Continuo a série Mitos e Obstáculos que impedem o nosso desenvolvimento e a que aludi em post anterior.
A produção de artigos tradicionais tende a ser deslocalizada para os países em que o custo dos factores é mais baixo. Onde esse custo é mais caro, as margens diminuem ou passam a negativas, tornando o negócio inviável.
A solução é acrescentar-lhes valor ou apostar decididamente em novos produtos. É esta a essência da inovação e não há inovação sem investigação tecnológica aplicada.
Os investimentos em investigação tecnológica são importantes e decisivos, se se concretizarem em inovação, mas inovação entendida como a criação de novos produtos susceptíveis de serem comercializados. Pois só esses geram produção, criam emprego, riqueza e desenvolvimento.
As empresas portuguesas já o compreenderam e vêm aumentando aceleradamente os investimentos em investigação. Mas, como em qualquer outro país desenvolvido, precisam desesperadamente de parcerias com os Centros de Investigação Públicos, em que o Estado tem investido verbas significativas. Todavia, em pura perda. Porque é geralmente uma investigação que visa meros objectivos particulares do próprio Laboratório, ou feita a gosto do investigador. Ao contrário, e sem prejuízo de uma investigação fundamental, o que se exige é que esse esforço de investimento que todos pagamos se traduza numa investigação tecnológica virada para as empresas e para a inovação, que crie produtos e mercados. Em Centros onde a investigação se leva a sério, por exemplo, na Universidade de Austin, o lema é investigação que faça a diferença: capacidade de comercialização.
Claro que há alguns limitados casos de sucesso em parcerias de empresas com os Centros de Investigação do Estado, que desembocaram em inovação, mas infelizmente essa não é a regra.
A produção de artigos tradicionais tende a ser deslocalizada para os países em que o custo dos factores é mais baixo. Onde esse custo é mais caro, as margens diminuem ou passam a negativas, tornando o negócio inviável.
A solução é acrescentar-lhes valor ou apostar decididamente em novos produtos. É esta a essência da inovação e não há inovação sem investigação tecnológica aplicada.
Os investimentos em investigação tecnológica são importantes e decisivos, se se concretizarem em inovação, mas inovação entendida como a criação de novos produtos susceptíveis de serem comercializados. Pois só esses geram produção, criam emprego, riqueza e desenvolvimento.
As empresas portuguesas já o compreenderam e vêm aumentando aceleradamente os investimentos em investigação. Mas, como em qualquer outro país desenvolvido, precisam desesperadamente de parcerias com os Centros de Investigação Públicos, em que o Estado tem investido verbas significativas. Todavia, em pura perda. Porque é geralmente uma investigação que visa meros objectivos particulares do próprio Laboratório, ou feita a gosto do investigador. Ao contrário, e sem prejuízo de uma investigação fundamental, o que se exige é que esse esforço de investimento que todos pagamos se traduza numa investigação tecnológica virada para as empresas e para a inovação, que crie produtos e mercados. Em Centros onde a investigação se leva a sério, por exemplo, na Universidade de Austin, o lema é investigação que faça a diferença: capacidade de comercialização.
Claro que há alguns limitados casos de sucesso em parcerias de empresas com os Centros de Investigação do Estado, que desembocaram em inovação, mas infelizmente essa não é a regra.
O próprio diálogo com os Centros é difícil: dizia-me há dias um empresário que não consegue, há um ano, marcar uma entrevista sequer com determinado Centro de Investigação para desenvolver um produto, Centro esse aliás pertencente a uma Universidade onde é membro do Conselho Consultivo!...
E dizia o Prof. António Câmara, de forma eufemística, que os investigadores são muito autónomos. Pois têm que o deixar de ser.
Acabar com o mito de que há investigação tecnológica para o mercado seria obrigar os Centros de Investigação do Estado a estabelecer e dinamizar parcerias com as empresas (cujo investimento já ultrapassa o do Estado), com vista a desenvolver programas de investigação aplicada, com prazos estabelecidos, com metas parciais a atingir, com orçamentos aprovados, e com hierarquia definida, sob o controle das empresas. No âmbito dessa política, os Centros Tecnológicos que, no prazo de dois anos, não tivessem concretizado tais parcerias, seriam encerrados.
E dizia o Prof. António Câmara, de forma eufemística, que os investigadores são muito autónomos. Pois têm que o deixar de ser.
