domingo, 23 de agosto de 2009

Recordando a parábola do homem insensato que edifica sobre areia

Apesar da impressão que me causou o nefasto acontecimento, tinha prometido a mim mesmo não escrever sobre a tragédia da praia Maria Luísa em Albufeira, porque em casos destes tornou-se hábito nada salutar a condenação célere sem se saber tudo o que se passou. Mudei de ideias há pouco, ouvindo as declarações do senhor ministro do Ambiente, nas TV, em directo, logo que se iniciou a demolição de parte da falésia que colapsou. Não me contradigo, não venho pronunciar-me sobre culpas eventuais. Venho tão só lamentar que o senhor ministro se tenha afastado do recato que julgava que guardaria após as declarações que por estes dias foi fazendo sobre o assunto, comparecendo, com aviso prévio à comunicação social sobre a sua presença, a uma operação em que um ministro não faz qualquer falta. Para não correr o risco de ser excessivo, porque não quero sê-lo, direi apenas que fica a ideia de que o senhor Professor Nunes Correia aproveitou o pior dos momentos para se colocar, e ao governo, sob os holofotes e em frente às câmaras das televisões. As suas declarações não trouxeram a justificação minimamente plausível para aquela pré-anunciada aparição. Que seria, por exemplo, estar ali para avançar com um dado novo, por pequeno que fosse, para compreender o que se passou ou para dizer aos portugueses algo sobre o futuro da segurança na costa portuguesa. Assim, fica-nos a impressão de que se aproveitou o momento para a mediatização. Mas uma tragédia nunca é um bom pretexto para se fazer notado.
Mediatizar o quê? Nada de relevante, por sinal. Ou talvez deste aparecimento, num cenário de máquinas a desenvolverem trabalhos no cair da noite, espera-se o efeito de reconhecimento pela opinião pública da atenção, preocupação e proximidade destas matérias por parte do governo. Esperando também que ninguém se recordasse que 2006 foi declarado, pela boca do mesmo membro deste governo, o ano do litoral. Em 2 de Janeiro desse ano - 2006 - publicámos no 4R, esta nota sobre essa consagração, feita com grande pompa e circunstância e muitas promessas de novas actuações. Lamentámos então o que continuamos a lastimar hoje: que o governo não tivesse aproveitado para aperfeiçoar o programa Finisterra, um programa estruturado para intervir no litoral, sobretudo nas zonas críticas já perfeitamente identificadas, preferindo baralhar e dar de novo em matéria que reclamava atenção urgente do Estado e das mais de 60 entidades que superentendiam no litoral português. Um hábito antigo dos governos que não toleram o que os que os precederam fizeram ou procuraram fazer.
A maior parte das vezes nunca se fica a saber qual o preço a pagar pelo recorrente faz-e-desfaz...

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Um apontamento final. Quero acreditar que a escolha da inabitual hora para início dos trabalhos de demolição (20 horas) teve que ver com as condições das marés ou outros factores condicionantes da operação. E que a coincidência com o momento de abertura dos telejornais não passou disso mesmo, uma mera e irrelevante coincidência. Se o horário fosse ditado por outras razões, então seria absolutamente intolerável.

4 comentários:

  1. O que observei naquele dia fatídico, através da TV, foi o PR a portar-se de forma natural e sentida, e o PM, a meu ver, de forma incongruente, considerando o formalismo das palavras e os gestos, como se tivesse ido ali a correr só para dizer aquilo mesmo… bom, se calhar é a melhor maneira que encontrou para lamentar o ocorrido! E assim sendo não me admira nada as intervenções subsequentes, como esta do Srº MA.

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  2. Estive a consultar a tabela de marés e... podemos dizer que sim, que a hora foi programada de acordo com a maré, dado que, por volta das 20 horas, deu-se a viragem da maré, ou seja, às 20 horas deu-se início à baixa-mar, a qual atingiria o seu pico cerca das 23, 10, voltando a virar cerca de duas horas e meia depois.
    Parece-me que por este "rabo" não lhes podemos pegar.
    ;)))

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  3. Anónimo12:14

    Meu caro Bartolomeu, obrigado pela sua averiguação esclarecedora.
    Creia que o post não teve por intenção encontrar "rabo" onde "lhes" "pegar". É tão só uma reacção a uma aparição do senhor ministro que me parece não ter sido ditada pelos mais nobres propósitos. Tão só isso.

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  4. Talvez a sua opinião seja diferente da minha caríssimo amigo. Eu penso que é de toda a justiça pegarmos-lhe(s) pelo rabo, por forma a que não se esqueçam nunca que este país não é uma quinta que lhes calhou por herança.
    (istatéparece conversa de comuna)
    Mesmo que se lhes pegue pelo rabo e se lhes dê uma sacudidela "amigável" para que saibam que aprovamos mas que estamos atentos e prontos para uma sacodidela mais... dolorosa, se teimarem em deitar-nos areia para os olhos...
    (apesar de parecer conversa de comuna, tem algo de aproveitável)
    ;)))

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