1. A agitação nos mercados financeiros europeus tem sido grande nos últimos dias, hoje em especial, com rumores insistentes sobre o agravamento da situação financeira da Grécia – fala-se numa nova revisão do défice orçamental de 2009 para valores superiores a 14% do PIB, em condições draconianas a impor pelo FMI...
2. Igualmente comentada tem sido a crescente probabilidade de ocorrência de uma situação de “default” por parte do Estado grego – a incapacidade de incumprimento pontual do serviço da dívida pública, já no corrente ano.
3. Estas perspectivas estão a “arrasar” a bolsa de Atenas, fazem subir novamente os spreads da dívida pública grega, atingindo valores superiores a 400 pontos, ou seja uma taxa de juro da ordem de 7,25% na dívida pública grega com maturidade de 10 anos – e produzindo algum efeito de contágio noutros mercados e dívidas como é o caso da portuguesa.
4. Cá estão os especuladores-predadores, dirá o camarada Panagalos, a espalhar o terror nos mercados e sacrificando a Grécia, situação incompreensível tanto mais que o País constitui hoje um nobre exemplo de disciplina financeira, depois de ter posto em prática um conjunto de medidas que se propõem solucionar o desequilíbrio orçamental.
5. Torna-se visível, nesta altura, que os mercados não acreditam na capacidade da Grécia de colocar ordem nas suas finanças públicas e têm dúvidas quanto à eficácia, a curto prazo pelo menos, do famoso “Acordo” entre os governos dos países europeus para suportar os membros do Euro que se encontrem em dificuldades financeiras (cujos contornos operacionais continuam desconhecidos, sublinhe-se).
6. Mas há aqui um ponto em que algum esforço de “bom senso” parece recomendável, o qual tem a ver com a suposta entrada em “default” por parte do Estado grego.
7. Salvo melhor, a entrada em “default” é uma eventualidade que a aplicação do tal “Acordo” deve logicamente excluir...mesmo na interpretação mais radical (e realista) da Alemanha, segundo a qual qualquer ajuda só poderá ser concedida se e quando as soluções do mercado estiverem esgotadas...
8. Ora a ocorrência de uma situação de “default” preenche plena e literalmente tal condição, parece-me...se a Grécia não puder cumprir o serviço da dívida, isso significará que não encontra no mercado recursos para ocorrer tampouco à renovação do capital vencido mais os juros, ou seja que o recurso ao mercado se esgotou de todo – ou não será assim?
9. Sendo assim, a conclusão a tirar é que os mercados não só têm dúvidas quanto à eficácia do “Acordo” como não acreditam de todo no seu funcionamento a curto ou médio prazo...
10. Mas, se assim for, onde é que iremos parar?
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarSeguindo os comentários anteriores, podemos estar em face de um "self fullfiling scenario".
Isto de muita informação e on line pode dar nisso........
Cumprimentos
joão
Vende-se crise! Quem está disposto a comprá-la?
ResponderEliminarUma Europa entalada
no trilho da dilaceração,
tal tem sido a marmelada
no meio dessa desfloração.
A placa está bem presente
com as letras do verbo vender
pisca de forma reluzente
para assim fazer-se render.
Se for assim, podem começar a reciclar tudo o que se escreveu sobre Europa nos últimos 20 anos.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarA propósito das dificuldades gregas e da responsabilidade dos especuladores, ontem escrevi no meu blog:
ResponderEliminarTem-se discutido muito a responsabilidade dos especuladores financeiros na crise que, com início nos EUA, ainda mostra duramente os seus efeitos e, mais recente e especificamente, na crise grega e na dos outros países do Sul da zona euro. Agora diz-se que os especuladores “atacaram” a Grécia, põe-se a hipótese de o verdadeiro alvo dos ataques dos ditos especuladores ser não a Grécia mas sim o euro, teme-se que logo que os gregos consigam com o seu plano de austeridade amansar os ataques, os referidos especuladores se poderão voltar para o segundo elo mais fraco, ou seja Portugal.
