1. Em Post de 28 de Março discorri sobre o conceito de “Optimismo Pacóvio” – a propósito da notável máxima “pessimismo não cria empregos”, utilizada pelo PM há algumas semanas quando comentava previsões económicas menos favoráveis...**
2. Nesse Post utilizei como exemplo o lamentável caso Quimonda, lembrando que um tratamento mais discreto e realista, menos mediático e sensacionalista deste caso poderia, quem sabe, ter evitado consequências aparentemente tão difíceis e gravosas como as que já então se podiam antecipar.
3. Mas o Governo nunca resistiu à tentação de tratar este caso sob a óptica e com o instrumental próprio do “Optimismo Pacóvio” – (i) prometendo soluções salvadoras, (ii) garantindo vezes sem conta os trabalhadores e (iii) descobrindo investidores diáfanos - numa saga algo parecida à do cíclico regresso de D. Sebastião no longínquo século 17...
4. Segundo a tese de que o pessimismo não cria empregos, vale então a pena ser optimista – mesmo sem fundamento – pois as expectativas positivas criadas com essa atitude virtuosa acabam por dar os seus frutos...
5. Na semana passada, face à crescente evidência de incapacidade para resolver o caso Quimonda, lá tivemos mais uma frase bombástica do inesgotável arsenal do “Optimismo Pacóvio” – “não vou atirar a toalha ao chão”, disse, ilustrando bem até que ponto o Governo se recusa, por saudável princípio, a negar as evidências factuais...
6. Pois hoje mesmo foi anunciado que a Quimonda vai dispensar 85% da sua força de trabalho, uns a título definitivo, outros (a maior parte) a título “temporário” por 6 meses...
7. Curiosamente, o período de 6 meses da dispensa temporária termina, em condições normais, logo a seguir às eleições legislativas...Já imaginaram o que se vai passar a seguir?
8. Esta mania das frases ardilosamente construídas para impressionar os pobres agentes da comunicação social é uma das pragas político-sociais do nosso tempo...quase não há político que lhes resista e os actuais inquilinos do executivo são “useiros e vezeiros” nesse vício que os americanos apelidam sugestivamente de “bullshit”...
9. “Não vou atirar a toalha ao chão”...que bela frase! O que pensarão hoje os quase ex-funcionários da Quimonda quando recordarem essa frase? Por uma questão de decoro, não quero tampouco sugerir a frase/palavra que mais provavelmente lhes acudirá...
** Que dirá S. Exa. das previsões hoje mesmo avançadas pelo BdeP?
Ao que parece o governo vai cumprir uma promessa eleitorar.... 3% de crescimento do PIB. É pena é ser negativo!
ResponderEliminarSuperliga "incompetente-mor": Goleada de PinhoDos 1800 funcionários da Qimonda, 600 viram os seus contratos suspensos durante 6 meses (vão receber 2/3 do salário) e 400 foram despedidos. Isto, depois de todas as "novelas" á volta desta empresa.
ResponderEliminarAinda assim, Manuel Pinho não desarma e diz estar convencido que é possível salvar a empresa e os postos de trabalho. Mas será que este senhor está bom da cabeça? Mais 3 pontos para Pinho que já lidera isolado a superliga "incompetente-mor"
Essa é uma previsão daquelas que só o Banco de Portugal faria. Pavlov poderia escrever um livro inteiro sobre eles.
ResponderEliminarQuanto à Qimonda, há argumentos a favor e contra o Pinho. De tanta porcaria que já fez, esta não me parece muito grave.
Exactamente, Caro meritíssimo, nem direi que é pena que seja negativo: a questão do sinal é evidentemente uma questão menor, menoríssima mesmo...
ResponderEliminarCaros Luís Melo e Tonibler,
Sobre esta matéria, cujos detalhes não conheço, tenho destacado o estilo Optimista (pacóvio, evidentemente) ao abrigo do qual este dossier foi conduzido.
Estou seguro de que nem PM nem Herr Piño tinham qualquer ideia firme acerca do futuro da Empresa quando avançaram as mais ousadas promessas quanto a uma solução de viabilização e à defesa dos postos de trabalho...
