Henrique Monteiro escreve hoje no Expresso em “MANOBRAS NO QUARTO DO PODER”: “Enganam-se, pois, os que pensam que a Imprensa é um quarto poder. A imprensa é um contrapoder, cuja influência deve limitar abusos, corrupções, compadrios e jogadas políticas. Porém, o seu inquinamento é exterior. Vem do verdadeiro poder que actua em boa parte da Comunicação Social como se esta fosse o seu “quarto de brinquedos. Um poder que abusa da fragilidade económica dos media para os pressionar e que conta com a docilidade de certos proprietários de meios cujos créditos dependem muito de boas vontades políticas e financeiras.”
Ao ler este artigo lembrei-me da conferência em que participei há umas semanas atrás subordinada ao tema “A Cultura da Sociedade Civil”, que teve como orador o jornalista Carlos Pinto Coelho.
Nesta conferência falou-se da falta da qualidade da informação que hoje em dia é produzida pela comunicação social, das origens clandestinas da informação que é veiculada e em que medida os acontecimentos, em particular as coisas medíocres, têm influência na formação da opinião pública e podem alterar a nossa própria identidade.
Num mundo global e complexo, os saberes já não são suficientes, é preciso estar informado e perceber o que se está a passar à nossa volta. É uma questão de sobrevivência. As pessoas precisam e querem ter opinião, para, consciente ou inconscientemente, voluntária ou involuntariamente, fazerem as suas escolhas. A informação é cada vez mais gigantesca e acelerada e é-nos trazida ao conhecimento através de técnicas de venda cada vez mais sofisticadas, através de mensagens e imagens elaboradamente confeccionadas e magistralmente embrulhadas. Tudo é “marketizado”, desde o sabonete, passando pela política até à desgraça alheia.
Num tal contexto a falta de qualidade e a mediocridade da informação assumem uma dimensão muito importante, na medida em que a maior parte dos receptores da informação se limita a ler ou a ouvir as mensagens que são transmitidas, não se questionando sobre a não informação, isto é, não trata de se interrogar sobre a parcialidade da informação produzida de um todo em relação ao qual é omitida ou ignorada outra informação tão ou mais importante.
Ao ler este artigo lembrei-me da conferência em que participei há umas semanas atrás subordinada ao tema “A Cultura da Sociedade Civil”, que teve como orador o jornalista Carlos Pinto Coelho.
Nesta conferência falou-se da falta da qualidade da informação que hoje em dia é produzida pela comunicação social, das origens clandestinas da informação que é veiculada e em que medida os acontecimentos, em particular as coisas medíocres, têm influência na formação da opinião pública e podem alterar a nossa própria identidade.
Num mundo global e complexo, os saberes já não são suficientes, é preciso estar informado e perceber o que se está a passar à nossa volta. É uma questão de sobrevivência. As pessoas precisam e querem ter opinião, para, consciente ou inconscientemente, voluntária ou involuntariamente, fazerem as suas escolhas. A informação é cada vez mais gigantesca e acelerada e é-nos trazida ao conhecimento através de técnicas de venda cada vez mais sofisticadas, através de mensagens e imagens elaboradamente confeccionadas e magistralmente embrulhadas. Tudo é “marketizado”, desde o sabonete, passando pela política até à desgraça alheia.
Num tal contexto a falta de qualidade e a mediocridade da informação assumem uma dimensão muito importante, na medida em que a maior parte dos receptores da informação se limita a ler ou a ouvir as mensagens que são transmitidas, não se questionando sobre a não informação, isto é, não trata de se interrogar sobre a parcialidade da informação produzida de um todo em relação ao qual é omitida ou ignorada outra informação tão ou mais importante.
Em Portugal apenas cerca de um terço do produto jornalístico é produzido, no caso da imprensa, por iniciativa das redacções (conclusão que é apresentada no Livro “Fontes Sofisticadas de Informação” de Vasco Ribeiro que analisou quatro diários portugueses – Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Público), sendo que os outros dois terços são fornecidos por fontes externas, designadas por “assessores”, em que apenas uma ínfima percentagem é identificada.
Reside aqui, parece ser óbvio, um problema de garantia de qualidade da informação, na medida em que a isenção e a transparência ficam ameaçadas e a descoberta da verdade e a verdade dos factos dão lugar a jogos de interesses que se servem da comunicação social para levar por diante estratégias privadas que precisam da opinião pública para fazer o seu caminho.
A falta de tempo para tratar a notícia, o custo da investigação jornalística e as fragilidades económicas dos media são o caldo propício para este estado de coisas. Mas a comunicação social é sempre um espelho da sociedade que serve e na qual se alimenta. A crise de cidadania que nos afecta está a fabricar uma cultura à qual a comunicação social não é alheia, seja porque para ela contribui, seja porque dela bebe a forma de produzir informação.
