Chamou-me a atenção o título da notícia do JN: Imigrantes de Leste são “os alunos ideais”! Não me surpreendem, sinceramente, as conclusões do estudo “A Escola e a escolarização em Portugal: representações dos imigrantes da Europa de Leste” da autoria de António Sota Martins.
As diferenças quanto à importância e exigência que é colocada na educação escolar pelas famílias portuguesas e pelas famílias de imigrantes da Europa de Leste prendem-se, concordo, com contextos culturais diferentes.
Os imigrantes da Europa de Leste são pessoas conhecidos entre nós como pessoas, em geral, educadas, trabalhadoras, cumpridoras e muitas delas com estudos superiores, embora muitos delas, também, não estejam a exercer em Portugal profissões condizentes com a formação e curriculum profissional obtidos nos seus países de origem, por manifesta falta de um quadro apropriado de acolhimento e de integração na vida económica e social. Um quadro desfavorável e injusto que tem dificuldades em reconhecer, por exemplo, graus de licenciatura e de formação superior conferidos por universidades da Europa de Leste, negando oportunidades a estas pessoas e inviabilizando soluções para problemas de falta de determinadas profissionais em Portugal, como é o caso dos médicos. Uma situação bem à portuguesa!
O Estudo retira conclusões muito interessantes que nos ajudam a perceber algumas diferenças de cultura e mentalidade que explicam alguns dos problemas do nosso sistema de ensino e dos persistentes baixos níveis educacionais.
Vejamos o que nos diz o Estudo sobre o que os cidadãos imigrantes da Europa de Leste entendem deve ser o projecto educativo, o que pensam sobre a disciplina, o rigor e a exigência, a valorização que fazem da auto-estima, a noção de partilha e de responsabilidade que cultivam:
. A escolarização dos filhos faz parte do projecto de vida familiar.
. Maus resultados são encarados como uma vergonha para o aluno e para a família.
. São pais muito críticos e exigentes: raramente faltam a reuniões, acompanham os programas curriculares, ajudam os filhos a estudar e consideram o ensino em Portugal pouco exigente, por nos seus países de origem terem tido de estudar muito mais.
. A maioria atribui a si próprio os maus resultados. Comparativamente o sucesso é repartido entre o esforço pessoal e o desempenho do professor.
Sem dúvida que a formação superior dos pais das crianças da comunidade de imigrantes da Europa de Leste, que é assinalada no Estudo, é um factor relevante na sua preparação para a vida e para melhor avaliarem o impacto da importância da educação no futuro do seu bem-estar e de realização dos seus filhos e no leque de oportunidades e escolhas profissionais que se lhes abre.
Investir na educação e na qualidade do sistema de ensino é o caminho. Temos muito para aprender, corrigir e fazer neste domínio. Sem prejuízo para a riqueza da diversidade cultural, as diferenças culturais neste caso fazem sentido ser esbatidas no sentido da “cultura” dos cidadãos da Europa de Leste…
Enquanto não devolvermos o trabalho de professor ao professor, o trabalho de aluno ao aluno e o trabalho dos pais aos pais não vamos a rigorosamente sítio nenhum e continuaremos a empobrecer alegremente...!
ResponderEliminarEsta ideia que o professor deve ser o cruzamento perfeito entre um burocrata, um psicólogo, um sociólogo, um marketeer, um entertainer, um pai e um amigo do aluno e que a escola é um local onde se deixam os filhos tem sido um desastre!
A outra ideia muito gira que foi introduzida nas nossas "escolas" considerada muito moderna, vem do tempo de Rousseau (século 18)! Quando os "cientistas" e "especialistas" da educação se referem ao ambiente de ensino/aprendizagem (seja lá o que isso for) estão a tentar negar o papel do professor (em clara contradição com o papel que depois atribuem ao professor e explicado no parágrafo anterior) para garantir que a criança ou o jovem cresce sem interferências do mundo dos adultos (acto deveras espantoso).
Mas ainda existe a terceira ideia (profundamente marxista-leninista) que cimenta todo este processo de ideotização dos desgraçados dos alunos que não têm a possibilidade de frequentar os pouquíssimos colégios privados de qualidade ainda existentes em Portugal. Essa ideia consiste na protecção da classe oprimida (leia-se alunos) pela classe opressora (leia-se professores). Este disparate que brotou da geração do Maio de 68, tem obrigado os alunos que outrora podiam fugir da pobreza graças à exigência e trabalho na escola a permanecerem pobres e incultos.
Durante quanto mais tempo irá o povo português permitir que a "escola" pós-moderna continue a condenar gerações inteiras a ter como sonho trabalhar no McDonald's?
Durante quanto mais tempo iremos permitir que o PREC continue nas nossas "escolas"?
Durante quanto mais tempo, os filhos dos imigrantes da Rússia terão que se deslocar nos Sábados à sua escola de Belém para aprenderem aquilo que a nossa desgraçada escola não conseguiu (por razões ideológicas) durante a semana?
