Não falando em razões de trabalho, muitas das minhas viagens são decididas em função dos livros que li e que me deixaram a vontade de conhecer o meio onde os “dramas” se passavam, em Portugal ou no estrangeiro. Estive em Marselha há muitos anos para conhecer o Castelo de IF, ponto fundamental do romance de Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo. Foi das suas muralhas, que serviam de prisão, que Edmundo Dantès, mais tarde Monte Cristo, se substituiu na mortalha ao sábio português Abade Faria, para ser lançado ao mar e assim escapar aos largos anos de uma condenação injusta. Não consegui, na altura, ir a IF, por força do rigor do mar, que não deixava atracar na Ilha. Voltei agora a Marselha, com a mesma intenção e também a de dar um pulo a Toulon, de onde Jean Valjean, o herói do admirável romance Os Miseráveis de Vítor Hugo, fugiu dos trabalhos forçados, condenado por roubar um pão, e também a Digne, por onde o forçado passou na sua odisseia rumo a Paris, sempre perseguido pelo odioso Inspector Javert. Também agora o Mistral, forte vento frio que atravessa a Provença de norte para sul, não me deixou ir a IF. Mas tive a sorte de um motorista local me recomendar a visita a um sítio que me ficará inesquecível, enquanto a memória perdurar, Baux de Provence, próximo de Arles. Povoação fantasmagórica, misteriosa, implantada no alto da plataforma de um rochedo de 800 por 200 metros, ao abrigo de um castelo e escondida atrás de imponentes muralhas erguidas directamente sobre a rocha, não se sabendo onde umas e a outra nascem ou desaparecem. Só muito de perto, o castelo e as muralhas se distinguem dos penhascos envolventes cor de cinza, a mesma tonalidade e o mesmo relevo recortado no horizonte. E só mesmo muito no interior das primeiras muralhas se divisa a porta de entrada na povoação, totalmente escondida atrás dos grossos muros. Que ostenta ainda os traços da riqueza e da grandeza passadas: enormes palácios de pedra brazonada, igrejas esplêndidas, casas de habitação de grandes senhores. Sítio inexpugnável, era pertença dos Senhores de Baux, poderosa família medieval possuidora de muitas vilas e castelos na Provença e na Itália e, mais tarde, da família Grimaldi, do Mónaco. A cidade fortificada chegou a ter cerca de 4000 habitantes e foi diversas vezes destruída, não pela força ou engenho dos sitiantes, mas por traições e desuniões internas que levaram à sua ruína. Num dia de sol, mas frio, sentia-se o mistral a penetrar e a enregelar os ossos. Recuperados para o turismo, magníficos palácios de pedra servem agora de hotéis e de oficinas de produção e comércio de artesanato. Olhada das muralhas, lá bem mais alto, a cidade pareceu-me um sítio mágico, local onde se pressentem bruxas e duendes pairando nas as ruas estreitas, e se adivinham lendas medievais ao virar de cada esquina. Um daqueles raros sítios que se impõem aos sentidos e perduram fixamente na memória, enquanto ela nos puder acompanhar.
Bienvenue mon cher ami!
ResponderEliminarAlexandre Dumas à dit une phrase:
"Le plus heureux des heureux est celui qui fait le bonheur des autres."
Je suis sure qui vous êtes heureux... aujourd'hui!
;)))
Mil vezes obrigada por compartilhar connosco esta viagem! Viajar é a minha paixão.
ResponderEliminarE quantas vezes pensei em If!!!! Quando jovem li o Conde de Monte Cristo uma série de vezes e há poucos anos vi o “remake” deste filme! Tem razão, há lugares que visitamos que nos ficam na memória e que nos trazem momentos poéticos, de paz e uma ansiedade enorme de continuarmos vivos e saudáveis para podermos apreciar tudo aquilo que está ao nosso alcance.
Feliz Ano Novo!
adoro as descrições das viagens do Dr. Pinho Cardão...
ResponderEliminarDeixo-lhe estes dois videos:
1 - http://www.youtube.com/watch?v=nGYhOHXWX8Q
2 - http://www.youtube.com/watch?v=uwU_cL3M7Zw
A descarga de bens no dia 30-12-2009, no Corvo.