Como é que vamos sair desta encruzilhada é a questão. Contudo, questiono-me, também, se será realmente uma questão para resolver?
Reside aqui, parece ser óbvio, um problema de garantia de qualidade da informação, na medida em que a isenção e a transparência ficam ameaçadas e a descoberta da verdade e a verdade dos factos dão lugar a jogos de interesses que se servem da comunicação social para levar por diante estratégias privadas que precisam da opinião pública para fazer o seu caminho.
A falta de tempo para tratar a notícia, o custo da investigação jornalística e as fragilidades económicas dos media são o caldo propício para este estado de coisas. Mas a comunicação social é sempre um espelho da sociedade que serve e na qual se alimenta. A crise de cidadania que nos afecta está a fabricar uma cultura à qual a comunicação social não é alheia, seja porque para ela contribui, seja porque dela bebe a forma de produzir informação.
Como é que vamos sair desta encruzilhada é a questão. Contudo, questiono-me, também, se será realmente uma questão para resolver?
A ausência de qualidade
ResponderEliminarde boa parte da informação,
é um sinal de debilidade
de um país em degradação.
A informação “marketizada”
em embrulhos coloridos,
revela uma cultura enfezada
de discursos esbaforidos.
Resolver ou não resolver?
Eis uma boa questão!
Deixando o povo a ferver
numa vil combustão.
Cara Margarida,
ResponderEliminarAgora fez-me lembrar um discussão que tive há dias no emprego por causa da construção de uma base de dados e na qual tive de exprimir a minha indignação por continuarmos a querer chamar a nós responsabilidade que não é nossa.
Esta questão da comunicação social é querer chamar a nós responsabilidade que não é nossa. A "nossa" responsabilidade é educarmos para o conhecimento, fornecer às pessoas as ferramentas para que estas consigam interpretar informação e aqui é que estamos a falhar porque estamos a criar um país de analfabetos.
Margarida,
ResponderEliminarMagnífico e oportuno apontamento, este que aqui faz.
Os últimos sucessos que envolveram meios de comunicação social deveriam fazer pensar os responsáveis sobre o real papel que os media têm desempenhado na sociedade. Começam, é certo, a ser feitas algumas reflexões sérias, por gente ligada à comunicação social em especial pelos jornalistas que vêem melhor o que se tem vindo a pensar no espaço público ocupado pelos media tradicionais.
Um fenómeno que já não carece de ser provado é o da manipulação dos media pelos interesses mais diversos, normalmente pouco generosos e nunca bem intencionados, de quem aproveita do escândalo, mesmo que na base esteja a mentira ou uma verdade não comprovada ou comprovável. É já uma evidência a facilidade como se manipulam jornalistas, redacções, orgãos de comunicação inteiros! Dito pelos próprios profissionais, basta colocar-lhes à frente uma estória picante, não interessa se homenageia a verdade. De preferência que meta sangue, suor, sexo ou lágrimas. Se contribuir para a desgraça da vítima, oh! sublime oportunidade! então ouro sobre azul: o reconhecimento da comunidade, o alçamento aquele limbo em que vivem os pontífices da comunicação (chamava-lhes "papas" nos tempos em que eu exerci funções pública, uma jornalista que comigo colaborou), porta certa para ocupar lugar no balcão dos comentaristas, patamar a que todos os fazedores de opinião aspiram!
Lembrava há uns anos Carlos Magno, numa conferência que organizei sobre os media e os advogados, uma frase de Sam Peckinpah: "A verdade é uma mentira que nunca ninguém descobriu". Desconfio que é a frase que está escrita em letras gordas nas paredes das redacções do jornais, das rádios e das TV´s. Desconfio que é a frase primeira do breviário de muitos profissionais da comunicação. Que sabendo bem como é dificil, penoso e sobretudo arriscado, tentar combater a atoarda publicada, a mentira escrita, a ignomínia lançada nos telejornais, não hesitam em espalhar lama. E por saberem isso, sabem que a atoarda, a mentira, a ignomínia perdurarão no tempo como verdade inabalável e, por via da força difusora dos media, quase universal.
Anunciam aos quatro ventos que a ética e a honradez profissional dos jornalistas prevalecerão mais tarde ou mais cedo. Quando leio ou ouço isso, lembro-me sempre da frase de Sam Peckinpah...
Caro Manuel Brás
ResponderEliminarSempre a surpreender-me com a sua fabulosa veia artística. Trata-se mesmo de uma vil combustão!
Caro Firebly
A desinformação, a manipulação da informação, a contra-informação e a informação gratuita, que é do que se trata muitas vezes, adensam a ignorância e esta, como sabemos, é pouco exigente. E, portanto, instalou-se um círculo vicioso.
