Impressionante imagem da destruição que foi precisa para combater o mal e vencer a guerra, é raro alguém lembrar que “maus e bons” só existem na cabeça das pessoas e nos filmes, na vida real o sofrimento dos povos é o mesmo seja qual for o lado da barricada em que sejam apanhados nas desordens dos ditadores e dos que se querem impor pela força. Não há nesta imagem um juízo de valor mas o puro horror a que foi preciso chegar e que muitos já esqueceram. Todos sairam derrotados quando o que resulta é a destruição e a morte que ninguém conseguiu impedir ou evitar. O Haiti viveu e vive uma situação semelhante mas aí foi a fúria da natureza, a vantagem é que não obriga a tomar partido e todos se dispõem a ajudar à reconstrução sem procurar culpados. Nem Dresden nem cidade nenhuma, nem alemães nem povo nenhum merece esta destruição nem este sofrimento, bem basta quando é a natureza a sofrar ventos e tempestades, terramotos e tsunamis... Esta imagem fez-me lembrar o fantástico romance de Heinrich Boll, O Anjo Mudo, que conta precisamente a história dramática de um sodado alemão que regressa à sua terra derrotada e à sua aldeia varrida do mapa. Um livro notável, que deve ser lido como outros romances passados do “lado de cá da barricada”, tal como a imagem de Dresden deve estar ao lado de Guernica ou de Londres.
Agradeço os comentários, sobretudo atendendo à forma com o fizeram. O que eu pretendi foi lembrar um acontecimento que nunca deveria ter ocorrido, independentemente do lado da barricada da questão. Convém não esquecê-los. Nunca. Porque se o fizermos poderemos estar a contribuir para que outros semelhantes possam, um dia, surgir novamente...
Tem razã0, Professor: "convém não esquecê-los. Nunca".
Foi por isso que o Comamdante Supremo das Forças Aliadas, General Dwight Eisenhower, ordenou aos seus subordinados que filmassem e tirassem o maior número possível de fotografias dos campos de concentração nazis, dos prisioneiros famintos, esqueléticos e à beira da morte, das valas comuns, levando os próprios alemães a visitarem os locais para que estes e todo o mundo soubessem os crimes hediondos que ali se cometeram, porque - disse Eisenhower - haveria um dia em que um louco qualquer negaria o holocausto. Como já foi negado, acrescento eu!
Concordo consigo, caro Massano Cardoso, todo o mal começa com uma justificação que o torna tolerável, ou inevitável e quando se vê tudo arrasado pergunta-se como foi possível? sejam vencedores sejam vencidos. Caro spiriv, o objectivo da imagem era muito evidente mas a sua pergunta deu-me oportunidade de o traduzir em palavras, foi uma sorte.
Dra Suzana Toscano Como tudo na vida, "a sorte" também ajuda... Quando era pequeno, recordo-me de assistir a pequenas discussões familiares: uns diziam-se "anglófilos", outros "germanófilos". Eu penso que este dualismo ainda persiste em Portugal.
Caro spiriv, ajuda se soubermos aproveitá-la bem! Esse dualismo ainda é capaz de existir, pelo menos por tradição familiar, se calhar os mais novos não sabem dizer qual a origem. Li este fim de semana um romance magnifíco do Prémio Nobel Le Clézio, com o titulo "Ritournelle de la Faim" e é a história de uma jovem francesa na França ocupada durante a 2ª Guerra Mundial. Não era judia e foi uma heroina na luta pela sobrevivência e no modo como reagiu ao desmoranar do mundo da sua infância. Tocante e impressionante, que, tal como as fotografias que o Massano aqui trouxe, serve para não nos deixar esquecer o sofrimento de milhões de vítimas, fosse de que lado da fronteira estivessem.
Dra Suzana Toscano Claro que sim, é preciso saber aproveitá-la. Registo que muitos dos mais novos não saibam o que foi a 2ª guerra mundial! Há muita falta de memória...Razão tinha o general Eisenhower. Não li o romance que refere.Talvez o venha a ler. Claro que houve também resistentes em França. Mas a França não foi propriamente um exemplo generalizado de resistência à ocupação. A república de Vichy foi uma vergonha "nacional", o colaboracionismo foi recorrente. Já próximo do fim do mandato como Presidente da França, soube-se que Miterrand fora condecorado com a "Francisca", a ordem honorífica outorgada pelo governo colaboracionista de Vichy...
