Eu sei que a natalidade continua a baixar, mas a vida moderna tem meandros bem complicados e alguns não são devidamente ilustrados!
Enquanto por cá os imigrantes contribuem com 13% para disfarçar o problema, a diáspora dos nossos jovens, por exemplo, tem muito mais reflexos na vida familiar do que as muitas saudades, as remessas de bacalhau e marmelada pelo correio ou as contas de telefone exorbitantes, rapidamente convertidas no domínio da tecnologia skype.
Enquanto por cá os imigrantes contribuem com 13% para disfarçar o problema, a diáspora dos nossos jovens, por exemplo, tem muito mais reflexos na vida familiar do que as muitas saudades, as remessas de bacalhau e marmelada pelo correio ou as contas de telefone exorbitantes, rapidamente convertidas no domínio da tecnologia skype.
Reflecte-se também, e confesso que até há pouco tempo não me tinha ocorrido, na nossa qualidade de avós e no modo inovador como os nossos filhos convertem o tradicional e indispensável! apoio geracional, à portuguesa, numa operação complicada e mesmo de alto risco.
Deixo aqui o testemunho de uma dessas avós modernas, profissional liberal, dinâmica e de forte personalidade, desde sempre avessa aos trabalhos domésticos, chamada a ir socorrer a filha após o nascimento do segundo neto, algures no norte da Europa. “-Vem pelo menos por um mês, não tenho empregada e tenho que começar a trabalhar!”
O primeiro mail dava conta da nova rotina, acordar de madrugada para dar o biberon, tratar o menino, arranjá-lo para ir à rua com ela para fazer as compras da casa, arrumar a casa, tratar do bebé, sair com o bebé para ir buscar a outra neta a escola, tratar dos dois, dar-lhes banho, jantar e morrer na cama, exausta, até ao dia seguinte.
O segundo mandava umas fotografias de um dia feliz, mas o terceiro gritava “Aqui neva!”, com o seguinte relato: “Isso não impede ter que ir às compras e passear o meu neto! Claro que o carrinho dele está apetrechado para chuva (um aparato fantástico que o rodeia, literalmente, com molas para todo o lado e que são só aquelas e mais nenhumas e se não se encaixarem correctamente, já não dá e tem que se recomeçar tudo de novo), para a neve (outro aparato, que semi encaixa no primeiro por forma a poderem ser usados os dois ao mesmo tempo, ou não, com outras tantas molas) e para tudo e mais umas botas…não está é preparado para avós portuguesas e muito pouco habilidosas com este tipo de coisas!…Também não há preparação possível para avós portuguesas que tenham que empurrar carrinhos com uma mão e guarda chuva aberto na outra, ataviadas de gorro, luvas, cachecol, etc, etc, que têm que se tirar quando se entra nas malfadadas lojas hiper aquecidas…para recolocar tudo à saída, aí já com compras, com as “peças” a cair cada uma por seu lado…
Assim, se lerem a notícia de uma idosa retirada por populares das ruas de Munique, com uma crise de nervos – e de pneumonia, também -, apanhada a chorar no meio da rua, com neve e com um neto a berrar porque o carrinho dele está desfeito, com tudo quanto é cordões, molas e molinhas, trocados, sou EU própria e o meu lindo neto!”
E é assim que, suspirando pelo sossego de um atribulado dia de azáfama na sua rotina em Lisboa, acaba dizendo que “é muito mais fácil tratar de todos os problemas do escritório do quer ser avó nos tempos que correm…!”
Aguardo ansiosa o próximo mail, para ver até onde resiste esta heróica geração de avós portuguesas!
Deixo aqui o testemunho de uma dessas avós modernas, profissional liberal, dinâmica e de forte personalidade, desde sempre avessa aos trabalhos domésticos, chamada a ir socorrer a filha após o nascimento do segundo neto, algures no norte da Europa. “-Vem pelo menos por um mês, não tenho empregada e tenho que começar a trabalhar!”
