domingo, 23 de agosto de 2009

Sempre o tema da educação...

Na vizinha Espanha o tema da educação tem estado na ordem do dia, pelas boas e más razões.
Vários artigos de opinião têm sido publicados sobre o estado da educação em Espanha, os erros cometidos, as dificuldades políticas e a necessidade de investir na qualidade da educação.
Ao ler o artigo de opinião publicado no jornal ABC “UN PACTO DE ESTADO PARA CAMBIAR NUESTRO MODELO EDUCATIVO”, encontrei muitas analogias com o caso português e pensei que poderia igualmente aplicar-se, de um modo geral, a Portugal, com a grande diferença de que no nosso caso a situação de partida é bem mais grave. Mas os problemas são da mesma natureza e as preocupações não andam longe das nossas.
Em Espanha o tema da educação tem sido nos últimos anos objecto de confrontação política e tem estado no centro do debate ideológico, impedindo, como é referido no artigo, que se abordem os principais problemas, designadamente, o insucesso e o abandono escolar, os baixos resultados obtidos nos surveys internacionais, o desfasamento dos níveis educativos entre as várias comunidades autónomas, os conflitos de convivência nas escolas e a escassa consideração social do trabalho dos professores.
O anúncio pelo ministro da educação de um Pacto Nacional da Educación é uma iniciativa que parece ter acolhimento favorável nos meios do ensino e na sociedade civil em geral, na perspectiva de se constituir como um compromisso nacional que coloque a educação no centro das prioridades, conferindo-lhe estabilidade e sustentabilidade.
A Espanha sabe que precisa de trabalhar mais e melhor na educação para se poder equiparar aos países mais avançados e sabe, também, que só com uma escola de excelência, na qual se exiga e se obtenha o máximo de rendimento de cada aluno, é possível ultrapassar as desigualdades. Só com um ensino público de qualidade se pode garantir a igualdade de oportunidades para todos. A Espanha sabe que a educação é a chave do seu futuro social e económico.
Temas como a necessidade de as escolas competirem entre si para atraírem os melhores alunos, os melhores professores e as melhores metodologias deveriam ser, segundo alguns especialistas, princípios orientadores do Pacto. A ideia de competitividade surge como um incentivo à elevação da qualidade.
Por cá, não sei se estamos todos totalmente convencidos de que o capital humano surge à cabeça dos problemas do nosso atraso económico, e, simultaneamente, como a solução para os resolver.
O nível formativo irá continuar a ser o calcanhar de Aquiles do nosso progresso. Investir na educação, não apenas no acesso mas na qualidade da formação e do conhecimento é, como há décadas está dito e redito, a única saída. A questão está em saber como vamos ser capazes de discutir seriamente este assunto de modo a elevar a qualidade da educação e conferir-lhe estabilidade e sustentabilidade.
O Autor do artigo citado tem muita razão quando diz que “La education es un assunto de Estado y debe disenarse pensando siempre en las próximas generations y no en las próximas elecciones”.

8 comentários:

  1. Eu, sou uma voz dissonante, naquilo que respeita aos modelos de educação.
    Eu, não acredito na competitividade, como incentivo à elevação da qualidade, acho até que esta ideia colide frontalmente com a de igualdade de oportunidades para todos.
    Eu, acredito que a desejada elevação da qualidade, tem de ser fruto da espontaniedade, da aptidão natural, da motivação, do desejo, do querer, sériamente estimulada e... nunca imposta.
    Eu, acredito que a formação académica, é uma mais-valia, acrescenta condições necessárias para que a formação profissional seja mais eficiente. Mas não acredito em programas-estanque, em matérias calendarizadas, em cumprimentos de objectivos.
    Eu, acredito que a verdadeira igualdade de oportunidades, passa sobretudo por ajudar a criança, o adolescente, o jovem, a descobrir as suas aptidões e a potência-las, ministrando-lhe depois as matérias inerentes.
    Afinal... o objectivo da formação é quase na sua totalidade o mundo do trabalho com vista à tal estabilidade e sustentabilidade de que fala, cara amiga, não lhe parece?!

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  2. Caro Bartolomeu
    Concordo praticamente com tudo o que escreveu, com excepção da falta de crença na competitividade. Aqui é que temos, porventura, uma opinião diferente. Vou tentar explicar.
    A igualdade de oportunidades passa, ente outros aspectos, por assegurar o acesso das crianças e dos jovens ao ensino, independentemente da sua condição económica e social, respeitando e explorando as diferenças que nos distinguem, que se reflectem nas aptidões, apetências e capacidades intelectuais.
    Não vejo que a competitividade entre escolas prejudique a verificação do princípio da igualdade de oportunidades. O importante, a meu ver, é que as escolas estejam preparadas para educar, ensinado, formando, motivando e descobrindo e desenvolvendo talentos, exigindo aos alunos esforço e trabalho.
    Parece-me que a competição entre escolas é saudável, pois é uma forma de elevar o nível de ensino, motivando-as a fazerem melhor.

