segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A ilusão e a realidade

Na entrevista hoje dada a Miguel Sousa Tavares, José Sócrates demonstrou que é o 1º Ministro de um país virtual, e o seu mundo é de ilusão.
Nessa ilusão, a economia portuguesa foi a primeira a sair da crise; no mundo real, nunca, como hoje, o país foi tão penalizado e visto com tanta desconfiança pelas entidades financeiras internacionais.
Nessa ilusão, a despesa pública é absolutamente necessária para apoiar a economia; no mundo real, é essa mesma despesa pública que provoca a dívida cujos juros só podemos pagar à custa de novos empréstimos.
Nessa ilusão, Sócrates lembrou a grande crise de 1929 e reafirmou as medidas intervencionistas; mas esqueceu que, nesse tempo, a despesa pública não chegava geralmente aos 10% do PIB e, agora, em Portugal, está nos 50% do Produto. Confiscando através dos impostos, uma grande parte da riqueza produzida, impedindo investimento e emprego.
Nessa ilusão, o país é uma média e as medidas tomadas por outros países são o teste da bondade das que por cá promoveu; esquece-se que, num país real, a boa medicina é a que leva em conta a especificidade da doença.
Neste país virtualmente governado, Sócrates vive com a ilusão; a nós, faz-nos viver com a infeliz realidade.

17 comentários:

  1. Caro Pinho Cardão

    Apenas para acompanhá-lo:

    a) O PM é o responsável pelo défice. Para o Ministro das Finanças, foi o mau desempenho da colecta de tributos ocorrida no último trimestre de 2009;
    b) O PM está a elaborar o PEC, mas não revela o conteúdo, porque tem de negociar com a oposição e obter um consenso alargado, no entanto, nem sequer prevê onde vai poupar;
    c) O desemprego atingiu os 10%, mas a economia está muito melhor e mais eficiente do que em 2005....
    d) Não ouvi uma única ideia sobre economia, sem pedir emprestado atraves das (ex)citações de autores estrangeiros, não percebo porque não contratou o Krugman para ministro nas horas vagas...

    Realmente, o nosso PM vive na irrealidade completa, cabe-nos viver na dura realidade...

    Cumprimentos
    joão

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  2. Caro Pinho Cardão,

    Nesta entrevista, voltámos a ver e a ouvir alguém que vive num mundo criado pela sua imaginação.

    Tudo aquilo que Sócrates diz sobre a realidade económica e social do País ou é falso ou está ferido de exagero, veiculando uma situação empolada, quando nela existe algo de favorável.

    De resto, Sócrates prima sempre pela ousadia e pela desfaçatez nas suas afirmações, não se embaraçando com incoerências, contradições ou mesmo falsidades em que incorra ou lhe sejam apontadas.

    A sua credibilidade está sempre em causa, qualquer que seja o assunto em que intervenha, dado o currículo que já revelou quanto ao respeito que lhe merece a verdade dos factos, sobretudo quando eles lhe são desfavoráveis ou incómodos.

    Ainda que lhe déssemos inicialmente o benefício da dúvida, a conclusão dos episódios vários em que amiúde se vê envolvido e que invariavelmente o favorece a si ou ao seu Partido leva a que desconfiemos da sua mal apregoada inocência.

    Se tudo isto acontecesse por mero acaso, tratando-se de puras coincidências, estaríamos em presença de uma estranha lógica ou de uma estranha probabilidade de ocorrência de fenómenos naturais, que favoreceriam sempre as mesmas entidades.

    Claro que nada disto colhe.

    O que me parece já de uma extrema gravidade é que os órgãos aos quais está cometida a fiscalização, a regulação das intervenções dos diversos agentes na sociedade percam credibilidade, pela proximidade, afinidade política ou ideológica dos seus responsáveis, para com aqueles que os nomeiam, sobretudo quando o pluralismo deles está ausente.

