quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Que crédito?

Em poucos dias assistimos a comunicações de dois membros do governo que em ar sério e grave, em directo e sem direito a perguntas da comunicação social, deram conta da sua indignação e prometeram empenhamentos.
O primeiro foi o sr. ministro das finanças no dia em que foi aprovada a lei das finanças regionais, insurgindo-se contra o sinal negativo para os mercados internacionais que significava a maior despesa pública resultante daquela aprovação. A verdade é que o sinal tornou-se um gigantesco letreiro, tal a dramatização feita pelo governante. Independentemente disso, aquelas palavras soaram a falso ante a ausência de exempos do passado ou de propostas concretas no presente, dadas pelo ministro e pelo governo, de sinal contrário ao da questão surgida com as finanças insulares. No mesmo dia soube-se do aumento de despesa proposta com aquisições de viaturas, por exemplo.
Philosophum non fact barba...
Ontem, foi a vez do sr. ministro da justiça se indignar publicamente contra a violação do segredo de justiça e com os ataques aos senhores PGR e presidente do STJ. Desconfio que estes últimos dispensariam bem a solidariedade ministerial. Mas no que toca à condenação da violação do segredo de justiça, as palavras do senhor ministro, no propósito de restituir credibilidade à justiça, são um acto falhado porque, infelizmente, nenhum protuguês as pode julgar sinceras mas motivadas pela circunstância de a vítima se chamar José Sócrates.
O actual ministro da justiça é um alto quadro do PS; na anterior legislatura foi líder do grupo parlamentar da maioria. Que eu me tenha dado conta (e desde já me penitencio se estive distraído...) nunca ouvi da boca do Dr. Alberto Martins um discurso tão indignado quanto o de ontem, nos casos de violação de segredo de justiça que aconteceram nos últimos anos quase diariamente, violações da lei que foram tão criminosas como são as que motivaram a comunicação ao País do ministro. E também não conheço nenhuma iniciativa legislativa destinada a combater o criminoso flagelo da violação do segredo de justiça, da autoria ou estimulada pelo actual ministro quando chefiava um grupo parlamentar que tinha a maioria no órgão que detém a plenitude do poder legislativo.
Sábio, pois, o velho provérbio: a barba não faz o filósofo...

4 comentários:

  1. Caro Ferreira de Almeida:
    Pimenta na língua dos outros era refresco para o PS.
    E quanto menos sigilo, mais pimenta e mais refresco.
    Virou-se agora o feitiço, e o refresco tornou-se pimenta.
    Ri-se quem serve a pimenta, que fica sempre impune.
    Os políticos têm medo de quem guarda a substância e a distribui a retalho e não actuam, pensando que entre mortos e feridos algum há-de escapar. Até chegar a sua vez...

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  2. São como Tiranos que dão tiros sobre a democracia e indignam-se quando alguém ouve os disparos.

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  3. É o relativismo de tudo, nada é certo ou errado em si mesmo e os mesmos que um dia se indignam têm cara para no dia seguinte aplaudiresm, cosoante o acto serve ou não os seus interesses. Mas o maior problema é quando tudo existe na comunicação social e nada fora dela, e se cria a sensação de que a justiça só vê o que se destapa do segredo.

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  4. Eu até cheguei a pensar que a comunicação do Dr. Alberto Martins tivesse a vêr com - essa sim - a manifesta violação de segredo de justiça no caso ETA - Óbidos.
    Todos os dias temos na C.S. detalhes da operação e elementos que estarão em segredo de justiça. (Penso eu)

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