No discurso proferido durante a tomada de posse do XVIII Governo Constitucional, o Primeiro-Ministro apenas por uma vez mencionou o problema do endividamento externo, apenas para referir a aposta nas energias renováveis como forma de “reduzir a nossa dependência do petróleo” e, assim, “reduzir o endividamento externo que essa dependência provoca”. Desta forma, José Sócrates deixou claro que o endividamento externo de Portugal não será uma prioridade para o novo Executivo Socialista. Como não era para o anterior.
Já para o Presidente da República, existem dois problemas que “merecem particular atenção: o desemprego e o endividamento externo”, sendo este último relevante pelos “constrangimentos que pode impor ao desenvolvimento do país”. Em minha opinião, o Presidente tem razão: o endividamento externo português tem crescido de forma galopante, é o mais elevado da União Europeia, e ultrapassará, no final de 2009, e pela primeira vez, a totalidade do PIB – o que significa que, se por hipótese meramente teórica quiséssemos pagar toda a dívida externa, a riqueza gerada em todo o ano de 2009 já não seria suficiente…
Sucede que, enquanto Cavaco Silva abordava este tema e aludia ao problema dos défices gémeos (o défice público e o défice externo), Vítor Constâncio abanava com a cabeça, em sinal de discordância, desvalorizando esta questão (como vem fazendo desde que Portugal aderiu à moeda única em 1999).
Sinceramente, não percebo como é que o endividamento externo que Portugal enfrenta não é uma prioridade para o Governo, ou uma fonte de (enorme) preocupação para o Governador do Banco de Portugal.
Sim, é verdade que o facto de Portugal pertencer à Zona Euro nos protege de situações de crise que, no passado, obrigaram a intervenções do FMI. Mas não é menos verdade que as consequências de défices externos anuais elevados (que conduziram ao fortíssimo endividamento externo com que hoje somos confrontados) continuam a ser sentidas. Simplesmente, enquanto que antes os efeitos eram sentidos rapidamente quer nas variáveis financeiras (taxas de juro e moeda), quer reais (actividade, emprego, salários), agora eles são sentidos totalmente, e mais lentamente, do lado real. É por isso que, vagarosamente, o nosso crescimento económico tem vindo a definhar, o desemprego a aumentar e o nível de vida a regredir.
Não há volta a dar: um forte endividamento externo acaba sempre por ter que ser pago, deixando menos recursos disponíveis para consumir e/ou investir. A desgraça económica que tem sido a última década de Portugal aí está para o confirmar… Que mais é preciso para que a este tema seja considerado com a atenção – e a prioridade – que ele realmente merece?...
"o endividamento externo português tem crescido de forma galopante, é o mais elevado da União Europeia, e ultrapassará, no final de 2009, e pela primeira vez, a totalidade do PIB"
ResponderEliminarUma afirmação destas era muito mais convincente com um ligação para dados concretos.
Três Editoriais seguidos a mancionar o Presidente da República! É obra.
ResponderEliminarPelo que vejo, aquilo que parece ser a "colagem" do PSD ao PR continua! O que será mau para o PSD e nada bom para o Chefe de Estado.
"A desgraça económica que tem sido a última década de Portugal aí está para o confirmar...",palavras do autor.
E fico baralhado por ter lido no suplemento de Ecomomia do Expresso (Edição de 17 de Outubro), que o Dr.Miguel Frasquilho teria elogiado a economia portuguesa, na Bolsa de Nova Iorque, perante investidores americanos. O Dr. Miguel Frasquilho, ainda segundo o mesmo semanário, teria igualmente enfatizado o crescimento das exportações, sublinhando o défice e o desemprego abaixo da média europeia, concluindo que Portugal está bem colocado para ter um papel positivo na economia mundial nas próximas décadas!
Estou perplexo! Alguém me pode explicar isto? Duas versões para uma só realidade? Não pode ser!!!
Irlanda
ResponderEliminarDesempregados: 12,4%
Déficit : 11%
Espanha
Desemprego: 14%
Déficit : 8,1%
Portugal
Desemprego: 11%
Déficit : 6,4%
DIVIDA PUBLICA
Portugal 74%
Grécia 104%
a Bélgica, a Itália e a França além da Grécia deverão chegar a 2010 com um rácio da dívida pública superior ao português, segundo a OCDE.
A dívida desmerecida
ResponderEliminarnuma atitude lamentável,
fica mais robustecida
para além do sustentável.
A confiança esfrangalhada
por esta política rosada,
colocar-nos-á numa alhada
com a economia enfezada.
Diferenças notórias
no trilho para caminhar,
sendo premonitórias
da economia a definhar.
