O Banco de Portugal revelou as suas previsões de Inverno para a economia portuguesa, traçando um cenário muito preocupante até 2011:
- o crescimento económico será muito débil (confirma-se que Portugal sairá da crise de forma mais lenta do que a generalidade dos países europeus);
- o investimento não recupera;
- as exportações terão um dinamismo muito reduzido;
- entre 2007 e 2011 haverá uma destruição líquida de emprego (o que significa que o desemprego continuará a aumentar, e entrará, pela primeira vez, na casa dos dois dígitos;
- o défice externo continuará a subir, atingindo um valor superior a 11% (!) do PIB em 2011. Isto significa que o endividamento do país irá aumentar – e Portugal já é o país mais endividado da União Europeia, e um dos mais endividados do mundo.
Ora, em particular este último ponto mostra bem como a trajectória que o país tem prosseguido é absolutamente insustentável, porque quanto mais endividados estivermos, menos iremos crescer, naturalmente, porque mais recursos serão desviados para pagar dívidas…
É por isso que, numa altura em que se aproxima a apresentação do Orçamento do Estado para 2010, o caminho a prosseguir não pode deixar de ter que ver com
- a apresentação de uma trajectória de redução do défice público para menos de 3% do PIB em 2013, ou seja, um plano de opções plurianuais de médio prazo que permitam perceber como se reduzirá o défice (e também a dívida pública);
- uma diminuição do défice público assente na redução do peso da despesa pública no PIB e não no aumento de impostos – para não liquidar (ainda mais) a economia –, como tem sido tradicional (e errado) no nosso país;
- um corte nas despesas de funcionamento no PIB (quer os consumos intermédios, quer as despesas com o pessoal), ao contrário do que sucedeu nos últimos anos, em que a promessa do PRACE se ficou, em termos de poupança financeira, por isso mesmo, isto é, por uma… promessa. Que redundou numa desilusão.
Com opções de política orçamental e fiscal correctas – e diversas das que foram tomadas nos últimos anos – o Governo dará um contributo favorável para inverter a trajectória económica global muito negativa em que Portugal caiu. Em particular, ao reduzir o endividamento público – sobre o qual tem efectivamente controlo – o Executivo estará a contribuir para reduzir também o endividamento externo. Haja coragem para ir, decididamente, por este caminho – que nos afastará da Grécia.
Estou certo que, da parte da Oposição responsável, tais decisões não deixarão de ser avaliadas de forma positiva.
Miguel,
ResponderEliminarEstou certo de que hoje deu uma grande alegria ao governador. Afinal, ainda há quem ligue alguma coisa ao que o banco de Portugal diz...
O meu comentário é sobre um detalhe numa matéria em que sou razoavelmente leigo:
ResponderEliminar"um corte nas despesas de funcionamento no PIB".
Esta ideia consensual entre economistas dá-me ideia de que é consensual porque a grande maioria dos que a expressam nunca trabalharam em niveis técnicos e intermédios da administração pública. Quando tiveram contacto com a gestão concreta da administração pública foi normalmente em niveis superiores e de decisão já muito politizada.
É que esta ideia (de cortar no funcionamento e não no investimento) esquece uma realidade: muito do orçamento de investimento é orçamento de funcionamento disfarçado.
O que tem duas consequências: primeiro, cortar orçamento de investimento é cortar de facto no funcionamento; segundo, o funcionamento está de tal forma sub-orçamentado que os cortes neste orçamento se traduzem de facto na paralização dos serviços e na inutilidade de muita da despesa feita sem qualquer consistência.
Os serviços passam a existir para executar orçamentos (sabe Deus com que criatividade orçamental) e não para resolver problemas reais.
E os orçamentos de investimento executam-se, que isso é fácil.
henrique pereira dos santos
Quais abutres a esvoaçar!
ResponderEliminarTantos milhões investidos
em obras cintilantes
nestes anos incontidos
de gastos petulantes.
São milhões a esvoaçar
quais abutres esganados
com esta crise a grassar
em infames tons tisnados.