1. Foi notícia na edição do Financial Times de 29 de Outubro último a “luz verde” da Comissão Europeia para os planos do governo britânico de reestruturação do Northern Rock, banco especializado em crédito hipotecário objecto de nacionalização em Fevº/2008 como forma de evitar a falência.
2. Esses planos contemplam a divisão do banco em dois, um “good” e um “bad bank” - o primeiro, considerado viável económica e financeiramente, conservará a carteira de depósitos de retalho e uma carteira de créditos considerada mais sã, ficando concentrada no segundo a carteira de créditos de má qualidade e outros passivos que não depósitos de retalho.
3. O “good bank” irá ser alienado a muito breve prazo, perfilando-se já alguns candidatos à aquisição (excluídos ao que consta os bancos maiores por razões de concorrência no sector); quanto ao “bad bank” a solução será a liquidação, para a qual o governo inglês se prepara para contribuir, através do Orçamento, com uma verba de 8 mil milhões de libras (perto de 9 mil milhões de euros).
4. Por cá continuamos a assistir à novela infindável do BPN, fonte das mais extraordinárias notícias a cada dia que passa – só nada se sabe de concreto quanto às soluções estruturais para um banco que, de acordo com notícias recentes, apresentará uma situação líquida negativa superior a 2 mil milhões de euros.
5. Note-se que desde há muitos meses vem sendo noticiada com frequência “uma solução” para o BPN, sendo sempre referida “para breve” a venda do banco – a referência a alguns interessados (anónimos, salvo o Montepio) também faz parte dessa notícia “standard”.
Essa sucessão de notícias conheceu ontem uma descontinuidade notável ao ser anunciado que a solução-venda do BPN ficará para o final de 2010...
6. Para agravar este cenário, também foi ontem notícia que os antigos proprietários do BPN – agrupados na conhecida SLN - teriam decidido pedir em tribunal, ou já teriam mesmo pedido, a anulação da nacionalização que consideram ilegal e ferida de nulidade.
7. Não entrando agora na querela de saber se a nacionalização do Banco foi boa ou má medida, limito-me a perguntar: este atraso na definição de uma solução não pode ser rapidamente superado?
8. Admito que o Governo esteja em dificuldades para assumir os 2 mil milhões de euros (pelo menos...) que terá inevitavelmente de assumir como encargo orçamental em consequência da nacionalização...sempre são 1,25% do PIB o que pesará bastante no défice do ano em que esse encargo tiver que ser reconhecido – mas haverá alguma possibilidade de contornar essa situação? Não parece, de todo...
O Governo britânico também tem de orçamentar uma factura do Northern Rock e são quase 9 mil milhões de euros como vimos...
9. À primeira vista, quanto mais tempo se hesitar pior será pois para os défices orçamentais de 2009 e de 2010 existirá natural condescendência por parte de Bruxelas, mas a partir de 2011 a coisa tornar-se-á bem mais difícil...
10. Não seria de bom senso uma solução estruturada nos moldes da que os britânicos encontraram para o Northern Rock, evitando-se mais delongas e a entrada numa batalha jurídica de resultado imprevisível?
Caro Dr. Tavares Moreira, V. Exªa admite a possibilidade de o BPN, a exemplo da solução britanica, tambem poder ser dividido em "good" & "bad" bank ?
ResponderEliminarI can't!
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminar"Good" & "Bad" não direi mas pelo menos "Mediocre" & "Bad"... e talvez o "Mediocre", com algum jeitinho, sempre encontrasse um comprador...
Não me parece que possamos comparar ou cruzar as coisas, quer a capacidade dos reguladores britânicos quer os casos dos bancos.
ResponderEliminarPortugal juntou a fome à vontade de comer em termos de poder, quando um mau regulador foi feito ministro das finanças e se juntou a outro mau regulador. O resultado foi um tratado de "finanças pelos seus próprios pés" oferecido em coautoria pelo governo e pelo banco de portugual. A nacionalização, como toda a gente com dois dedos de testa disse na altura, foi uma asneira grotesca.
Por outro lado o Northern Rock, não é o BPN. O problema do Northern Rock foi um problema não-realizado no sentido em que os seus "maus activos" só o são maus porque o valor das casas baixou imenso. Mas o Nothern Rock só tem a hipoteca das casas, não as casas em si. Para os activos se realizarem como maus é preciso que os donos delas incumpram nos empréstimos, coisa que (que eu saiba) não está a acontecer porque os britânicos não estão a vir para a rua viver. Assim os "maus activos" são, ainda assim, bastante bons.
O BPN é um caso arrumado. Os "maus activos" não valem o papel em que foram assinados, a imagem do banco foi assassinada por Teixeira dos Santos e Vitor Constâncio que, com o assassinato, arrumaram com o banco de vez. Na verdade, deviam empacotar o BPN e vendê-lo compulsivamente aos dois irresponsáveis que impediram a sua recuperação. O que vai acontecer é que a CGD, precisada que estava de mais balcões, mais lixo na carteira e de mais empregados, vai ter que absorver aquilo tudo.
Norther Rock poderá inspirar soluçãopara o BPN?
ResponderEliminarPoder, podia, mas não era a mesma coisa!
Tonibler (12:22)
E a frase do dia é
"A imagem do BPN foi assassinada por Teixeira dos Santos e Vítor Constâncio"
Volta, Oliveira Costa, que estás perdoado!
Transtagano,
ResponderEliminarNuma violação, ninguém tira a culpa a um violador, nem a quem divulga o video da violação que humilha a vítima. É só pensar um bocadinho e deixar de pensar com a cabeça dos outros.
Tonibler (14:41)
ResponderEliminarA vítima, a vítima fomos nós que pagamos impostos.
Estranho que, por ocasião da nacionalização, tivesse visto as oposições (PSD incluído) demasiado caladas!
Será mesmo que a imagem do BPN foi "assassinada" por Teixeira dos Santos e Vítor Constâncio?
Ou será antes um pretexto para tentar "esconder" a desbunda que grassou no BPN e na SLN?
Fantástico, Transtagano. Quer dizer que vai pagar menos por o banco falir depois de ser dono dele? Que os seus problemas têm uma gravidade de acordo com a preocupação dos partidos? E que as responsabilidades dos seus empregados mais bem pagos são mitigadas pelas asneiras de uns quantos acionistas de uma empersa privada? Fantástico, e ainda há quem chame "cassete" aos comunistas....
ResponderEliminarHá cassettes e cassettes.
ResponderEliminarE há também a dos liberalões da economia do PSD. E o ódiozinho de estimação a Teixeira dos Santos e a Vítor Constâncio. Uma verdadeira constância...
Caro Tonibler,
ResponderEliminarDisse no seu comentário de ontem (14H41) "...é só pensar um bocadinho...". Como entender esse ousado optimismo?