Sempre que surge um imbróglio que comprometa a essência de uma instituição é de esperar pelo menos duas coisas: a afirmação de que a instituição em si não tem nada a ver com o assunto - é superior a qualquer crítica ou comentário -, e o facto de ter no seu seio homens e mulheres é mais do que suficiente para justificar que estes possam cair nos mesmos erros que os demais. Simples, demasiado simples, mas não suficientemente convincente.
As denúncias de padres pedófilos constituem um foco de atenção que não prenuncia nada de bom para ninguém e muito menos para a igreja. Tudo aponta para um crescendo preocupante. Apesar da repulsa em admitir que haja padres com hábitos pouco recomendáveis e condenáveis é justo afirmar que a grande maioria dos seus membros não se encaixa neste figurino, mas, o mais relevante é a política do silêncio e os argumentos parolos utilizados para encobrir o que deveria ter sido posto a nu no devido momento. Aqui, sim, estamos perante um imbróglio dos diabos que deve fazer rir às gargalhadas o próprio demónio! Concordo quando afirmam que os padres não são muito diferentes do resto do pessoal que anda por aí, mas deviam!
Conheci alguns padres. Tenho saudades de alguns mas de outros já não tenho boas memórias. A minha primeira grande discussão foi com um padre que não me convenceu minimamente com a criação de Adão e Eva por Deus, mas com o qual convivi e fiquei mais tarde a respeitar, chegando a tratá-lo na fase final da vida quando se me apresentou numa situação dramática. Quase que poderia dizer que foi o mais humano de todos. Outro, vaidoso, arrogante, fazia transparecer, mesmo contra a sua vontade, que o raio do cabeção estaria a mais naquele pescoço desejoso de outros ares e de liberdade. Era um bom professor. A morte catrapiscou-o à sua maneira, traiçoeiramente, ainda bastante jovem. O mais antigo de todos divertia-me com o seu ar bonacheirão do qual emergiam enormes orelhas carcomidas pelas frieiras. Sempre que passava debaixo da minha janela esperava vê-las, monstruosamente muito vermelhas, em serra, abanando ao ritmo dos calos que deveriam atormentá-lo. Usavam-no como exemplo para não andar a coçar as frieiras que, também, molestavam os meus dois pequenos pavilhões auriculares: - Não coces as orelhas senão ficas como as do padre António. Hi! Eu não queria mesmo ficar como ele e fazia um esforço dos diabos para não lhes tocar. Outro, mais intelectual, frio, distante, até acabou por subir na tropa eclesiástica, não nos ligava patavina, éramos um mero subproduto do seu rebanho. Mais tarde, muito mais tarde, convivi com um que era superior em todos os aspetos, intelectual e humanamente, chegando a batizar o meu mais novo na igreja da sua paróquia. Também não conseguiu fugir a uma prematura ceifada da morte. Ainda me recordo de outros, como um doce e pacato padre que andou de bicicleta praticamente até morrer, talvez tenha sido essa a razão que o ajudou a ir numa idade muito avançada, e até de um malandro, um bon vivant, que, apesar de ter uma patente elevada na tropa, não se importava de pescar à granada peixes que ao fim da tarde serviam de pretexto para bons e prolongados convívios.