Acabar com o mito de que há investigação tecnológica para o mercado seria obrigar os Centros de Investigação do Estado a estabelecer e dinamizar parcerias com as empresas (cujo investimento já ultrapassa o do Estado), com vista a desenvolver programas de investigação aplicada, com prazos estabelecidos, com metas parciais a atingir, com orçamentos aprovados, e com hierarquia definida, sob o controle das empresas. No âmbito dessa política, os Centros Tecnológicos que, no prazo de dois anos, não tivessem concretizado tais parcerias, seriam encerrados.
Claro que nada de aproximado faz parte de um programa político. Os políticos, para apaparicar a corporação, mais não fazem do que nela despejar dinheiro. Mas, tal como estamos, é um mito a investigação tecnológica em Portugal e constitui puro desperdício o dinheiro que o Estado nela investe.
Caro Pinho Cardão, concordo com a necessidade de haver consequências da investigação mas discordo em dizer que isso não acontece em Portugal.
ResponderEliminarNão sei qual realidade conhece na investigação portuguesa mas acho que desde há 12 anos a investigação em Portugal está a evoluir de uma forma gigantesca. É certo que muitas universidades e politécnicos ainda querem ser 100% financiadas pelo estado mas isso está esgotado.
Se o seu conhecido empresário está a bater à porta de apenas um centro de investigação, está a usar a abordagem errada; também pode acontecer que queira que a investigação seja 100% paga pelo estado... Quase que me sinto tentado a apostar consigo em como é possível iniciar essa investigação em menos de 1 ano.
Percebo a tentação para a investigação aplicada, que é importante; mas a investigação não aplicada é que sustenta as aplicações.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarJá que falamos em mitos, podemos ir pelas crenças. E existe a crença de que os centros de investigação públicos, com outros "drivera", poderiam apoiar as empresas na criação de novos produtos ou novos processos.
Não é verdade. Não há a menor hipótese disso acontecer, nem o meu caro se imaginaria a conseguir trabalhar daquela forma. O próprio Câmara viveu do ordenado do centro de investigação até sair para a Y. Talvez ele o consiga, mas porque conhece profundamente as pessoas.
Agora, o objectivo do estado é o país e gente como o Câmara é boa para o país. E repare que o caso dele deve ser um caso bastante deficitário para o estado, no sentido em que saiu para o privado para fazer negócio. Mas o facto é que é bom para o país. Os centros de investigação produzirem mais 100 Cãmaras é muito mais provável que exista uma empresa capaz de colaborar com um desses centros de investigação. Portanto, não me parece muito preocupante que os centros de investigação produzam parcerias, desde que consigam produzir empreendedores com cabeça para esse desenvolvimento. Se isso resultar numa parceria, bom para eles. Senão, bom para nós.
Agora, o que não pode acontecer é que sejam fins em si mesmo, onde gente entra para fazer carreira até morrer a fazer pequena ciência. Nem pode acontecer que os distintos investigadores achem que estão a fazer um favor a alguém quando se lhes pede colaboração. Há uns anos recordei um desses distintos investigadores que metade do ordenado dele era pago por mim e, portanto, queria esse tempo.
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ResponderEliminarCaro Francisco:
ResponderEliminarSe reparou bem, eu também defendi a investigação pura. Mas, sem prejuízo desta, a investigação tecnológica tem que se traduzir em inovação, em produtos comercializáveis. Se não, não serve para o desenvolvimento do país.
Diz que o panorama se modificou nos últimos anos. Eu sei que, em parte, é verdade. Mas os Centros continuam muito no seu cantinho. Onde estão as patentes e os novos produtos? O que é que a investigação deu à economia?
Caro Tonibler:
Pois claro que concordo consigo quando diz que " o que não pode acontecer é que sejam fins em si mesmo, onde gente entra para fazer carreira até morrer a fazer pequena ciência. Nem pode acontecer que os distintos investigadores achem que estão a fazer um favor a alguém quando se lhes pede colaboração". E isso ainda é a regra mais generalizada.
Caro Paulo:
1. Concordo que alguns estarão a anos luz da média do empresariado. Mas de que serve? Quais os produtos lançados no mercado. Quais as patentes? O nº de patentes por milhão de habitantes é 10 vezes inferior ao da Finlândia, 12 vezes inferior ao da Suécia, 20 vezes inferior ao de Israel, 19 vezes inferior ao da Holanda, 1000 vezes inferior ao da Coreia.
