julgam desmedidos reis Midas e que se transforma em ouro, tudo aquilo em que tocam. Estes, dão mais valor ao tacto que aos restantes sentidos, de tanto valor que lhe atribuem, transformam-se automáticamente em tácticos, estrategas, manipuladores, prepotentes, déspotas... ditadores.