1. Teve significativo impacto nos mercados internacionais de dívida um relatório de análise divulgado esta semana pela Moody’s, no qual é feita uma análise fina à situação e perspectivas das finanças públicas dos “famosos”: Espanha Grécia e Portugal.
2. Nesse documento a Moody’s apresenta diversos cenários de evolução das dívidas públicas destes países, concluindo que, no cenário mais desfavorável de crescimento da dívida:
- A Grécia chegaria a 2015 com um rácio juros da dívida/receitas orçamentais de 20%;
- Para Espanha e Portugal esse rácio seria de 14% e de 15%, respectivamente.
3. Com estas previsões, era óbvio concluir que por muito más que se apresentem, as situações da Espanha e de Portugal não eram comparáveis à da Grécia – ponto que a Moody’s reconheceu.
4. Tanto bastou para que os mercados acalmassem em relação às dívidas dos dois países ibéricos, permitindo por exemplo que o IGCP tivesse colocado ontem no mercado € 3 mil milhões de obrigações do Tesouro a 10 anos, com um cupão de 4,80% - com uma procura bastante superior mas que, a ser satisfeita, teria feito subir o cupão.
5. Entretanto, na cimeira europeia de ontem parece ter sido encontrado consenso para enquadrar um apoio às medidas que a Grécia terá de tomar com vista a resolver a sua fragilíssima situação financeira.
6. Apesar de não se conhecerem os detalhes desse consenso, a notícia da sua obtenção teve também por efeito acalmar os mercados, incluindo os de acções, de uma forma geral mas especialmente em relação à Grécia.
7. Em conclusão, o 1º round da crise da zona Euro parece estar terminado sem ida ao tapete.
8. Este é todavia um combate que, de acordo com as regras aplicáveis, terá pelo menos mais 3 assaltos, e é muito importante, dadas as características da luta, conseguir aguentá-los – 2011, 2012 e 2013.
9. Se tal acontecer, as hipóteses de o Euro não ser forçado a um K.O. serão elevadas.
Mas se assim não for, as coisas tornar-se-ão bem mais difíceis.
10. Estamos numa longa e penosa prova de resistência, com inúmeros obstáculos de percurso (alguns imprevisíveis), importa não descansar...nem dormir, tampouco.
Sempre nos deu jeito terem chegado primeiro à Grécia...
ResponderEliminarAs coisas não parecem ainda convenientemente esclarecidas, caro Tonibler...
ResponderEliminarOs mercados estão num ponto de desconfiança que simples palavras, promessas de tipo clássico (greco-romano) os não convencem de todo.
Será conveniente aguardar mais algum tempo para avaliar melhor o resultado do 1º assalto...
Sim, mas não tivemos no 1º round e isso era importante. Claro que se não fizermos nada vamos estar no 2º round de certeza, mas era importante que a UE se chegasse à frente no apoio à Grécia, isso dará tempo, para haver tempo, de se corrigirem as asneiras. Corrigir asneiras numa situação de insolvência nacional não é a mesma coisa que corrigi-las com dificuldade, são dois níveis de "cinzento" diferentes mas, concordamos, não deixam de ser "cinzentos".
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira
ResponderEliminarEscrevo com mais de um dia depois da cimeira dos chefes de governo em Bruxelas.
Neste momento, acho que ainda é cedo para se poder afiançar que existe uma solução sólida para o problema grego.
As soluções, seguidas pelos membros da União quando são ditadas pela necessidade de auto preservação, costumam ser realizadas à pressa e, normalmente, são instáveis.
Por outro lado, a (eventual) solução que tenha sido acordada, foi para a Grécia, sublinho esta singularidade.
Em Portugal depressa se concluiu que, estaríamos abrangidos pelo acordo; interessante porque nas coisas más somos diferentes e nas boas iguais...; no entanto nada indica que se irá aplicar ao nosso país a mézinha grega...
Até ao final do ano teremos de ohar com atenção para o que se irá passar no CITI e nas próximas emissões de obrigações japonesas, as reservas de aforro interno estão prestes a terminar....
Isto para não falar da nossa crise....
Cumprimentos
joão
Caro Tonibler,
ResponderEliminarEstá optimista em relação ao 2º round/assalto, na parte que nos toca?
Considera que estamos fazendo mais-do-que-nada?
É importante conhecer sua análise, pois normalmente revejo-me nas suas profecias...
Caro João,
ResponderEliminarA cimeira parece não ter poduzido os efeitos pretendidos...os mercados não apreciam particularmente meis declarações, sinal de que não foi obtido consenso para uma saída à Sarkozy.
Terá reparado qu a reacção da imprensa alemã tem sido muito hostil em relação a qq ideia de apoio financeiro à Grécia...
A explicação do comunicado da cimeira, segundo a qual não foi decidido qq apoio à Grécia porque esta o não pediu, soa a algo estranho...
E já se fala, novamente, em intervenção do FMI...
Muita confusão, que não dá apaga as reservas dos mercados. Esperemos os próximos episódios, mas parece-me que qq coisa estará a falhar.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarAgradeço o elogioso desafio mas essa previsão nem o futuro vice-presidente do BCE para a estabilidade financeira (!?) conseguiria acertar.
Caro Tonibler,
ResponderEliminar"Considera que estamos fazendo mais-do-que-nada", no âmbito do segundo round da crise do Euro?
Isto é, considera a proposta de OE/2010 - admitindo que um dia será Lei - um passo positivo na direcção da ultrapassagem da crise económica e financeira que se instalou, sem culpa de ninguém, obviamente, na casa portuguesa?
Não o questionei sobre mais nada...
Acha ousadia excessiva?
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarO meu caro consegue ver uma relação entre uma proposta de orçamento e aquilo que o estado vai gastar. Eu lembro-me do ano em que MFL congelou os salários da administração pública e os custos com pessoal cresceram 4,2%, se não me engano. Portanto, um OE é apenas uma actividade lúdica que envolve uma série de doutores em métricas monetárias que irão fazer um festim no fim do ano com aquilo que a sorte lhes ditar. Se tiverem sorte dirão que foram rigorosos e que foi um passo positivo, senão, que a conjuntura é madrasta apesar do passo positivo que foi dado. Haja o que houver, foi um passo positivo.
Será o que a sorte ditar...Se os impostos subirem o suficiente para a fuga aumentar, até podemos assistir a um crescimento económico surpresa.
Confesso-me rendido, caro Tonibler...
ResponderEliminarA astúcia da sua argumentação atinge limites inatingíveis para o comum dos mortais, grupo a que pertenço.
Quanto ao "wage drift" a que se refere, é um fenómeno que resiste até aos nossos dias, por isso a necessidade de muita cosmética para tentar esconder o seu impacto real...se não for os 4% do tempo de Manuela F, Leite, não será muito menos...