Caro Spiriv, o livro de que falei vem a propósito da nossa conversa porque precisamente não trata de um resistente mas de uma rapariga que teve que sobreviver, como todos os cidadãos, sofrendo a fome, perdendo tudo o que tinha, casa, família, modo de vida, assitindo aos dramas dos outros que eram perseguidos ou enviados para os campos de concentração, e ela não percebe nada de política, ninguém lhe pergunta de que lado está, é um retrato muito expressivo dos milhões de anónimos, ingleses, alemães, franceses, espanhóis, etc, que são apanhados nas atrocidades e na devastação das malhas da guerra. Também serve para percebermos que não é nada fácil ser herói, aderir à luta activa "contra" ou "por", embora haja puro heroismo no simples facto de lutar dia a dia por manter vivos aqueles que dependem de nós em vez de virar costas e simplesmente fugir, se possível.Não sei se é justo divirdirmos um povo em "resistentes" e "colaboracionistas", todos os dias temos exemplos de como, por muito menos e sem grandes ameaças, as pessoas aceitam e se acomodam em vez de protestar e reagir.
Dra Suzana Toscano Evidentemente que se pode ser herói (heroina) sem lutar por causas. No caso, foi o instituto de sobrevivência que a determinou. As circunstâncias dramáticas que a guerra lhe ocasionou levaram-na a lutar para se manter viva. Eu não divido os povos em "resistentes" e "colaboracionistas". Mas ai daqueles que, perante a ocupação, seja ela externa ou interna, não saibam resistir! As ditaduras trazem consigo o medo, que, por seu turno, as alimentam. Nem sempre heróis nem sempre poltrões, é certo. Mas teria sido da Grã Bretanha se tivesse seguido o exemplo da França?
Pois não sabemos, também não sabemos o que teria sido sem Churchil ou se De Gaulle não tivesse feito resistência, ou, ou...Além disso, caro Spiriv, muitas vezes não se vê o medo a chegar, nem as ditaduras, nem a redução de liberdades, a História também mostra isso, excepto na tomada do poder pelas armas, caso em que a resistência tem que ser militar ou então não é possível. Depois de se conhecer o fim da História podem tirar-se lições mas eu, pelo menos, tenho a maior dificuldade em fazer julgamentos genéricos. viu o filme ou leu o livro O Leitor? Vale bem a pena, a propósito desta nossa conversa.
Não vi o filme mas li o Livro. O sentimento de culpabilidade ou mesmo a culpa real podem frequentemente "ensombrar" uma realção amorosa, como uma relação de amizade ou outra qualquer. Uma amizade que foi e deixou de ser não exclue os seus supostos titulares de recordar com imensa saudade os tempos felizes da relação. Desejem-na mas sabem que nada será igual, melhor, que será impossível... Disse no meu post anterior "nem sempre heróis nem sempre poltrôes". Mas entre dois extremos, é suposto existir o "homem médio", o homem razoável, "o bonus pater familias". Acontece que a Alemanha de Hitler levou a cabo uma gurra de agressão,imperialista, racista, à escala mundial. Uns resistiram, outros não! Mencionei a França com exemplo de um certo "entreguismo". Charles de Gaulle foi para Inglaterra dirigir a resistência porque não tinha condições de o fazer no seu País. Mas se lembrarmos o que foi o sacrifício da juventude inglesa e a heórica batalha nos céus de Inglaterra,com milhares e milhares de vítimas,com Londres a ser bombardeada consecutivamente durante 57 dias e 57 noites, que exemplo mais nobre pode ser apontado às gerações vindouras em todo o mundo? Oiço muitas vezes dizer, a propósito do julagamento de Nuremberga, "ai dos vencidos"! E pasmo. Que exemplo mais nobre pode ser apresentado do que aquele que a família real britânica, com o rei Jorge VI e sobretudo com a sua Mulher, a rainha Elizabeth, ao permanecerem em Londres durante os bombardeamentos alemães, acompanhando os mortos e visitando os feridos, em cenários de destruição? Os países de raiz latina trazem consigo muitas virtudes mas trazem também uma certa acomodação e conformação. Bem sei que se assiste hoje a um certo "branqueamento" dos crimes "nazis" que florescem por aí, em sites portugueses, negando o holocausto, apelidando de farsa o julgamento de Nuremberga! Mas por isso mesmo é sempre saudável que a memória não se apague...
Nem um comentário até agora?
ResponderEliminarCoventry, Guernica, coisas menores ...
Que pena, Adolf Hitler não ter evitado este desastre de Dresden!