Mas o que me incomodou muito foi um outro. Potente, quer na voz quer no físico, era o responsável pela catequese dos miúdos. Na fase final éramos obrigados a ir mais vezes à igreja para os últimos preparos da comunhão solene. Um dia, estava no interior da igreja à espera de começar mais uma sessão, vejo entrar uma velhinha de pernas tortas, balanceando-se com dificuldade e toda vestida de negro com um lenço a ocultar-lhe a cabeça. Genufletiu-se num dos altares laterais, o oposto ao meu lado, onde estava sentado a olhar para uns quadros que descreviam a paixão de Cristo. Duas pessoas, uma velhinha e um garoto de 10 anos. Subitamente, o padre sai da sacristia, vestido com uma sotaina até aos pés, e corre em direção à velha, que rezava, gritando impropérios, chamando-lhe beata e outros nomes, dizendo-lhe que a tinha proibido de estar ali, e, ao mesmo tempo, com o braço direito, agarra na senhora, arrastando-a literalmente como quem leva um saco de batatas pelo chão, enquanto a velhinha, descomposta, e sem o lenço que lhe deixou livre ralos cabelos brancos, balbuciava gemidos de dor e de surpresa. O padre despejou-a no meio da rua, abrindo a porta lateral com a mão esquerda, sempre a vociferar com uma voz de trovão. Meu Deus. Fiquei tão assustado que, ao vê-lo regressar do estranho ato de limpeza religioso ambiental, pensei: - Ai! Agora vai voltar-se contra mim e correr comigo à bofetada e ao pontapé. Tremia que nem varas verdes e olhei para o santo que na altura estava no pequeno altar e pedi-lhe para que não me fizesse mal. Presumo que foi a oração mais sincera que fiz até hoje. Passou ao meu lado, ainda lentificou o passo, olhou-me e eu senti, mesmo sem ver, raiva nos seus olhos, mas, quando o vi a entrar novamente na sacristia, corri que nem um desalmado para a rua, virando as costas ao sacrário e sem fazer aquele ritual de respeito que nos ensinaram quando passávamos pelo seu azimute. O que eu queria era sair mesmo dali, e o mais depressa possível. E foi o que eu fiz. Cá fora estava mais seguro e muito mais à vontade. Credo!
Conheci alguns padres. Tenho saudades de alguns mas de outros já não tenho boas memórias. A minha primeira grande discussão foi com um padre que não me convenceu minimamente com a criação de Adão e Eva por Deus, mas com o qual convivi e fiquei mais tarde a respeitar, chegando a tratá-lo na fase final da vida quando se me apresentou numa situação dramática. Quase que poderia dizer que foi o mais humano de todos. Outro, vaidoso, arrogante, fazia transparecer, mesmo contra a sua vontade, que o raio do cabeção estaria a mais naquele pescoço desejoso de outros ares e de liberdade. Era um bom professor. A morte catrapiscou-o à sua maneira, traiçoeiramente, ainda bastante jovem. O mais antigo de todos divertia-me com o seu ar bonacheirão do qual emergiam enormes orelhas carcomidas pelas frieiras. Sempre que passava debaixo da minha janela esperava vê-las, monstruosamente muito vermelhas, em serra, abanando ao ritmo dos calos que deveriam atormentá-lo. Usavam-no como exemplo para não andar a coçar as frieiras que, também, molestavam os meus dois pequenos pavilhões auriculares: - Não coces as orelhas senão ficas como as do padre António. Hi! Eu não queria mesmo ficar como ele e fazia um esforço dos diabos para não lhes tocar. Outro, mais intelectual, frio, distante, até acabou por subir na tropa eclesiástica, não nos ligava patavina, éramos um mero subproduto do seu rebanho. Mais tarde, muito mais tarde, convivi com um que era superior em todos os aspetos, intelectual e humanamente, chegando a batizar o meu mais novo na igreja da sua paróquia. Também não conseguiu fugir a uma prematura ceifada da morte. Ainda me recordo de outros, como um doce e pacato padre que andou de bicicleta praticamente até morrer, talvez tenha sido essa a razão que o ajudou a ir numa idade muito avançada, e até de um malandro, um bon vivant, que, apesar de ter uma patente elevada na tropa, não se importava de pescar à granada peixes que ao fim da tarde serviam de pretexto para bons e prolongados convívios.
