1. Os “opinion-makers” do regime têm-se desdobrado nestes últimos dias em tentativas com o objectivo de encontrar engenhosas explicações para o facto cada vez mais indesmentível da precária situação em que a economia e as finanças públicas portuguesas se encontram.
2. Terão finalmente percebido que já não era credível continuar a sustentar (i) que tudo vai bem, (ii) que as contas estão sob controlo, (iii) que a consolidação orçamental sofreu um pequeno revés fruto da crise internacional mas vai ser retomada, etc, etc, etc - como já toda a gente percebeu que nada disto é consistente, importava mudar a linha de defesa para outra frente da ficção opinativa...
3. Assim, gente de fértil imaginação, encontraram uma tese que até soa bem aos ouvidos dos habitualmente incautos ouvintes/espectadores: os americanos nunca gostaram do Euro, que veio por em causa a hegemonia do USD - por isso mercados, especuladores, agências de rating americanas (e esquecem a fatal CIA?!) estão agora apostados em destruir o Euro, lançando uma poderosa campanha de descrédito sobre a zona Euro e sobre a viabilidade – até agora tão risonha – da moeda comum.
4. Esta histriónica construção tem naturalmente como fundamental desígnio que possam manter-se intocáveis os erros de política económica próprios, que tiveram e têm papel determinante na emergência desta crise – mas a sua lógica deixa em aberto alguns insondáveis mistérios.
5. Em primeiro lugar, deve lembrar-se que o Euro existe desde há quase 11 anos – desde 1 de Julho de 1999 – e nunca os americanos se preocuparam muito ou pouco com ele, apesar de ter havido durante este período pelo menos 8 anos de presidência Bush, certamente o mais perverso de todos os nossos inimigos americanos...
6. E só ao 11º ano é que os americanos se lembraram da necessidade de combater o Euro? Tendo para isso mobilizado os especuladores, as agências de rating e sabe-se lá quem mais...para desferir de surpresa, aproveitando a desguarnecida fronteira da Grécia, um ataque de dimensões gigantescas à moeda do maior bloco económico mundial?
7. Mais extraordinário ainda, este ataque estava reservado exactamente para a presidência de um grande amigo da Europa, Barack Obama – grande amigo pensávamos nós, vemos agora que por detrás daquela face simpática, daquele discurso de paz, de uma forma fresca de fazer política se esconde uma vontade perversa de destruir o Euro e de atingir em cheio a economia europeia, para salvaguardar a hegemonia do USD...
8. É impressionante como George W. Bush deixou escapar a oportunidade de lançar um ataque contra o Euro, ele que detestava a Europa e os europeus, sentimento que estes retribuíam generosamente...deixando para Obama o privilégio de atingir o Euro no coração!
9. O que são capazes de imaginar estes “opinion makers” quando se trata de arranjar desculpas de mau pagador...
excelente artigo.. parabéns pela lucidez a desmontar as teorias da conspiração que apenas servem para encobrir os erros dos países da zona euro...
ResponderEliminarMuito bom mesmo. mas receio bem que coerência e lucidez sejam pequenos detalhes que doses de pânico maciço tornam dispensáveis.
ResponderEliminarCaro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarA imaginação cá por estas bandas é de facto muito pobre, repetindo-se os mesmos argumentos patetas ad nauseum. Há de facto esse pequeno problema do Obama mas, coitado, a herança de Bush é tão pesada que nem ele, Obama, conseguiu ainda "regular" os especuladores. Mas, tenhamos confiança. Obama é um amigo dos europeus. Krugman também e ele é o grande inspirador do nosso PM. Tudo vai acabar por bem, como iremos assistir em breve.
Eu também acho que os americanos estão metidos nisto. Para mim, foram eles que fizeram os alemães mandarem os gregos vender as ilhas, com que os holandeses dissessem aos gregos para desampararem a loja e irem bater à porta do FMI e o seu agente mais destacado, o presidente checo, mandar bocas ao presidente português.
ResponderEliminarMas de uma coisa essa corja neoliberal imperialista ao serviço dos especuladores da economia de casino fique sabendo, não conseguirão tocar na unidade e solidariedade europeia!
É isso e o vulcão...
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarO que relata é apenas indício que a central de informação do governo se encontra em fim de inspiração.
Cinco anos de governo seguidos (em quinze intervalados), fizeram o PS esquecer as leis fundamentais da física: a lei da gravidade. Como disse o Prof Silva Lopes a crise é tão inevitável como a esta última realidade.
Há 16 anos, Milton Friedman, entre outros, augurou que a solidez do euro dependia do modo como enfrentaria a primeira crise, foi necessário esse lapso de tempo, para se testar essa tese.
A falta de educação ajuda às teorias conspirativas e mitos urbanos; uma análise perfunctória dos pressupostos da tese anula o efeito pretendido: se existe conspiração dos EUA, quem está a conspirar contra a Califórnia? O México? A Venezuela?
Falta maturidade no nosso discurso político, como falta mundo na prática governativa; mais do que os efeitos da crise o que temo é que não teremos governantes à altura para guiar e colocar o país na posição mais adequada para podermos aproveitar o post crise...
O resto como diz e que subscrevo é uma completa treta....
Cumprimentos
joão
Culto calaceiro...
ResponderEliminarCom tanto fulgor financeiro,
em decisões esbanjadoras,
brotou um culto calaceiro
de marcas prenunciadoras.
As semelhanças são evidentes
nos nossos problemas seculares,
repetem-se razões decadentes
de políticas irregulares.
No meio dessa nulidade
do acaso da governação
brota a infeliz vaidade
da nossa secular inacção.
Deste país deslumbrado
com a entrada de milhões
fica um fado quebrado
pelo pesar dos mexilhões.
Caro Franklin (Roosevelt?),
ResponderEliminarTeorias da conspiração que neste caso mais parecem de alucinação...um devedor em estado de insanidade convencido que consegue lançar uma cortina de fumo para desarmar os credores!
Cara Suzana,
Para doses de pânico maciças dizem-me só existir uma receita eficaz: uma magnífica refeição, regada a Erva Pata!
Caro Eduardo F.,
Tudo vai acabar bem, como hoje se começa já a verificar...e os inimigos americanos ainda nos vão pedir desculpa...
Caro Tonibler,
Toda a razão! Como se tem visto e revisto, a unidade e solidariedade europeias a tudo resistem - e sem qualquer vislumbre de tremor!
O seguro do Euro é para sempre e razão tinham aqueles que em 1999 mandaram rufar os tambores por esse País fora, em sinal de regozijo, antecipando o período de maior prosperidade da nossa história!
Caro João,
Lapidar seu comentário...esta "rapaziada" está tão entontecida com 5 anos de propaganda até à exaustão que se tornou literalmente incapaz - mas é mesmo incapaz - de distinguir a realidade da ficção!
O que as agências de comunicação fizeram aos nossos políticos...e aos nossos impostos!
Caro Manuel Brás,
Muito a propósito...é mesmo de culto calaceiro de que se trata...come excepção do reino da publicidade onde reina uma azáfama nunca vista!