2. O meu amigo chegou ao ponto quando diz que muitos Centros nem orçamento têm. Eu diria mais: nem quererão ter. É a melhor forma de não serem controlados e viverem descansados da vida.
Deu-me mais um excelente argumento.
3. Concordo com as medidas que sugere. Mas não chegam.
A avaliação dos centros é uma necessidade. Mas, mais do que essa avaliação por entidades idóneas, a avaliação real está na inovação que produz. Inovação entendida como produtos novos ou aperfeiçoamento dos existentes, mas produtos susceptíveis de serem comercializados, pois só esses produzem riqueza e geram emprego.
Daí a necessidade urgente de parcerias com as empresas.
Nãopodemos dizer que o paradigma dos baixos custos está esgotado e, ao mesmo tempo, gastar milhões numa investigação que serve apenas os interesses ou o ego dos investigadores.
Parece-me que tenho razão!...
E, claro, apreciei muito o seu comentário.
Verifico que os caros autor e comentadores, concentram a vossa total atenção nos centros de investigação, na sua actividade e desenvolvimento de projectos e na consequente aplicação e produção dos mesmos.
ResponderEliminarPergunto eu:
1ºVisando a inovação e o aumento da comercialização de novos produtos e o consequente aumento da riqueza, não lhes parece que uma investigação e porque a sua actividade é livre, será incontrolável?
2º A riqueza proporciona "qualidade de vida" segundo determinados critérios, o que conduz ao crescimento demográfico, esse crescimento, por sua vez, exige maior produção e mais inovação, maior consumo, maior gasto de recursos naturais, hidricos energéticos, minerais e de solos.
Então, esse desenvolvimento de mais tecnologia e maior produção não poderão conduzir a humanidade à auto-extinção?
3º Como a riqueza e a prosperança não se distribuem homogeneamente pela superfície do globo, o seu aumento não será gerador de maiores tensões entre os povos, podendo originar guerras... pela subsistência de um lado e pela defesa da "prosperidade" do outro?
Caro Bartolomeu:
ResponderEliminar1. A investigação é uma actividade económica. é a investigação que suporta as empresas inovadoras. O Estado afecta meios financeiros poderosos aos seus Centros e Laboratórios Tecnológicos. Não podem fazer da investigação o seu objecto de gozo pessoal, têm que prestar serviço útil à economia real, pois só assim se justificam.
Têm que ter objectivos, programas de investigação aplicada, com prazos estabelecidos, com metas parciais a atingir, com orçamentos aprovados, e com hierarquia definida, sob o controle das empresas. Os serviços efectivamente prestados têm que ser oprincipal suporte da sua existência.
É neste tipo de actividade que a inassim enquadrada que a investigação deve ser "incontrolável", para utilizar as suas palavras.
2. Seguramente que não. Por exemplo, os primeiros carros eram muito poluidores, os actuais, menos e os futuros ainda menos.
Mercê da inovação, a energia via petróleo ou carvão, poluidora, está gradualmente a ser substituída pela eólica, solar ou das marés. As coisas harmonizam-se.
3. Guerras têm sido o pão nosso de cada dia da humanidade.A estupidez e a ambição não escolhem motivos para fazer a guerra. Guerras houve entre os países mais ricos e guerras há entre os países mais pobres. O motivo que aponta é um motivo como qualquer outro.
Penso eu de que...
Caro Bartolomeu:
ResponderEliminarO último período do ponto 1 tem uma gralha. Deve ler-se:
É neste tipo de actividade assim enquadrada que a investigação deve ser "incontrolável", para utilizar as suas palavras.
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ResponderEliminar;)
ResponderEliminarMuito bem, caro Dr. Pinho Cardão, eminente Economista.
Não fosse o caso de se ver já de muito perto... o apocalipse do fim deste mundo económico e produtor (mas não produtivo).
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ResponderEliminarCaro Paulo,
ResponderEliminar50% do ordenado dos docentes universitários é alocado como investimento na investigação e, por isso, esse custo vai lá.
