Na onda que passa, a “corrupção” é palavra da moda e, de geometria variável, aplica-se a todas as situações. O conceito foi democratizado, e abrange indistintamente a “grande corrupção” do Freeport e a “pequena corrupção” da sucata; a “criminosa” gestão do BPN e as “negociatas” do Terminal de Contentores; a “fraude” dos Contratos de adjudicação das auto-estradas e o “roubo” inerente aos contratos de adjudicação de submarinos. Tudo é democraticamente tratado por igual: casos que estão em Tribunal, casos em processo de averiguações e casos em que se pretendem averiguações para os “réus” irem a Tribunal.
No entanto, trata-se de situações muitos diferentes. Uma negociação de preço das auto-estradas por alterações supervenientes de condições financeiras e de acesso ao crédito, que as houve, e que respeitam à vida das concessões, nada tem a ver com negócios rápidos de sucatas a troco de brindes, mesmo que automóveis.
A onda é avassaladora e tudo arrasta. Fabricam-se “réus” e produzem-se “corruptos” e “corruptores” da noite para a manhã. Por atacado, ou a conta gotas, os nomes e as caras são exibidos diariamente nas televisões, à entrada e saída dos Tribunais. E assim sumariamente julgados. O julgamento verdadeiro pode assim esperar, que a produção de prova só é complexa quando é necessário provar, não quando é necessário acusar.
No meio de tudo isto, o Governo em vez de produzir legislação eficaz que regule os processos e defenda os cidadãos presumivelmente inocentes, tem a suprema hipocrisia de falar de "espionagem política", se os acusados lhe são de feição, ou de aconselhar a que se deixe a justiça funcionar, se os acusados lhe são indiferentes.
A corrupção é um dos maiores males que nos pode atingir: abala a sociedade, destruindo importantes valores, e abala a economia, destruindo um dos seus pilares, a concorrência.
No entanto, trata-se de situações muitos diferentes. Uma negociação de preço das auto-estradas por alterações supervenientes de condições financeiras e de acesso ao crédito, que as houve, e que respeitam à vida das concessões, nada tem a ver com negócios rápidos de sucatas a troco de brindes, mesmo que automóveis.
A onda é avassaladora e tudo arrasta. Fabricam-se “réus” e produzem-se “corruptos” e “corruptores” da noite para a manhã. Por atacado, ou a conta gotas, os nomes e as caras são exibidos diariamente nas televisões, à entrada e saída dos Tribunais. E assim sumariamente julgados. O julgamento verdadeiro pode assim esperar, que a produção de prova só é complexa quando é necessário provar, não quando é necessário acusar.
No meio de tudo isto, o Governo em vez de produzir legislação eficaz que regule os processos e defenda os cidadãos presumivelmente inocentes, tem a suprema hipocrisia de falar de "espionagem política", se os acusados lhe são de feição, ou de aconselhar a que se deixe a justiça funcionar, se os acusados lhe são indiferentes.
A corrupção é um dos maiores males que nos pode atingir: abala a sociedade, destruindo importantes valores, e abala a economia, destruindo um dos seus pilares, a concorrência.
Mas o espectáculo actual não dissuade a corrupção, antes a promove. É que, quando tudo é corrupção, e os processos demoram anos, nada é corrupção!...
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarMas é tudo corrupção e todos os partidos estão envolvidos. Porque todos recebem. Portanto, os inocentes e os culpados já estão encontrados há muito tempo. Só falta a punição que, com o tempo, chegará. A forma, é que poderá ser por via judicial ou por outra via que a populaça julgue mais indicada na altura. Agora, o caminho, esse, parece-me traçado e o final da história não me parece que vá ter muitas versões...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarQuem tem poder está sereno, o povo preocupado que está com a gripe A e o desemprego não “espiga”, portanto, se calhar, corrupção e tráfico de influências são figuras de retórica utilizadas por uns tantos invejosos, do sucesso mediático de outros tantos…
ResponderEliminar;)
Caro Tonibler:
ResponderEliminarPois neste momento já tudo parece ser igual. E, se parece igual, começa a ser igual.
