sexta-feira, 20 de novembro de 2009

BPN: privatizar o quê e como?

1. Foi ontem anunciada a decisão de privatizar o BPN pouco mais de um ano após a polémica nacionalização deste Banco.
2. Não deixa de ser curioso notar que as notícias referem a privatização do capital social do BPN – quer dizer que se vai privatizar algo que de todo não existe?
3. O capital social do BPN é hoje um conceito abstracto, toda a gente saberá que esse capital social foi totalmente (várias vezes, até) “comido” por prejuízos, desapareceu na voragem insaciável dos prejuízos – como é possível assim privatizar uma mera abstracção, algo cujo valor é reconhecida e expressivamente negativo?
4. Nada é dito, por outro lado, quanto à assunção dos prejuízos líquidos do Banco pelo Estado – alguém acredita que um investidor, por mais generoso que seja, vai adquirir o BPN com uma situação líquida negativa de € 2 mil milhões ou superior (é o valor que tem sido publicitado) sem que o Estado assuma previamente o compromisso de repor essa quantia de forma a colocar o capital próprio em ZERO pelo menos?
5. Estão assim por esclarecer aspectos fundamentais desta operação, sem os quais a mesma se afiguraria à partida destinada a um insucesso...
6. Mas não parece crível que os responsáveis governamentais não tenham percepção exacta destes mesmos problemas, pelo que oportunamente não deixarão, por certo, de esclarecer o mercado - e o "taxpayer" - sobre a forma escolhida para os resolver.
7. Aguardemos pois pelos próximos episódios, este assunto ainda deverá dar muito que falar, até pelas implicações orçamentais que certamente levantará...

9 comentários:

  1. Anónimo14:29

    Mas, meu caro Tavares Moreira, estas operações não pressupõem que haja comprador determinado? Pergunta a minha ingenuidade...

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  2. Nada de especulações!...
    Ontem ou anteontem ouvi o Sr. Ministro enfatizar que os apoios da Caixa Geral de Depósitos não passavam de meros apoios de tesouraria e, sendo a tesouraria era a matéria prima do negócio bancário, eram apoios perfeitamente normais, a reembolsar no devido tempo. Nem quis ouvir mais e mudei de telejornal. Mas fiquei a matutar de mim para comigo: sendo assim, para quê a nacionalização, se apoios normais vão buscá-los os bancos ao mercado?
    Portanto, caro TMoreira, nada de especulações. A nacionalização do BPN ainda vai ser um grande negócio!...

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  3. Concordo com o caro Pinho Cardão. A privatização do BPN vai ser um enorme sucesso, como foi a sua nacionalização. É tudo uma questão de encontrar a espécie certa. Para a nacionalização usou o dinheiro dos camelos, para privatizar é só encontrar o dinheiro de uns ursos quaisquer.

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  4. Não descarto a hipótese que coloca, caro Ferreira de Almeida, até admito que esteja em alerta máximo um Vulture tipo exterminador implacável para assumir o comando dos restos do BPN, mas isso não invalida as questões colocadas, penso eu: o que privatizar e como privatizar?

    Caros Pinho Cardão e Tonibler,

    Estou convosco,,,acho que a norivatização do BPN ainda se arrisca a ser um grande negócio ou um sucesso...
    Resta apenas um pormenor: saber quem será o beneficiario final...
    E outro: quem paga a factura, em representação dos ursos lembrados pelo Tonibler...

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  5. Vamos lá a saber. Quanto é a Caixa Geral de Depósitos, Banco do Estado Português, já colocou no BPN para tapar os buracos? Quando e como é que a CGD vai receber esse dinheiro? Com o da privatização, certamente que não porque não se sabe bem o que é que vão privatizar. Prejuizos derivados da "boa gestão"? Cá estaremos para ver. Se tudo isto não fosse uma tragédia dava para rir.

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  6. Caro Carlos,

    Boas questões as suas. A dívida à CGD, de cerca de € 3,5 mil milhões, terá de ser remida, em (boa) parte pelo Orçamento do Estado - de 2010? - para colocar a situação líquida do Banco a ZEROS...
    O restante terá de ser reembolsado pelo (adquirente, se o houver) do Banco, provavelmente a longo prazo ou a perder de vista, atrvés do "cash-flow" gerado pela actividade futura...
    Se não houver "cash-flow" suficiente, ainda poderemos assistir, daqui por 1/2 dúzia de anos, à transformação de uma parte do crédito da CGD em capital...
    Mas quem sabe se nessa altura ainda alguém se recordará da formosa nacionalização do BPN...

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  7. Caro Tonibler:

    Magnífica síntese, as usual.
    Mas convém precisar uma coisa. É que há ursos muito inteligentes e muito dotados para o negócio. Aliás, é no "bear market" que se fazem algumas grandes negociatas...

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  8. Caros Tonibler e Pinho Cardão,

    Este negócio é mais para as raposas. Compram o que não gostam, para depois terem e comprarem o que querem.

    Caro Tavares Moreira,

    Eu quase que era capaz de apostar que com um bocadinho de jeito, a Ongoing ainda é capaz de ficar com o BPN...

    Quanto ao anúncio, eu ouvio-o na rádio e achie no mínimo estapafúrdio. Só disse que ia privatizar, mas nem falou de condições, nem uma expectativa, nem sequer umas guidelines gerais. Bem, eu cá acho que aproveitaram esta altura para tentar desviar as atenções do OE...

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  9. Boa dica, André...a Ongoing, adquirindo o BPN+ €2 mil milhões...quem sabe se não será possível, desde que consiga arregimentar um bom parceiro externo?
    Ou então aquelas empresas bem conhecidas que se têm especializado em intervir em casos de industrias em crise, com apoios não totalmente desvendados...
    Em suma, todos não seremos demais para ajudar à privatização do BPN!

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