Dá que pensar, as dificuldades e os desafios que enfrentam os cidadãos que vivem nesta Ilha, para se abastacerem dos bens mais elementares como o gás, os alimentos....
Mas do Corvo, tais cidadãos não desistem.
São Portugueses....
Cumprimentos, Dr.
Pelo comentário de Pézinhos N’Areia, assumo que há mais descrições de viagens pelo caro Pinho Cardão. Quando o caro Pinho Cardão poder disponibilizar uns minutinhos, poderá dizer-me onde poderei ler sobre outras das suas viagens? Ano.... mês...... :)
ResponderEliminarObrigada!
Oh Cher Bartolomé, je ne sais pas quoi dire. Il me reste que je vous remercie bien!...
ResponderEliminarCara Pèzinhos:
Desvanecido por gostar de alguns dos meus pobres escritos...
Quanto à abordagem ao Corvo, lembro-me da minha primeira viagem à Ilha do Pico, em que também era necessário esperar que a onda guindasse os passgeiros à altura do cais, para depois saltar, havendo uns tripulantes cuja função era segurar a clientela para não cair à água...
Cara Catarina:
Muito honrado fico!...
De facto, tenho utilizado o Blog para deixar umas impressões de algumas viagens.
Assim de repente, e se estiver interessada na China, escrevi creio que vinte e nove posts, de 27 de Agosto de 2009 a 13 de Setembro de 2009 sobre uma viagem de 15 dias à China: Quinze dias por terras da China, era o título da série. Escrevi mais ou menos um post por dia.
Também de 16 de Julho de 2005 a Agosto de 2005 escrevi vários posts sobre quinze dias na Índia, embora aqui os mesmo não venham numerados.
Aqui lhe deixo alguns exemplos:
http://quartarepublica.blogspot.com/2005/07/ainda-as-castas-um-brmane-pedir-esmola.html
http://quartarepublica.blogspot.com/2005/07/as-castas-de-prias-oprimidos.html
http://quartarepublica.blogspot.com/2005/07/as-vacas-sagradas.html#comments
http://quartarepublica.blogspot.com/2005/07/as-aparncias-iludem-afinal-s-fachada.html
http://quartarepublica.blogspot.com/2005/07/so-seres-humanos-como-ns.html
http://quartarepublica.blogspot.com/2005/07/fatehpur-sikri-o-capricho-de-um.html
Impressões de outras viagens mais pequenas também estão por aí e poderei encontrá-las.
A Suzana também tem algumas belas páginas sobre viagens.
Abraço
Cara Catarina: Aqui lhe deixo mais 2 posts dos muitos outros sobre a Índia:
ResponderEliminarhttp://quartarepublica.blogspot.com/2005/08/caxemira-de-paraso-inferno.html
http://quartarepublica.blogspot.com/2005/08/actualidade-do-ramayana.html
Muitissimo obrigada. Vou já iniciar esta leitura. Não só gosto de viajar como gosto de ler/ouvir o relato de viagens. Solicitarei igualmente à cara Suzana a gentileza de me indicar os títulos dos seus posts sobre as suas viagens.
ResponderEliminarO oriente sempre me fascinou, daí ter lido muitos livros sobre shoguns, samurais... etc etc : )
Fascinante a leitura dos relatos sobre a viagem à Índia.
ResponderEliminarLi... ou melhor tentei ler, há poucos anos, “A Fine Balance” de Rohinton Mistry, passado na Índia e que relata o encontro de um grupo de pessoas que em circunstâncias normais não conviveriam. Alguns “intocáveis” que passam os maiores horrores.. Não consegui lê-lo até ao fim!
A próxima sessão de leitura será sobre a China!
Mais uma vez, obrigada.
Que interessante relato de viagem, caro Pinho Cardão, dum Turista sempre guiado por objectivos culturais e históricos bem precisos e melhor planeados...
ResponderEliminarA prometer descrição saborosa e mais detalhada em ocasião bem próxima, espero...
“...descrição saborosa e mais detalhada...”?! ah.. eu também fico a aguardar!
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira:
ResponderEliminarDescrição saborosa?
Talvez, se se referir a restaurantes e um belo vinho...
Deste-me a inspiração para o próximo post: um restaurante em Marselha.