segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Honestidade

No início dos anos setenta psicólogos fizeram uma interessante experiência. Era a altura do Halloween e as crianças ao entrarem num determinado espaço podiam, de acordo com a vontade do proprietário, retirar um doce dos diversos boiões. Apenas um. Entretanto, era solicitado o nome e a residência das crianças. Não de todas as que entravam, apenas de algumas. Volta e não volta o proprietário saía para ir até à cozinha. Nessas alturas, muitos miúdos, que não tinham sido interpelados em matéria de nome e de residência, não tiravam um doce, mas chegavam a esvaziar os boiões! Os autores concluíram que o anonimato originava uma sensação de segurança quanto às repercussões dos seus atos, um processo denominado de "desindividuação". No fundo, o que está presente neste fenómeno é basicamente uma questão de honestidade, ou melhor, a falta dela.A vida ofertou-me muitas situações de honestidade maravilhosa e outras muito problemáticas em que a má-fé e a desonestidade foram marcas que acabaram por deixar cicatrizes nas almas e nas carteiras. As primeiras são as piores, porque muito dificilmente as esquecemos. Por vezes chegamos a afirmar que a vida ensina-nos muito e que estamos sempre a aprender. Uma ova. Quem é honesto por natureza cai vezes sem conta, tantos são os vigaristas que proliferam por aí como cogumelos em ano de chuva. Mas sendo tão numerosos será que há razões para esse comportamento? Não sei, mas presumo que os psicólogos evolutivos já deverão ter abordado a matéria e não me admiraria nada que viessem a encontrar vantagens seletivas. Ou seja, os batoteiros são capazes de melhor sobrevivência. Até nos outros animais é possível detetar batoteiros de toda a ordem e espécie.Recentemente, um estudo muito bem conduzido permitiu concluir que a honestidade é um processo automático mas apenas em certas pessoas. Os cientistas, através da ressonância magnética nuclear funcional, “viram” como certas zonas do cérebro se comportam em diferentes indivíduos nas mesmas circunstâncias, à exceção de permitir a alguns a tal "desindividuação", a batotice. Nalgumas pessoas que poderiam ter feito batota, mas não fizeram, não houve qualquer atividade cerebral. O grupo dos desonestos que persistiam na mentira e o grupo de “desonestos” que faziam esforço para não o serem apresentavam atividades extra muito marcadas. Sendo assim, é possível classificar os seres humanos em três grandes grupos: os basicamente honestos, os estruturalmente desonestos e os desonestos que querem deixar de o serem. Estes comportamentos fortalecem a ideia de que a proporção de “batoteiros” e de “trouxas” é uma constante, traduzindo uma qualquer reminiscência evolutiva. Ora, nesta perspetiva, não é possível evitar encontros imediatos do primeiro grau ao virar de qualquer esquina com um ou uma vigarista. Pelo menos é confortante verificar que alguns desonestos de base querem mudar de campo. Resta saber se é significativo e se conseguirão vingar no novo estado. A honestidade estrutural de alguns seres humanos é por vezes objeto de admiração e de notícias na comunicação social. Há dias li a notícia de uma senhora humilde (gosto desta expressão que parece reforçar a profundidade da honestidade) que encontrou uma pasta com muitos milhares de euros e que não ficou com eles. Agora, um outro senhor, para não variar, também, humilde, encontrou uma carteira com mil e poucos euros e foi entregá-la à polícia, prescindindo da parte que lhe caberia por lei. Todos temos conhecimento de casos semelhantes ou até pertencemos a este grupo, os estruturalmente honestos.Como a ciência está constantemente a contribuir para melhorar o conhecimento deste e de outros comportamentos talvez não fosse má ideia submeter certas pessoas que andam por aí, como quem diz, andam lá por cima, a tratar-nos como trouxas e a alambazarem-se à grande e à francesa, pavoneando a sua estrutural e perigosa desonestidade, a alguns exames sofisticados. Já estou a ver, um dia, algumas pessoas a porem a cabeça, não num cepo, porque isso é muito perigoso, já que podiam ficar sem ela, mas num “aparelhómetro” qualquer capaz de verificar se são ou estruturalmente honestos. Pelo que tenho andado a ver nestes últimos tempos bem falta nos faz...

4 comentários:

  1. Caro Professor:
    Mas qual seria o desonesto que submeteria a cabeça ao aparelho?

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  2. Auschwitz e o dr Josef Mengele, de novo? Minha nossa...!!!

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  3. A desonestidade já atingiu o IPCC? Haverá dados adulterados referente ao aquecimento global? Fala-se agora em “corrupção intelectual”, este furto de emails do IPCC como sendo o pior escândalo científico de todos os tempos! Até parece um vírus absolutamente fora de controle!

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