sábado, 19 de dezembro de 2009

Aeroporto para aviões que não voam

Faz-se um investimento de 33 milhões de euros num aeroporto, em Beja. Obra feita, chega-se à conclusão que não há operadores interessados.
O aeroporto está praticamente pronto e a partir de agora o objectivo prioritário é saber que uso pode ser dado ao assim designado Aeroporto do Alentejo.
Solução? Usar a estrutura para parque de estacionamento de aviões inactivos.
Extraordinariamente genial: um aeroporto para aviões que não voam!...
Quanto ao tráfego aéreo, talvez lá para 2014.
Não sou eu que o digo. Quem o diz é a ANA, ouvida pelo Público.
Ora aí está um belo exemplo de investimento público. Só me resta saber como é que aviões inactivos lá vão aterrar!...

15 comentários:

  1. Caro Dr. Pinho Cardão,

    Saúdo-o por também chamar a atenção para mais este escândalo.

    À citação que faz no post acrescentava os seguintes excertos:

    «Também aqui as perspectivas não são animadoras. Espera-se um fluxo de 24 mil passageiros e dois voos semanais, sem que seja possível identificar de onde virão e para onde irão.»

    «O Aeroporto do Alentejo, descrito por José Sócrates em 2007 como “um baixo investimento para um grande benefício”, foi dimensionado para dar apoio à componente turística que foi anunciada para a zona de Alqueva. Mas até ao momento nenhum dos projectos programados iniciou obra, e já se questiona se arrancarão de facto.»


    Mas estes pequenos detalhes não têm importância nenhuma. Não há passageiros, não se sabe de onde virão os aviões (e só em 2014) nem para onde irão mas, naturalmente, é imprescíndível avançar com a auto-estrada que irá ligar Sines… a Beja, para rentabilizar a infra-estrutura já disponível no Aeroporto do Alentejo! Sim, faz todo o sentido! Tal como ter sido recentemente terminada uma enorme rotunda, no actual IP8, para servir o previsivelmente volumoso tráfego para o Aeroporto (lá para 2025?!). ABSOLUTAMENTE EXTRAORDINÁRIO!

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  2. Anónimo22:59

    Os objectivos do aeroporto de Beja não se prendem propriamente com o tráfego de passageiros mas sim carga aérea e criação de condições para o desenvolvimento dum cluster aeronáutico tanto de manutenção como, potencialmente, de fabrico. Claro que agora falta o resto, nomeadamente criar as condições que tornem apelativo aos agentes de mercado investir em Portugal. Sem essas o aeroporto sozinho não faz milagres... pese embora em Portugal continuar a achar-se que as acessibilidades e os transportes sozinhos e por si são a panaceia para tudo.

    O terminal de passageiros, de qualquer maneira, é um mero apendice.

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  3. Caro Pinho Cardão,

    Julgo que anda distraído, se o Primeiro-Ministro disse que o aeroporto de Beja é "absolutamente fundamental para o país", que a obra é um "acto de justiça social", que "representa um desígnio nacional", que "contribui para o desenvolvimento do interior do país", etc., etc. É porque é assim e ponto final parágrafo :)

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  4. Caro Zuricher:
    Obrigado pelo esclarecimento. Mas fica-me a dúvida sobre a natureza da carga aérea e a existência do cluster aeronáutico.
    Será que as obras foram feitas ao abrigo do princípio de que toda a oferta gera a sua própria procura?
    Mas, nas condições em que estamos, e dada a natureza do investimento, o princípio é para levar à letra?
    Há perspectivas sólidas de que se possa recuperar o investimento?
    E o custo de oportunidade?

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  5. Caro Fartinho:
    De facto, ando distraído.
    Mas se o 1º Ministro, que ando a ouvir mal, disse isso, então é a mais pura das verdades!...
    Portanto, tal como o TGV, absolutamente fundamental para gastar dinheiro neste momento em que é difícil gastá-lo...

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  6. Do primeiro-ministro já sei o que espero, mas seria interessante ver o PSD a voltar atrás com o apoio ao aeroporto de Alcochete com base nestes dados. Seria uma forma de afastar as suspeitas de que só é contra as grandes obras quando não pode entrar.

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  7. Anónimo07:39

    Caro Pinho Cardão, de origem não foi propriamente questão de que uma oferta gera a sua procura mas quase. Havia alguns investimentos falados para a zona e que iriam usar-se do aeroporto e, enfim, algum wishfull thinking do governo.

    Dado o investimento que foi, 33 milhões de €, e na área da aviação, se alguma empresa de manutenção ou uma empresa de carga aérea usar o aeroporto como hub de carga e lá se instalarem o investimento fica plenamente justificado até em termos financeiros.

    Agora, lá está. O aeroporto é apenas isso: um aeroporto. É um elemento para o investimento mas nao é o investimento em si próprio. Se não se adoptarem as politicas necessárias para atrair o investimento - as questões da fiscalidade, da justiça, da burocracia, enfim, aquelas a que o ministro da Economia devia dar atenção em vez de andar a fazer as vezes de politiqueiro - então aí chapéu, foram 33 milhões deitados à rua.

