terça-feira, 29 de junho de 2010

Alô, alô, daqui PlanIT Valley


Portugal foi eliminado do Mundial de futebol mas a vida continua. É verdade que vamos ter saudades destes dias em que os jornais eram muito fáceis de ler, só a primeira e a última página, porque tudo o resto era futebol, poupavam-se assim os detalhes arrepiantes da crise económica e as opiniões dos que sobre ela divagam. Os telejornais também eram levezinhos, praticamente só as legendas a correr porque de resto era tudo frissons desportivos.
Mas não seja por falta de matéria prima que a imprensa vai encolher a torrente noticiosa. Hoje mesmo, talvez prevendo o desânimo nacional, tivemos uma notícia estrondosa: vamos ter a primeira cidade inteligente do mundo, PlanIT Valley, em Paredes! Sim, isso mesmo, pioneiros como sempre, arrojados como nunca, erguemo-nos dos vales da derrota na bola para atirar uma bolada aos adormecidos da tecnologia mundial.
Segundo o Presidente da Cisco, esta multinacional descobriu um oásis em Paredes, Portugal, onde vai “desenvolver milhões de sensores para esta cidade inteligente, um projecto único no mundo. É aquilo a que chama de "smart connected communities". O que teremos é a próxima geração da internet, que é a internet das coisas e teremos tudo interconectado”. Todos ligados a tudo, em tempo real, sem sair de casa, suponho eu, tudo à distância de um clic, chips por todo o lado a facilitar-nos a vida, mas haverá certamente ocasião de tirarmos todas as dúvidas, as obras vão começar já já.
Chamou-me a atenção, para além do desenho futurista, tipo cidade ficção científica, o facto de já se tratar de um PIN (Projecto de interesse nacional), que não exigirá nem um tostão do Estado e que quem o vai fazer “não tem salário mas apenas acções”, uma prova de confiança absoluta no êxito do projecto.
Mas a parte da notícia que mais me entusiasmou foi a explicação dada para que esta maravilha única no mundo tenha escolhido este pobre e deprimido País para se instalar, logo aqui, onde os nativos não encontram ponta de esperança ou rasto de fulgor. Soube-me mesmo bem saber que factores decisivos foram “ensino de qualidade; engenheiros bons e mais baratos do que os norte-americanos; e pessoas colaborantes". A perspectiva destes novos descobridores é a de que, dentro de 5 anos, já floresçam em Paredes 12 mil empresas e que esta cidade inteligente venha a contribuir com 5% do PIB.
Ah, portugueses, aqui estamos nós a dar novos mundos ao Mundo, apesar da derrota no mundial! Para que é que nos maçam com notícias sobre a falta de capacidade de financiamento da banca?

21 comentários:

  1. Só espero é que este projecto de vanguarda se conclua ainda no meu tempo, pode ser que eu arranje emprego em Paredes(!?), deve dar gosto trabalhar num meio tão inteligente, é só saber carregar no botão!
    A esperança é a última a morrer, acho que vai ser desta vez!
    :)

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  2. Suzana
    Também temos a maior fotovoltaica do mundo. Fica em Serpa. Porque será que ninguém a quis?

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  3. Esta notícia é boa e os responsáveis da Cisco têm razão. Agora, é a mesma história da Autoeuropa, o mesmo mega projecto...

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  4. Caro Tonibler, essa sua comparação com a Autoeuropa dá-me muito alento, mas a dúvida da Margarida é mesmo muito pertinente, porque é que não houve uma disputa renhida por este projecto, como houve e há pela Autoeuropa?
    Caro jotac não desanime, a empresa também falou na geração que vai já crescer no PlanIT Valley, há-de lá haver lugar para os menos jovens!

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  5. Durante 70 anos fui sempre um optimista. Por fim, graças a Sócrates e seus seguidores, abri os olhos e tornei-me pessimista. Cada vez que o PM vitupera os bota-baixistas sinto-me visado. Mesmo perante notícias tão excitantes como virmos a ter a primeira cidade inteligente do mundo em Paredes ou irmos ser o país com mais postos de abastecimento de automóveis eléctricos de todo o mundo, desconfio e pergunto: Porquê nós? Não haverá algo de errado?

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  6. “Quando a oferta é grande, até o Santo desconfia.”