De visão curta e toldada
sobre o endividamento,
esta política malfadada
atrofiará o crescimento.
Epílogo
Há muitos anos parado
este regime apodrecido,
deixando o país pirado
e um futuro esvaecido.
É tamanha a lentidão
de passadas vagarosas,
fortalecendo a lassidão
de prosápias rumorosas.
O Governador está preocupado com outras coisas. Se não tivéssemos um governador focado na economia do país, como é que o banco de portugal conseguia acertar as previsões todas?
ResponderEliminarCaro Miguel Frasquilho, permita-me responder à questão com que termina o seu post. Tenho para mim que a resposta a isso é, aliás, muito simples.
ResponderEliminarSó se dará atenção ao problema do endividamento quando Portugal cair na bancarrota. Assim mesmo, à moda Argentina que, aliás, não foi mais do que uma reposição dum filme já visto e revisto em vários países africanos ao longo dos últimos 30-40 anos.
Apenas aí, talvez (enfase no talvez) os cidadãos percebam onde o endividamento excessivo os levou. E eu, para ser sincero, não irei ter pena. Dado aquilo que os cidadãos pedem e apoiam, será apenas o colher do que semearam.
Ao referir a aposta nas energias renováveis como forma de reduzir o endividamento externo, Sócrates está, mais uma vez, a deitar fumaça para os olhos do gentil público.
ResponderEliminarAs energias renováveis têm sido utilizadas como panaceia para o problema energético nacional, mas o seu efeito na nossa economia está muito longe de ser aquilo que o governo diz.
Por um lado é duvidoso que uma indústria que vive de equipamentos importados permita reduzir o endividamento externo de forma significativa. E dizer que permite reduzir a nossa factura do petróleo é certamente uma brincadeira. Hoje em dia já praticamente não se queima petróleo em Portugal para produzir energia eléctrica.
Por outro lado, tendo em conta os subsídios monumentais que são atribuídos aos promotores das renováveis, em particular a eólica e a fotovoltaica, subsídios esses que vão parar à tarifa de electricidade, se alguém tira benefício das renováveis não são, com certeza, os consumidores portugueses.
Finalmente, convem ter em conta que o contributo das energias renováveis para a produção de energia eléctrica no nosso país não é, de forma alguma, o que a propaganda governamental insiste em afirmar.
Num texto que publiquei no blog Mitos Climáticos, que intitulei “O milagre das renováveis em Portugal”, tive oportunidade de desmontar a fraude subjacente aos números artificialmente empolados anunciados pelo governo relativamente ao contributo das energias renováveis. Se os leitores do 4R quiserem ler o texto, deixo aqui o link : http://mitos-climaticos.blogspot.com/2009/09/o-milagre-das-renovaveis-em-portugal.html
Por sinal, ainda hoje será publicado, no mesmo blog, um outro texto meu respeitante às energias renováveis.
Vale tudo para atacar Sócrates!
ResponderEliminarAté o programas das energias renováveis. É fantástico! É certamente mais uma "invenção" do Governo. Sim, se formos à Alemanha ou a França ver-se-á que ninguém se preocupa com as energias renováveis!
É que vale mesmo tudo! Até dizer-se que se recorre à fraude para empolar artificialmente os números relativos ao contributo das energias renováveis. Tudo não passa de propaganda política para deitar fumaça para os olhos do gentil público,o qual, acrescento eu, é estúpido e gosta de ser enganado!
O efeito estufa com as emissões de CO2 jamais existiu.O aquecimento do planeta é uma miragem!
Estão muito preocupados com a bancarrota, que está mesmo aí à porta!
Descesse o Governo os impostos e logo seria atacado por isso!
Quem não os conhece!
Como não podem desvalorizar a moeda, Sócrates é o responsável por não ter implementado as medidas "compensatórias" para atenuar o impacto resultante da entrada de Portugal na zona euro!
Há dias ouvi um Senhor na televisão sobre o endividamento e o desemprego. Como não se pode desvalorizar a moeda(ai que saudades desses tempos, digo eu,)a receita era flexibilizar, flexibilizar... as leis do trabalho, está bem de ver!
Se o emprego é precário, como seria com mais flexibilidade?!
Quem os ouve agora e quem os ouviu no pico da crise financeira: ó Estado, querido Estado, ajuda-me se não morro!
Quem pretenderão enganar?
Ó caro Transtagano
ResponderEliminarSe há aqui alguém a pretender enganar outrem, parece que é você mesmo. Leia o texto que eu aqui sugeri e se algo estiver errado, eu reconheço publicamente o meu erro.
Já tinha lido o texto.
ResponderEliminarNão demonstra nada a partir dos números.
