O PS resolveu à última da hora estabelecer a regra de que quem se candidata pelas suas listas às autárquicas não pode candidatar-se à Assembleia da República. Não passa despercebido, nem ao mais distraído, o oportunismo da decisão tomada à beira das eleições e somente porque percebeu que na opinião pública o concurso para várias cadeiras passou a não ser bem visto. Basta recordar os casos de Elisa Ferreira e de Ana Gomes e a falta de uma crítica, ainda que sussurrada, da direcção do PS às declarações da primeira quando, em vésperas das eleições europeias, assumiu sem rebuço que ao parlamento europeu só iria para picar o ponto.
Mas para mim o que a coisa trouxe de tão significativo como este calculismo hipócrita dos dirigentes do PS, foi a reacção imediata de duas actuais deputadas, candidatas à presidência de autarquias - Leonor Coutinho e Sónia Sanfona - que se sentiram atraiçoadas por esta mudança "de regras a meio do jogo" no dizer desta última. Esta concepção do "jogo" que para muita gente é a política, esta falta de autenticidade no estar nos cargos públicos, é responsável pela degradação da imagem dos políticos, pela perpetuação da ideia do "tacho" tão cara - mas também tão razoável e certeira - ao povo.
A cada passo se percebe que são demasiados os políticos no activo que, por atitudes mais do que palavras, não estão na vida pública por vocação ou por sentido de missão; estão na política para fazer pela vida. Isso explica o desencanto de Coutinho e Sanfona (as que tiveram a lata de o verbalizarem, não sendo seguramente as únicas desiludidas).
Por isso a introdução da ideia da verdade como valor essencial na política, para além de outras dimensões, é bem vinda também nesta. E se passar a ser princípio, ver-se-á que a breve trecho a tão reclamada melhoria da qualidade da democracia ocorrerá, se não por outro efeito, pelo facto de desaparecerem um sem número de crónicos dependentes do orçamento do Estado.
Pensei que o oportunismo, o egoísmo e o imediatismo deviam ser aproveitados para benefício da comunidade.
ResponderEliminarEstá a criticar uma linha de pensamento que usa e defende todos os dias - pense bem!
Não esqueça que Hipocrisia foi a palavra que usou.
O referendo ao aborto foi aceite por conveniência e hipocrisia. O referendo à regionalização foi realizado por hipocrisia. Daí saíram movimentos cívicos que têm potencial de reformular a paisagem politica em Portugal.
As directas nos partidos foram implementadas por hipocrisia.
...
Está a falar de política. Abra o diário da república (qualquer um) e veja quão descabido é usar esse argumento.
A verdade é que essa decisão do PS expõe situações indesejáveis - ainda bem, poder ao eleitor.
O PSD que está na oposição e tem tempo para pensar em muitas coisas; já o devia ter feito!
O PSD na oposição podia e pode tomar medidas (unilaterais) que melhoram a nossa democracia.
Nos últimos 25 anos (ou depois de Sá Carneiro) liste-me 3 dessas medidas.
Não esqueça que Hipocrisia foi a palavra que usou.
Tem estado desatento, meu caro Francisco, tem estado desatento...
ResponderEliminarA sua resposta é fugir à pergunta.
ResponderEliminarPreferia que me tratasse como uma criança de 6 anos e fizesse o esforço de listar essas medidas do PSD que unilateralmente favoreceram toda democracia portuguesa.
Pense nisso, deprimente, não é?
O sol tentam tapar
ResponderEliminarcom uma peneira,
é uma forma de destapar
a tremenda bandalheira.
Por puro oportunismo,
apanágio dos socialistas,
tamanho é o cinismo
nestas decisões moralistas.
Esta falta de autenticidade
na política socialista,
alimenta a mendicidade
desta gente calculista.
Caro Francisco, permita-me um comentário ao seu comentário, no quadro de um debate saudável de ideias, sem acrimónia e sem falsas isenções.
ResponderEliminarSe o seu texto pretende significar que todos os partidos que passaram pelo Governo têm responsabilidades no actual estado da nação, estamos de acordo. É, aliás, óbvio. Não é certo, porém, que partidos sem responsabilidades governativas fizessem mais e melhor pelo bem comum. Algumas ideologias e modelos de sociedade já deram provas da mais completa falência social e económica, nos países do leste, africanos, sul-americanos, alguns asiáticos, etc. As democracia ocidentais (ditas capitalistas ou de mercado), não sendo perfeitas, longe disso, revelam mais eficácia, produzem mais riqueza para distribuir (embora de forma excessivamente assimétrica) e, acima de tudo, evidenciam um maior respeito pela pessoa humana, pela liberdade de iniciativa e pela liberdade de expressão.