Qual é a relação custo-benefício da criação da Y-Dreams? E da Critical? (dois exemplos "populares") Para os centros de investigação, a criação destas empresas foi uma perda de facturação futura enorme e andou a pagar ordenados para as pessoas se irem embora. No entanto, o país ganhou na exportação de produtos de alto valor acrescentado. Se não houvesse o centro de investigação, não tinha contabilizado os custos no estado, nem os proveitos no país. Só que, no fim do dia, são os proveitos para o país que interessam. A coisa não é tão líquida como a quer fazer.
Todas as empresas têm dimensão para fazer R&D. Todas! A NIKE nasceu recorrendo a torradeiras, não é por uma questão de dimensão. É uma questão de risco, é uma questão de liquidez do mercado e, tudo resumido, é carga fiscal. Os meios para fazer investigação estão a ser consumidos em submarinos, em TGV, em autoestradas, em políticos, em rotundas, em partidos, em escutas, etc... Os centros, coitados...
Caro Paulo:
ResponderEliminarAs árvores conhecem-se pelo fruto.
Qual o impacto na economia real,que inovação relevante, que novos produtos para consumo interno ou exportação, que aperfeiçoamento dos produtos existentes,a investigação tecnológica do Estado propiciou em Portugal? Esta é a questão.
Mas, quando ouço o Governo a falar de investigação tecnológica, só ouço dizer que se atingiu o rácio x ou se aumentaram as dotações em mais umas dezenas de milhões. Isso só teria lógica se, ao mesmo tempo, se afirmasse os objectivos concretos que se visam atingir. Mas isso nunca acontece.
As empresas sentem necessidade do apoio dos Centros do Estado.
Segundo J.Norberto Pires, Professor da Universidade de Coimbra, Departamento de Engenaria Mecânica, in Novas Ideias Empresariais, Empreendorismo e Risco, o Relatório Bianual da EU que se que se dedica a avaliar a aposta das empresas em inovação (Innobarometer 2004), refere que um número importante de empresários portugueses disse que tinha introduzido novos produtos ou alterações significativas nos seus produtos nos últimos dois anos. No entanto, a mesma percentagem disse que não tinha feito, nesses mesmos dois anos, qualquer contrato de desenvolvimento com uma instituição de I&D.
Pergunto porquê. E a resposta que mais tenho ouvido é a dificuldade de diálogo. Os investigadores andam muito preocupados com eles próprios, com o artigozinho para a revista, considerando porventura que investigação aplicada lhes coarcta a autonomia e não se coaduna com o seu status.
Objectivos, programas, orçamentos, liderança, disciplina É O QUE PRECISA A INVESTIGAÇÃO TECNOLÓGICA PORTUGUESA.
Claro que temos óptimos recursos humanos e eles próprios se sentiriam mais motivados se os resultados do seu trabalho e esforço se concretizassem em apoio directo às empresas e crescimento da economia.
Quanto ao nº de Centros, não me parece importante a questão.importante, si, é pôr os existentes a justificar as verbas que nós pagamos para eles.
Abraço
Caro Tonibler:
ResponderEliminar1.Dois exemplos felizes.
2. De facto, as grandes inovações NÃO SÃO EXCLUSIVO DAS GRANDES EMPRESAS, PELO CONTRÁRIO. As grandes inovações deram-se em pequenas empresas que, pelo facto, se foram tornando grandes.
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ResponderEliminarCaro Paulo:
ResponderEliminarNão podemos viver de abstracções.
O fruto da investigação é a inovação. Que produtos novos foram lançados no mercado por via do apoio da investigação tecnológica do Estado? Que patentes registou essa investigação tecnológica de produtos susceptíveis de serem comercializadas?
Este é o teste.
Uma equipa pode jogar muito bem futebol no meio campo, mas se não meter golos nega-se enquanto equipa. E a investigação tecnológica do Estado quantos golos mete por época? Vá lá, se uma época é pouco, quantos golos meteu nos últimos dois, três, cinco anos?
Sans rancune...
Abraço
Caro Paulo,
ResponderEliminarA Nike nasceu de tostadeiras, a coca-cola de uma vigarice, a Texaco de um agricultor falido pela poluição, a Micrsoft numa garagem....coisas com qualidade e reconhecidas internacionalmente são aquelas em que há quem dê dinheiro por elas.Não é porque alguém diz "boa coisa" mas não dá um tostão por isso. De resto, todos os casos de sucesso são, nessa perspectiva, anedóticos.
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ResponderEliminarCaro Paulo:
ResponderEliminarAcho que foi uma boa discussão!...
E obrigado pelo seu contributo.