Imaginemos, por momentos, que estamos em aparente estado de coma a ver, ouvir e sentir tudo o que se passa à nossa à volta, mas totalmente impossibilitados de comunicar estas faculdades aos que nos rodeiam, a família, os amigos e os médicos que pensam que estamos em coma.
É difícil fazer um tal exercício. Mas foi o que aconteceu a um doente que viveu durante mais de duas décadas num estado, imagino eu, de grande angústia e desespero, consciente da realidade à sua volta.
Durante "todo este tempo eu tentava gritar, mas não havia nada para as pessoas ouvirem". É assim que o belga Rom Houben, de 46 anos, descreve o martírio de viver um falso coma e não conseguir comunicar com os médicos e as pessoas que o visitaram durante 23 anos.
O médico neurologista Steven Laureys descobriu, depois de realizar alguns exames de tomografia de última geração, que afinal Rom Houben, apesar de ter perdido o controlo do seu próprio corpo, estava consciente do que se passava à sua volta.
Este médico acredita que podem existir muitos outros casos semelhantes de falso coma e alerta para o facto de poder haver um diagnóstico errado em relação a casos de doentes classificados em estado vegetativo.
Embora sendo uma história de horror, este caso acabou por ter um final feliz, mas poderia não ter sido assim…
É uma lição de vida e um sinal de esperança e de aviso para a humanidade. O corpo humano tem ainda muito de desconhecido e a medicina continua a fazer milagres. O debate sobre o direito de morrer não pode estar encerrado e o direito de viver continua a ter uma grande força. A vida é uma permanente descoberta, uma fonte inesgotável de inigmas.
O doente manifestou ainda esperança no futuro: "Quero ler, falar com os meus amigos através do computador e apreciar a vida, agora que as pessoas sabem que não estou morto."
Durante "todo este tempo eu tentava gritar, mas não havia nada para as pessoas ouvirem". É assim que o belga Rom Houben, de 46 anos, descreve o martírio de viver um falso coma e não conseguir comunicar com os médicos e as pessoas que o visitaram durante 23 anos.
O médico neurologista Steven Laureys descobriu, depois de realizar alguns exames de tomografia de última geração, que afinal Rom Houben, apesar de ter perdido o controlo do seu próprio corpo, estava consciente do que se passava à sua volta.
Este médico acredita que podem existir muitos outros casos semelhantes de falso coma e alerta para o facto de poder haver um diagnóstico errado em relação a casos de doentes classificados em estado vegetativo.
Embora sendo uma história de horror, este caso acabou por ter um final feliz, mas poderia não ter sido assim…
É uma lição de vida e um sinal de esperança e de aviso para a humanidade. O corpo humano tem ainda muito de desconhecido e a medicina continua a fazer milagres. O debate sobre o direito de morrer não pode estar encerrado e o direito de viver continua a ter uma grande força. A vida é uma permanente descoberta, uma fonte inesgotável de inigmas.
O doente manifestou ainda esperança no futuro: "Quero ler, falar com os meus amigos através do computador e apreciar a vida, agora que as pessoas sabem que não estou morto."
Imaginem que tinha sido decidida a prática da eutanásia.
ResponderEliminarA situação descrita é mais frequente do que se suporá, à primeira vista. E talvez não se trate de um erro de diagnóstico. O que acontece é que não se sabe ainda tudo sobre o coma, tal como nos casos de catalepsia. Posso dar aqui testemunho de um caso que conheci: uma senhora com 87 anos entrou em coma (real ou aparente, para o caso não interessa). Os médicos mantiveram-na ligado à máquina por muito tempo, com prognóstico mais do que reservado.
ResponderEliminarEm dado dia, os sobrinhos da senhora foram-na ver ao Hospital e perante a doente disseram isto: "até que enfim que o raio da velha vai morrer"!
Acontece que a doente, alguns dias depois, despertou do coma e procurou-me para relatar o episódio: ouvira tudo quanto os sobrinhos disseram! Pretendia, não afastar os sobrinhos da sucessão, mas complicar-lhes a vida de tal jeito que haveriam de passar a "vida inteira" a destar os nós que a Tia tecera. Havia heranças indivisas, uma série de complicações que a bondosa senhora pretendia apenas complicar ainda mais para que os "sobrinhos se lembrassem sempre do raio da velha". Levei-a a um advogado amigo que satisfez as vontades da Senhora. Esta haveria de viver ainda até aos 95 anos, perfeitamente lúcida. Não sei se os sobrinhos já se desenvencilharam da "armadilha" que a Senhora lhes deixou...!
A questão da eutanásia merece uma boa discussão. Não sei se este tema está na mente de quem postou o Editorial. Mas que merece uma boa discussão, lá isso merece!
A todo o momento surgem verdades que nos levam a reflectir sobre airrealidade da vida.
ResponderEliminar"Nada é o que parece"!
Todas as certezas se podem transformar num ápice em enormes dúvidas.
