quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Preparar o "envelhecimento"...

Li no DN uma notícia que dava conta da “vitória” alcançada, após decorridos 14 anos de tentativas sem sucesso, com a integração da cadeira de geriatria nos cursos de medicina da Universidade de Coimbra e da Universidade de Lisboa. Confesso que não fiquei espantada.
A introdução de cadeiras de geriatria no ensino da medicina é recomendada pela Organização Mundial de Saúde, de modo a preparar os médicos para lidarem com a doença dos idosos, cobrindo um campo vasto de conhecimentos em biologia, fisiologia, demografia, farmacologia, riscos profissionais, prevenção e reabilitação, doenças e ética.
Os dados sobre a demografia portuguesa revelam há muito uma população envelhecida, quer por via da baixa taxa de natalidade quer pelo aumento da esperança de vida.Portugal está a envelhecer. O rácio de dependência que mede a relação entre as pessoas com mais de 65 anos e os trabalhadores no activo vai agravar-se no futuro. Teremos cada vez mais idosos e com uma esperança de vida crescente.
O envelhecimento da população implicará alterações significativas na economia e na organização social e uma maior e mais diversificada ocupação activa das pessoas idosas, assim como será inevitável o aumento da prestação de cuidados de saúde a esta faixa etária da população.Seria, portanto, normal que Portugal estivesse a investir na formação de profissionais ligados ao fenómeno do envelhecimento, designadamente médicos.
Temos realmente uma grande dificuldade em antecipar necessidades e planear o que devemos fazer para que no momento em que as necessidades se revelam dispormos de uma resposta capaz.
A falta de médicos com que o País hoje se depara não foi nada que não pudesse ter sido previsto em tempo útil e colmatado com políticas públicas adequadas.
O Estado parece continuar a sofrer da mesma miopia em relação à formação de profissionais em geriatria. Ora o Estado tem aqui uma função reguladora importante. Não parece, pois, admissível que se demita desse papel. E a sociedade em geral - em particular as gerações actualmente no activo - deveria estar atenta, preocupar-se e mobilizar-se no sentido de intervir positivamente nesta mudança. Seremos os idosos de amanhã.
As políticas públicas viradas para a saúde e a qualidade de vida dos idosos constituem um domínio mais vasto no qual muitos países europeus já estão há muito a investir.

5 comentários:

  1. É um tema da maior importância, o que aqui traz. E para o qual os governos parecem acordar agora, mas já pelos idos de 60 do século passado o Professor Doutor Almerindo Lessa abordava esta questão de forma notável, e só não estamos na linha da frente da intervenção neste domínio porque nunca aceitamos as dádivas dos que estão à frente do seu tempo. Quando hoje pensamos os caminhos que, por exemplo, o envelhecimento da população ou a globalização nos apontam, como se de um mundo totalmente novo se tratasse,talvez pudessemos começar por ler Lessa, e perceber como estas questões foram objecto do seu olhar de estudioso. A modernidade de alguns dos escritos que nos deixou ainda consegue surpreender-nos.

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  2. Ora nem mais, cara Drª. Margarida.
    Ha que prestar atenção especial à questão do envelhecimento (global) e preparar "estratégias" e estructuras dignas para proporcionar àqueles que envelhecem o bem-estar e conforto de que necessitam e que merecem.
    As estructuras partidárias têm uma tendência enraizada de só se lembrar dos idosos em época de eleições e depois... esquecê-los e às condições em que "agonizam".
    S. Cipriano apontava como causa do fim do mundo, o envelhecimento da população, aliada à incapacidade precoce dos jovens para procriar.
    São suposições que no entanto encontram algum sentido nos sinais que vão surgindo cada vez com mais notoriedade.
    Um deles, inequívoco é sem dúvida o aumento da longevidade, contudo essa longevidade está muitíssimo longe da que todos preconizamos para os nossos idosos e para nós mesmo. Faltam os apoios à saúde, mas faltam sobretudo os apoios ao bem-estar, falta dar utilidade à existência dos idosos.
    Vão surgindo já alguns sinais de projectos isolados nesta matéria, os quais partem de pessoas que, dotadas de uma maior sensibilidade para esta problemática, decidem fazer algo, empenhando-se em proporcionar aos idosos um final de vida menos áspero.
    Este é um assunto que, tal como a cara Margarida refere, é da responsabilidade do estado, da sociedade em geral, e que não pode alcançar solução, se a mobilização que propõe, não se verificar.
    O pseudo e efémero aumento da qualidade de vida social que se verificou num período atrás recente, gerou a alienação, e a desmobilização gradual para a dedicação e apoio dos idosos dentro do seu circulo familiar, "exportando-os" para lares onde muitas vezes perdem o contacto com as famílias, tornando-se perfeitos zombies, até que o dia da morte os liberte de um flagelo para o qual não trabalharam, nem desejaram.

