terça-feira, 3 de novembro de 2009

Inteligência

A inteligência humana é passível de melhorias significativas. Para o efeito, o recurso a certas formas de ginástica mental, capazes de estimularem os neurónios, merece atenção por parte dos necessitados – e há tantos -, assim como daqueles que querem ver os seus concidadãos mais espertos. A par desta técnica individual, existe um outro meio: o recurso às redes sociais. Estas últimas contribuem para o aumento da inteligência, ao socorrerem de outros cérebros, e outras vivências, como se fossem um prolongamento, em rede, da inteligência humana. As redes sociais ofertadas pela internet são bons exemplos, embora tenham os seus quês. Houve sempre redes sociais; à mesa do café, com os amigos no trabalho, nas diversas associações, no desporto e na religião, entre outras. Nestas redes os nossos cérebros expandiam-se, e expandem-se, através dos outros, contribuindo para a inteligência coletiva, fazendo crescer e desenvolver a sabedoria. Claro que nestas interações, o facto de ser presencial permite limar, atenuar e evitar certos desconfortos e reações negativas frutos da má compreensão ou de uma compreensão desvirtuada. Falar com os olhos, com as mãos, com a expressão corporal, e a forma como são ditas as palavras, alto, baixo, sussurrando, cantarolando, rindo ou chorando, permitem ao interlocutor compreender melhor o seu significado e intenção.
Há sempre a procura de uma certa intencionalidade por parte de quem ouve ou de quem lê. É natural. Faz parte daquilo a que se chama a teoria da mente e que nos permite, a nós, humanos, separar-nos dos outros seres, nomeadamente, primatas.
A este propósito, teoria da mente, que começa a desabrochar por volta dos quatro anos, e que não foi reconhecida noutras espécies escrevinhei, em tempos, uma pequena nota que recupero em parte:
Quando estamos conscientes de uma crença, um desejo ou uma intenção, utilizamos o termo “intencionalidade”. A “intencionalidade” pode ser entendida como uma série hierarquicamente organizada dos estados de crença. Um computador é uma entidade intencional de ordem zero e o mesmo se deve passar com as bactérias e talvez com alguns insetos. No entanto, a maioria dos seres que possuem cérebro estão conscientes do conteúdo das suas mentes, já que “sabem” que têm fome ou “acreditam” que estão a ser vigiados por algum predador. Sendo assim, podemos afirmar que possuem uma intencionalidade de primeira ordem. Quando se tem a crença do que o outro está a pensar ou qual é a sua intenção, então, designamos a situação de intencionalidade de segunda ordem. Só os seres humanos, e a partir de determinada idade, é que são dotados desta capacidade que está na base da teoria da mente. Mas, não ficamos por aqui, já que a intencionalidade pode atingir a quinta ou sexta ordem, mas não é muito habitual chegar a este grau de elevada complexidade, ou seja, por exemplo: “A acredita que B pensa que C quer que A suponha que B pretende que C acredite” que a sua análise é a verdadeira. Confuso? Claro! Com tantas ordens de intencionalidade… Mas há por aí alguns “superdotados” que não fazem outra coisa, lançando cada confusão!
As interpretações que fazemos acerca do que os outros estão a pensar em função das nossas crenças, desejos ou intenções, nem sempre correspondem e podem ser fontes de equívocos e de graves problemas. Mas é um atributo humano que está constantemente em atividade.
Ninguém duvida que certas pessoas tentam encontrar nas palavras dos outros aquilo que não está lá. No fundo, presumo, repito, presumo, que não terão desenvolvido suficientemente a sua teoria da mente, ou, então, se a desenvolveram, ficou deformada por um acaso em que o caráter ou qualquer coisa parecida foi dar uma volta ao bilhar grande. Mas também não quero que me acusem de ter uma “teoria da mente” coxa. O que eu sei é que as minhas amígdalas cerebrais ficariam satisfeitas se “vissem” ao vivo essas pessoas. Importante a sua função. Eu não tenho muitas razões de queixas do seu funcionamento. Decerto que me indicariam qual o “juízo” que deveria ter face a certas intencionalidades meio boçais. Para quem não sabe, as amígdalas cerebrais são umas pequenas estruturas que permitem identificar o perigo, originando medo e ansiedade. No fundo, contribuem para a auto preservação, colocando-nos em alerta para lutar ou fugir. São verdadeiros detetores de perigos e ameaças, capazes de lerem sinais que nós nem chegamos a ter consciência. A chamada empatia ou confiança que uma pessoa desperta em nós passa por ela, desde que funcione corretamente. Também pode acontecer que certos artistas consigam ludibriar a sua vigilância. Mas isso é outra história.
A terceira forma de estimular a inteligência passará pelo uso e acessibilidade à informação e ao seu tratamento mediante as novas tecnologias, algumas das quais já se encontram ao nosso dispor, e outras que, no futuro, vierem a ser implementadas, nomeadamente através de implantes, próteses nanotecnológicas e fármacos específicos. Estou convencido de que, à custa de um eventual “chip”, alguns poderão melhorar a sua deficiente “teoria da mente”, isto se não for o caso de lhes provocar mal-estar, porque haverá, decerto, muitos que, nem com “chips”, próteses, implantes ou fármacos, irão lá.
Pensando melhor. Ainda bem que existem. Sempre tornam as coisas menos sensaboronas. E se não nos agradarem, passemos em frente...