O JM Ferreira de Almeida diz no seu post, e com toda a razão, que a recente tomada de posição do Partido Socialista relativamente à proibição das duplas candidaturas não é genuína, mas sim cínica, porque não ancorada nos valores da convicção mas na mera táctica eleitoral. Limita-se a seguir, por questões de concorrência serôdia, a anterior posição do PSD. Esta é a única leitura possível, atento o facto de nas recentes eleições para o Parlamento Europeu haver duas candidatas notáveis que acumulavam essa condição com a de putativas candidatas aos municípios do Porto e de Sintra. Se houvesse convicção, o PS ainda poderia desatar este nó, exigindo às referidas candidatas que fizessem a sua opção – Parlamento Europeu ou Autarquias. Ana Gomes, segundo a comunicação social, achou mesmo normal esta recente decisão do Partido Socialista. Desde que não se aplique a si própria, acrescento eu. É preciso topete.
Por último, contrariamente ao que o meu amigo sugere, o PSD em muito contribuiu, embora não seja suficiente, para a melhoria da qualidade da nossa democracia, a saber:
(apenas três exemplos, de memória, de acordo com o solicitado)
1 – Revisões da Constituição da República Portuguesa: defesa militante da extinção do Conselho da Revolução (começou com Sá Carneiro), alteração (apesar de insuficiente) de muitas normas económicas, alteração do instituto do referendo, redução do n.º de deputados, etc.;
2 - Abertura da televisão ao sector privado e criação da RTP internacional – concorrendo para uma maior liberdade na comunicação social e para uma maior coesão com os portugueses (e não só) residentes no estrangeiro;
3 – Criação do ensino superior privado, para além do confessional – alargando a liberdade de escolha e aumentando o número de graduados e pós-graduados.
Muitos mais poderiam ser enunciados.
Em todos estes exemplos existiram sempre escolhos e reservas ideológicas do Partido Socialista. Foi sempre necessário concertar soluções mitigadas. Em matéria de modernidade e de reformas económicas e sociais o PSD esteve sempre na linha da frente. O PS sempre andou a reboque.
Nem tudo correu bem. É verdade. Poder-se-ia ter feito muito mais. É verdade.
A democracia não é um exercício simples, principalmente num país com excesso de subserviência e de dependência do Estado. O PSD quer reduzir e melhorar a função do Estado e aumentar o papel dos cidadãos, da iniciativa privada – com regulação pública. O PS continua a defender mais e melhor Estado, como se esta díade fosse viável na sociedade portuguesa. Não é! Quando o Estado cresce castra-se a iniciativa dos cidadãos, sufoca-se a genuína iniciativa privada, criam-se mais dependências, reduz-se a concorrência, produz-se menos riqueza, a qualidade da democracia definha e o povo, no limite, paga a factura.
Caro Félix, agradeço a atenção dispensada.
ResponderEliminarAo contrário do que possa parecer concordo com a maioria daquilo que diz mas acho que há três coisas que não percebeu no meu comentário.
(1) Eu concordo que a postura daqueles que criticam a medida a partir de dentro do PS é condenável.
(2) Discordo de JMFA quando usa a medida tomada pelo PS para criticar o PS dizendo que é hipocrisia. É hipocrisia. E qual é o drama? No meio desta hipocrisia saímos a ganhar.
(3) Quando peço três medidas que o PSD tenha tomado não estou a falar do que fez quando estava no governo. Estou a falar de opções e escolhas que, estando na oposição, possam ter mudo o país e a nossa democracia para melhor. É a incapacidade de fazer isso que eu critico. É uma grande falta de capacidade ganha-ganha.
Como exemplo vou-lhe deixar duas do PS: os estados gerais ou fórum novas fronteiras (ou lá como se chamava) antes de Guterres ter chegado ao poder (parece pouco mas alargou a politica para além dos 1% que têm cartão partidário - hoje não há campanha nem partido onde isso não seja feito). Outra foram as directas que fizeram de Sócrates secretário geral do PS - hoje qualquer partido apelidado de democrático usa eleições directas.
Ambas estas escolhas mudaram o país, a partir da oposição. Eu até diria que muito contribuíram para ganhar as respectivas eleições.
Repito o desafio, deixe-me 2-3 medidas que o PSD tenha tomado unilateralmente enquanto na oposição que tenham melhorado a democracia no país. Ou será que o PSD só quer mudar o país quando tem as notas na mão?
Ó meu caro Francisco, eu era lá capaz de o tratar como uma criança de 6 anos! Ora essa...
ResponderEliminarInformo-o no entanto que, para conhecimento dos pontos de vista e posições passadas e presentes do PSD, não é este blogue o sítio da Internet mais adequado (talvez www.psd.pt...). Acho-o mesmo nada adequado. Nem eu sou advogado de defesa desse ou de qualquer outro partido. Por aqui, com inteira liberdade, vamos opinando e debatendo. Sem condições e sem condicionalismos, muito menos do passado de cada um, como saberá.
Volte sempre.
é...e em perfeita hipocrisia se opina por aí em liberdade... na dança das cadeiras da assembleia e nos escritórios e ..nos consultórios...
ResponderEliminarvolte sempre...
que a porta se fecha quando parece aberta....hipocritamente ou "hipocrasecretamente"... tt faz.
cuidado...