O Público revela hoje alguns "retratos" de vida da vida de Sophia de Mello Breyner, nos quais se incluem poemas e cartas desconhecidos.
Às vezes acontece, quando não acontece sempre assim, que as coisas mais bonitas das nossas vidas não são aquelas que estão à vista, que qualquer um pode ver, ouvir ou verificar. Muitas dessas coisas estão como que escondidas em pequenos gestos ou palavras, diluídas em sentimentos de ontem que o nosso ADN emocional volta e meia recorda, guardadas em lembranças longínquas ou perdidas em simples acontecimentos que a nossa memória e a dos outros nunca esquecem.
Cada pessoa tem sempre um lado misterioso por descobrir e curiosidades para contar que se adensam com o tempo, porque é com o passar do tempo que se coleccionam, projectam e se vivem recordações e saudades.
Vem esta nota a propósito da carga simbólica do espólio inédito que nos é contado pelo Público. Achei, e acho, lindíssimo o poema inédito de Sophia que foi encontrado num "papelinho escrito a tinta permanente azul" (em 1943) que se chama inocência e possibilidade:
"As imagens eram próximas
Como coladas sobre os olhos
O que nos dava um rosto justo e liso
Os gestos circulavam sem choque nem ruído
As estrelas eram maduras como frutos
E os homens eram bons sem dar por isso"
Não sabemos porque Sophia o escreveu, o que a impeliu, que sentimentos e emoções lhe enchiam a alma nesse momento, o que realmente a fez partilhar com o seu ser algo tão grande e profundo, em tão poucas palavras, num bocadinho de papel. É mais um poema, é certo, mas soube-me bem conhecê-lo!
Parece-me um momento de harmonia interior da escritora, em que tudo é belo e a vida, seja ela qual for, decorre sem sobressaltos, apesar do mundo se encontrar numa guerra infernal...
ResponderEliminarÉ como eu leio este pequeno tesouro.
Caro jotaC
ResponderEliminarTambém o acompanho nessa leitura. Na verdade a vida é bela, mas os homens, supostamente bons, esquecem-se dela...
Lindo texto, Margarida, um momento poético que nos lembra a beleza das coisas mais simples, um gesto, um silêncio, a fé na bondade dos homens...
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