1. Recordo-me de Medina Carreira ter salientado numa das suas últimas intervenções em conhecido programa TV de economia que o nosso endividamento é tão grave que os juros que tínhamos de pagar ao exterior consumiam a totalidade das receitas (superavit, entenda-se) com o Turismo...
2. Foram hoje divulgados os dados das contas com o exterior para o corrente ano referentes a 30 de Junho último, por eles se verificando que a declaração de Medina Carreira é sem dúvida verdadeira – o défice dos Rendimentos soma já € 3.408 milhões...enquanto que o superavit do Turismo se queda por € 1.418 milhões.
3. Para quem gosta de percentagens, o défice dos rendimentos equivale a 240% do superavit do Turismo...
4. A situação é pois bem mais grave do que a declaração de M. Carreira deixava entender, verificando-se que o défice dos Rendimentos “devora” não apenas o superavit do Turismo mas também dos restantes Serviços, que é de € 838 milhões...e ainda o superavit das Transferências (a maior parte de Emigrantes), que é de € 859 milhões.
5. Comparando valores globais, temos até Junho para o défice dos Rendimentos € 3.408 milhões e € 3.115 milhões para a soma dos superavits (Serviços Turismo e Outros+Transferências)...o que quer dizer que o défice dos Rendimentos "devorou" esses dois superavits e ainda ficaram € 293 milhões para cobrir...
6. Em % o défice dos Rendimentos equivale a quase 110% daquela soma de superavits.
7. Esta situação não tem precedente...ainda no ano anterior em que o défice externo apresentou um valor muito elevado, 10,5% do PIB...à mesma data de 30 de Junho o défice dos Rendimentos ainda não atingia 100% daqueles dois saldos positivos (era 97,4%)...
8. Estamos pois a seguir, com toda a segurança e convicção, um percurso de veloz agravamento da dependência financeira, hipotecando todas as receitas de que dispomos só para o serviço dos juros ao exterior - e mesmo assim não chegam...
9. O que quer dizer que nos temos de endividar para pagar juros, uma vez que da outra componente da balança com o exterior, a Comercial, só podemos esperar défices muitíssimo elevados...no período em análise esse défice foi de € 7.511 milhões, que tem de ser financiado na totalidade por mais endividamento...
10. E não esquecer que o salvífico Programão ainda não arrancou em todo o seu esplendor... estamos a beneficiar apenas em parte do "sucesso" da política económica...
11. A esta luz, a querela sobre o vasculhamento pelo Governo ou seus agentes da vida privada de assessores da Presidência faz-me recordar a queda do Império Romano do Oriente...com a invasão dos ("credores") Otomanos à porta, os políticos de Constantinopla discutiam o sexo dos anjos...
Mais uma excelente aula, caro Dr. Tavares Moreira.
ResponderEliminarPosso sugerir que a próxima aula-post, seja subordinada ao tema «em que foi gasto o dinheiro da dívida ao exterior?».
Retirando do assunto os juros dos juros, dos juros, dos juros.
É que, se este mistério tiver clarificação, até pode ser que se dê o milagre da multiplicação de vontades e que uma honda de patriotísmo invada os sentidos dos portugueses e os motive para "dar o litro" e produzir... produzir... produzir.
Muito obrigado Dr. Tavares Moreira.
ResponderEliminarObrigado pela explicação. Não percebo de economia, parece que o governo do meu país também não.
Haja alguém capaz de explicar um assunto complexo de forma simples, de forma que, os leigos na matéria consigam entender.
Bom Bom ontem foi a cara aparvalhada da entrevistadora quando a Drª Manuela Ferreira Leite afirmou que a actuação do Governador do Banco de Portugal no tal relatório feito a pedido do governo Sócrates era um embuste. Quanto ao Portugal Amordaçado (lembram-se do livro do Dr. Soares?)foi pena não ter ido mais longe, exemplificando com a comissão de inquérito ao caso bpn.
ResponderEliminarMas foi uma boa entrevista´...até estava bonita!
Subida de desemprego vai entupir Centros de Emprego ?
ResponderEliminarhttp://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1397325&idCanal=57
Caro Dr. TM, um excelente artigo para um dos blogger's do 4R comentar. Tem muitas pistas de análise. "Toca na ferida" em alguns pontos desta dramática realidade que vivem actualmente os portugueses desempregados e as suas famílias, filhos, netos.......
Tem de haver união de esforços para se ultrapassar este flagelo (o desemprego) que mina a estabilidade do país, como uma doença oncológica.
cumprimentos
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarChamar a aula a este POST á mais ofensivo para os professores do que a ofensa do facilitismo, há dias mencionada pelo maior estadista português no activo...
Só mesmo a sua infinita generosidade...
Caro Misugi,
So espero que Medina Carreira seja mesos optimista quando voltar a opinar sobre este tema...
Caro A,
Não vi a tal entrevista que refere mas confio na sua apreciação...a do embuste é mesmo assim: tratou-se de oferecer uma cobertura pseudo-técnica a uma operação de transformação orçamental da mais baixa qualidade que já se viu...
Cara Pèzinhos,
A União de esforços de que fala passa por algum tipo de União Ibérica? Espero bem que não...