Impressionante imagem da destruição que foi precisa para combater o mal e vencer a guerra, é raro alguém lembrar que “maus e bons” só existem na cabeça das pessoas e nos filmes, na vida real o sofrimento dos povos é o mesmo seja qual for o lado da barricada em que sejam apanhados nas desordens dos ditadores e dos que se querem impor pela força. Não há nesta imagem um juízo de valor mas o puro horror a que foi preciso chegar e que muitos já esqueceram. Todos sairam derrotados quando o que resulta é a destruição e a morte que ninguém conseguiu impedir ou evitar. O Haiti viveu e vive uma situação semelhante mas aí foi a fúria da natureza, a vantagem é que não obriga a tomar partido e todos se dispõem a ajudar à reconstrução sem procurar culpados. Nem Dresden nem cidade nenhuma, nem alemães nem povo nenhum merece esta destruição nem este sofrimento, bem basta quando é a natureza a sofrar ventos e tempestades, terramotos e tsunamis...
ResponderEliminarEsta imagem fez-me lembrar o fantástico romance de Heinrich Boll, O Anjo Mudo, que conta precisamente a história dramática de um sodado alemão que regressa à sua terra derrotada e à sua aldeia varrida do mapa. Um livro notável, que deve ser lido como outros romances passados do “lado de cá da barricada”, tal como a imagem de Dresden deve estar ao lado de Guernica ou de Londres.
Vá lá, Professor, quem é amigo, quem é? Agradeça à Senhora, não lhe fica mal...
ResponderEliminarSpiriv e Suzana
ResponderEliminarAgradeço os comentários, sobretudo atendendo à forma com o fizeram.
O que eu pretendi foi lembrar um acontecimento que nunca deveria ter ocorrido, independentemente do lado da barricada da questão.
Convém não esquecê-los. Nunca. Porque se o fizermos poderemos estar a contribuir para que outros semelhantes possam, um dia, surgir novamente...
Tem razã0, Professor: "convém não esquecê-los. Nunca".
ResponderEliminarFoi por isso que o Comamdante Supremo das Forças Aliadas, General Dwight Eisenhower, ordenou aos seus subordinados que filmassem e tirassem o maior número possível de fotografias dos campos de concentração nazis, dos prisioneiros famintos, esqueléticos e à beira da morte, das valas comuns, levando os próprios alemães a visitarem os locais para que estes e todo o mundo soubessem os crimes hediondos que ali se cometeram, porque - disse Eisenhower - haveria um dia em que um louco qualquer negaria o holocausto. Como já foi negado, acrescento eu!
Concordo consigo, caro Massano Cardoso, todo o mal começa com uma justificação que o torna tolerável, ou inevitável e quando se vê tudo arrasado pergunta-se como foi possível? sejam vencedores sejam vencidos.
ResponderEliminarCaro spiriv, o objectivo da imagem era muito evidente mas a sua pergunta deu-me oportunidade de o traduzir em palavras, foi uma sorte.
Dra Suzana Toscano
ResponderEliminarComo tudo na vida, "a sorte" também ajuda...
Quando era pequeno, recordo-me de assistir a pequenas discussões familiares: uns diziam-se "anglófilos", outros "germanófilos". Eu penso que este dualismo ainda persiste em Portugal.
Caro spiriv, ajuda se soubermos aproveitá-la bem!
ResponderEliminarEsse dualismo ainda é capaz de existir, pelo menos por tradição familiar, se calhar os mais novos não sabem dizer qual a origem. Li este fim de semana um romance magnifíco do Prémio Nobel Le Clézio, com o titulo "Ritournelle de la Faim" e é a história de uma jovem francesa na França ocupada durante a 2ª Guerra Mundial. Não era judia e foi uma heroina na luta pela sobrevivência e no modo como reagiu ao desmoranar do mundo da sua infância. Tocante e impressionante, que, tal como as fotografias que o Massano aqui trouxe, serve para não nos deixar esquecer o sofrimento de milhões de vítimas, fosse de que lado da fronteira estivessem.
Dra Suzana Toscano
ResponderEliminarClaro que sim, é preciso saber aproveitá-la.
Registo que muitos dos mais novos não saibam o que foi a 2ª guerra mundial! Há muita falta de memória...Razão tinha o general Eisenhower.
Não li o romance que refere.Talvez o venha a ler. Claro que houve também resistentes em França. Mas a
França não foi propriamente um exemplo generalizado de resistência à ocupação. A república de Vichy foi uma vergonha "nacional", o colaboracionismo foi recorrente.
Já próximo do fim do mandato como Presidente da França, soube-se que Miterrand fora condecorado com a "Francisca", a ordem honorífica outorgada pelo governo colaboracionista de Vichy...