Confrontados com a constatação da realidade irreal, questionamo-nos se existimos verdadeiramente, ou se, a nossa existência não passa de uma mera suposição... um sonho... uma ideia.
Aquilo que perseguimos, desde o momento em que adquirimos consciência, é a certeza de que existimos, para que, assim sendo, possamos traçar uma linha que nos garanta a segurança da infalibilidade.
Mas afinal, parece que tudo funciona de uma forma verdadeiramente imprevisível. Imprevisível talvez porque estejamos expostos e dependentes de diferentes agentes, sendo que um deles, talvez o principal, seja a consciência de nós mesmos.
... a vulnerabilidade à inconsciência, é o verdadeiro factor que aterroriza a nossa consciência...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro António de Almeida
ResponderEliminarO doente belga não teria recomeçado uma nova vida...
Caro António Transtagano
Justamente no meu texto deixo a preocupação sobre o debate, que será sempre inacabado, da questão da eutanásia, começando pela necessidade da sua definição: direito de morrer ou direito de matar (ou de fazer morrer, como já vi defender).
É um tema que é debatido há séculos, que continua a ser controverso porque interfere com a noção de valor da vida e da dignidade humana.
O recomeço de vida do doente belga deve constituir uma ajuda para uma reflexão mais iluminada sobre a eutanásia.
É uma matéria de grande complexidade, reconheço, porque interfere com concepções de natureza ética e filosófica sobre a vida, religiosa, jurídica e outras.
A estória que nos conta da Senhora com 87 anos é impressionante, não apenas porque nos mostra o quanto ainda não sabemos sobre o estado "entre a vida e a morte" e o quanto a vida é inesperada.
Caro Bartolomeu
"Todas as certezas se podem transformar num ápice em enormes dúvidas"! Grande verdade. É por isso recomendável que não tenhamos certezas absolutas sobre nada e que admitamos a dúvida. Não que esta relatividade seja boa, mas porque assim podemos encarar a vida com mais serenidade, com menos sobressaltos...
Caro Paulo
ResponderEliminarPelo que percebi da leitura do artigo, pode não ser verdade que o doente belga consiga pelas suas próprias mãos utilizar a técnica "facilitation communication" e portanto não ser credível a notícia de que é capaz de ler e escrever.
Ainda que assim seja, parece não estar em causa a descoberta de que o doente belga estava lúcido durante o aparente estado de coma.
Dra.Margarida Coorêa de Aguiar
ResponderEliminarComo bem refere no seu comentário, trata-se a (eutanásia) de um problema de grande complexilidade que imbrica "com concepções de natureza ética e filosófica sobre a vida, religiosa, jurídica e outras".
Nem sequer é fácil esta abordagem, independentemente das concepções que cada um possa ter sobre a questão. Que me lembre, esta problemática foi suscitada pela primeira vez em Portugal, na área do Direito, pelo penalista Doutor Faria Costa nas suas provas de agregação, no austero claustro universitário da Faculdade de Direito de Coimbra, vão decorridos uma boa meia dúzia de anos! E justamente o título que deu à dissertação foi "O Fim da Vida e o Direito Penal". O Doutor Faria Costa defendeu "de jure condendo" a admissão da "eutanásia" verificados que sejam certos pressupostos: uma vontade livremente determinada por parte do paciente, a ocorrência de uma doença letal, irreversível, em que a continuação da vida não deixe de lhe causar um grande sofrimento, entendendo-se por irreversível - e estou a citar de cor - a doença assim considerada, de acordo com o estado da ciência médica à data em que o acto da morte seja praticado. Excluídos desde logo, do âmbito da dissertação, as pessoas de menor idade. E em qualquer caso o acto da morte só poderia ser praticado por um médico, por isso que a "eutanásia", nestes termos admitida, seria considerada, ainda assim, como um acto médico. A traço grosso, foi este o "miolo" da dissertação.
Mais recentemente, o penalista Doutor Figueiredo Dias aborda também o tema num estudo publicado pela Revista de Legislação e Jurisprudência. Certo de que o problema está em cima da mesa e convicto de que mais tarde ou mais cedo a "morte assistida" será uma inevitabilidade em Portugal,ateve-se sobretudo, nesse estudo, à definição de conceitos. Do que se trataria, pois, seria de um "suicídio assistido".
Não conheço o articulado do testamento vital, recentemente aprovado pelo Parlamento mas sabe-se que consubstancia a possibilidade de exprimir, em vida, uma vontade livre e determinada relativamente aos tratamentos médicos que venham ou não a ser dispensados ao paciente em ocasião em que este não esteja na posse das suas capacidades de entender e de se exprimir livremente. Pode dizer-se que será um primeiro passo para a "eutanásia", preferindo também eu denominá-la como "suicídio assitido" mas é apenas um pequeno passo.
Pessoalmente, sou favorável à admissão do "suicídio assistido", verificados que sejam os pressupostos que resumidamente enumerei, citando de cor a dissertação do Doutor Faria Costa.
