Vivemos uma época de profunda crise de finanças públicas, em que cresce a descrença relativamente ao futuro, em que se agudizam as assimetrias sociais e em que continua a faltar uma visão estratégica para o País e a capacidade de fazermos as reformas necessárias que permitam construir uma sociedade de bem-estar acessível a todos.
A mensagem que o Papa Bento XVI nos trouxe no seu primeiro dia de visita a Portugal foi uma mensagem humanista de esperança, de partilha e de solidariedade, mas também de apelo à necessidade de repensarmos modelos de vida e de renovação de compromisso colectivo na prossecução do bem comum.
Num contexto de grande apreensão e desesperança que marca a vida de muitas pessoas, o apelo à fé e a afirmação da mensagem de Cristo constantes da homilia que o Papa Bento XVI hoje proferiu na missa celebrada no Terreiro do Paço devem merecer a reflexão de todos.
O mundo vive hoje uma crise de princípios e valores que muito se deve à falta de verdade e à abusiva relatividade que caracterizam os actuais modelos de vida. As situações de crise que estamos a atravessar, de natureza económica, ambiental e social, são também crises morais e estão interligadas.
Na Encíclica “Caritas in veritate”, o Papa Bento XVI aponta que a “ humanidade tem necessidade de uma profunda renovação cultural” e que a resolução das actuais crises “impõe um modo de viver marcado pela sobriedade e solidariedade”.
As mensagens do Papa não irão resolver os problemas graves que atravessamos, mas devem constituir pela sua dimensão humanista uma base de reflexão que nos deve interpelar a todos sobre as mudanças que temos que fazer.
Drª. Margarida Aguiar,
ResponderEliminarCreio que, o que mais fundo cala no mar social, são os exemplos de vida e pouco as palavras.
Enquanto o Papa Bento almoçava e jantava, nos Anjos, na antiga sopa do Sidónio, dezenas de famintos, sem-abrigo, desempregados, idosos, etc, mitigavam a fome à custa da solideriedade social.
Os mesmos sem-abrigo que foram retirados do percurso por onde Suya Santidade passou... voltarão hoje a dormir nos seus reais leitos de cartão e cobertores velhos, até que a lei da morte os reuna a Sua Santidade, lá em cima, à direita Do Homem, onde finalmente todos seremos iguais...
"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus"...
ResponderEliminarCaro Bartolomeu:
ResponderEliminarAo Papa o que é do Papa, a César o que é de César...
Em Portugal, e muito bem, porque é próprio de um país civilizado, há separação da Igreja do Estado...
E,sem qualquer espírito de defesa da Igreja, que tem os seus defensores,há que dizer, porque é verdade reconhecida até pelo Estado laico, que a sua obra de assistência é notável. Á qual muitos portugueses dão o seu melhor.
Claro que, em circunstâncias como esta, se branqueia muita miséria e sofrimento. Como se não existisse. Neste aspecto, o comentário docaríssimo Bartolomeu é de todo justo e pertinente.
Técnicamente, Senhor Dr. Pinho Cardão, a sua alusão faz todo o sentido.
ResponderEliminarPela minha parte, não ganha tambem a igreja um inimigo.
A igreja tem uma função espiritual e social, inegávelmente. São esses sentidos a meu ver, que a identificam e legitimam.
Aquilo que se espera da igreja católica, é coerência comportamental e, essa coerência tem de ser compensada no amor pelo próximo e no apoio àqueles que mais necessitam, por forma a que todos nós, cristãos, nos possamos rever nesse exemplo.
Desigualdades sociais existirão sempre.
ResponderEliminarPensar numa igualdade absoluta é utopia.
O que se pode fazer, como cidadãos de um país, é apoiar, ajudar os menos privilegiados, individualmente ou preferivelmente (como forma mais abrangente) através de associações e fazendo pressão nos organismos governamentais.
Enquanto nós celebramos o Natal, por exemplo, ou um aniversário com uma mesa cheia, haverá sempre, a poucos passos, alguém que dorme na rua e que mendiga por um naco de pão. É doloroso mas é a realidade.
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ResponderEliminarEm toda a história da humanidade, da qual a igreja participou, grosso modo, em 20 sec. nunca o ser humano viveu tão bem, nem nunca viveu com tanta paz. Qual crise de valores e de princípios? Se há uma crise é porque houve uma altura boa. Que altura foi essa? Nunca o conhecimento e a ciência estiveram ao alcance de tantos ao mesmo tempo, nunca tantos tiveram acesso a tanto. Que renovação cultural? É o estado do mundo actual, porventura, um caso de insucesso?
ResponderEliminarConsidero muita curiosa a expressão “A Deus o que é de Deus, a César o que é de César”. As razões dos que a invocam são fáceis de compreender, mas a minha pergunta fica aqui: - Quem herdou o Império Romano e se comporta como “César”?
ResponderEliminarÉ precisamente porque temos toda a informação e conhecimento, inteiramente acessível e à nossa completa disposição, que podemos definir o estado actual do mundo, como um caso de insucesso. É que, dado a actual “conjuntura” mundial, seria esperável que houvesse um maior equilíbrio social.
ResponderEliminarNão lhe parece Tonibler?
Entenda-se por equilíbrio social a não necessidade de, quer o estado quer a solidariedade social, terem de provir a qualquer tipo de necessidade dos seus cidadãos.
E, não me refiro a uma sociedade autónoma, sem ter quem a governe, pelo contrário. Refiro-me a um estado solidário, com um governo que tenha a consciência precisa que governa um povo e não a si mesmo. E que tenha a consciência precisa que, governar um povo, é ter a capacidade de visão necessária, para não distinguir os cidadãos que a compõem.
É que… não basta compor constituições com sentido democrático.
Talvez a resposta à questão deixada pelo Senhor Professor Massano Cardoso, possa ser encontrada no primeiro discurso proferido por Bento XVI em solo Lusitano, no qual fez referência ao centenário da República em Portugal e, sublinhou a importância da colaboração entre Igreja e Estado. Talvez fosse intenção de Ratzinger, renovar (ou tentar) o espírito do Concílio Vaticano II no que respeita à separação Estado-Igreja, ou, mais concretamente, em relação à «autonomia das realidades temporais». A primeira carta encíclica do Papa, "Deus Caritas Est" explicita a recusa da laicidade e das dissidências sociais dos católicos.
ResponderEliminarOu então... não passa tudo de um sonho...
Em apenas três linhas, o caro Professor Massano Cardoso, "obriga-nos" a mergulhar na história, exactamente numa das causas da queda do império romano, facultando-nos deste modo uma melhor compreensão da evolução da religião católica, bem como de toda a sua estura organizativa até aos nossos dias...
ResponderEliminarCaro Bartolomeu,
ResponderEliminarNão, não parece. Voltando a fazer o ponto de situação, estamos melhor que nunca. Que crise de valores? Que renovação cultural? Que valores vê o papa acima do bem estar do ser humano? Que renovação cultural vê ele acima da democratização do saber?
São perguntas simples, que ele certamente terá respondido várias vezes. Ou não?
Peço desculpa Tonibler, porque não percebi inteiramente o sentido do seu primeiro comentário.
ResponderEliminarPor isso dirigi o meu comentário num sentido lato.
Agora, ficou claro.