Retenho de um pequeno ensaio que li em tempos esta pergunta: - Você é estúpido?
O autor faz uma abordagem do que hipoteticamente poderia pensar um extraterrestre sobre a vida neste planeta. Se viesse com intenção de saber qual a principal forma de vida, esbarraria nos seres unicelulares, tipo bactérias, se focasse a sua atenção nas formas multicelulares mais comuns passaria o tempo a estudar as algas e o plâncton, se optasse pelos seres que mais facilmente se movem, então, os insetos seriam uma delicia e se fosse obcecado por sociedades mais avançadas em termos de organização ficaria surpreendido com as formigas e abelhas. E, caso quisessem comunicar com algumas espécies, até poderiam escolher os chimpanzés ou os golfinhos. Nesta fase do campeonato, começamos a questionar porque é que nós, seres humanos, que até somos uma espécie que está espalhada por tudo quanto é sítio, não somos alvo dessa preocupação? Se for por uma questão de domínio da ecúmena, então, as baratas poderiam ser também selecionadas, já que estão, também, em toda a parte. Mas por que carga de água quereriam os extraterrestres comunicar connosco, uma cambada de seres que se autodestroem e destroem o ambiente e outras espécies? Os seres que viessem de outros planetas deveriam dominar outros conceitos e serem dotados de conhecimentos e princípios muito para além dos que caracterizam os terrestres. Nós temos a mania de que somos súper inteligentes. É curioso verificar que a ficção científica é useira e vezeira em apresentar os alienígenas como seres cruéis e com aspetos de monstros com o objetivo de destruir a nossa civilização. Obviamente que não faz qualquer sentido esta representação. Alguém imagina que seres provenientes de outros planetas e galáxias procurassem a Terra para estudar ou comunicar com o Homo sapiens? Credo! Deveriam ser mesmo muito loucos para não dizer estúpidos. Somos muito convencidos e julgamos que não há criatura mais esperta no planeta e até criámos escalas para medir a inteligência, mas fazemos coisas que as outras espécies não fazem e não conseguimos fazer outras inerentes a elas.
Imaginem agora se alguém fosse por aí fora e interpelasse as pessoas na rua, perguntando: - Desculpe. Podia responder a um curtíssimo inquérito? Muitos argumentariam que não tinham tempo e afastar-se-iam se não fosse a persistência do inquiridor. – É rápido. É apenas uma pergunta! – Uma pergunta? Então diga lá. – O senhor é estúpido? - Como?! E o entrevistador com o ar mais solene do mundo repetiria: - O senhor é estúpido? Claro que podia sujeitar-se a vários tipos de respostas, algumas mesmo a fugir para o violento. Estou convicto de que nem um diria que sim fossem mil ou dez mil os inquiridos. Era o que mais faltava!
Lembrei-me deste ensaio ao confrontar-me com um trabalhador que, periodicamente, é obrigado a realizar exames médicos. Bem-parecido, extrovertido, com algum nível cultural, pelo menos aparentemente, sofre de diabetes que lhe diagnostiquei há dez anos. Na altura, aconselhei-o a ir ao médico assistente para se tratar. Chamei a atenção de que se trata de uma doença traiçoeira que acaba por ter consequências graves. No exame periódico seguinte, o doente revelou, após alguma insistência, que não tinha feito nada. O mesmo aconteceu nos exames anuais posteriores. Hoje, a situação, sobreponível às anteriores, revelava perturbações mais graves, algumas mesmo muito preocupantes, nomeadamente a nível da visão. Dez anos de avisos e conselhos. Resultado? Nada! Coloquei uma face muito formal e disse o que tinha a dizer. À medida que ia debitando o meu discurso, a cara do trabalhador começou a acinzentar-se, os olhos a esbugalharem-se, e a respiração a acelerar. Expliquei-lhe que não conseguia compreender a sua atitude. É claro que cada um tem a liberdade de fazer o que lhe der na mona. Não discuto. No entanto, no caso vertente, a preocupação manifestada pela mímica do trabalhador permitiu-me concluir que o senhor afinal tem medo. O homem devia pensar que era imortal. Mas consegui demonstrar-lhe que era mais mortal do que imaginava e a curto prazo. Trata-se daquele género de pessoas que, se um dia lhe acontecer algo de grave, então, a responsabilidade é do destino que lhe pregou uma partida, um azar dos diabos. Nessa altura aqui d’el-rei. Fiquei mesmo incomodado. Não consigo compreender estas situações. Tive mesmo vontade de lhe perguntar: - O senhor é estúpido? Claro que poderia receber uma resposta meio torta, mas estou perfeitamente convencido de que a última coisa que lhe poderia ser assacada seria a da estupidez, ou melhor, nunca seria capaz de admitir que é estúpido. Mas é mesmo!
