segunda-feira, 9 de março de 2009

Dinheiro ao mar

Sempre se soube que as recargas de areia nas praias da Costa da Caparica são um desperdício de dinheiros públicos, usados para calar os gritos de uns quantos com acesso fácil aos órgãos de comunicação, ávidos de mostrarem a ruína de uns quantos bares e cafés ou a inundação de um parque de campismo que há muito deveria ter sido removido de onde está.
Até agora gastaram-se 17 milhões de euros no embuste e adiaram-se as soluções de engenharia, necessárias e eficazes, há muito estudadas. E o INAG prepara-se para gastar mais uns milhões do seu magro orçamento para dar pasto ao espectáculo de ver o mar levar, de novo, as areias.
Eis que surge à luz do dia um estudo que diz que o rei vai nú! E, de repente, o óbvio passou a ser notícia.

O Ministério do Ambiente prometeu uma intervenção séria e estruturada na defesa e valorização do litoral. O que tem acontecido na Costa da Caparica e o que se verifica um pouco por toda a costa portuguesa onde se acentuam os factores de degradação, prova à saciedade que não há limites para a propaganda, sequer a grave crise que atravessamos que exigiria mais respeito pelo dinheiro de todos nós.

9 comentários:

  1. São uns pândegos, estes rapazes, ou então uns incrédulos da "An Inconvenient Truth" do Senhor Albert Arnold Gore... Júnior.

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  2. Sem ver o estudo eu seria bem mais cauteloso.
    A questão não é a da areia que se vê na praia mas a que está dentro do sistema que a leva e trás na variação Inverno/ Verão.
    Dizem-me os surfistas que os fundos estão muito diferentes e há ondas como não se viam há muitos anos.
    Dizem os fundamentos da opção de enchimento de praias (que é feita em todo o mundo, uma das minhas filhas está neste moemento numa das mais famosas ondas para o surf de mundo, snappers, que tem enchimentos periódicos que lhe permitem manter a qualidade) que ela é temporária e terá de ser mantida.
    Chamo a atenção para o facto do autor do estudo não advogar as tais obras de engenharia mas o recuo da ocupação humana.
    Confesso a minha ignorância do assunto e suspeito que a prudência é boa conselheira nesta discussão.
    henrique pereira dos santos

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  3. Anónimo22:20

    O Henrique Pereira dos Santos não sabe e fica-lhe bem a prudência. Mas no INAG há quem saiba, com base em estudos que têm alguns anos, que a recarga sem intervenção nos esporões não será mais do que um paliativo. Caro, muito caro, porém. Veremos na próxima estação se a deriva traz ou, ao invés, leva as areias...

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  4. A intervenção, como sabe, é feita pelo INAG.
    E no INAG há quem a defenda e quem a não defenda.
    Que a recarga (aliás ainda não concluída, penso eu) é temporária e um paliativo é um consenso.
    O que não é consensual são as intervenções pesadas (de qualquer maneira, antes da recarga, foram feitas intervenções nos esporões) com base em esporões.
    O que não faltam no País são efeitos secundários dos esporões (e mesmo degradação dos esporões que era suposto serem uma solução definitiva) que são muito mais caros que recargas que permitam repôr, temporariamente, é certo, algum equilíbrio no trânsito sedimentar fortemente alterado pela diminuição dos sedimentos que hoje chegam à costa.
    E volto a referir, sem ver o estudo citado, que aliás não defende uma intervenção nos esporões mas um recuo da ocupação humana do litoral, tanto quanto se percebe da notícia, sem ver o que o estudo efectivamente diz e com que fundamentação, considerar provado o que quer que seja parece-me imprudente.
    E era bom que essa discussão se pudesse fazer serenamente, com base na melhor informação disponível que permita a cada um defender as diferentes opções políticas disponiveis e não invertendo a coisa, politizando a discussão técnica.
    henrique pereira dos santos

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  5. Anónimo10:13

    Ou "tecnicizando" a discussão política, meu caro HPS, o que é muitas vezes pior do que entender que a política não é chamada para estes casos...
    A opção a fazer numa óptica de planeamento, designadamente no quadro das intervenções Polis, de recuar as ocupações perante o recuo manifesto da linha de costa, ou não, não é indiferente à política. É da essência da política, meu caro.
    Dir-me-á que será política cega, se não for tecnicamente informada. E se o disser, estarei de acordo consigo. Mas perante situações dilemáticas em que se confrontam diferentes soluções e distintas visões sobre o melhor caminho de defender o interesse público, é ao político que cabe a responsabilidade da decisão, não é ao técnico!
    Ali perto, como sabe, existe um problema que pode vir a ser mais grave, bem mais grave, do que os efeitos sentidos nas praias da Costa da Caparica: a Cova do Vapor. Ali não há bares nem zonas de lazer a salvaguardar. Ali, tal como em outras zonas do litoral, vivem pessoas. Pessoas pobres, que vivem em constante insegurança.
    Penso nelas quando assisto ao despejar de areias nas praias. Imagina o que se podia fazer com os milhões até agora despendidos nas recargas e nos demais que ainda falta lançar ao mar, designadamente no financiamento de uma operação de realojamento?
    Ou também entende que opções como estas devem ser "serenamente" arredadas da discussão porque não sustentadas tecnicamente?
    Uma nota final, breve. Tenho consciência das minhas naturais limitações resultantes da falta de conhecimento técnico aprofundado nestes e em muitos outros domínios. Não estou, porém, tão mal informado como porventura o meu Amigo julga sobre este particular assunto. Porém, ai da democracia quando cada um de nós se julgar autolimitado e se autocensurar na expressão da opinião pelo facto de não conhecer o pormenor dos estudos (que aliás, nestas matérias, os há para todos os gostos, como bem sabe).

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  6. Expliquei-me mal, com certeza.
    Da técnica é saber o que efectivamente está a acontecer com as areias e quais as soluções técnicas disponiveis e suas consequências.
    Da política é fazer opções entre os inevitáveis prós e contras que todas as soluções têm.
    Da técnica é saber que soluções e com que consequências para a cova do vapor existem.
    Da política escolher essas soluções.
    Da técnica saber que recursos é preciso alocar entre o que está a ser feito e o que defende neste seu comentário.
    Da política optar por dar prioridade a ou outro porblema quando, como acontece quase sempre, os recursos não dão para tudo.
    Não julgo que esteja mal informado, bem pelo contrário, o que julgo é que esta tem sido uma discussão demasiadamente inquinada entre diferentes corporações.
    Tal como a discussão sobre barragens ou sobre estradas em que quase sempre existem, antes da política, dois campos técnicos que só vêm vantagens nas suas damas e defeitos nas damas dos outros.
    Daí a minha prudência.
    henrique pereira dos santos

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  7. Anónimo12:18

    Fui então eu que percebi mal, o que é normal porque esta forma de comunicar só favorece as sínteses. E às vezes para nos explicarmos e para nos entendermos só no campo da análise é que o conseguimos de pleno.
    Verifico então do seu último comentário, com o qual concordo na essência - em especial na separação que faz do que é da técnica e do que é da política - que não nos separa grande coisa no que respeita a este assunto.
    E obrigado por valorizar, com a sua opinião, este espaço.

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  8. Gostei de ler esta troca de comentários, pelo menos fica-se com capacidade de ler as notícias de outra maneira!

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  9. Mas, ó Ferreira de Almeida, o senhor ainda não reparou que Portugal já não é dos portugueses?
    É deles! só o dinheiro que eles esbanjam é nosso MAS, nas mãos deles!

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