Margarida, a lista que faz mostra uma atitude diferente que começa em casa, nas famílias, e que se reflecte nos alunos com a frase "A maioria atribui a si próprio os maus resultados". Por cá desenvolvemos com o tempo uma cultura oposta, a de culpar os outros, seja em que campo nos situarmos. Repare que quando há qualquer coisa errada começa logo a chuva de acusações, quem fez omal é sempre vítima de qualquer falha de terceiros. Nas finanças faltou a regulação, nas empresas é o contexto, no Estado é a falta de estímulo, na política é a oposição, na violência nos bairros é a pobreza, nos acidentes nas feiras é a falta de leis, nas estradas é a falta de polícias, nunca mais acabávamos. A primeira reacção de quem falha é procurar quem é que não o impediu de fazer asneira e é esse que passa a estar na berlinda. Agora nas eleições, por exemplo, a maioria das pessoas que eu oiço queixar-se, seja do Governo seja da oposição, acabam sempre a concluir que não vão votar...Assim sempre podem culpar os outros pelo que lhes acontecer de mal!
ResponderEliminarCara Susana,
ResponderEliminarNão poderia concordar mais consigo quando diz que costumamos atirar com as responsabilidades para cima dos outros assim que algo corre mal.
Durante o pouco tempo (quase dois anos) que estive no ensino secundário público percebi que o sistema não funcionava assim como cerca de um terço dos restantes professores da escola, no entanto pouco fizemos para alterar a situação. Escrevemos um carta para o Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação, Presidência da República e julgo que também para os grupos parlamentares a denunciar o fracasso do sistema e a ideologia reinante no mesmo. Sinceramente acho que foi pouco e ainda hoje sinto que deveria ter feito mais...
Caro Fartinho da Silva
ResponderEliminarPegaria no início do seu comentário "Enquanto não devolvermos o trabalho...".
Com efeito, faltam-nos hábitos de trabalho e de disciplina, falta-nos ambição e não valorizamos o esforço, contentamo-nos com a mediocridade e estamos sempre a queixar-nos. E depois está instalado o primado dos direitos, esquecendo que também há deveres. Tudo isto se reflecte na escola. É muito inquietante este clima!
A Suzana aponta o dedo a um defeito terrível. Quando as coisas correm mal a culpa é sempre dos outros. Com esta mentalidade, sempre à espera que os outros resolvam os problemas. São atitudes irresponsáveis e egoístas que nos imobilizam e que explicam em boa parte porque é que não somos capazes de ultrapassar as dificuldades e de honestamente arregaçarmos as mangas…
Meus Caros,
ResponderEliminarAqui na minha parvónia as crianças entram às 8h30 e saem às 11h30 para almoçar.
Entretanto, não lancham entre as 8h30 e as 11h30. Porquê? Para não haver diferenças sociais entre as crianças...
No fim da escola, quando brincam no parque os mais abonados comem bolachas com chocolate e a ralé nem pão leva por vergonha. Se os meus filhos levassem pão quando vão brincar para o parque iam passar por anormais...
Ao que isto chegou!
Cumprimentos,
Paulo
caro Paulo, nos escuteiros, onde as minhas filhas andaram anos e anos,com grande diversidade social, não havia nenhum estigma para quem levava pão ou nem levava nada, ia tudo para o monte e era de todos. Quando iam para viagens, se não chegasse o dinheiro para irem todos de avião, iam todos de camioneta, mesmo que uns tivessem pago para ir de avião. Creio que o problema está na cabeça dos adultos, as crianças não fazem essa distinção por impulso próprio, somos nós que projectamos no mundo deles os nossos próprios preconceitos e eles depois copiam. Por isso, já que é uma utopia acabar com as diferenças económicas e é outra utopia imaginar que o Estado pode superar na escola as manifestações dessas diferenças, o melhor era deixarmos de olhar isso como uma infelicidade e estimular o espírito de partilha, não por compaixão, mas por generosidade. Tive uma amiga de infância cujo pai era um estroina que estava sempre a meter a família em sarilhos e eu e ela combinámos que dividíamos entre as duas tudo o que houvesse para dividir, ao ponto de termos um anel que usava uma uma semana e outra a outra e palavra que nos sentíamos muito bem com isso.
ResponderEliminarA Dra. Suzana dá-nos um bom exemplo de uma amizade verdadeira, imbuída de gestos lindos como esse da partilha do anel...
ResponderEliminarCara Suzana Toscano,
ResponderEliminarIsso dos escuteiros é outro meio, há um espírito de grupo diferente.
Experimente no parque partilhar umas fatias de pão com criancinhas
habituadas a comer bolachas com cholocolate -- atenção só comem bolachas com chocolates e chocolates -- nunca se viu entrar comida normal naquelas boquinhas... Acho que a fome teria de ser muita para não ficarem a olhar para o pobre diabo partilhante...
Cumprimentos,
Paulo
Caro Paulo, não se perde nada em tentar o pior que pode acontecer é não resultar e ficamos como estávamos antes...
ResponderEliminarCaro jotac, a amizade é um sentimento que nos torna generosos, a partilha com um amigo nunca é sacrifício porque o que temos passa a ter o dobro do valor. Em tempo de abundância quase que nos esquecemos disso...
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