domingo, 8 de novembro de 2009

Plano Inclinado (na Sic Notícias, aos sábados, 22.00h)

Achei muito interessante o novo programa da Sic “Plano Inclinado”, que juntou Medina Carreira, Nuno Crato e João Duque num debate sereno e inteligente que já não é habitual podermos ouvir. O que torna esse debate diferente é que os convidados estão interessadas em explicar para que as pessoas percebam e não apenas em dizer o que pensam como verdades absolutas, dispensando os ouvintes de tirar as suas próprias conclusões.
Isso é possível porque dura cerca de uma hora mas também porque são pessoas bem preparadas e que querem honestamente contribuir para que os ouvintes pensem nos temas sem preconceitos políticos ou objectivos imediatos de fazer intriga política ou deitar achas na fogueira da intrigalhada nacional. Medina carreira explicou com muita clareza o problema da dívida externa, a sua evolução e as suas consequências para cada um de nós, e a grande exigência de uma acção política que ultrapassa em muito as querelas entre os partidos. João Duque falou sobre os investimentos públicos e a necessidade de haver seriedade na avaliação do seu valor, não dos custos, mas da sua viabilidade financeira e económica, referindo que não é possível tirar conclusões quando os pressupostos (por exemplo o fluxo de utilizadores) são dados previamente como factos indiscutíveis. Nuno Crato teve a coragem de dizer que os problemas da educação estão muito longe de ter como prioridade o da avaliação de professores. Mas tudo isto em diálogo sereno, agradável de ouvir e fácil de acompanhar, num registo que só sublinha a dramática ausência de informação esclarecida ao alcance das audiências.

9 comentários:

  1. Anónimo10:41

    Foi dramática mas consistente a alusão que Luis Duque fez ao futuro das suas filhas.

    Quem houve um programa daqueles, não pode deixar de perguntar:

    - então e agora? vamos outra vez a eleições?

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  2. Susana Toscano

    Uma precisão e um comentário:

    a) O economista chama-se João e não Luís Duque.

    b) Não seremos "expulsos" do euro, porque a Alemanha já se comprometeu em não deixar "cair" qualquer país que se veja numa situação de incumprimento. Acresce que o comissário Almunia, já proclamou que a Comissão vai "ajudar" os países em risco de incumprimento. O que declarou é que esse plano de "ajuda" é secreto!!
    O que, os membros do painel de ontem, não explicaram é que o facto de estarmos no euro, que, em termos práticos, nos coloca ao abrigo de uma rotura cambial, mas não nos põe ao abrigo de uma rotura financeira.
    Como vamos ao mercado pedir dinheiro, haverá um momento (caso não modifiquemos as políticas) em que não nos emprestam, isto é, não subscrevem as nossas emissões de dívida. Não estou a vislumbrar qualquer pais da União a pedir emprestado em nosso nome?!!!
    Nessa altura, a Alemanha e mais dois ou três países nórdicos, vai "suportar-nos" com condições que, posso garantir serão desagradáveis, como se depreende do plano secreto que a comissão já tem preparado??!!!
    Antes de lá chegarmos temos, pelo menos um país: Grécia que, tal como nós anda a pedir emprestado há mais de uma década e que, neste momento, tem uma dívida de +/- 134%do seu PIB e que se encontra perigosamente, a chegar ao momento em que a Alemanha e a Comissão a irá "ajudar".

    Cumprimentos
    joão

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  3. caro Agitador, esse momento, de facto, valeu por muitas teses bem explicadas mas receio bem que esse "futuro" já esteja bem presente nos nossos dias. Os nossos filhos vão-se embora, cada vez mais, preferem passar dificuldades lá fora mas ter expectativas do que ficar aqui, ao abrigo do apoio que os pais lhes vão dando enquanto podem. QUanto ás eleições também esse ponto foi aflorado, é um problema político, sem dúvida, mas muito mais vasto até porque, como se viu e continua a ver, quem fala nesses problemas é considerado pessimista, derrotista e mais uns istas que neutralizam os mais realistas...
    Caro João, agrdeço-lhe o reparo, já emendei o nome. Quanto ao "aconchego" que o euro nos poderá dar, o debate de ontem foi muito cru, podendo concluir-se que podemos continuar na Europa mas não nos impedirão de ir empobrecendo sucessivamente, ao ponto de Medina carreira ter falado, sem ser contestado, que poderão estar em causa, por exemplo, os compromissos sociais mais básicos, como o pagamento de pensões aos mais de 3 milhões de pensionistas...