Mas o que me incomodou muito foi um outro. Potente, quer na voz quer no físico, era o responsável pela catequese dos miúdos. Na fase final éramos obrigados a ir mais vezes à igreja para os últimos preparos da comunhão solene. Um dia, estava no interior da igreja à espera de começar mais uma sessão, vejo entrar uma velhinha de pernas tortas, balanceando-se com dificuldade e toda vestida de negro com um lenço a ocultar-lhe a cabeça. Genufletiu-se num dos altares laterais, o oposto ao meu lado, onde estava sentado a olhar para uns quadros que descreviam a paixão de Cristo. Duas pessoas, uma velhinha e um garoto de 10 anos. Subitamente, o padre sai da sacristia, vestido com uma sotaina até aos pés, e corre em direção à velha, que rezava, gritando impropérios, chamando-lhe beata e outros nomes, dizendo-lhe que a tinha proibido de estar ali, e, ao mesmo tempo, com o braço direito, agarra na senhora, arrastando-a literalmente como quem leva um saco de batatas pelo chão, enquanto a velhinha, descomposta, e sem o lenço que lhe deixou livre ralos cabelos brancos, balbuciava gemidos de dor e de surpresa. O padre despejou-a no meio da rua, abrindo a porta lateral com a mão esquerda, sempre a vociferar com uma voz de trovão. Meu Deus. Fiquei tão assustado que, ao vê-lo regressar do estranho ato de limpeza religioso ambiental, pensei: - Ai! Agora vai voltar-se contra mim e correr comigo à bofetada e ao pontapé. Tremia que nem varas verdes e olhei para o santo que na altura estava no pequeno altar e pedi-lhe para que não me fizesse mal. Presumo que foi a oração mais sincera que fiz até hoje. Passou ao meu lado, ainda lentificou o passo, olhou-me e eu senti, mesmo sem ver, raiva nos seus olhos, mas, quando o vi a entrar novamente na sacristia, corri que nem um desalmado para a rua, virando as costas ao sacrário e sem fazer aquele ritual de respeito que nos ensinaram quando passávamos pelo seu azimute. O que eu queria era sair mesmo dali, e o mais depressa possível. E foi o que eu fiz. Cá fora estava mais seguro e muito mais à vontade. Credo!
Alguns dos conceitos que nos são inculcados em criança dissipam-se à medida que vamos crescendo ou porque as próprias ideias foram evoluindo com o passar do tempo ou porque nos apercebemos por nós próprios que, na realidade, não é bem assim e há outras formas mais abrangentes de analisar, de aceitar essas ideias ou conceitos. Há outras que são imutáveis mesmo correndo o risco de nos classificar como retrógrados(as). Um padre não pode ser (não deve ser) considerado como um homem qualquer. Não pode ou deve sucumbir às tais fraquezas associadas a todos os meros mortais! Se um homem ou mulher não tem “perfil” para seguir a vida eclesiástica... não a deverá “abraçar”! E por que se espera muito mais dos sacerdotes a generalização (pedofilia e outros actos absolutamente inaceitávies) tomou proporcões exageradas. Que devem sofrer as consequências dos seus actos hediondos, devem. Que a Igreja se deve “actualizar” – por falta de outro termo mais apropriado – deve!
ResponderEliminarPadres bons e apostólicos
ResponderEliminarhouve-os aos molhos, sim
tambem os houve agnósticos
mas d'entre todos, para mim
aqueles que mais estimo, são
António o que foi santo
e Bartolomeu de Gusmão
ao primeiro por encanto,
pelo milagre das bilhas
que ele partia, mas compunha
tanto a mães, como a filhas
e a que nenhuma se opunha
ao segundo, a mim igual
dos aviadores um lendário
pelo seu dote principal,
por ser louco e temerário
Bartolomeu de Gusmão
ResponderEliminarDe extraordinária memória
Foi o que inventou o balão
De mui longa trajectória
E Bartolomeu da Quarta República
De poemas compositor
Será ele também Bartolomeu-voador?
:):)
Para ser o "Voador"
ResponderEliminarSeria mister conhecer
D'Alquímia o valor
D'aeronautica o saber
Não sou mais que um pardalito
Que sobre os ramos esvoaça
Vendo este mundo que, aflito
Em mentiras se embaraça