Mas há diferenças. Simplesmente, já ninguém as quer ver. Vai tudo pela mesma medida. Ora isso não é admissível. Que é que tem a ver a questão de preço das auto-estradas, na base constante da proposta vencedora, e alterado devido a previstas circunstâncias supervenientes no âmbito do financiamentodo, submetido ao Tribunal de Contas, que, bem ou mal, deu o seu veredicto(pelo que se sabe, razões apontadas para negar autorização parecem-me pouco sólidas, por inadequada análise financeira, mas isso é outra coisa) com, por exemplo, uma adjudicação directa indevida?
As coisas não são iguais.
Caro Paulo:
Aí é que está o perigo. Primeiro cospe, depois habitua-se. Com o tempo, até é capaz de vir a gostar da mistela. Tanto se berra que aqui vai lobo que, quando ele chega, já ninguém liga e o lobo pode passear-se à vontade.
Se há acusação, o julgamento deveria ser rápido, as provas existem ou deviam existir. Não se pode é estar anos à procura das provas. Desacredita todo o sistema de justiça.
Caro jotaC:
É claro que o povo deixa de ligar e essa é a maior acusação que se pode fazer ao poder político, que não reforma o sistema de justiça e ao poder judicial e da magistratura que também contribui para este estado de coisas.
Parece é que o poder político tem medo de mexer no assunto. Vã lá saber-se porquê!...
Concordo com o Pinho Cardão, embora cada uma dessas situações possa ser comentada e analisada do ponto de vista do interesse publico ou da legalidade, não são a mesma coisa e confundir tudo é, de resto, a melhor forma de nunca se esclarecer coisas nenhuma.
ResponderEliminarAcaba de ser editado em França um livro intitulado "Les discrètes vertus de la corruption", de Gaspard Koenig, um livro muito curioso e interessante em cuja introdução se fala precisamente na dificuldade de identificar a corrupção e de a distinguir de outras realidades com que convivemos todos os dias. Aí se lê: "estranhamente, não há nas bibliotecas muitas reflexões sobre a corrupção. (...)De um lado, os praticantes mudos, de outro, os teóricos cegos. A juíza Eva joly, essa grande figura da luta anticorrupção, sublinha essa dificuldade que há em falar do assunto:Um segrado de iniciados que se joga entre poucos jogadores. São raros os que tiveram a oportunidade de penetrar na espessura das coisas, por detrás das aparências, e que regressaram. As nossas elites estão intelectualmente desmunidas face a esta questão"
ResponderEliminarDe geometria variável
ResponderEliminarentre linhas tortuosas,
a corrupção é odiável
por razões virtuosas.
A onda avassaladora
tudo parece arrastar,
sendo denunciadora
do regime a enquistar.
A liberdade carenciada
nesta abjecta democracia,
tem sido tão depreciada
por tanta “merdocracia”.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminar"Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele". E, outro, "bate na tua mulher porque se tu não souberes porquê, ela sabe". Para o cidadão, nesta fase, é igual.
Pois é, caro Tonibler, o problema é quando a mulher começa a bater no marido pelas mesmas razões...
ResponderEliminar...e ele também saberá porquê.
ResponderEliminarA melhor forma de provar que um problema não existe é reduzi-lo ao absurdo, carreando tantos e tão diversos detalhes que no final já ninguém perceba nada do que se passou.A dificuldade estará, como sempre, em quem recebe a informação ser capaz de distiguir o que é atirado para confundir e o que é relevante para se chegar à verdade. No caso meio oculto misturam-se prendas de automóveis e relógios de luxo com brindes de Natal (hoje ouvi falar num decantador de vinho),mais um pouco e no rol virão as agendas com capa de pele gravada, tudo alinhado como "provas" irrefutáveis-de-qualquer-coisa-estranha,conversas escutadas que não foram gravadas e gravações que não foram escutadas.Até que o assunto canse.
ResponderEliminarOra aí est+a Suzana. 100% de acordo.
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