quarta-feira, 16 de junho de 2010

O verbo "encerrar"...

A discussão sobre o encerramento de escolas com menos de 21 alunos prossegue. O governo invoca o insucesso escolar para justificar a medida. É evidente que as condições escolares devem ser atendidas no ordenamento territorial escolar. Mas a meu ver não podem ser as únicas, nem tão pouco é aceitável um número mágico que sirva de referência para matematicamente determinar o encerramento. Uma escola com 20 alunos encerra, mas uma escola com 22 alunos não encerra.
O anúncio do encerramento das escolas há muito que foi decidido e planeado pelo ministério da educação e no caso em concreto com o envolvimento das autarquias. Pergunto-me como é que só agora a oposição reage a um processo que está no terreno há já muito tempo.
As escolas e outros equipamentos básicos, como por exemplo as unidades de saúde ou os tribunais, determinam a fixação ou a deslocalizam das populações no território, e consequentemente das actividades económicas, uma vez que aquelas infra-estruturas são fundamentais para a organização e a qualidade de vida das famílias.
Coisa diferente é a abordagem que deveria ser feita quando está em causa o encerramento de equipamentos públicos que são fundamentais à vida das pessoas porque interferirem em escolhas fundamentais, com consequências nas actividades económicas das regiões.
Não me lembro de alguma vez se ter feito uma discussão alargada sobre qual o modelo de desenvolvimento regional que queremos ter. Sem um modelo estabelecido não é possível garantir a coerência das diversas políticas públicas - educação, saúde, justiça, obras públicas, cultura, desporto, fiscalidade, turismo, etc. – e a sua coerência inter-temporal, nem definir um quadro estável de previsibilidade que é fundamental para as decisões dos agentes económicos. A demografia e as políticas demográficas são também factores a ter em conta.
O encerramento “cego” de escolas e de muitos outros equipamentos públicos, a que se juntam em sentido oposto investimentos públicos vultuosos, sem um fio condutor que nos oriente para onde queremos ir, é bastante perturbador em termos de sustentabilidade das regiões que ainda povoam o interior do País e coloca uma pressão economicista de curto prazo que prejudica a qualidade das decisões. E assim vamos, aos poucos e poucos, encerrando aldeias e vilas do interior. São pedaços de Portugal que, também, se vão perdendo...

7 comentários:

  1. É mais uma medida em cima do joelho para resolver problemas de tesouraria de curto prazo.

    Fazer algo com cabeça, tronco e membros? Nem pensar, dá muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito trabalho!

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  2. O Marquês de Pombal, tambem extinguiu a Universidade de Évora, mas por razões diferentes, porque aquela universidade era controlada pelos Jesuítas e estes por sua vez, eram acusados de serem cumplices no atentado ao rei.
    Hoje nem se atenta contra o rei, nem os jesuítas detêm qualquer tipo de poder, não se entendendo a razão do encerramento das escolas. Afinal... é intenção do governo facilitar a aprendizagem, quero dizer, a passagem de ano, ou dificulta-la?
    Se encerram escolas, como é que vão cumprir os objectivos de formação académica dos meninos?
    Assim, um dia, vão ter de encerrar as universidades, por falta de alunos.
    Lá se vai a cátedra do nosso Amigo Tonibler às urtigas...

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  3. Caro Fartinho da Silva
    Falta visão sobre o futuro, falta planeamento estratégico, falta coerência e faltam muitas outras coisas, inclusive dinheiro. Não havendo dinheiro e faltando tudo o resto já sabemos no que dá...
    Mas é assim há muitos anos. Porque é que não mudamos a forma de pensar e de trabalhar?

    Caro Bartolomeu
    O argumento apresentado para justificar a medida é o insucesso escolar. Só que o maior ou menor aproveitamento escolar também tem que ver com outras realidades igualmente importantes. Se pensarmos que as crianças abrangidas por esta medida vão ter que fazer diariamente muitos quilómetros, sabe-se lá em que condições, que vão estar menos tempo com a família e que terão possivelmente menos tempo para actividades ocupacionais e para conviverem com o meio das suas aldeias, só para dar alguns exemplos, devemos questionar se estas mudanças não interferem no aproveitamento escolar e, tão ou mais importante, na qualidade de vida das crianças e das respectivas famílias. Não me parece que seja assim tão inócuo.
    Caro Bartolomeu, universidades a mais já temos.

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  4. De acordo, Drª. Margarida Aguiar.
    Mas, aquilo a que me referia, tem a ver com a visão da utilidade futura de um período de ensino, a qual, tal como defendia o Professor Agostinho da Silva, deverá servir a nobre finalidade de instruír, em lugar de educar, rejeitando inteiramente a utilidade política.
    Vamos assistir ao raciocínio do Professor?
    http://www.youtube.com/watch?v=0_GYC7JHlK8&feature=player_embedded#!
    ;)

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  5. Peço desculpa, este é que deverá ser o link:
    http://www.youtube.com/watch?v=0_GYC7JHlK8

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  6. Caro Bartolomeu
    Obrigada. "Educar essa palavra horrível", assim começa o Professor Agostinho da Silva. Um homem de grande sabedoria e profundidade. Que bela reflexão sobre a instrução e a educação.
    Estando a educação ao serviço de uma determinada utilidade política, percebemos a importância das ideologias que informam as linhas programáticas das políticas educativas.

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  7. Cara Margarida
    Em vez de se preocuparem com o estado vergonhoso e degradante em que se encontra o ensino, que devia gozar de inteira prioridade oreçamental, o governo pela " sábia" estratégia da ministra, constrangida pela situação financeira, decidiu e como sempre mal. Além de transtornarem a vida às populações locais, o facto mais relevante desta bagunça, é a circunstância de esta medida, tal como tantas outras, não obedecer a uma estratégia, nem de ensino nem de coisa nenhuma. Um regabofe, mas de maus prncípios!.

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