domingo, 8 de novembro de 2009

James Watson em Lisboa

James Watson, prémio Nobel da Medicina em 1962 pela sua participação na descoberta da estrutura molecular do ADN e actual Presidente do Conselho Científico da Fundação Champalimaud, esteve em Lisboa para falar sobre o cancro e as possibilidades de essa terrível doença vir a ter cura na próxima década.
James Watson, além de brilhante cientista, tem a particularidade de dizer coisas que muitas vezes chocam com o que está escrito com a tinta invisível das agendas políticas e até já reagiu aos “escândalos” gerados por algumas intervenções dizendo que espera que um dia os cientistas possam falar sem terem que se ocupar do politicamente correcto.
Fiel à sua atitude, hoje, em entrevista publicada na pág. 25 do Expresso (não consegui fazer o link…), responde nos seguintes termos à pergunta sobre os medicamentos no futuro:
-“…terão que ser medicamentos baratos para chegarem a toda a gente. (…)Antigamente, o funcionamento das companhias farmacêuticas era para combater as doenças, mas hoje é para dar dinheiro aos accionistas. O capitalismo nem sempre funciona. Não sou nenhum marxista, não sou um esquerdista, quero apenas ser um cientista. Mas as desigualdades não devem ser tão grandes que uns doentes possam ser tratados e outros não. Uma boa sociedade tem de cuidar de todos e vender medicamentos baratos. Não quero tirar dinheiro ás pessoas ricas, mas não posso admitir que haja pessoas tão pobres que não se conseguem tratar. Tem que haver um compromisso”.
Não sei se é utópico ou não, mas é uma maneira simples de dizer que saúde é um direito fundamental e que o desenvolvimento científico é um bem social de que todos devem beneficiar, só assim se pode entender o desenvolvimento e o progresso.

8 comentários:

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  2. Não, cara Suzana, não é uma utopia querer que o desenvolvimento científico seja um bem social que todos deveriam beneficiar. É deprimente pensar que há tantos milhões de pessoas por esse mundo fora que não têm acesso aos medicamentos mais simples, mais básicos e saber que, inclusivamente, no país supostamente mais desenvolvido do mundo, existem também milhares e milhares que, por questões financeiras, não podem aceder aos melhores fármacos que o mercado pode oferecer.

    Um dos meus familiares deixou de tomar um determinado medicamento muitíssimo caro, do qual ainda existiam algumas embalagens que não tinham sido abertas. Telefonei para algumas farmácias indicando que esse familiar estava disposto a doá-lo a quem necessitasse, mesmo que isso implicasse enviá-lo para alguma organização ou país “em vias de desenvolvimento” (já nem sei qual é hoje em dia o termo mais apropriado). Responderam-me que isso não seria possível. Foi pena. As embalagens estavam intactas e tinham sido guardadas devidamente.

    Não creio que algum império farmacéutico alguma vez vá à falência devido à doação de medicamentos! Definitivamente, não aquele que está a fabricar a vacina contra o H1N1 !
    *******
    PS.: Um dia ouvi alguém dizer: “Educação não tem nada a ver com instrução”. E é verdade. Isto a propósito do seu comentário ali mais abaixo....

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  3. Uma boa notícia, que enchará de alegria o professor James Watsen, milhões de cidadãos norte americanos e todos aqueles que entendem que o Estado deve assegurar, na saúde e não só, a protecção dos cidadãos!


    EUA: Obama saúda vitória histórica da sua proposta de saúde pública na Câmara dos Representantes
    08 de Novembro de 2009, 05:45

    Washington, 08 Nov (Lusa) - O Presidente dos Estados Unidos saudou, ao fim da noite de sábado, a votação histórica na Câmara dos Representantes que aprovou a sua proposta de assistência na doença que vai beneficiar dezenas de milhões de norte-americanos.

    O texto, de cerca de 2000 páginas, aprovado na Câmara dos Representantes por 220 votos contra 215, após 12 horas de debate e uma intervenção de última hora do Presidente, "é uma proposta de lei que vai proporcionar estabilidade e segurança aos americanos que já têm uma cobertura, opções de cobertura de qualidade para os que a não têm e vai fazer baixar os custos da saúde para as famílias e para as empresas", escreveu Barack Obama num comunicado emitido após a votação.

    "Além disso, esta proposta de lei está inteiramente financiada e vai reduzir o nosso défice", acrescentou.

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  4. Não sei se as famaceuticas entregam muitos lucros aos accionistas se não. Porém devemos ter em conta que pelo visão marxista do Mundo não está seguramente a solução dos problemas da saúde.
    Não conheço qualquer grande desenvolvimento da Medicina ou na Indústria farmacêutica que tenha vindo de países marxistas. O tão badalado sucesso cubano na saúde é apenas uma grande mistificação dos mídia.
    A falta de acesso a medicamentos em muitos países não se deve a eles serem caros mas sim a haver falta de liberdade e progresso económico por ditaduras inauguradas por Lumumba e a maioria de cariz marxista. Numa cadeia de corrupção imensa o preço de uma aspirina ou de uma lâmpada incandescente sobe de preço 1500% na Nigéria e quando gratuitos param nas elites que compram roupa cara em Lisboa em viagens de fim-de-semana. Muitos não podem chegar ao destino pois chegariam deteriorados ao destino por falta de transporte rápido e excessivo calor.
    A Coca-Cola aliás em alguns países africanos transporta medicamentos gratuitamente nos seus camiões gratuitos.
    Há medicamentos muito caros? Há. Mas a tendência é a ficarem mais acessíveis e as farmacêuticas precisam de dinheiro para investigar e desenvolver novos medicamentos e mais baratos.