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  3. Concordo plenamente com este seu post,só é realmente incompreensível como é que só agora se concretiza o que há muito estava identificado, como bem refere o caro Crack (bem vindo!. Mas vá lá saber-se porque é que são estas resistências, o facto é que quem tem pais idosos, como é o caso da generalidade das pessoas da nossa geração, sabe bem a dificuldade que é não haver quem os trate globalmente,numa perspectiva integrada, em vez de olhar cada maleita como uma especialidade. O resultado é, muitas vezes, curar-se de um lado e estragar-se de outro, milhares de exames e análises, despesas e sofrimento inúteis e, quantas vezes, um final de vida bem mais penoso do que o que a ciência hoje já permitiria.

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  4. Caro Dra. Margarida Aguiar
    Li, há tempos, que estamos condenados a viver mais tempo, mercê do avanço da medicina. Concordo. No entanto, há que ter em conta -como muito bem está implícito neste texto, que o aumento de longevidade implica, inevitavelmente, o surgimento de doenças e carências diversas que poderão ser minimizadas com estruturas e Rh+ devidamente apetrechados. Parece, então, pelo que aqui é dito, que o governo começou a dar,timidamente, os primeiros passos neste sentido: mais vale tarde que nunca!
    Há outro provérbio que diz: uma imagem vale por mil palavras. É verdade, a prová-lo está a imagem aposta neste texto que, de imediato, nos sugere os cuidados básicos a termos em conta para enfrentarmos a velhice mais bem preparados, praticando, para tanto, exercício físico. Neste sentido apraz-me observar o aumento do número de praticantes, de diversos grupos etários, que, cada vez mais, praticam exercício físico no Parque Natural de Monsanto, em Lisboa.
    Muito oportuno este tema, sem dúvida.

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  5. Caro crack
    Seja muito bem vindo! Fiz uma breve incursão em algumas reflexões do Professor Almerindo Lessa. As suas ideias já muito nítidas do fenómeno da globalização, dos novos riscos sociais ou da organização da sociedade em rede são demonstrativas do seu olhar profundo e atento sobre a evolução da modernidade.
    A problemática do envelhecimento não está ainda suficientemente discutida e tratada na nossa sociedade. É preocupante porque o fenómeno está em franco andamento. Quantas pessoas sabem o que é, por exemplo, o envelhecimento activo? E que estratégia nacional está delineada para o promover?

    Caro Bartolomeu
    Muito interessantes as diversas questões que levanta.
    São poucas as classes sociais e profissionais que não se organizam em lobby para influenciar os decisores políticos.
    Os idosos constituem, justamente, uma dos poucos grupos que não têm capacidade reivindicativa. As gerações mais novas tendem, por sua vez, a ser míopes, preocupando-se essencialmente com o "lucro" imediato e descurando o futuro e, como tal, esquecendo demasiado os idosos.
    É importante que os nossos políticos e governantes fiquem mais sensibilizados para a problemática do envelhecimento, mais na perspectiva humana do que na perspectiva "estatística". A sociedade civil tem aqui um papel importante a desempenhar, mobilizando-se para dar respostas e exercendo a necessária pressão junto do poder político para incluir na agenda uma abordagem séria e integral do envelhecimento.

    Suzana
    Nota muito bem as dificuldades que no campo da saúde os idosos, e a bem dizer todos nós, se deparam com a forma desintegrada como são tratados pelos serviços de saúde.
    Que sentido faz que as pessoas idosas, normalmente com mais dificuldades de mobilidade, menor capacidade financeira e até menor capacidade de decisão, perante um problema de saúde por pequeno que seja, tenham que percorrer invariavelmente um infindável número de "capelinhas" da saúde? Há um problema de organização. Mas será que é assim tão difícil de o resolver?

    Caro jotaC
    O aumento da esperança de vida é uma notícia que nos deve deixar felizes. O importante é viver mais anos com qualidade de vida. Ora, estamos longe de assegurar que assim vai ser. Já foi pior, mas há ainda muito para fazer.
    A imagem que escolhi pretendia, justamente, sugerir que ao longo da vida devemos ir preparando o envelhecimento e não ficar à espera que nos bata à porta de um momento para o outro. Assim, vamos, Caro jotaC, envelhecendo activamente!

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