Pouco percebo de economia e nada de finanças internacionais. Confesso que não sei o que são os “ataques dos especuladores” nem o que eles fazem de concreto. Que podem fazer os famosos especuladores para baixar o valor de um título? Podem vendê-lo em grandes quantidades ou abster-se de o comprar. Não sei que mais podem fazer nos seus "ataques". O mesmo para uma moeda. Se são títulos de dívida, como os títulos soberanos, compreendo que qualquer pessoa que tenha dinheiro para emprestar deseje receber o máximo rendimento e evitar ao máximo o risco, o que por vezes exige um equilíbrio difícil. Também compreendo que o mecanismo da oferta e da procura (uma das poucas coisas que sei de economia e que me foi ensinado há muitos anos pelo Prof. Pinto Barbosa na cadeira de Economia no IST) leva naturalmente a que seja mais difícil vender dívida de retorno duvidoso e que portanto os financiadores exijam uma taxa maior. Será isto especulação? Também compreendo que na dúvida de um retorno dos seus investimentos, os investidores tentem vender os títulos que os suportam. Será isto especulação? A mim só me parece bom senso.
Caro João,
ResponderEliminarNos próximos dias esperamos ter notícias esclarecedoras quanto ao desenvolvimento do seu "self fulfilling scenario".
Vai ser muito interessante observar o comportamento dos grandes protagonistas nesse cenário: especuladores segundo Pangalos (europeus e americanos), Tesouro grego, FMI, Comissão Europeia, Alemanha, França, outros países do sul da Europa...que animação!
Caro Manuel Brás,
A intervenção da sua poesia nestes tempos tão conturbados deve constituir um bálsamo para todos nós...
E, quem sabe, ajudar o lançamento do grande movimento "noético" tão entusiasticamente proposto pelo nosso amigo Bartolomeu...
Caro Tonibler,
Exactamente, permito-me a propósito sugerir-lhe, se tiver oportunidade, a leitura de um interessatíssimo (longo) texto publicado na edição de ontem do F. Times que dá conta da evolução do pensamento da nova geração de políticos alemães em relação ao projecto europeu.
Se os alemães começarem a perceber que o Euro é mais um estorvo do que qualquer oputra coisa, não sei, não...
Caro Paulo,
Diz bem...e a Grécia lá vai alegremente a caminho do mercado americano, confiando na generosidade dos "especuladores" americanos, depois de ter sido abandonada à sua sorte pelos "especuladores" europeus...quem diria?
Caro Freire de Andrade,
Já tinha reconhecido a justeza das suas interrogações e observações em comentário sobre Post anterior...
O Euro, caro Tavares Moreira? Eu estou a imaginar que condições económicas Portugal precisaria para resolver uma situação financeira destas e o fecho do mercado alimentar interno parece-me, por exemplo, incontornável (no caso grego, por acaso, também). O que significa que, além do Euro, estamos a falar da livre circulação, do PAC, do... o Euro é a parte economicamente menos importante do problema, os gregos não ficaram pobres em euros, ficaram pobres. Portanto, para não se voltar à união do cobre e do aço, não vejo grandes soluções.
ResponderEliminarAprecio o seu sentido de humor, quando se refere às minhas convicções, caro Dr. Tavares Moreira, creia que sim.
ResponderEliminarMas, já agora... e sem querer abusar da paciência que sempre tão pródigamente tem dispensado aos comentários a que me atrevo, pergunto-lhe:
Dentro de que espírito, enquadra o meu caríssimo amigo a menságem do Sr. Presidente da República, apelando à mobilização colectiva do povo português, como (única)forma de combater a crise económica que faz definhar o país?
Não desvalorize a importância do Euro, caro Tonibler...
ResponderEliminarAs turbulências em curso são uma ninharia se comparadas ao que seria o custo de uma eventual saída forçada do Euro, para a Grécia ou qq outro sério candidato...
Aceito, sem dificuldade, que um eventual fracasso do Euro implicaria uma profunda revisão do projecto europeu...talvez por isso mesmo estou convencido de que com mais ou menos abanões, com umas palmatoadas mais ou menos ardentes para os prevaricadores, o Euro lá seguirá seu "sendero luminoso" por mais uns anos...
Salvo se os alemães, como disse, vierem a aperceber-se de que o Euro é um estorvo...aí poderemos ter o caldo entornado...
Caro Bartolomeu,
Quem sabe se o Presidente da República não está encantado com a sua ideia da noética e resolveu usar a mensagem que refere para deixar uma subliminar referência a essa ideia?
Espero bem que meu amigo seja tolerante para com este humor...não me leve a mal, por favor - aliás não tem a sua ideia de noética (aplicada) também uma profunda inspiração de bom humor?
Tem sim, caro Amigo, sem dúvida que sim.
