domingo, 11 de julho de 2010

Inverter o "plano inclinado"...


Um dos problemas que há muito tem desajudado na procura de soluções para a falta de rumo com que nos defrontamos, a braços com várias crises, é a ilusão instalada nas pessoas de uma realidade que não existe, que foi sendo alimentada com "incentivos" que facilitaram a sua aceitação.
Vem isto a propósito do programa Plano Inclinado deste Sábado. O convidado foi Alexandre Soares dos Santos, presidente do Grupo Jerónimo Martins. É sempre um prazer ouvi-lo, pela lucidez e franqueza que irradia. São atributos importantes, mas que não seriam suficientes para o escutarmos e conferirmos sentido ao que pensa se não lhe reconhecêssemos autoridade.
Em seu entender, no que é acompanhado por muita gente, não adianta continuarmos a ignorar a verdade. Andamos a mentir a nós próprios. Nas suas empresas fala-se verdade, a começar pelos trabalhadores. A mentira gera mais tarde ou mais cedo incompreensão e revolta. Uma empresa não consegue sobreviver na ilusão. Um país é como uma grande empresa. É imperativo que se fale verdade para que as pessoas entendam o que se está a passar e percebam o que é preciso fazer. Precisamos de uma liderança que reponha a verdade e mobilize um rumo certo que é preciso definir.
A receita de Alexandre Soares dos Santos, que já outros ouvi defender, é uma. Em sua opinião os partidos políticos já não resolvem coisa alguma. Está chegado o momento, sob a égide do Presidente da República, de sentar à mesma mesa governo, partidos políticos, empresários e sindicatos e outras entidades representativas das forças vivas da sociedade civil para se chegar a um acordo. Será a solução?

16 comentários:

  1. Não acredito que seja solução para a grave crise que atravessamos uma iniciativa, seja do PR ou de qualquer outra entidade, de "sentar à mesma mesa governo, partidos políticos, empresários e sindicatos e outras entidades representativas das forças vivas da sociedade civil para se chegar a um acordo." Essa "solução" era defendida há anos pelo meu sogro que só tinha a 4.ª classe e pouco sabia de política e que morreu com 94 anos em 2004, mas já nessa altura eu sorria incrédulo com a sugestão. Seria uma iniciativa impossível e, mesmo que possível, inútil, porque não se chegaria a acordo e, mesmo que por absurdo se chegasse, não creio que o acordo resultasse. É com pena que o digo, mas parecem-me muito ingénuos os que, como o meu sogro, o propõem.

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  2. Anónimo00:33

    Sinceramente concordo com o comentador antecedente, Freire de Andrade. Seria impossivel um consenso entre todas essas forças tradicionalmente antagónicas. Teria que haver tradição de consensos e de pôr o país à frente dos interesses que cada um representa, ter a noção de que beneficiando-se o país beneficiariam todos. E não há.

    Uma nota apenas em relação à sociedade civil. Que dimensão tem a sociedade civil em Portugal? Não falo do povo, claro, falo das tais "forças vivas" a que a Margarida aludiu.

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  3. Mário Soares diz, e somos obrigados a concordar, que; o país tem paçado por grandes crises e, em todas elas surgiu alguém que resolveu a situação, por mais aguda que fosse.
    Ao longo da história encontramos inúmeras personalidades que documentam este espírito Soarista; desde Afonso Henriques, passando por Pombal, terminando (?!) em Salazar (vá, vá, não desatem já a atirar-me pedras, pelo menos, releiam primeiro o post anterior do Sr. Prof. Massano). Mas muitos outros homens e mulheres se elevaram em alturas de crise e, demonstraram pela sua acção, que é possível mobilizar vontades e que, ao esforço e o idelísmo conjuntos, não ha crise capaz de resistir.
    Problemas: 1º- que surja essa personagem, esse presidente, capaz pelo seu carácter e determinação, de fazer confluir e tornar unânime as vontades dispersas e divergentes.
    Também ao longo da nossa história, encontramos inúmeros exemplos de que somos um povo atrevido, malandro, madraço e ao mesmo tempo, audacioso, voluntarioso e trabalhador.
    Ora bem, em minha opinião, dado as características da crise que se vive, porque é constituída por inúmeras variantes, o personagem a surgir, a emergir, e a conseguir conduzir esta orquestra onde cada executante toca segundo uma pauta diferente, terá de possuir uma grande "batuta", ou então... a Great pair of Balls of Fire!
    http://www.youtube.com/watch?v=lidFipyLG8k

