domingo, 25 de abril de 2010

A escrita da expressão facial...

A propósito de um artigo que li sobre a síndrome de Moebius, uma doença congénita causadora de paralisia facial, lembrei-me como é importante na socialização o movimento facial. A bem dizer, a expressão facial é muitas vezes o "cartão de visita" da própria pessoa.
A expressão facial é realmente essencial na interacção social, no relacionamento que se estabelece entre as pessoas, porque é através dela que expressamos sentimentos e emoções, como simpatia e alegria, antipatia e tristeza, empatia ou distanciamento, aceitação ou repulsa, surpresa e espanto ou nem por isso, compreensão ou revolta, dúvida ou confiança, e por aí fora. A revelação do que nos vai na alma e na cabeça é normalmente reflectida, de forma inconsciente, através da expressão do olhar. O movimento dos olhos, um piscar de olhos ou o franzir de sobrolho têm cargas comunicativas importantes e significados emocionais próprios. Há olhares que falam por si, dispensando quaisquer gestos faciais ou outros. Há circunstâncias que desvendam o que diz ou quer dizer um olhar, ainda que não querendo ou porque querendo tudo nele está dito e escrito
Mas há pessoas que conscientemente controlam a sua expressão facial e, também, os gestos e a própria postura corporal, tornando-se por assim dizer umas múmias, impedindo qualquer penetração por parte dos outros sobre as suas reacções, tornando a comunicação difícil e não raras vezes agreste.
Tenho conhecido ao longo da minha vida profissional pessoas, poucas devo dizer, que revelam um extraordinário auto-controlo das suas expressões, normalmente para defesa própria, embora possa também acontecer por timidez ou porque é da sua própria natureza. No primeiro caso, uma tal estratégia parece surgir como sendo crucial na discussão ou na negociação de um assunto. São normalmente pessoas pouco naturais, de jogos de expressão fabricada que exigem dos outros cuidados redobrados. Nunca se sabe o que vai nas suas cabeças, como vão reagir.
Há por aí cursos que ensinam a desenvolver essas "competências" e que se vendem como algo absolutamente necessário para vencer. Parece que têm procura.
Pela minha parte prefiro as pessoas espontâneas, ou seja, cuja expressão facial é um espelho reluzente das suas emoções e pensamentos. Sabemos com o que podemos contar, não enganam, e havendo vontade de partilha é mais fácil.

6 comentários:

  1. Cara Dra. Margarida Aguiar:
    Sou igualmente da sua opinião, por isso subscrevo totalmente o que diz.
    Quando duas ou mais pessoas se encontram é garantido que cada um, de per si, emite juízos acerca do outro baseado naquilo que vê. Desconfio sempre de gente de rosto não expressivo e emotivo, quase sempre venho a confirmar que é matreira, malevolente e lacaia q.b. quando se trata de atingir objectivos.

    11:32

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  2. Sem dúvida que a espontaneidade das expressões faciais são cativantes e verdadeiras mas não esquecer as interpretações das mesmas nas diferentes culturas! : )
    De entre todas, não é o olhar que tem servido mais de fonte inspiradora dos poetas?!

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  3. Tem toda a razão Margarida, a expressão facial é o primeiro contacto com os outros, é assim uma avaliação de relance que desmoralia logo ou que, pelo contrário, incita a que se descubra mais da outra pessoa. A nossa era de standards tem combatido essa espontaneidade, privilegiando os sorrisos de plástico, os botox que eliminam as rugas, treinando atitudes em função de cada situação. Perdeu-se muito em educação mas ganhou-se em plasticidade e opacidade das expressões.

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  4. Caro jotaC
    Sem dúvida que o que é genuíno é nos sempre mais agradável. Para o bem e para o mal gera confiança.

    Cara Catarina
    Lembra bem. O olhar tem sido fonte inspiradora de poesia.
    Não é verdade que um simples olhar pode desencadear uma paixão?

    Suzana
    Vivemos na era do descartável. Também as pessoas são descartáveis. A expressão facial é muitas vezes a expressão formal de comportamentos e atitudes que se vestem e se despem com toda a facilidade em função de conveniências também estas descartáveis.

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  5. Olá Dra. Margarida!
    Ao ler este maravilhoso texto, fiquei com saudades de si...
    Tive o privilégio de a conhecer pessoalmente e falei consigo apenas naquele almoço tão agradável (em Maio do ano passado), mas jamais esquecerei a sua expressão (facial e corporal) doce e serena.
    Como "cartão de visita", acho-a admirável!
    Um grande beijinho.

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  6. Um beijinho grande para a Inês. Obrigada pelas suas generosas e amigas palavras. A sua mensagem deixa-me sem saber o que mais dizer, a não ser dizer-lhe que temos que nos voltar a ver pois gostei muito de a conhecer.

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