A edição do Jornal de Negócios de hoje noticia a proposta de não adjudicação da Auto-Estrada (AE) do Centro por parte da Comissão de Avaliação, baseada na variação de 167% do VAL da proposta final mais vantajosa em relação à proposta inicial apresentada no concurso. Anuncia ainda que idêntica sorte deverá ter a AE do Pinhal Interior. O jornal foi observar o que se passou nas restantes subconcessões rodoviárias e apurou que, em média e até agora, as concessões foram atribuídas por mais 57% do que o VAL mais baixo proposto pelos concorrentes na primeira fase dos concursos.
Reconheço que à análise feita pelo Jornal de Negócios falta profundidade, pois só o exame atento das razões das variações em cada concurso permitiria perceber se o aumento foi justificado. E alguns processos, com modificações decorrentes de imposições ambientais ou outras alterações do corredor inicial ou apanhados pelo encarecimento do crédito em plena crise, só poderiam ter dois desfechos: ou a aceitação da correção das propostas por parte das Estradas de Portugal, S.A. e do Governo face às novas condições de financiamento, ou desistir da obra.
Independentemente da superficialidade da análise jornalística, uma coisa é certa. O Governo apostou tudo no que aqui Tavares Moreira batizou de “programão” das obras públicas, ignorando olimpica e arrogantemente todas as críticas, todas as objecções a investimento público de duvidosa necessidade, de suspeitosa relação custo/benefício e manifestamente contrário, por exemplo, às estratégias de ordenamento do território constantes do Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território que o próprio Governo aprovou (veja-se o que se escreve sobre os vectores de desenvolvimento do Pinhal Interior para se perceber que nenhum sentido tem a prioridade de construção, ali, de uma auto-estrada).
Reconheço que à análise feita pelo Jornal de Negócios falta profundidade, pois só o exame atento das razões das variações em cada concurso permitiria perceber se o aumento foi justificado. E alguns processos, com modificações decorrentes de imposições ambientais ou outras alterações do corredor inicial ou apanhados pelo encarecimento do crédito em plena crise, só poderiam ter dois desfechos: ou a aceitação da correção das propostas por parte das Estradas de Portugal, S.A. e do Governo face às novas condições de financiamento, ou desistir da obra.
Independentemente da superficialidade da análise jornalística, uma coisa é certa. O Governo apostou tudo no que aqui Tavares Moreira batizou de “programão” das obras públicas, ignorando olimpica e arrogantemente todas as críticas, todas as objecções a investimento público de duvidosa necessidade, de suspeitosa relação custo/benefício e manifestamente contrário, por exemplo, às estratégias de ordenamento do território constantes do Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território que o próprio Governo aprovou (veja-se o que se escreve sobre os vectores de desenvolvimento do Pinhal Interior para se perceber que nenhum sentido tem a prioridade de construção, ali, de uma auto-estrada).
E não se diga, como agora vem dizer o PS, que estes investimentos eram parte da solução para a crise, pois que, quando Sócrates, Lino & Pinho vendiam linhas do TGV, auto-estradas a torto e a direito, aeroportos onde quer que fosse, estávamos em plena campanha do “porreiro, pá”, em época de confiança num crescimento económico que não olhava aos sinais da crise emergente nem ao endividamento público galopante.
Mais importante, pois, do que evitar as “derrapagens” que hoje fizeram assunto falado, é a mudança de paradigma no que às obras públicas respeita. É fundamental que, na próxima legislatura, a escolha política dos investimentos públicos obedeça a uma grelha de critérios que de resto não é difícil de elaborar, capaz de reunir o maior consenso politico, mas também a uma orgânica e a um modelo procedimental radicalmente distintos daquele que o Governo ainda em funções pôs em prática.
Mais importante, pois, do que evitar as “derrapagens” que hoje fizeram assunto falado, é a mudança de paradigma no que às obras públicas respeita. É fundamental que, na próxima legislatura, a escolha política dos investimentos públicos obedeça a uma grelha de critérios que de resto não é difícil de elaborar, capaz de reunir o maior consenso politico, mas também a uma orgânica e a um modelo procedimental radicalmente distintos daquele que o Governo ainda em funções pôs em prática.
Sobre estes aspectos - a orgânica das obras públicas e o enquadramento procedimental da sua realzação - , com tempo e disposição, escrevinharemos.
É uma vergonha!!!
ResponderEliminarTítulo bem exclamado
por tanta falta de pudor,
neste país tão primado
pelo Estado colaborador!
As construtoras agradecem
pagando estes favores,
os milhões ruborescem
recebendo tantos louvores.
As derrapagens visíveis
nas obras adjudicadas,
são milhões desprezíveis
nas contas empancadas.
Esta afável podridão
reforçada de cimento,
revela a devassidão
à conta do orçamento.
Há uns dias ouvia a notícia dos habitantes de uma freguesia protestarem contra a construção da A32(?). A razão principal era que a freguesia já era atravessada por 2 autoestradas....
ResponderEliminarDas duas uma, ou a freguesia é do tamanho da Bélgica, o que me parece improvável, ou deveria haver um impedimento constitucional às obras públicas. Porque já estou a ver a mudança das moscas e continuar tudo na mesma.
Caro Ferreira de Almeida, toda esta fantochada do programão das obras públicas sai da mão de alguém que, sem estudar nada nem perceber patavina de transportes, desatou a fazer riscos num mapa com formatos que lhe pareceram agradaveis à vista. É evidente que uma grande parte das AE a construir, tal como das já construídas, são redondissimas inutilidades.
ResponderEliminarMas há uma coisa que ninguém se pergunta, no meio disto tudo e tem aplicabilidade a algumas das AE ora em concurso. Porque é que se faz a via a, b ou c? Quais os objectivos que se visa alcançar com a sua construção? E, depois de respondida esta questão, decidir-se que tipo de via fazer para atingir os objectivos propostos. Muitas das AE serviriam melhor as populações se não existissem e no seu lugar estivesse uma via férrea. Não essas coisas modernas de vias de alta velocidade, mas uma simples via férrea, vulgarissima de lineu, para velocidades de 120-160km/h com comboios convencionais e permitindo a passagem de comboios de mercadorias sem restrições. Veja-se o caso da AE para Bragança, por exemplo, que no cenário de existência já do IP4, não faz qualquer sentido a sua construção. Outrossim, poderia fazer sentido uma via férrea que permitisse a implantação industrial pesada em Trás-Os-Montes e com ligação rápida a Espanha e tirando partido de ser a parcela do territorio continental Português mais próxima dos Pirinéus. Qual o multiplicador de cada € investido em grande parte das AE que estão a ser e foram feitas? Qual o multiplicador de se terem feito (ou desenvolvido) as ferrovias nos mesmos lugares?
Falta planeamento, caro Ferreira de Almeida. Falta definição de objectivos e depois destes definidos delinear o caminho para os alcançar. Por fim, segui-lo. Como se começam a fazer as coisas pelo telhado, é normal que todas as trapalhadas que vêm rodeando as concessões de transportes sucedam.