quinta-feira, 11 de junho de 2009
Homenagear em Vida!
As comemorações do 10 de Junho englobam sempre nas cerimónias um momento dedicado a homenagiar pessoas que, sob diversos critérios adoptados e em várias áreas de actividade, se entendeu terem contribuído para o desenvolvimento, a projecção e o bom nome do país.
Ontem, lá foram chamadas 30 figuras que a Presidência da República entendeu serem dignas de destaque; se é que me não escapou mais nenhum, todos, à excepção de Salgueiro Maia, estavam vivos e "saborearam" presencialmente tamanha distinção.
Tantos outros Portugueses, vivos, haverá igualmente ou ainda mais merecedores!
E digo vivos, porque sempre me causou alguma angústia o reconhecimento póstumo, se o tempo de vida e de actividade foi suficiente e demonstrativo de valor nacional.
Por coincidência de homenagens, tinha-me amavelmente sido entregue em mão, há dois dias, pelo Presidente do Conselho Directivo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, um livro intitulado "Doutora Laura Ayres, uma Vida dedicada à Saúde Pública (1922-1992)" que eu resolvi ler, exactamente ontem.
Tive o privilégio de, no início da minha actividade profissional, trabalhar 11 anos com esta Senhora, entre 1974 e 1985; uma figura impar de humanismo, de liderança, de capacidade de trabalho, de visão sanitarista, de investigadora, de médica, de pedagoga, de cidadã.
Morreu de um acidente vascular cerebral, 6 meses antes de se reformar,de completar os 70 anos, foi a "Grande Senhora da Sida", como lhe chamaram, foi a figura televisiva e telegénica que todos os dias entrava na casa dos portugueses, a partir de 1985, quando surgiu o primeiro caso de Sida em Portugal e quando o Mundo científico já falava da doença, desde o início dos anos 80.
Teve uma vida cheia das mais nobres tarefas profissionais, representou o País nas mais prestigiadas organizações internacionais, foi uma figura do maior destaque na Saúde Pública, como docente, como cientista, como política.
Não vou aqui detalhar o seu trabalho, devo-lhe imenso, influenciou-me como ninguém, pois nunca, até hoje, presenciei ninguém que tivesse tamanha dedicação à causa pública e tamanha consideração e atenção pelos cidadãos anónimos, doentes ou não,que a procuravam, entrando porta dentro com as suas mais diversas angústias, para falar "com a Sra. Dra. que dirigia o Instituto Ricardo Jorge e presidia á Comissão Nacional de Luta contra a Sida"...
Quando acabei de ler o livro que agora lhe foi dedicado deparei-me, no fim, com as suas homenagens póstumas: o grau de Grande-Oficial da Ordem de Santiago da Espada (o grau de Oficial lá o recebeu em vida, um ano antes de morrer...); a medalha de Honra do município de Loulé; o patronímico de uma rua de Loulé; o seu nome atribuído à Escola secundária de Quarteira; o "Prémio Laura Ayres de Controlo de Doenças Transmissíveis/Microbiologia"; a inauguração de um busto na sede da Comissão Nacional de Luta contra a Sida; a atribuição do seu nome ao Centro de Virologia do Instituto Ricardo Jorge e...no mês passado,inaugurou-se o Laboratório Regional de Saúde Pública do Algarve a que foi dado o nome de Laura Ayres!!!
O velho ditado do "mais vale tarde que nunca", às vezes, não me convence.
É verdade cara Dr. Clara Carneiro, esta vida é recheada de ambiguidades e de botas que não casam com perdigotas. Mas deixe lá, nem tudo são incoerências, olhe por exemplo, este ano foi agraciado o Sr. Dr. Gentil Martins, O ex-bastonário da Ordem dos Médicos, protagonista daquele sururu sobre a penalização das mulheres que... que... "reincidam" no aborto (!?), ao passo que o antigo subdirector-geral de Saúde Cipriano Justo, efendia a despenalização e o fim da liberalização clandestina.(!?)
ResponderEliminarVá-se lá entender este mundo e os critérios que o regem...
Ah mas falta-me assinalar algo em que reparei e muito me agradou... a agilidade com que o Dr. Gentil Martins se dirigiu ao palco, para receber das mãos do Sr. Presidente da República a condecoração. Notável para a sua idade. Estou em crer que o Sr. Dr. já pratica ha muito o exercício aconselhado pelo nosso amigo Professor Massano Cardoso e quem sabe... não o acompanha uma atleta da equipe daquela outra que surge no caminho do Sr. Professor, qual Lady Godiva... sem cavalo obviamente!!!