ResponderEliminarBom humor, tem sempre um resultado benéfico no relacionamento entre as pessoas.
E... creia, apesar de fazer questão em demonstrar os meus sentimentos, nunca me molesta qualquer observação que a eles se refira.
Muito menos, aquelas que possam provir do meu Amigo, com quem tenho aprenddo muitíssmo desde que frequento o "Quarta".
Quando as construções assentam em alicerces sólidos, terá de o sismo ser de magnitude devastadora, para que a estructura rua.
Sim, caro Tavares Moreira, mas até os alemães vão entender que o "Euro" é só o nome do problema. Quando (e se) for decretado o cada um por si, vão-se erguer barreiras alfandegárias a automóveis e outras mercadorias e as consequências para a economia alemã, que andou a absorver boa parte do leste europeu à conta dos seus "parceiros europeus" (incluindo os gregos), faria a tragédia grega parecer os morangos com açucar...
ResponderEliminarÉ engraçado vermos como o projecto europeu de paz transcontinental pode ir às couves de um dia para o outro. Nem há dois anos tivemos por aqui uma discussão sobre o perigo de andar a fazer constituições europeias à revelia dos cidadãos e agora vemos como a coisa pode dar para o torto e bem mais cedo que se pensava.
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarNão nos esqueçamos que este "jogo" não se esgota na dimensão meramente financeira ou creditícia, existe mais duas dimensões que co existem: a geoestratégica e a política.
A Grécia, apesar de tentar "vender" a ideia, não esgotou as alternativas estratégicas, apenas está a "jogar" com as diversas opções de uma das vias estratégicas possíveis.
Neste jogo complexo, a Grécia tenta "assustar" os parceiros. Trata-se de uma estratégia com mais de seis séculos e, devemos confessar, com algum sucesso. Apenas varia o objecto do medo: já foi o turco (e, para uma parte dos europeus ainda o é), já foi o comunismo, agora usa o fim do euro.
Mesmo nesta conjuntura complicada, à Grécia ainda tem alternativas estratégicas:
Pode auto -desarmar-se, o que não lhe interessa e porque o governo não terá a capacidade e a força para se impor ao lobí militar;
Pode vender o desarmamento a americanos, turcos e cipriotas, desde que estes consigam fundos (possivlemente árabes) para financiar a operação, no limite poderá ser uma das "partes" da operação;
Pode vender activos, com ou sem cláusula de reversão; suspeito que o "apoio" bilateral que os "amigos e sócios no euro declararm estar dipostos a oferecer, será concedido contra garantias reais;(isto pelo menos, para os mais espertos).
Mas a existência de alternativas não significa estar ao abrigo de algum "abanão" na zona euro, nem evita uma série de dissabores ao governo grego, nem mal estar e incómodos junto da população.
Por isso, vamos continuar com o euro por muitos anos, como o diz; suspeito é que a perspectiva se inverteu: não serão os alemães a sair do euro, mas sim estes a expulsarem; os alemães não sairão porque incomodados, expulsam os que incomodam.
Recomendo a todos que revisitem a história da Alemanha: esta foi construída com base no modelo prussiano, tendo os restantes estados adaptado/adoptado o modelo e não o contrário.
Se deu resultado há 160/170 anos, não existem razões de fundo que militem em contra. (Por favor, dispenso perorações sobre a distância no tempo, as condiçoes estratégica subjacentes são semelhantes, salvo no idioma).
Ainda não percebi porque é que as "elites" europeias levam tanto tempo a "realizar" este facto...
Cumprimentos
joão
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro Bartolomeu,
ResponderEliminarA sua amabilidade desvanece-me...confesso que já faltou bem mais para me ter como aderente ao projecto noético!
Caro Tonbler,
E nisto tudo ainda falta o mais importante:saber qual o sucesso ou insucesso da quase impossível regeneração orçamental da Grécia...
Tenho para mim que tornar a Grécia um País disciplinado orçamentalmente deve ser tão fácil como por todos os alemães a falar chinês fluentemente...
Se a estratégia orçamental da Grécia ficar pelo caminho, como me parece bem possível, então o risco de os alemães virem a concluir pela nocividade do Euro sobe em flecha.
Caro João,
A decisão da Fitch, anunciada esta tarde, de reduzir o rating da dívida pública grega para BB-, vem emprestar mais força ao seu argumentário, se bem me parece...