    Os longos anos que o PS já leva de exercício do Poder, ainda que obtido de forma legal, democrática, aliado à sua prática de nepotismo desenfreado, de uso abusivo do poder de nomear pessoas para funções no Estado e nas Empresas, sem respeito pela real competência dos candidatos a esses lugares, a que se sobrepõe sistematicamente a preferência partidária, acaba por gerar um ambiente malsão, onde a imparcialidade e a isenção deixam de prevalecer.

    Se não houver consciência da gravidade da situação política que se vive em Portugal, o regime corre o risco de «mexicanizar-se», ficando refém de uma casta política, que pode eternizar-se no Poder, ganhando sucessivamente eleições, explorando a alienação das populações, mal educadas, mal formadas, esmagadas economicamente, por excesso de endividamento, por crassa incultura, etc., etc.

    Daí que, à cabeça, o nosso problema seja de natureza política. E para o resolver é preciso uma percepção clara da realidade e uma forte determinação em o afrontar.

    Neste momento, talvez a melhor opção política para o PSD operar a mudança que se torna já imperiosa, esteja em projectar a figura de Paulo Rangel, que até já deu algumas provas de capacidade política, incluindo a prova do triunfo eleitoral.

    Mas sozinho pouco poderá fazer e mal rodeado, mal apoiado, ainda menos. Oxalá encontre os apoios necessários. Por enquanto, ainda não estou convencido de que Paulo Rangel e o PSD disponham da determinação suficiente para forjar um forte movimento no País que conduza à alteração política que muitos desejam.

    É que primeiro há que desfeitear Sócrates, desfazer os seus embustes, denunciar as suas trapaças, as suas tramóias políticas e isso exige muito empenho, muita firmeza, atributos que têm faltado nos últimos líderes políticos do PSD, mais interessados em partilhas e compromissos.

    Veremos se Paulo Rangel consegue preencher esse desiderato.

    Peço desculpa, caro Pinho Cardão, pela extensão deste comentário, que me saiu mais alargado do que previra. Talvez seja o efeito da irritação causada com a entrevista de Sócrates.

    Boa noite e bom início de semana.

    AV_22-02-2010

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  3. Diz o rifão que "em terra de cegos, quem «tem olho» é rei".
    Pessoalmente, não consigo encontrar maior sabedoria em outros lugares que na tradição e no saber de experiência feito.
    Aquele "ter olho", pode significar variadíssimas coisas. Pode significar "esperteza saloia", "prepotência", "malandrice", "oportunismo", "aldrabice", "falta de oposição" e até "fantasia", como o caro Dr. Pinho Cardão lhe chama.
    Para mim, é oportunismo, um oportunismo sui-géneris, mas completo. Um oportunismo que, assente em características de carácter especiais, se soube aproveitar de uma conjuntura, de uma inépcia e de uma inércia, gerais. Peço perdão pela dureza das minhas palavras, mas considero que se assim é, é porque assim foi permitido. Porque não existiu uma oposição consistente, clara e frontal, porque se registou, única e consecutivamente, nos debates da AR, uma preocupação com a "tagarelice" e com a "mordiscadela" e a crítica às decisões governamentais, raríssimas vezes apresentaram alternativas irrebatíveis.

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  4. O impressionante é que alguém se safe com tal conversa. É curioso que se aponte as quedas económicas dos regimes livres sem que haja quem retribua com as permanentes falências dos países que seguem políticas como as nossas.

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  5. Anónimo11:50

    A realidade, meu caro Pinho Cardão, é que a entrevista de Sócrates, independentemente do contéudo, lhe correu bem sem que as reacções que ouvi tenham conseguido demonstrar o ilusionismo.
    Ilusão, meus caros Pinho Cardão e ilustres comentadores, é pensar que se restitui o País à realidade e se encontram os remédios para a situação grave em que continuamos mergulhados, sem uma resposta política cabal, sem uma alternativa estruturada, não trauliteira e não baseada no fait divers.

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  6. Caro Drº Pinho Cardão:

    É verdade, também estive atento à entrevista, pareceu-me que o entrevistador acabou por ser emparedado, às tantas já eu duvidava dos números de desemprego, das falências em catadupa, dos spreads altíssimos, dos jovens que emigram à procura de uma vida com dignidade, da falta de dinheiro que não tenho na carteira, enfim, da pobreza que grassa por este país fora….