Caro Spiriv, o livro de que falei vem a propósito da nossa conversa porque precisamente não trata de um resistente mas de uma rapariga que teve que sobreviver, como todos os cidadãos, sofrendo a fome, perdendo tudo o que tinha, casa, família, modo de vida, assitindo aos dramas dos outros que eram perseguidos ou enviados para os campos de concentração, e ela não percebe nada de política, ninguém lhe pergunta de que lado está, é um retrato muito expressivo dos milhões de anónimos, ingleses, alemães, franceses, espanhóis, etc, que são apanhados nas atrocidades e na devastação das malhas da guerra. Também serve para percebermos que não é nada fácil ser herói, aderir à luta activa "contra" ou "por", embora haja puro heroismo no simples facto de lutar dia a dia por manter vivos aqueles que dependem de nós em vez de virar costas e simplesmente fugir, se possível.Não sei se é justo divirdirmos um povo em "resistentes" e "colaboracionistas", todos os dias temos exemplos de como, por muito menos e sem grandes ameaças, as pessoas aceitam e se acomodam em vez de protestar e reagir.
ResponderEliminarDra Suzana Toscano
ResponderEliminarEvidentemente que se pode ser herói (heroina) sem lutar por causas. No caso, foi o instituto de sobrevivência que a determinou. As circunstâncias dramáticas que a guerra lhe ocasionou levaram-na a lutar para se manter viva.
Eu não divido os povos em "resistentes" e "colaboracionistas". Mas ai daqueles que, perante a ocupação, seja ela externa ou interna, não saibam resistir! As ditaduras trazem consigo o medo, que, por seu turno, as alimentam. Nem sempre heróis nem sempre poltrões, é certo. Mas teria sido da Grã Bretanha se tivesse seguido o exemplo da França?
Corrijo: instinto e não instituto
ResponderEliminarPois não sabemos, também não sabemos o que teria sido sem Churchil ou se De Gaulle não tivesse feito resistência, ou, ou...Além disso, caro Spiriv, muitas vezes não se vê o medo a chegar, nem as ditaduras, nem a redução de liberdades, a História também mostra isso, excepto na tomada do poder pelas armas, caso em que a resistência tem que ser militar ou então não é possível. Depois de se conhecer o fim da História podem tirar-se lições mas eu, pelo menos, tenho a maior dificuldade em fazer julgamentos genéricos. viu o filme ou leu o livro O Leitor? Vale bem a pena, a propósito desta nossa conversa.
ResponderEliminarNão vi o filme mas li o Livro. O sentimento de culpabilidade ou mesmo a culpa real podem frequentemente "ensombrar" uma realção amorosa, como uma relação de amizade ou outra qualquer. Uma amizade que foi e deixou de ser não exclue os seus supostos titulares de recordar com imensa saudade os tempos felizes da relação. Desejem-na mas sabem que nada será igual, melhor, que será impossível...
ResponderEliminarDisse no meu post anterior "nem sempre heróis nem sempre poltrôes". Mas entre dois extremos, é suposto existir o "homem médio", o homem razoável, "o bonus pater familias".
Acontece que a Alemanha de Hitler levou a cabo uma gurra de agressão,imperialista, racista, à escala mundial. Uns resistiram, outros não! Mencionei a França com exemplo de um certo "entreguismo". Charles de Gaulle foi para Inglaterra dirigir a resistência porque não tinha condições de o fazer no seu País. Mas se lembrarmos o que foi o sacrifício da juventude inglesa e a heórica batalha nos céus de Inglaterra,com milhares e milhares de vítimas,com Londres a ser bombardeada consecutivamente durante 57 dias e 57 noites, que exemplo mais nobre pode ser apontado às gerações vindouras em todo o mundo? Oiço muitas vezes dizer, a propósito do julagamento de Nuremberga, "ai dos vencidos"! E pasmo. Que exemplo mais nobre pode ser apresentado do que aquele que a família real britânica, com o rei Jorge VI e sobretudo com a sua Mulher, a rainha Elizabeth, ao permanecerem em Londres durante os bombardeamentos alemães, acompanhando os mortos e visitando os feridos, em cenários de destruição?
Os países de raiz latina trazem consigo muitas virtudes mas trazem também uma certa acomodação e conformação. Bem sei que se assiste hoje a um certo "branqueamento" dos crimes "nazis" que florescem por aí, em sites portugueses, negando o holocausto, apelidando de farsa o julgamento de Nuremberga! Mas por isso mesmo é sempre saudável que a memória não se apague...