O autor faz uma abordagem do que hipoteticamente poderia pensar um extraterrestre sobre a vida neste planeta. Se viesse com intenção de saber qual a principal forma de vida, esbarraria nos seres unicelulares, tipo bactérias, se focasse a sua atenção nas formas multicelulares mais comuns passaria o tempo a estudar as algas e o plâncton, se optasse pelos seres que mais facilmente se movem, então, os insetos seriam uma delicia e se fosse obcecado por sociedades mais avançadas em termos de organização ficaria surpreendido com as formigas e abelhas. E, caso quisessem comunicar com algumas espécies, até poderiam escolher os chimpanzés ou os golfinhos. Nesta fase do campeonato, começamos a questionar porque é que nós, seres humanos, que até somos uma espécie que está espalhada por tudo quanto é sítio, não somos alvo dessa preocupação? Se for por uma questão de domínio da ecúmena, então, as baratas poderiam ser também selecionadas, já que estão, também, em toda a parte. Mas por que carga de água quereriam os extraterrestres comunicar connosco, uma cambada de seres que se autodestroem e destroem o ambiente e outras espécies? Os seres que viessem de outros planetas deveriam dominar outros conceitos e serem dotados de conhecimentos e princípios muito para além dos que caracterizam os terrestres. Nós temos a mania de que somos súper inteligentes. É curioso verificar que a ficção científica é useira e vezeira em apresentar os alienígenas como seres cruéis e com aspetos de monstros com o objetivo de destruir a nossa civilização. Obviamente que não faz qualquer sentido esta representação. Alguém imagina que seres provenientes de outros planetas e galáxias procurassem a Terra para estudar ou comunicar com o Homo sapiens? Credo! Deveriam ser mesmo muito loucos para não dizer estúpidos. Somos muito convencidos e julgamos que não há criatura mais esperta no planeta e até criámos escalas para medir a inteligência, mas fazemos coisas que as outras espécies não fazem e não conseguimos fazer outras inerentes a elas.
Imaginem agora se alguém fosse por aí fora e interpelasse as pessoas na rua, perguntando: - Desculpe. Podia responder a um curtíssimo inquérito? Muitos argumentariam que não tinham tempo e afastar-se-iam se não fosse a persistência do inquiridor. – É rápido. É apenas uma pergunta! – Uma pergunta? Então diga lá. – O senhor é estúpido? - Como?! E o entrevistador com o ar mais solene do mundo repetiria: - O senhor é estúpido? Claro que podia sujeitar-se a vários tipos de respostas, algumas mesmo a fugir para o violento. Estou convicto de que nem um diria que sim fossem mil ou dez mil os inquiridos. Era o que mais faltava!
Lembrei-me deste ensaio ao confrontar-me com um trabalhador que, periodicamente, é obrigado a realizar exames médicos. Bem-parecido, extrovertido, com algum nível cultural, pelo menos aparentemente, sofre de diabetes que lhe diagnostiquei há dez anos. Na altura, aconselhei-o a ir ao médico assistente para se tratar. Chamei a atenção de que se trata de uma doença traiçoeira que acaba por ter consequências graves. No exame periódico seguinte, o doente revelou, após alguma insistência, que não tinha feito nada. O mesmo aconteceu nos exames anuais posteriores. Hoje, a situação, sobreponível às anteriores, revelava perturbações mais graves, algumas mesmo muito preocupantes, nomeadamente a nível da visão. Dez anos de avisos e conselhos. Resultado? Nada! Coloquei uma face muito formal e disse o que tinha a dizer. À medida que ia debitando o meu discurso, a cara do trabalhador começou a acinzentar-se, os olhos a esbugalharem-se, e a respiração a acelerar. Expliquei-lhe que não conseguia compreender a sua atitude. É claro que cada um tem a liberdade de fazer o que lhe der na mona. Não discuto. No entanto, no caso vertente, a preocupação manifestada pela mímica do trabalhador permitiu-me concluir que o senhor afinal tem medo. O homem devia pensar que era imortal. Mas consegui demonstrar-lhe que era mais mortal do que imaginava e a curto prazo. Trata-se daquele género de pessoas que, se um dia lhe acontecer algo de grave, então, a responsabilidade é do destino que lhe pregou uma partida, um azar dos diabos. Nessa altura aqui d’el-rei. Fiquei mesmo incomodado. Não consigo compreender estas situações. Tive mesmo vontade de lhe perguntar: - O senhor é estúpido? Claro que poderia receber uma resposta meio torta, mas estou perfeitamente convencido de que a última coisa que lhe poderia ser assacada seria a da estupidez, ou melhor, nunca seria capaz de admitir que é estúpido. Mas é mesmo!