    Bem podemos dar murros de raiva no sofá, puxar os cabelos, berrar bem alto -“I kill you, I kill you”-, mas há que reconhecer que dentro do estilo, este PM excede todas as expectativas!…

    http://www.youtube.com/watch?v=1uwOL4rB-go

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  7. Confusão doentia entre...

    Virtualmente governado
    por fervorosas fantasias
    neste país ajardinado
    florescem muitas agnosias.

    Da assaz irrealidade
    no discurso governativo
    brota a virtualidade
    de carácter emulativo.

    Com a mentira despachada
    de forma tão intencional
    é mais uma razão manchada
    da devassidão nacional.

    Gente muito responsável
    que nos deixa a patinhar,
    é por demais impensável
    como isto vai definhar.

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  8. Mas, caro JMFA, cada vez que penso em alternativas "estruturadas", como diz, lembro-me que este mesmo primeiro-ministro foi uma alternativa estruturada a outras moscas, que já eram alternativas estruturadas a outras moscas antes delas. E para respostas cabais dessas, deixe cá ver onde nos leva esta variante trauliteira que sempre é uma variante e que até pode dar em violência, quem sabe...

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  9. Ver Miguel Sousa Tavares manso, dominado, não convencido, mas despojado, exangue de argumentos, não foi frustrante, mas apenas a confirmação dos sinais de fogo que brota da fera ingente.
    Sinais de fogo mostrou, novamente, que Sócrates não sendo um homem particularmente inteligente é um homem profundamente convincente no retorcer dos seus argumentos, de uma belicosidade a raiar o demente, alicerçada num imenso e despudorado ego. Um verdadeiro narciso de espelho meu, dificilmente capaz de verdadeiros amigos, capaz dos ódios mais intensos e das lealdades mais cegas, apenas na medida do seu enorme espelho de autoconvencimento: - diz-me, espelho meu, há algum homem mais assertivo e elegante que eu? Perante isto até o espelho se vergava: não, master, tu és o verdadeiro... sabes tudo e raramente tens dúvidas, mesmo até quando fazes mal uso de Lorde Keynes como muleta a-histórica!

    Foi, aliás, arrastadamente, dolorosamente, que se assistiu no Prós e Contras a um lúcido Rui Machete e Anacoreta Correia, a um António Hespanha a meter o dedo na ferida de um País, dois sistemas, o dos milhares de elites sorvedouras versus o povo pagante e a um Almeida Santos, incongruente, incomódo com a sua própria consciência, impenitentemente a chutar para o canto da sereia, de um mundo terrífico além Bojador, como se o nosso cabo das tormentas não estivesse entremuros, cercado de dor, fruto de maus comandantes de naus à deriva nos mares do Adamastor.

    Cesse da justiça o que sobre a justiça impende
    esse segredo quebrado sobre o primado legis...
    molde-se a lei à nossa maneira, olhe-se para o espelho,
    que reflecte agora um país, À MINHA MANEIRA!
    - «José Sócrates anuncia novas regras para o segredo de justiça»...e tão convenientes para o primado das escusas sombras sobre o primado da transparência.
    Afinal quem é que precisa deste paternalismo ficcional anti-depressivo, quem é este povo que precisa de um tal pai da Pátria delirante e carregado de tal carga de autofanatismo?

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  10. O grande problema, meus caros, é que todos somos capazes de criticar e de lançar palpites, mas, quando chega a hora de passar no crivo da peneira... bom, aí a "coisa" revela-se muito difícil e... desmobilizante.

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  11. Anónimo14:58

    Meu caro Tonibler, eu sei que o meu Amigo queria era uma boa sarrafada :)
    Quando escrevo que a alternativa tem de ser "estruturada", quero significar que quem se pretende apresentar como sucessor tem de perceber que a credibilidade se ganha com base em soluções concretas para o País, e não atirando para o ar uma ideia parcial sobre um aspecto da política de educação hoje; amanhã um palpite sobre a participação do Estado nas empresas; depois de amanhã sobre o incremento da produção do ananaz nos Açores...
    E muito menos se ganha indo infantilmente atrás dos casos que alimentam os dias e que a todos entretêm, para descanso de quem desgoverna.