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  4. Eu... é que já estou a ficar "paçado"...
    ;)))

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  5. Concordo com Alexandre Soares dos Santos, desde que essa mesa de trabalho incorpore também algumas entidades exteriores ao país e com as quais possamos aprender alguma coisa.

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  6. Não concordo nada com essa proposta de “juntar todos à mesma mesa”. É que:
    1. Juntar as pessoas todas e pô-las de acordo é, numa sociedade democrática, uma impossibilidade nos termos. Uma sociedade democrática pressupõe a diversidade de opiniões. Essa diversidade é, em si, uma riqueza. Está para o funcionamento da sociedade como a concorrência para a economia. Unificar para quê? Para perder valor?
    2. Pressupõe, por isso, uma acção “fora do âmbito” da democracia. De certa forma, é uma versão modificada da famosa fórmula da “suspensão da democracia por 6 meses”.
    3. Por outro lado, esta ideia é confortável, na medida em que encerra o seguinte raciocínio: enquanto não se juntarem, porque essa é a ÚNICA forma de resolver isto, eu não tenho que fazer nada, não adianta, não vale a pena, basta queixar-me. Está esconjurada a culpa própria, a responsabilidade. Ou, como o outro (o tal presidente, qual timoneiro!) tem feito muito ultimamente, “eu tenho vindo a avisar!”

    Por outro lado, caro Bartolomeu, acho que está a apresentar uma leitura transviada do que afirmou o Dr. Mário Soares. Se bem me lembro, ele disse (mais ou menos) que o nosso país (as pessoas, os portugueses) já tinha sido capaz de encontrar soluções para crises muito mais complicadas do que esta.
    Não formulou a ideia na forma “sebastiânica” com que o meu caro no-la apresenta.
    E isso faz toda a diferença. Não temos de ficar à espera "do personagem a emergir"!

    Mas concordo completamente com Alexandre Soares dos Santos quando diz que temos de parar de mentir.
    Temos de parar de mentir, em primeiro lugar, a nós próprios, porque é isso que fazemos enquanto nos queixarmos da má sorte de termos nascido neste país, de termos estes banqueiros, estes industriais, estes professores, estes funcionários públicos … Estes políticos! A culpa é sempre dos outros.
    Afinal, eles são só os melhores de nós. E aos políticos até somos nós que os elegemos!

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  7. Caro Freire de Andrade
    Já no tempo do seu Sogro as coisas não andavam bem. Quanto tempo já passou!
    Caro Zuricher
    A sociedade civil, enquanto força viva organizada, faz muita falta. É mais um problema que temos para resolver.
    Caro Fartinho da Silva
    Concordo com a sua observação. Às vezes penso que um "outsourcing" governativo poderia ser uma solução. Porque não?
    Caro SC
    Penso que faria algum sentido que à volta da mesa essas forças se pusessem de acordo quanto às grandes questões nacionais. Noutros países já aconteceu. Estou-me a lembrar da Irlanda e da Holanda e até na vizinha Espanha.
    Com efeito, há matérias que não podem ser uma coisa numa legislatura e na legislatura seguinte coisa completamente diferente. Será que à "volta da mesa" não é desejável que se esclareça o que é que queremos ser e como é que vamos lá chegar?
    Caro Bartolomeu
    É pena não sabermos que D. Sebastião é que procuramos. Se soubéssemos fazíamos um esforço para o descobrir. Mas assim até parece que dá jeito. Continuamos à espera que alguém nos venha salvar e assim vamos alimentando as nossas desgraças...