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  7. Cara Suzana,

    Porque o governo os isentou de impostos como o PSD fez com a AutoEuropa. Não houve disputa renhida? Eu não sei se houve. Nem sei se houve para a AutoEuropa. Sei que o PSD disse que houve mas nunca ouvi nada à Ford ou à Volkswagen.

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  8. Tenho comentado este "projecto" completamente tolo n'A Baixa do Porto. Leiam-se os pormenores e quem quiser acredite nele. Eu não.

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  9. Já agora, o investimento estrangeiro até agora concretizado é pequeno. Mesmo mesmo muito pequeno: zero!
    A Cisco não investiu nada, apenas assinou uma "carta de intenções" que prevê, entre outras coisas, a venda de uma quantidade fabulosa de equipamento e serviços para o projecto. Afinal se Portugal investe em Magalhães e coisas do género, não custa nada à Cisco tentar...
    É recomendável também ir seguindo os negócios de terrenos na zona.

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  10. Pois bem, quando não se conhece o facto sobre o qual se emite uma opinião o melhor é as pessoas informarem-se!!!
    1.Paredes fica no Norte de Portugal a 20Km do Porto;
    2.Porquê investir em Paredes? porque tem uma boa localização; porque possuí os terrenos necessários à implantação deste Projecto, porque possuí massa crítica que acreditou no Projecto;porque tem uma das populações mais jovens do País;porque tem uma dinâmica de captação de investimento que a breve prazo será novamente notícia...
    Para alguns assíduos colaboradores deste blogue, com os quais, tive o privilégio de privar, aquando da minha passagem pela AR, digo que o que é preciso é acreditar...e desde já fica aqui o convite para uma deslocação ao Concelho de Paredes para conhecerem o que os autarcas do PSD fizeram por este concelho nos últimos 16 anos...

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  11. "o que é preciso é acreditar"

    Cara M.J.F, o erro é esse. É que não basta.

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  12. "Soube-me mesmo bem saber que factores decisivos foram “ensino de qualidade; engenheiros bons e mais baratos do que os norte-americanos; e pessoas colaborantes". A perspectiva destes novos descobridores é a de que, dentro de 5 anos, já floresçam em Paredes 12 mil empresas e que esta cidade inteligente venha a contribuir com 5% do PIB."

    Não haverá aqui algum cinismo exacerbado? Duvida da qualidade do ensino nas engenharias e na capacidade de trabalho dos Portugueses?

    Um espírito um pouco mais construtivo parece-me que seria muito bem-vindo.

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  13. Anónimo11:05

    1. É uma boa notícia. Mesmo que haja alguma dose de utopia, não conheço grande projecto que nascesse de maneira diferente.
    2. Não basta acreditar, mas sem se acreditar nada se faz. Por isso estou com Maria João Fonseca - o que é preciso é acreditar.
    3. As escolas de engenharia estão entre as primeiras do ranking mundial. Eu próprio tive a oportunidade de me aperceber disso quando em tempos visitei Stanford e em conversa com o Deão ouvi os maiores elogios à qualidade da formação dos jovens engenheiros que ali se especializavam em mestrados e doutoramentos.
    4. Não. O dinheiro não é tudo, pelo que esse argumento dos poucos recursos (com)prometidos, não é razão para desacreditar. Não sei se alguém por aqui conhece a história da própria Cisco, cujas instalações também visitei nos EUA guiado por um dos seus mais prestigiados quadros, português como nós. Se tiverem curiosidade em saber como nasceu esse empório, pode ser que percebam que grandes projectos podem nascer em pequenos meios e com pequenos meios.
    4. Paredes está de parabéns, em especial pelos dirigentes locais que escolheu. E oxalá que concretize tudo.

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  14. Mais uma excelente forma de vender serviços financiados pelo contribuinte!

    Vamos ver se o contribuinte ainda tem dinheiro para oferecer por mais patranhas!

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  15. Perto do Porto é uma boa localização? Ugh!...

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  16. Muito preocupante no projecto é também a completa incompreensão do que é uma cidade. Uma cidade não é uma aglomeração de pessoas, é uma teia de relações sociais. E isso não se constrói em apenas 5 ou 10 anos. Era muito mais sensato pensar numa reabilitação em larga escala do que construir um oásis no deserto.