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  12. Tem roda a razão, caro Dr. José Mário. Para lançar para o ar, palpites de bancada, estamos cá os comentadores (alguns). Áqueles "profissionais" exige-se competência e capacidade de antecipação.

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  13. Caro JMFA,

    O meu caro está a desprezar a importância da sarrafada. Ainda estamos a dever aquelas que não tivemos no 25/4 e no 25/11, por isso é que temos repetidamente este tipo de problemas. Está a ver o Sócrates a dizer isto a pensar que ia levar uma carga à saída da SIC? :)

    Quanto a alternativas estruturadas, não me lembro de nenhuma que se apresentasse como desestruturada. Há uma realmente boa, aquela que dirá "o meu programa é não fazer a ponta". Mas isso, só quando atingirmos um estágio civilizacional muito mais elevado. Até lá, malha neles!...:)

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  14. Anónimo16:38

    Ora nem mais, meu caro Bartolomeu.
    Um País não se governa através de blogues, apesar de ver muita gente particularmente incomodada com o que por eles se opina quando deveria estar ocupada com coisas bem mais relevantes.
    Estou bem de acordo com o meu Amigo. O lugar dos professores bitaites é na Liga dos Últimos! Campeonato que é suposto não disputarmos, ainda que se sinta que há muita gente a encolher os ombros perante a perspectiva da descida de divisão...

    Meu caro Tonibler, de facto, agora que se comemoram 100 anos da 1ª República faz todo o sentido evocar que os primeiros republicanos resolviam algumas das suas contendas ideológicas à bengalada!
    Concederá, porém, que aqui na 4ª república reclamemos para nós a herança da evolução civilizacional que faz com que censuremos até os arremessos de vernáculo, quanto mais as agressões físicas!
    Mas que às vezes dá ganas de pegar na bengala ou desdobrar a língua num sonoro £09@-&€!, ai isso dá!

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  16. Em todas as entrevistas, Sócrates lança um véu sobre as questões e afirma e insistententemente reafirma apenas o que pode afirmar e reafirmar. Se lhe perguntam sobre a PT, insiste não teve conhecimento formal, nem o Governo deu instruções à empresa. Claro que admito que isso seja verdade. Estúpido seria o contrário. Mas, para lá do conhecimento formal e das instruções, há múltiplas formas de dar a conhecer o que se pretende e obter informações sobre o curso das diligências. E, se das escutas se pode depreender este modo de fazer as coisas, formalmente as escutas deixaram de existir e Sócrates não as comenta.
    Se Figo terá sido aliciado para a Campanha da Candidatura de Sócrates a troco de fundos pagos por uma empresa para uma das suas Fundações, Sócrates também poderá dizer que nada teve com o assunto e as escutas também não "existem". De modo que insistir em entrevistas nestes assuntos não traz clarificação nenhuma. Cada qual fica na sua. Entrevistado e e entrevistado movem-se em linhas paralelas e o discurso nunca converge. Nem,aliás, se clarifica o que quer que seja na comunicação social. Na Justiça, sim, se ela funcionasse, o que não é o caso de Portugal.
    Agora, chegou-se mesmo ao ridículo de querer resolver o problema das escutas com mais escutas. Como se elas também não pudessem ser inavalidadas, por não cumprirem normas constitucionais muito justamente definidas.
    As averiguações do Freeport duram anos, o Processo Casa Pia está aí para durar, ninguém fica ou está a salvo neste pantanal em que os poderes políticos nos meteram. Por leis inadequadas e por escolha de pessoas inadequadas para as funções.
    E assim nos vamos afundando.

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  17. Completamente de acordo, caro Drº Pinho Cardão, o problema é saber de que forma e modo se passa a mensagem...

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