Considero este estilo totalmente impróprio de quem detém a máxima responsabilidade política.
É este o meu ponto fundamental, quanto ao resto não me vou pronunciar.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarEste dossier não tem muito que comentar, é sim um espelho desta governação. Pinta o cenário de cor-de-rosa, julga que as coisas se resolvem com pura força de vontade, mas a realidade não é para aqui chamada. Falar sério? Para quê? É preciso dizer que arranjam solução para tudo, depois logo se vê...
O caso Quimonda sempre me intrigou. Segundo uma reportagem que vi há tempos, as dificuldades começaram quando a concorrência asiática lançou no mercado memórias a preços muito inferiores aos praticados pela Quimonda e que esta não tinha possibilidade de adoptar devido aos seus custos. Por outro lado também ouvi que toda a matéria prima vinha da casa mãe alemã que deixou de laborar. A ser isto verdade, como se compreende que se afirme agora, como diz o próprio ministro Pinho, que o encerramento da empresa será evitável se aparecer um investidos com capacidade financeira e tecnológica. Parece que o problema não é apenas financeiro, é de viabilidade. Por outro lado para quê a capacidade tecnológica requerida ao salvador? Para fazer o quê? As mesmas memórias? A que preço? Outros produtos? Quais? A que preço? Para vender a quem? Claro que ninguém sabe as respostas. Nem o próprio ministro. O que me espanta é que ninguém faça as perguntas.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira
ResponderEliminarConcordando consigo em grau género e número sobre o modo como se encarou/geriu o caso Qimonda, desejo apenas acrescentar dois pequenos comentários:
a) Os ganhos reais para a economia nacioanal da produção da Qimonda, eram uns míseros 200 Mil€. A facturação anual, em torno dos 1.400 Mil€ eram compensados pela compra, à casa mãe, de matéria prima no valor de 1.200Mil €.
Ao cabo de trinta anos não aprendemos nada, e seguimos uma estratégia semelhante à que foi seguida para desenvolver o textil, mão de obra barata e especialização em transformação com pouco valor acrescentado e sem internalização rápida do domínuio do processo de fabrico e dos canais de comercialização.
b) O segundo ponto e posso garantir-lhe que é assim, desde o início, que a aposta neste sector comportava riscos elevados, dado que a invenção era de processo e não de patente, logo facilmente replicavel; a decisão de apoio foi uma aposta e, como aposta, sempre foi arriscada. O que temos de começar a reflectir é se o Estado deve apostar em sectores de elevado risco, em detrimento de outros sectores, menos arriscados, logo menos volátéis.
Infelizmente, esta reflecção não é realizada, nem é compreendida pelo eleitorado, que segue o ganho imediato.
Cumprimentos
João
Caro André,
ResponderEliminarÉ isso mesmo, um exercício de charlatanismo político em grau muito avançado...como se cura isto?
Confesso que não sei dado o estado de amorfismo de uma boa parte da cidadania e o "entreguismo" dos media...
Caros Freire de Andrade e João,
Constato que os Senhores estão mais bem informados do que eu acerca deste dossier...é bem possível que estejam cheios de razão.
Devo confessar-lhes que me impressionou muito uma sugestão avançada ontem por Herr Piño, admitindo a utilização das instalações da Quimonda para outra actividade...sem fazer a mínima ideia de qual...e ignorando que as instalações estão agora afectas a uma massa falida que terá de ser utilizada para pagamento aos credores...
A sugestão de Herr Piño (mais uma manifestação de Optimismo Pacóvio?),para além de me parecer um mero PALPITE, não parece juridicamente exequível em prazo aceitável pois o processo de falência/insolvência tem exigências específicas pouco compagináveis...
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarO Governo através da dupla Sócrates/Pinho comporta-se como aquela dupla de mágicos interncionais Siegfried & Roy, especializada em números com animais:
umas vezes tira coelhos, outras patos, noutras galinhas, até agora, acho que os otários somos todos nós
Cumprimentos
João
Bela síntese, caro João, apenas lhe deixo a sugestão de passar a usar Herr Piño em vez de Pinho...é bem mais global e na tõ referida Alemanha, em particular, compreenderão melhor nossa troca de comentários...
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