Acho que a pessoa humana tem direito a um morte digna. Não tendo da vida uma concepção puramente hedonística, também entendo que não nascemos para sofrer. E que nos assiste o direito de o recusar o sofrimento.
Do meu ponto de vista, acho que ninguém tem o direito de, fundado em concepções religiosas, sejam elas de que credo for, impor aos outros essas concepções. E muito menos o Estado português que é laico e não professa qualquer religião. Tal qual como no divórcio, para os católicos o único casamento válido é o matrimónio católico, o Estado alheia-se de qualquer confissão religiosa, permitindo o divórcio.
Naturalmente que o tema da "eutanásia" ou o "suicídio assistido", como prefiro chamar-lhe, será objecto de grande celeuma na sociedade portuguesa. Mas é inescapável esta discussão. Sabe-se que ela contará com a recusa da Ordem dos Médicos, que já contestou o testamento vital!
Mas estes, os médicos, poderão ser sempre objectores de consciência...
Dra. Margarida Corrêa de Aguiar:
ResponderEliminarDesculpe-me pelo lapso em que incorri com o seu nome! Eu queria escrever Corrêa e saíu Coorêa!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro António Transtagano
ResponderEliminarConfesso que tenho dificuldade em abordar o tema da eutanásia. É um tema muito difícil. Poderá ser uma fraqueza, mas as minhas dúvidas são grandes e penso que a minha dificuldade se vai manter.
É um assunto de grande complexidade. Tenho para mim que morrer com dignidade é um direito de qualquer pessoa, mas a questão está em saber o que se entende por dignidade, que por certo varia de pessoa para pessoa. Também nos assiste o direito de recusar o sofrimento e por isso mesmo devemos auxiliar as pessoas que estão em sofrimento. Estamos perante valores éticos, de grande dimensão íntima, que a lei, suspeito, nunca conseguirá tratar sem gerar grande controvérsia.
Quanto ao testamento vital não conheço os termos da proposta de lei que creio não foi aprovada, Caro António Transtagano. Julgo que foi retirada da agenda política em Julho. A possibilidade de a pessoa deixar escrito num documento, na total posse das suas faculdades, a sua vontade em suspender tratamentos em caso de doença terminal causadora de grande sofrimento é também uma matéria complexa. Implica a definição de doença terminal ou doença "irreversível" (será que a ciência médica tem efectivamente condições para o fazer?) e a definição de sofrimento (alguém está em condições de o fazer?), exercício que se afigura difícil e que também interfere com valores éticos.
Caro António Transtagano
Quanto ao CoorÊa, sei bem que o "chapelinho" (^) às vezes atrapalha!
Dra.Margarida Corrêa de Aguiar
ResponderEliminarQuanto ao fundo da questão: nada me resta se não respeitar a sua posição sobre a "eutanásia" a que eu preferiria chamar, nos termos em que a admito, como "suicídio assistido". São argumentos expostos com grande seriedade e despidos de qulquer vislumbre de sectarismo. E está certamente acompanhada de milhares e milhares de portugueses.
Creia que não me foi fácil chegar à posição que é hoje a minha!
Por isso antevejo (antevemos) uma enorme controvérsia acerca desta magna questão.
E o que eu ambicionaria é que o problema, se e quando ele estivesse "na ordem do dia", fosse debatido com a maior elevação.
Ensinou-me um Professor meu de Direito da Família que muito prezo e admiro, a propósito da questão do divórcio, nos idos de 60, que qualquer questão séria acerca do divórcio só pode ser proveitosa se "divorcistas" e "anti-divorcistas", uns ao defenderem o divórcio, outros a recusá-lo, encetem a discussão se mutuamente aceitarem e reconhecerem que uns e outros, ao defender e ao recusar o divórcio, ajem na convicção de que as suas posições são animados do propósito de que é desse modo que melhor se acautelam os interesses da Família. Fora desse pressuposto, acrescentava o meu Professor, qualquer questão sobre o divórcio resultaria estéril e inútil!
Se fosse possível fazer transportar este modo de encarar as coisas para a questão do "suicídio assistido", importaria que todos, querem os favoráveis ao suicídio assistido quer os que se lhe opõem, aceitem e reconheçam mutuamente, que uns e outros defendam que o ser humano tenha direito a uma morte digna. Que uns por uma forma e outros de modo diferente, o que está nos objectivos de todos seja assegurar a dignidade da morte.
Se for este o ponto de partida do debate, este poderá ser sério e enriquecedor. Se o não for, e se aquele pressuposto não for aceite, toda a discussão, como diria o meu velho Professor, resultará inútil e estéril...
Quando ao Testamento Vital: sei que foi apresentada na AR sob proposta do Partido Socialista e foi aprovada com os votos do PS e,creio, com a abstenção do BE. Confesso que não sei se a mesma chegou a ser enviada para o PR e neste caso a lei foi vetada ou se o PS, conhecedor desse putativo veto, terá sido retirada da Agenda do PS.
Quanto a chapelinho ^, normalmente não costumo enganar-me mas desta vez saíu mesmo mal!