O primeiro mail dava conta da nova rotina, acordar de madrugada para dar o biberon, tratar o menino, arranjá-lo para ir à rua com ela para fazer as compras da casa, arrumar a casa, tratar do bebé, sair com o bebé para ir buscar a outra neta a escola, tratar dos dois, dar-lhes banho, jantar e morrer na cama, exausta, até ao dia seguinte.
O segundo mandava umas fotografias de um dia feliz, mas o terceiro gritava “Aqui neva!”, com o seguinte relato: “Isso não impede ter que ir às compras e passear o meu neto! Claro que o carrinho dele está apetrechado para chuva (um aparato fantástico que o rodeia, literalmente, com molas para todo o lado e que são só aquelas e mais nenhumas e se não se encaixarem correctamente, já não dá e tem que se recomeçar tudo de novo), para a neve (outro aparato, que semi encaixa no primeiro por forma a poderem ser usados os dois ao mesmo tempo, ou não, com outras tantas molas) e para tudo e mais umas botas…não está é preparado para avós portuguesas e muito pouco habilidosas com este tipo de coisas!…Também não há preparação possível para avós portuguesas que tenham que empurrar carrinhos com uma mão e guarda chuva aberto na outra, ataviadas de gorro, luvas, cachecol, etc, etc, que têm que se tirar quando se entra nas malfadadas lojas hiper aquecidas…para recolocar tudo à saída, aí já com compras, com as “peças” a cair cada uma por seu lado…
Assim, se lerem a notícia de uma idosa retirada por populares das ruas de Munique, com uma crise de nervos – e de pneumonia, também -, apanhada a chorar no meio da rua, com neve e com um neto a berrar porque o carrinho dele está desfeito, com tudo quanto é cordões, molas e molinhas, trocados, sou EU própria e o meu lindo neto!”
E é assim que, suspirando pelo sossego de um atribulado dia de azáfama na sua rotina em Lisboa, acaba dizendo que “é muito mais fácil tratar de todos os problemas do escritório do quer ser avó nos tempos que correm…!”
Aguardo ansiosa o próximo mail, para ver até onde resiste esta heróica geração de avós portuguesas!
Suzana
ResponderEliminarNem de propósito este seu post em pelna crise da natalidade!
Não há dúvida que as avós continuam a constituir um suporte familiar muito importante, só que a vida "moderna" também não lhes permite estarem tão presentes como antigamente.
Vejo que a sua amiga "avó moderna", que de "idosa" nada tem, leva a sua missão com muito afinco mas também com muita graça...
Caro jotac, o itálico é exactamente para não haver confusões mas receio que o futuro me reserve sorte idêntica, o que tiver que ser tem muita força!
ResponderEliminarCara Dra. Suzana Toscano:
ResponderEliminarFelizmente, não recebemos notícia de Munique sobre uma avó perdida com o netinho nas ruas de neve de Munique, à beira de um ataque de nervos…
Muito interessante: será que alguém já se lembrou de “quantificar”o esforço e a disponibilidade dos avós, desta e das gerações anteriores!?
Não há com certeza ninguém que não conheça, ou tenha ouvido falar de pais que se divorciam e deixam os filhos ao cuidado dos avós, ou ainda de más mães que abandonam os filhos também em casa dos avós!..
Não fora este esforço e disponibilidade não quantificáveis dos avós, e milhões de crianças espalhadas pelo mundo inteiro seriam abandonadas à sua sorte, e o mais provável à morte.
Tenho para mim que a geração de avós que se segue, que se advinha venha a ter cada vez mais “falta de tempo”(atente-se no número de idosos a viverem em lares),não terá nunca a mesma disponibilidade para acudir aos netos, com as consequências sociais daí resultantes…
PS
Cara Dra. Suzana Toscano: quando li a primeira vez este post, até pensei que estava a antecipar uma provável realidade futura, só depois reparei nas letras em itálico…
;)