8 comentários:

  1. Reitero as anteriores profetizações da Drª Suzana Toscano e do Dr. Pinho Cardão.
    As suas maiores ausências, caro Professor, são um preço alto, mas que compensa pagar.
    Que Grande post!
    Já diz o ditado: «Diz-me com quem andas, dir-te-hei quem és»

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  2. Caro Professor Massano Cardoso
    Gostei muito deste seu post.
    Tenho para mim que a interacção como os outros e o relacionamento social, em particular quando presencial, são factores fundamentais para o desenvolvimento da inteligência.
    Haverá sempre pessoas que terão dificuldade em melhorar a sua "deficiente teoria da mente". Nem os chips as poderão ajudar. O que seria!

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  3. Muito interessante esta explicação científica de fenómenos que encontramos todos os dias e que explicam muitos comportamentos. No entanto esse segundo nível, o da intencionalidade, parece às vezes anular todos os outros, quando o ouvinte não chega sequer a ouvir o que lhe está a ser transmitido porque só está preocupado em detectar "intenções"(mesmo sem ter a inteligência adequada a esse nível), veiculando depois a terceiros esta percepção e não a mensagem original. Quando isto se transforma numa espécie de paranóia colectiva resulta que já ninguém acredita em ninguém porque o que se diz não é o que parece mas outra coisa qualquer e pode mesmo levar a que a tal amígdala do medo funcione que nem uma doida porque tudo pode trazer o risco da má interpretação e da atribuição de intenções a quem simplesmente abriu a boca para dizer qualquer coisinha...

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  4. Belo Editorial.

    Não sei porquê, ao lê-lo, acudiu-me à mente o discurso de posse do Presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão, João Lourenço.

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  5. Fui deitar o olho ao discurso proferido pelo Sr. Presidente do Município e... sem corroborar a opinião do caro António, fiquei com a sensação de que João Lourenço deixou transpirar alguma... como direi? ...fragilidade, ao concentrar uma parte tão significativa do seu discurso, na querela com os funcionários camarários que lhe "roeram a corda".
    Pareceu-me exagerado para um discurso de tomada de posse, e improcedente, dirigir uma ameaça velada áqueles que suspeito, usaram da sua liberdade como cidadãos, possivelmente de forma exagerada, mas não alienável.

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  6. Caro Bartolomeu, um dicurso "touché", como que um ajuste de contas, não?

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  7. Desconheço o móbil, caro António, a minha leitura foi meramente sintética.
    Talvez o meu caro amigo conheça mais intimamente os motivos que o levaram a referir a questão...

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  8. Caro Bartolomeu, quisera eu conhecer o "móbil"! Talvez com o "chip" eu lá fosse...

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