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  3. Cara Margarida,

    A questão da competitividade entre escolas seria uma boa ideia se Portugal não fosse habitado por portugueses...

    Passo a explicar: se uma escola optar por garantir actividades lúdicas 24 horas por dia 365 dias por ano, garanto que terá filas imensas de candidatos, pelo contrário aquela que optar por trabalho terá apenas as filas habituais dos colégios francês e alemão...!


    Caro Bartolomeu,

    Com crianças e jovens não se pode optar pelo modelo por si defendido e os resultados de tal modelo estão à vista de todos..

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  4. Só gostaria dizer que enquanto nivelarmos o ensino por baixo (100%de sucesso), nos abstrairmos do que é na realidade o ambiente familiar e a educação em casa e na rua (melhor dito a falta dela), dissermos mal dos professores (o que não significa que sejam todos uns belíssimos profissionais), esquecermos quem são os responsáveis pela organização do sistema de ensino (que estão sentados nas suas impantes pessoas e grandes saberes), apenas nivelaremos por baixo aqueles que amanhã conduzirão infelizmente este país para o abismo, como já agora acontece.
    Se este país aceita ser governado pela farinha amparo realmente não pode esperar mais que isso: basta a chico espertice. O resto para mim são tretas.

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  5. Caro Fartinho da Silva
    Mas alguma coisa vamos ter que fazer, não lhe parece?

    Caro Eduardo
    Mas o ponto é que o nivelamento por baixo gera mediocridade e assim não vamos longe. Trabalho e esforço, autoridade e respeito, exigência e disciplina são valores que precisamos de recuperar. Coloca-se então a questão de saber como é que o vamos fazer? Como?

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  6. Cara Margarida,

    Alguma coisa temos que fazer sim, mas volutarismos não, porque fartinho de voluntarismos estamos todos...

    O que há a fazer são pequenas coisas, não são necessárias mais revoluções.

    É necessário recentrar a missão da escola naquilo que sabe fazer bem, ou seja na transmissão do conhecimento e da cultura tão duramente conquistados pelas gerações anteriores.

    É necessário deixar claro o trabalho do professor: ESTUDAR E ENSINAR.

    É necessário deixar claro o trabalho do aluno: ESTUDAR E APRENDER.

    É necessário deixar claro o trabalho do encarregado de educação: EDUCAR.

    Enquanto não fizermos isto, podemos fazer todas as revoluções que entendermos que os resultados serão exactamente os mesmos.

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  7. Cara Margarida,

    Apoiando os professores que se têm empenhado publicamente para isso mesmo: Professor Ramiro Marques e Professor Paulo Guinote Pese embora só os conheça pelos seus blogues). Debatendo de forma séria este assunto nos meios de comunicação social começando por desmontar como foram produzidos os programas como o Prós e Contras e se esclareça como é possível essa adulteração numa televisão pública e com uma apresentadora que se diz jornalista. Alterando os programas e os métodos. Eventualmente regredindo no choque tecnológico que parece ser bastante discutível em idades em que usar as mãos e a massa cinzenta é essencial para o desenvolvimento dos alunos que ainda são (e serão mais alguns anos) crianças. Apoiando as famílias com programas de educação apropriadas. Responsabilizando os Pais pelo estudo dos filhos e do seu comportamento social. Formar inspectores para avaliarem o trabalho dos professores e gestores nas aulas e nas escolas. Permitir alguma descentralização de programas tendo em conta as capacidades de cada região. Mas como não sou professor será certamente mais fácil encontrar professores interessados, descomprometidos e com provas dadas para se lá chegar. O que não podemos continuar a ter é esta mentira permanente como o professor Paulo Guimote demonstra no seu blogue sobre o apregoado sucesso escolar face a uma comunicação social manipulada e manipuladora, porque estão convencidos que ser de esquerda vende. Nivelar por baixo é o que se tem estado a fazer, infelizmente, há muito anos.

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  8. Caro Fartinho da Silva
    As pequenas coisas são simples de entender e não poderia estar mais de acordo com a sua abordagem também simples.
    O problema é que as pequenas coisas que deveriam ser coisas simples de entender tornaram-se coisas complexas de resolver devido à acumulação de cosias mal feitas durante anos a fios e a uma cultura distorcida que, entretanto, se foi instalando.

    Caro Eduardo
    Recuperar os valores que mencionei, que estão aliás em crise em muitos outros domínios, é o caminho. As suas sugestões vão nesse sentido.
    Lembrava só que os professores e os pais de hoje fazem parte, a bem dizer, de gerações que já foram educadas num regime de facilitismo, o que dificulta muitíssimo a mudança.

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