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  5. Lura do Rio (12:16)

    Um esclarecimento que pareceria desnecessário: nem o Professor James Watsen, nem a Editorialista professam o marxismo. O próprio Nobel da Medicina teve o cuidado de enfatizar não ser marxista.

    Eu próprio também não sou. De resto, ninguém até agora veio aqui elogiar o sistema de saúde de Cuba.

    O Professor James Watsen, ao falar na carestia de alguns medicamentos, não estava a referir-se às ditaduras de países africanos ou cubano. Ele estava, sim, a referir-se aos EUA, "onde há pessoas que morrem de cancro porque os medicamentos são muito caros".

    Felizmente e no que aos Estados Unidos se refere, a boa nova chegou na nossa última madrugada.

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  6. Suzana
    É muito forte a ideia transmitida por James Watson de que os medicamentos terão que ser mais baratos para chegarem a toda a gente. Evidentemente que o preço dos medicamentos, assim como o preço de muitos outros serviços de saúde indispensáveis para prevenir e curar a doença, é fundamental para "democratizar" a saúde. Mas em cada momento haverá sempre medicamentos e tecnologias mais avançados e sofisticados que sendo marginais terão preços crescentes e, portanto, com uma eficácia superior mas de acesso restrito.
    Mas a "democratização" da saúde não dependerá apenas do medicamento barato. Depende em muito da noção de desenvolvimento humano, no sentido que James Watson refere, quando não considera admissível que as pessoas sejam tão pobres que não tenham o direito de se tratar.
    Olhemos para Portugal, um país supostamente desenvolvido. Apesar da evolução muito positiva ocorrida nas últimas décadas quer em relação ao acesso quer em relação à qualidade dos serviços de saúde, a verdade é que muitos portugueses ainda morrem numa fila à espera de uma cirurgia oncológica, interrompem tratamentos oncológicos ou não podem beneficiar de medicamentos mais evoluídos que melhorem o bem estar na doença e aumentem a esperança de vida pelo simples facto de que o SNS não dá uma resposta satisfatória.

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  7. Cara Catarina, alguém falava há dias na televisão da extrema dificuldade em trazer para o nosso pais o sistema unidose, o que permitiria que cada um comprasse apenas a quantidade de medicamentos de que necessita, o que evitaria o caso como o que aqui descreve. Em França, por exemplo, já é assim há anos! Mas temos que continuar a lutar, há muitas coisas que pareciam utopia há 20 ou 30 anos e que hoje são realidade, incluindo no campo da saúde, o que não se pode é desistir.
    Caro Antonio Trantagano, os americanos não acreditam que o Estado saiba fazer melhor que o mercado e receiam que acabem todos, ricos e pobres, mal servidos. Cabe a Obama provar que isso não será assim, embora a aprovação da lei seja um bom começo, o mais difícil está por provar.
    Caro Lura do Grilo, tem toda a razão, o problema não está do lado de quem produz, e que tem direito ao lucro do que produz, mas do lado de quem distribui, das políticas de redistribuição e justiça social. não cabe às empresas fazer justiça social, isso cabe ao Esdato, mas como sabemos muitas empresas ganham um poder que ultrapassa em muito o poder político e a sua actividade, se for predadora, pode agravar em muito esses desequilíbrios. Mas é claro para mim que não é a apropriação pelo Estado, ou o centralismo dirigista que abafe ou elimine a iniciativa prvada, que conduz ao desenvolvimento e ao progresso. Trata-se, afinal, do mais difícil, que cada um cumpra o seu papel, sem abusos e com sentido de justiça e do bem comum.
    Margarida, colocou muito bem o problema, excelente achega para o tema suscitado pelas palavras de JW.

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  8. Dra Suzana Toscano (23:14)

    "Os americanos (alguns americanos, acrescento eu) não acreditam que o Estado saiba fazer melhor que o mercado e receiam que acabem todos, ricos e pobres, mal servidos".

    Tive necessidade de restringir a sua afirmação, pois a grande maioria dos cidadãos norte americanos não têm verdadeiro acesso aos serviços de súde!
    Quem viveu nos EUA sabe bem que o mercado não lhes resolveu até agora a questão magna da saúde. Só uma minoria goza desse elementar direito!
    É verdade que a reforma de Obama ainda não está totalmente aprovada. Falta o Senado. Mas espero convictamente por essa aprovação. Será difícil mas não impossível.

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