Olhe-se por exemplo para a qualidade dos telejornais da RTP que sendo um serviço público se deveria preocupar com a qualidade da informação, em lugar de monopolizar as notícias nos temas do crime e do futebol. Sai mais barato, não requer tratamento jornalístico dos acontecimentos nem investigação.
José Mário
A comunicação social está naquela posição de quem está à espera, à espera que as fontes lhe levem o trabalhinho já feito. Não é por acaso que os mesmos trabalhinhos se desmultiplicam nos vários meios de comunicação social.
"A verdade é uma mentira que nunca ninguém descobriu" é uma grande verdade que faz perdurar a mentira. Não apenas na profissão de jornalista, mas também noutras profissões, o que vemos é que há muita gente que ignora princípios fundamentais como a ética e a honra, como o José Mário muito bem lembra, por conveniência de interesses próprios que melindram o interesse colectivo, quando não, muitas vezes, o interesse público.
Cara Dra. Margarida Aguiar:
ResponderEliminarCom a devida permissão subscrevo, sem reservas, o comentário da cara firefly.
O que me parece é que estamos a colher os frutos que semeámos há uns anos a esta parte , não só nesta vertente, como noutras, a ver vamos...
Cara Margarida
ResponderEliminarO seu artigo retrata corajosa, impecável e certeiramente, um problema gravíssimo que queiramos ou não, vem ajudando a minar com “sucesso absoluto”, a nossa “avançada” democracia, contribuindo para gerar a infelicidade deste povo cuja cultura é medíocre, apresentando por isso poucas defesas relacionados com os seus direitos de liberdade, verificando-se nesta situação, que nem a sua tradicional perspicácia para o “negócio”, lhe vale neste caso.
A manipulação, a deturpação e a deformação ignominiosas da informação a que vamos estando sujeitos - o que se passou nesta campanha eleitoral foi edificante a todos os títulos - é infelizmente uma evidência perversa, que vai ajudando a deteriorar um clima político e social cada vez mais preocupante. Hoje é um privilégio, infelizmente só para alguns, a obtenção de notícias correctas e verdadeiras.
Independentemente da existência de outras razões que podem igualmente explicar o estado a que se chegou, também neste capítulo, quero crer que a partidarização intensa e perversa dos profissionais da actividade em causa e a necessidade de incrementar, com descarada sofreguidão, as receitas seja a que título for, estarão na base, da confusão tendenciosamente estabelecida a propósito de notícias em geral, agravando-se a situação quando se trata de uma apreciação que é importante para a formação, individual e pública, de uma opinião estabilizada, cujo clímax é atingido quando surgem descaradamente interferências do poder político na condução e na estratégia, desta ou daquela fonte de comunicação.
São conjunturas como a nossa, que inexoravelmente conduzem as sociedades para a existência de um contra-poder.
Margarida, seria uma questão a resolver pela lei do mercado se também aqui omercado não fosse ficção. Quem compra e paga esses jornais que não noticiam mas apenas comentam, analisam ou intrigam? Se os jornalistam dependem de quem lhes paga - e é claro que dependem, como qualquer pessoa que tem um emprego,- e se quem lhes paga depende do poder, de uma forma ou de outra, como poderemos pressupor isenção? A mim o que me faz confusão é o motivo pelo qual ainda há tanta gente que devia ser capaz de pensar pela sua cabeça mas que leva a peito tudo o que lhe querem fazer crer nos jornais, apesar de, como diz, haver inúmeras fontes de informação. nunca houve tantos estudos, tantos relatórios nacionais e nternacionais, tanta informação on line, seria razoável esperar que houvesse menos influência desses diktat da imprensa. Mas não. Além disso também não consigo deixar de me impressionar com a falta de vergonha dos que gritavam de revolta há poucos anos e agora não só aceitam tudo como correm a subscrever, depois ainda se atrevem a dizer que nunca se fala de nada interessante quando são eles próprios a veicular apenas o que não faz ondas, como diz um amigo meu, como será que se olham ao espelho todas as manhãs?
ResponderEliminarCaro jotaC
ResponderEliminarCom toda a minha permissão... A Cara Firefly tem muita razão quando fala de um país de analfabetos.
Caro antoniodosanzóis
A sua reflexão dá uma boa ajuda para se perceber o que é o contra-poder.
Este contra-poder não é exclusivo de Portugal. No nosso caso, a falta de exigência das pessoas e um certo grau de ignorância são adubos para um campo fértil.
Suzana
Aparentemente há mercado porque há uma oferta muito alargada de canais de comunicação e de informação. O problema é que sendo tanta a informação que está à disposição a maioria das pessoas não tem facilidade e possibilidade de seleccionar nem tem ideia dos critérios que devem presidir à escolha.
É mais fácil estar à frente da televisão ou passar no quiosque da esquina e passar os olhos nos jornais. E de preferência em língua portuguesa.