O que demonstra, sim, é a sua opção nuclear, que é naturalmente respeitável e que é diferente da que o Governo seguiu.
Está contra as renováveis porque a sua opção é a nuclear. Tão simples como isto.
Caro Transtagano,
ResponderEliminarTodos sabemos dos benefícios das energias renováveis e doutras tecnologias limpas. Também sabemos das vantagens dos produtos biológicos, para dar outro exemplo.
O problema é o custo. O equilíbrio entre o custo e o benefício, num determinado período de tempo, tem de ser avaliado. Caso contrário, é como aquelas empresa que têm óptimas ideias, até têm bons gestores, mas os seus produto demoram anos a desenvolver e entretanto o dinheiro acaba.
O problema está no dinheiro Senhores!!
Mas ainda relativamente às energias renováveis, todos sabemos que são investimento normalmente elevados e com retorno passados muitos anos.
O problema não é o dinheiro, que tão zelosamente defendem.
ResponderEliminarO problema, repito,é o da opção "renováveis" versus "nuclear".
Aqui é que bate o ponto.
Sabe-se que, nos Estados Unidos, os custos de construção das centrais nucleares cifraram-se entre três a 4,8 vezes maiores do que o estimado pelos promotores na fase de pré-construção!
Na apresentação dos respectivos projectos para as centrais nucleares os custos são geralmente "sub-avaliados".
Isso mesmo se disse, cá em Portugal, a propósito do projecto Monteiro de Barros.
Caro Transtagano
ResponderEliminarEu não queria ir tão longe, mas não tenho outro remédio senão dizer-lhe que você é um interlocutor desonesto.
De facto, para vir aqui dizer que eu não demonstro nada a partir dos números, é porque não leu coisa nenhuma ! O que está no meu texto são precisamente números. E está lá, preto no branco, a forma capciosa como o governo manipula os números para anunciar a pretensa liderança de Portugal no campo das energias renováveis, o que não passa de uma mentira estafada.
Se quiser saber, no tempo de Salazar, isso sim, éramos líderes nas renováveis. Pode dizer isso ao pseudo-engenheiro Sócrates.
E escusa de agitar o papão do nuclear, porque eu não sou desonesto e não escondo a ninguém a minha concordância com a opção nuclear.
Escusa também de mentir sobre os custos do nuclear porque toda a gente ligada ao sector energético sabe que a energia eléctrica de origem nuclear é a segunda mais barata, apenas atrás do carvão, embora prestes a ultrapassar o carvão dadas os sobrecustos idiotas respeitantes às emissões do fertilizante atmosférico que dá pelo nome de dióxido de carbono.
Francamente falando, caro Transtagano, termino a conversa consigo endereçando-lhe uma expressão do pseudo-engenheiro que, pelos vistos, é o seu ídolo, quando, da bancada parlamentar, se dirigia ao primeiro ministro Santana Lopes : você não tem jeito para isto !
E não tinha, como se viu!
ResponderEliminarO seu post é que me pareceu agora um "pequena explosão nuclear".
Até afirmei que respeitava a sua opção. Mas a palavra "nuclear" fê-lo saltar e perder as estribeiras (Freud explica isso perfeitamente).
Por mim, tudo bem. Pode explodir à vontade se com isso conseguir aplacar os seus "demónios".
Poderia retribuir da mesma maneira, chamado-lhe interlocutor desonesto. Não o faço.
O seu post tirou-lhe um verdadeiro auto-retrato.
Exmo. Trangstagano,
ResponderEliminarNão se preocupe: não estará, por certo, mais baralhado e perplexo do que a jornalista do Expresso que fez aquela peçazita "em off"... porque se ela tivesse percebido alguma coisa do que assistiu em NY, certamente não a teria escrito.
Mas não desespere: quem sabe da próxima vez a percepção é mais alargada?!...
Dr. Miguel Frasquilho
ResponderEliminarMas já a desmentiu, não?
Eu?!... Não me compete a mim desmentir uma peça que nem sequer está assinada... E,sinceramente, não vou perder tempo com quem a fez com evidente má vontade e tentando denegrir-me...
ResponderEliminarDr.Miguel Frsquilho (11:19)
ResponderEliminarNão está assinada mas o director do Expresso é responsável.
Se me tentaram denegrir e ainda por cima com má vontade, pode ter a certeza de que não me calaria.
De resto, o seu silêncio a propósito do que foi noticiado deu aso, por exemplo, a que eu me "abonasse" naquele suplemento económico para lhe manifestar a minha perplexidade pelo seu EDITORIAL. É que há silêncios ensurdecedores e, como costuma dizer-se, "quem cala consente".