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  17. Caros comentadores, espero sinceramente que este projecto venha a corresponder ao que agora se anuncia, uma vanguarda tecnológica a suportar uma cidade, um projecto único no mundo até agora. Não é por cinismo, caro depatasproar, que reproduzo as vantagens invocadas pelo investidor. É exactamente porque são o contrário do que temos como definitivo, sempre a duvidarmos da qualidade das nossas escolas, a dizer que o ensino superior ensina para o desemprego, que não somos competitivos e ainda por não ter dado escândalo que se assuma que podemos comprar barato a competência dos jovens engenheiros. Há-de concordar que como discurso é bastante diferente do habitual, acreditamos neles ou em tudo o que se tem dito e redito de sentido oposto? Eu acredito na qualidade de muitas escolas de ensino superior e sei que a formação dos nossos jovens, quando posta à prova fora do País, tem provado muito bem.Pode ser que, uma vez mais através de quem vem de fora, se comece a reconhcer o valor do que andamos a desperdiçar.
    Cara MJF, estou bem informada sobre o progresso e a qualidade do que se tem feito em Paredes. Isso não dá direito a que aceite de olhos fechados tudo o que se anuncia e o modo como é anunciado, como se fossemos todos uns deslumbrados. Preferia que tivessem explicado claramente o que vão fazer em vez de anunciarem bombasticamente uma cidade futurista incomparável que nada nos custará (parece tão simples...),à mistura com muitos milhões e muita fé, como uma borbulha no meio do deserto. Já estou como uma alentejana comentou uma vez, em Portugal ou não se faz nada ou fazemos o que o mundo nunca fez antes.Não admira que se desconfie.

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  18. Cara Suzana,

    Comprendi mal o sentido da frase que transcrevi (o que me compraz) pelo que peço desculpa se se sentiu ofendida. Creio termos, nalguns domínios, excelentes escolas e jovens engenheiros -- apesar de, muito frequentemente virem com lacunas do secundário, mas essa é outra história --, que têm merecidamente obtido reconhecimento global.

    Quanto às cidades, evidentemente que não parece realista imaginar o "levantamento" de uma zona urbana baseada num paradigma completamente inovador, sem que as pessoas e as suas relações sociais estejam na sua génese. Lembra-me demasiado Brasília ou cidades do bloco de leste, com os resultados conhecidos.

    Dito isto, um projecto desta natureza pode consistir numa oportunidade fabulosa para se testarem e validarem soluções, por exemplo ao nível dos transportes públicos, extremamente inovadoras, mais amigas do ambiente e, principalmente do cidadão, em particular de pessoas idosas, que são em cada vez maior número.

    Em pequena escala, de forma consistente e, espero, com fortes ligações às universidades e centros de investigação, poder-se-ia estudar e promover formas muito mais humanas de as pessoas se organizarem, transportarem, conviverem, trabalharem, disfrutarem de períodos de lazer em contacto com a natureza (dentro da cidade).

    Os métodos e soluções utilizados nas cidades actuais, que damos por inevitáveis mas que, em última análise, são imensamente agressivos, ineficientes, prejudiciais, desfavorecendo a sociabilização e a fácil locomoção dos seus habitantes têm que ter alternativas. A população cada vez mais idosa tem acrescidas dificuldades em locomover-se nestes infernos de latas e betão.

    Espero que, como julgo que refere, não estejamos a assistir a mais um anúncio sem resultados práticos, mas que haja aqui um real investimento -- mais de conhecimento do que de dinheiro -- para melhorar e humanizar as cidades. Resultados positivos que daqui possam advir são, creio, "exportáveis" para todo o mundo.

    Acreditar é preciso (também)...

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  19. Caro depatasproar, não fiquei nada ofendida e agradeço que tenha posto a sua dúvida. Concordo inteiramente com o que diz no seu último comentário, é bom que haja esta iniciativa e que produza bons resultados, serei a primeira vir reconhecê-lo quando tal acontecer. Mas, insisto,já estamos todos muito "escaldados" com anúncios fantásticos e visionários quando nos afundamos dia a dia na falta que há de mais banal...

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  20. Também sobre este assunto, a minha crónica de hoje no JN: "Drogas por via ocular".

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  21. Obrigada caro TAF, não tinha lido e valia bem a leitura.

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