    Agora, enfatizo, um aeroporto daquele género tem potencial para gerar receitas muito apreciaveis e há inúmeros aeroportos pelo mundo fora que se dedicam apenas a carga aérea, manutenção, fabrico, etc, etc e nunca viram um passageiro na vida. Se o deixarem realizar o seu potencial...

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  8. É extraordinária a facilidade com que se aplica o dinheiro esmifrado aos contribuintes em projectos aparentemente não sustentáveis e depois se procuram justificar com argumentos vazios de substância, mais do tipo: se e se amanhã estiver sol, o dia vai estar lindo...

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  9. Caro Zuricher,

    Se isso tudo acontecesse já estava feito há muito tempo e sem precisarem do meu dinheiro. Agora começo a ficar ligeiramente incomodado com a quantidade de investidores do meu dinheiro em infraestruturas fundamentais. Gostava que, de quando em vez, esse tipo de investimento cuja rendibilidade está quase garantida, fosse feito com o dinheiro dos outros em vez de ser sempre com o meu. É que se for fazer contas à quantidade de hub's, plataformas, redes, etc... que eu já comprei, já deveria estar rico a esta hora!

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  10. Isto está tudo ligado.

    Pequeno historial - visita presidencial ao Alentejo/Beja: Jorge Sampaio - «temos de ajudar esta gente»; Durão Barroso - «um milhão de contos para o Aeroporto»; José Sócrates em 2007 - «um baixo investimento para um grande benefício».
    Com o regime nas mãos das elites partidárias formadas nas universidades do regime (a exemplo da Moderna ou da Independente), passado o período desenvolvimentista dos anos oitenta, parece termos Portugal condenado a um desenvolvimento sem fim: Euro 2004, um crime económico com a assinatura do bloco central (PS e PSD e rubrica do actual PM); auto estradas sem trânsito automóvel que as justifique, com crimes económicos sucessivos; aeroporto na Ota, uma monstruosidade aeronáutica, económica e financeira evitada à última hora; uma rede de TGVs para todas as estações, último crime económico do regime - Porto-Madrid e Lisboa-Madrid, dois eixos para 25 mil passageiros diários em cada (!?), a RAVE não o faz por menos (quem pagará os salários a estes gestores?).
    E agora, Beja International Airport. Que o País é grande e Alá Bloco Central o seu profeta. Entre Lisboa/Portela/Alcochete e Faro, um mega Airport, para os dias de nevoeiro a Norte ou a Sul.
    E para não destoar, dois dos bons autarcas do reino, vão investir em dois aeroportos para aeronaves de médio porte: Castelo Branco e Covilhã, em breve aptas a receber dezenas de milhares de excursionistas de além Pirinéus.

    Entretanto no Seixal, uma escola aguarda há treze anos por novas instalações eléctricas, de modo a evitar o castigo das crianças pelos frios de Inverno. E na biblioteca municipal do Altinho/Lisboa, para o tecto de uma sala que desabou há um ano, uma sala que se mantém fechada. Não há verbas.

    Os regimes socialistas do Leste europeu, desenvolveram o conceito de «crime económico». Se o Regime (democrático), não dispõe desse conceito, que dizer dos seus (ir) responsáveis dirigentes?
    Barroca Monteiro

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  11. ...mas para encenações de elefantes embranquecidos

    Os aviões estacionados
    sem poderem voar
    ficarão emocionados
    com o nosso perdoar.

    As obras emblemáticas
    destes anos apodrecidos
    terão encenações temáticas
    para elefantes embranquecidos.

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  12. Vamos então esperar pelos investidores, quem sabe? Até lá podemos criar uma Comissão para Divulgação e Dinamização do Aproveitamento do Aeroporto de Beja. Em último caso talvez dê para o campeonato mundial da Fórmula I, já que deve ser difícil converter em campos de golfe.

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  13. Caro Pinho Cardão

    Apenas para "ajudar" à festa: o "futuro" aeroporto de Beja concorre com o "actual" aeroporto de Ciudad Real que está a +/- 300 Kms de distância (estamos a referirmo-nos a distância a "vol d' oiseau").
    Este aeroporto já está a funcionar e tem, dois operadores e voos regulares.
    Assim o seu espanto é mais do que justificado.
    Cumprimentos
    joão

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  14. Caros Eduardo F., Bravomike e João:

    Ora aí estão mais uns bons complementos que tornam a coisa ainda mais caricata. Enfim, uma desgraça de governação.

    Caro Tonibler:
    Os hub's, plataformas, redes, etc... que comprou fazem de si, de mim e de nós uns sujeitos riquíssimos...de dívidas...
    Dizendo que é para nosso bem...

    Caro jotaC:
    Esmifrados ...e cada vez mais endividados...

    Caro Manuel Brás:
    Matéria não vai faltando...e veia também não!...

    Cara Suzana:
    Ora aí está uma excelente ideia!...Campo de golf no inverno, pista de fórmula 1 no verão...
    Fórmula 1 para aviões, claro está!...
    Afinal, não é dinheiro perdido...

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  15. Mais uma achega para a viabilização deste infra-estrutura, Caro P. Cardão: arrendamento de uma parte do espaço, boa parte certamente, à Casa Barreira para aí poder parquear as pilhas de cortiça, agora que a necessidade de stockagem aumentou por força da queda dos preços no produtor...

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