Houve um filósofo que era de opinião de que todos os seres humanos tem uma dose, maior ou menor, de estupidez. Não me recordo quem.
ResponderEliminarA atitude desse senhor perante os seus problemas de saúde era comum à maioria das pessoas rurais há... eu diria menos de meio século... e era uma atitude predominantemente masculina. Ou tinham medo dos médicos (e ainda hoje há muita gente com “medo” do dentista... e não é preciso lermos estudos nenhuns... está à vista!) ou então não havia mal nenhum que uma aguardente não “matasse” ou o ar puro do campo! Idade do obscurantismo! E como podem as pessoas sair deste estado letárgico? Pelo que parece a opinião do médico não é suficiente... Há que haver campanhas de sensibilização no campo da saúde abrangente aos muitos jovens para que a próxima geração aceite e pratique medidas preventivas. Como é que às vezes temos ideias tão avançadas (ainda tenho que pensar em que campo....) e temos uma mentalidade tão... tão ....atrasada?!
Este texto, caro Professor, lembra-me uma velhinha anedota que vou tentar reproduzir de uma forma... amena:
ResponderEliminarDeslocava-se um casal jovem, altas horas da noite por uma estrada deserta do interior, quando subitamente surge uma nave espacial que lhes imobiliza o carro e poisa no meio da estrada mesmo à frente deles. De dentro da nave saem então um casal de extra-terrestres, jovem tambem, que se dirige ao carro e simpáticamente, convida os terráqueos a "dar uma volta" de nave. Os terráqueos, surpreendidos pela súbita aparição e pela grande simpatia dos alienígenas, aceitam de imediato o convite. Dentro da nave o casal anfitrião, proporciona aos convidados todo o conforto imaginável, bebidas exóticas, música, videos e uma simpática conversa. Passado algum tempo, o casal alienígena, propõe aos simpáticos e jovens terráqueos que se conheçam mais intimamente, numa experiência de interesse... intergaláctico.
Os terráqueos entreolham-se e... sim senhor, bora lá a isso, cagentes somes um casal jóbem desenibido e aberto a nóbas espriênças. Então lá foram os 2 casais, a fêmea terráquea com o macho alienígena e vice-versa.
Chegados ao quarto o macho extra, informa a fêmea terrestre que os da raça dele são estimulados através de puxões de orelhas, portanto, conforme fosse o desejo dela, deveria puxar as orelhas dele.
Na manhã seguinte, depois de um furgal pequeno almoço espacial, a nave regressa à terra, os casais despedem-se, os terráqueos voltam ao seu carrinho e os extra-terrestres, rumam... sabe-se lá onde... aos confins do universo, talvez.
Quando se encontram sozinhos, a terráquea que se encontrava especialmente bem disposta, alegre, galhofeira, nota que o seu companheiro está de péssimo humor, sorumbático e decide perguntar-lhe se a experiência com a alienígena não lhe tinha agradado. Depois de alguma insistência o fulano lá acabou por desabafar: aquele pessoal do outro mundo é completamente estúpido, vê lá tu que a extra-terrrestre passou a noite a puxar-me as orelhas com toda a força.
É isto, caro Professor Massano Cardoso, muita gente, mesmo que se lhes puxe a orelhas à força toda, não abandonam a sua condição nata de estupidez compulsiva...
«todos os seres humanos tem uma dose, maior ou menor, de estupidez». A Catarina referiu um aspecto importante. Efectivamente, parece ser uma questão de escala, ou quantidade de estupidez que corre nas veias de cada um. Por mais conscientes e intelectuais que sejamos, não manifestamos sempre alguma incongruência? Estou a pensar em pessoas inteligentes, mas que fumam (uma espécie de roleta do suicídio).
ResponderEliminarA cada grau de consciência corresponderá um nível de sensibilidade ao horror da estupidez alheia. Quer-me parecer que o tal filósofo tinha razão.
É verdade que todos temos o nosso grau de irracionalidade, seja por defesa contra as preocupações que queremos iludir - caso típico da saúde, em que a prevenção tem sempre lá implícita a antecipação da má notícia - seja por arrogância, acharmos que temos razão contra a opinião de quem é suposto saber mais que nós. Os médicos interessados a sério nos seus doentes devem revoltar-se muitas vezes com isso, como mostra aqui tão bem o Massano cardoso e os doentes às vezes sentem essa revolta tarde demais. Mas a estupidez também faz parte da natureza humana...serão seríamos quase perfeitos.
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