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  4. Suzana
    Também vi e gostei. Senti exactamente o que descreveu, um formato com um tempo razoável, sem agenda "política" ou mediática a condicionar as intervenções, apenas marcado por uma conversa elevada, fluida e serena feita de pontos de vista e sensibilidades complementares e diferentes.
    Registei a intervenção de Medina Carreira quando afirmou que os partidos têm que ter outra competência e outra capacidade de intervenção porque de outra maneira os problemas graves do País não se resolvem e que os portugueses devem perceber o que têm pela frente e exigir aos partidos outras pessoas para governar. À pergunta de Mário Crespo como é que isso se faz, Nuno Crato respondeu apontando o dedo à educação.

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  5. Margarida, sim, a educação é fundamental mas já temos hoje uma considerável camada da população com estudos suficientes para participarem na política de forma esclarecida, seja nos partidos, seja noutros foros onde podiam ser muito úteis. Os partidos não se renovam, pelo menos o suficiente,ou então é o exercício do poder e o modo como tem evoluido que desanima quem se atreve a ter opiniões e a ser um cidadão interveniente. Se lermos os jornais franceses, ou mesmo os espanhóis, encontramos uma enorme vivacidade na discussão dos mais variados temas, visões avançadas e um pensamento exigente que não se fica pelos episódios ou pelos ataques pessoais, para não dizer juízos morais sobre quem emite opiniões contrárias ao que é suposto ser consenso. Não acredito que não haja igual capacidade entre nós, mas que não se dá por ela, isso não dá.

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  6. Foi reconfortante assistir ao programa Plano Inclinado. Reconfortante, por ver que ainda há quem tenha ideias claras, exponha os problemas com que o país se confronta de modo explícito e não tenha medo de dizer o que pensa, mas ao mesmo tempo assustador por pensar nas consequências das actuais políticas erradas que nos arrastam para o abismo. Também foi reconfortante ler a mensagem de Susana Toscano e os comentários. Se formos passando a palavra, talvez se possa atenuar o desastre.

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  7. Cara Susana Toscano

    Peço desculpa, mas não se trata de emprobecimento, estamos a falar sobre rotura de pagamentos.
    Haverá um momento, que não deve ser muito longínquo (se se não de modificarem as políticas), em que o Estado não terá dinheiro para pagar aos seus funcionários e pensionistas.
    Note que esta situação não é ficção científica, nem imaginária: o Estado da Califórnia- que se encontra falido- não cumpriu atempadamente as suas obrigações em alguns meses do ano passado.
    A falta de liquidez obrigou a emitir declarações de dívida (IOU) para obter essa liquidez. (Esta solução, se não me engano, não está contemplada no tratado do euro e a viabilidade fica dependente da capacidade desses títulos poderem ser transacionáveis).

    Um cenário em que, +/- 4.000.000 de dependentes do Estado não recebem, recebem tarde, não recebem na totalidade, etc, etc, coabitando com uns +/- 2.500.000 que recebem porque estão na privada ( e não necessitam dos pagamentos do Estado) é um cenário explosivo.
    A questão que podemos colocar é não se este cenário SE vai verificar, mas QUANDO se vai verificar.

    Os nossos parceiros europeus não nos vão dexar "cair", mas suponho que sabe que é muito pior pedir dinheiro emprestado a "familiares" do que ao banco, aquels conhecem-nos melhor do que este último.

    Cumprimentos
    joão

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  8. Já o meu primo, recem reformado da TAP, que tambem esteve na guerra colonial, diz:" O meu país morreu há 35 anos, agora vivemos numa quinta de bandalhos".
    Nós vamos passar por grandes dificuldades: desemprego, desacatos sociais, etc. Para não falar de fome, se faltar comida nas prateleiras dos supermercados.
    Enfim, será o caos na nossa sociedade. Quem vive na aldeia é que conseguirá subsistir. Ainda vamos assistir ao exodo das pessoas das cidades para as aldeias.

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  9. Caro João, esse é o cenário que resulta da perspectiva de continuação das políticas que têm conduzido a estes níveis de endividamento, por um lado, de aumento do peso social na despesa, por outro, e ainda da fraca produtividade, por outro. Uma trilogia explosiva, como diz, e que Medina Carreira ilustrou até com uma história de uma tia, que durante a República nunca sabia se e quando ia receber a pensão e que ficou eternamente grata a Salazar por ter reposto a ordem nisso.
    caro Rod, também não vejo o cenário assim tão negro!, o perigo para que alertaram no Programa foi o do empobrecimento lento, "amparado" pela União Europeia, mas também não é apresentado como uma fatalidade.

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