quarta-feira, 21 de outubro de 2009

De pequenino se torce o pepino...

Tenho tido ecos através de familiares franceses, que a qualidade da educação em França se tem vindo a deteriorar. Os liceus franceses têm vindo a registar aumentos nas taxas de absentismo e de insucesso escolar.
Recentemente o governo francês, tendo por objectivo combater o absentismo, decidiu criar um prémio financeiro para recompensar os alunos que se esforçarem por não faltar às aulas. Trata-se de um prémio que será tanto mais elevado quanto maior for a assiduidade registada face aos objectivos fixados no início do ano. Não se trata de um prémio individual, mas de um benefício atribuído por turma, de valor incremental em função da observação mensal da resposta dos alunos aos obejctivos fixados. Segundo li, com a atribuição do prémio por turma, incentiva-se a responsabilização individual e a solidariedade de grupo tendo em vista um resultado colectivo.
Esta medida gerou grande polémica política e na opinião pública, o que, a bem dizer, não surpreende. Com efeito, é difícil encarar uma tal medida de ânimo leve e encontrar razões normais para aceitar o princípio do benefício do infractor.
Primeiro, a escola é um local que existe para ensinar e formar e transmitir aos alunos princípios e valores essenciais, tais como a disciplina, a obediência e o trabalho, cujo nível de aprendizagem tem impacto na formação de hábitos e costumes que influenciarão as suas vidas em sociedade.
Segundo, a escola não deve premiar o infractor, sob pena de caucionar comportamentos sancionáveis e de os incentivar. Uma tal prática convida os alunos (e os pais) a não cumprirem com obrigações elementares, para no momento seguinte os recompensar por se comportarem bem.
Trata-se de um mecanismo perverso, porque para além de premiar o incumpridor desmotiva e desvaloriza o cumpridor.
Será que este tipo de medidas é já um último recurso, porque não há outras formas de levar os alunos à escola?
Os defensores da medida justificam-na colocando-a no mesmo plano das bolsas de estudo atribuídas aos alunos com necessidades financeiras ou invocando que o prémio colectivo ao contrário do prémio individual promove o espírito de solidariedade e contraria o individualismo.
Assim vai a inovação educativa em França. Uma medida que me parece de difícil socialização, pelas razões atrás referidas e pelos elevados custos financeiros que acarretaria. Esperemos que por cá ninguém se lembre de adoptar uma tal "proeza"...

8 comentários:

  1. Convenhamos, cara Drª. Margarida que concordo essencialmente com a sua opinião nos 4º e 5º paragrafos.
    Contudo o problema da assiduidade, da motivação e do aproveitamento escolar, comum à maioria das crianças do nosso tempo, existe e carece de uma solução objetiva, eficaz e... democrática.
    Um solução que concilie interesses sociais, políticos e pedagógicos.
    Recordo-me da posição do Professor Agostinho da Silva, fundador de algumas universidades no brasil, todas sob a égide de um princípio fundamental: Oferecer aos jovens a oportunidade de aprender, acompanhando-os, ajudando-os a descobrir e potências as suas naturais aptidões. Agostinho defendia que a escola tem de ter a função de preparar e equipar para a caminhada futura.
    É inegável o facto de que cada um de nós possui as suas qualidades e aptências naturais e individuais, são essas que compete aos pais e aos profissionais da educação, ajudar o jovem a descobrir em si e dar-lhe os métudos e as ferramentas para que as aprefeiçoe e potencie.
    ;)

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  2. Tenho para mim, há muito tempo, que o ensino devia ter duas vias - a civil e a militar. A civil rege-se por regras de conduta civis e a militar rege-se por regras de conduta militares. Com isto resolviam-se uma carrada de problemas ao mesmo tempo, incluindo o dos professores.

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  3. ;)))
    E os militares de carreira, após terminar o curso, ficariam sujeitos à lei marcial, não é verdade Tonibler?!
    ;)))

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  4. Cara Margarida de Aguiar,

    Escreve que "Primeiro, a escola é um local que existe para ensinar e formar e transmitir aos alunos princípios e valores essenciais..."

    Não concordo, isso que ensinem os pais. Os meninos faltam, muito simples, no ano seguinte os pais sobem de escalão de IRS ou ficam sem o rendimento mínimo ou subsídio de desemprego.

    França é um país em decadência, como alias, o Ocidente...

    Cumprimentos,
    Paulo

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  5. Caro Bartolomeu
    O Professor Agostinho da Silva tinha razão. A escola é um local extremamente importante para a vida. Razão para que não possa ser dispensado.

    Caro Paulo
    Vejo que não concorda com o prémio de assiduidade instituído pelos franceses e vejo que defende soluções mais radicais.
    A família é o núcleo fundamental de crescimento, mas a escola tem também um papel fundamental na preparação das crianças e dos jovens para a vida.
    O absentismo e o insucesso escolar são problemas graves porque são factores de exclusão social, constituindo um problema não apenas para os alunos e as suas famílias mas, também, um peso bem pesado para a sociedade. Se este custo for superior ao custo de medidas que visem a integração escolar então vale a pena afectar recursos neste sentido.
    Não creio, no entanto, pelas razões que expliquei no meu texto, que o caminho para esta integração esteja na atribuição de prémios do tipo da recompensa em questão

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  6. Enfim..., mais uma medida muito gira, muito social, muito integradora, muito de esquerda pós-moderna, muito chique, muito caviar e... não resolve rigorosamente coisa nenhuma!

    Infelizmente a esquerda tomou conta das escolas públicas em vários países e com isso hipotecou o futuro dos mesmos!

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  7. Um verdadeiro absurdo. Absolutamente anti-pedagógico.

    Quando as crianças nascem, os pais são os seus primeiros educadores, os que as iniciam numa aprendizagem que irá durar uma vida inteira. Consequentemente, fomentar uma parceria entre pais, encarregados de educação, escola e a comunidade em geral seria uma medida a tomar. Segundo estudos efectuados, a participação plena dos pais na educação dos seus filhos, ajudam-nos a ter melhor aproveitamento escolar;

    Outras medidas que poderiam aliciar/motivar os estudantes e talvez diminuir o abandono e o absentismo escolar:

    - Revisão/melhoramento/actualização do programa curricular de forma a ir ao encontro dos interesses dos alunos... e... já agora... revisão dos métodos utilizados para o ensino desse novo currículo.

    - Diminuir a carga horária; Estabelecer um novo horário (a nível secundário), p. e.: 8h30 até 14h30 – assim os alunos teriam mais tempo (sem serem interrompidos em termos de aulas) para estudar/fazer os seus deveres escolares.

    - Corrigir certas desigualdades de oportunidades educativas;

    - Eliminar as repetências porque em nada contribuem para o sucesso escolar.

    Apenas algumas sugestões...

    Esta não pretende ser, de forma alguma, uma lista exaustiva....!

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  8. Caro Fartinho da Silva
    É também muito inovadora, com muita reengenharia educativa!

    Cara Catarina
    Penso que o caminho passa muito pelas sugestões que apresenta.
    Com efeito, o absentismo e o insucesso escolares têm muitas causas de natureza económica e social. Os filhos de famílias desestruturadas, famílias com problemas financeiros e famílias com baixo nível educacional apresentam um potencial de risco de absentismo e insucesso escolares superior. Estas são causas de desigualdade de oportunidades, como muito bem refere a Cara Catarina.

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