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  8. Convicto de que em algum tempo, foi estabelecido um acordo tácito, entre Deus e o Homem, esse acordo, só pode ser composto por dois termos.
    1º Ao Homem compete sonhar e projectar.
    2º A Deus compete manobrar os elementos cósmicos, por forma a fazer conjugar os elementos necessários a que o sonho do Homem se cumpra.
    Ou seja, é necessário que o místico e o real se conjuguem, para que possa surjir obra.
    Por esta ordem de ideias e de ideais, sinto necessidade em lhe afirmar que, em primeiro lugar, precisamos de sonhar, de sonhar um sonho comum, um sonho coerente, abrangente e... real, um sonho onde não tenham lugar a fantasia, a demagogia, a trapaça. Um sonho honesto, consciente e concreto. Um sonho que idealize a reconstrução, a consolidação, a estabilidade.
    Um sonho simples, capaz de irmanar e de juntar todos, no mesmo ideal.
    Depois surgirá certamente o D. Sebastião, ou o plebeu Zé-dos-anzóis, que pelo seu carácter e a força aglutinadora que lhe será revelada e entregue, terá como missão coordenar a concretização desse sonho projectado, conduzindo-o até que se torne realidade.

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  9. Caro Bartolomeu
    Excelente reflexão filosófica. A filosofia e a teologia podem ajudar muitíssimo. Estou completamente de acordo que sem sonho não há realização e que sem ambição não há evolução. Mas a verdade é que o nosso sonho colectivo transformou-se num pesadelo porque justamente não fomos capazes de sonhar com inteligência. Assim, é fácil de concluir que vai ser difícil surgir um D. Sebastião de jeito...

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  10. Tem sido a ambição desmedida e desajustada às capacidades e às reais necessidades que têm feito o desmoronar dos sonhos, cara Drª. Margarida.
    Contudo, sonhar, é uma característica humana que se irá manter enquanto o homem povoar a Terra.
    Quais são, em sua opinião, e perdoe-me a ousadia de a questionar directamente, as 3 qualidades ou características fundamentais, que necessáriamente o D. Sebastião messiânico, deverá possuir?
    Se não estiver errado na minha conjectura e a cara Margarida concordar responder, iremos certamente reconhecer as 3 qualidades que apontar, na generalidade dos erráticos seres humanos. Se assim for, concluir-se-à que qualquer um poderá ser um condutor de rebanhos, desde que, essa incumbência, lhe seja superiormente atribuída.
    Daqui, saltaremos fácilmente para outra conclusão; a única entidade que conhecemos, com a autoridade necessária para atribuir a alguem, essa responsabilidade, chama-se vontade comum, vulgo, voto.
    Concorda?

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  11. Caro Bartolomeu
    Um "D. Sebastião" só vai aparecer quando formos capazes de aprender com os erros cometidos e de compreender e perceber os problemas que temos e como os podemos resolver. Esta capacidade trará certamente qualidade ao sentido de voto e exigirá qualidade às propostas políticas.
    Não querendo fugir à questão do Caro Bartolomeu, confesso que tenho dificuldade em indicar três qualidades porque as coisas não são matemáticas. Há sempre uma geometria variável que pode fornecer uma resposta. Mas havendo uma necessidade profundíssima de mudança a confiança surge como uma qualidade que pode fazer a diferença.

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  12. Talvez não tenha muito, ou pouco, a ver com este assunto, e peço-lhe desde já desculpa por continuar a maça-la e aos amigos que aqui vêm, insistindo.
    Mas... a qualidade que refere, por me parecer carecer o aferidor de uma argúcia extra sensorial, para a poder detectar, lembra-me uma reportagem feita num casebre perdido num monte alentejano, habitado por dois idosos que haviam sido burlados por um casal que por ali apareceu e com falas mansas e promessas de uma melhoria das parcas pensões que auferem, os enganaram, convencendo-os a entregarem-lhe todas as economias que possuíam. Lembro-me de ouvir a idosa referir, quando a reporter lhe perguntou se não tinham desconfiado de nada... "não menina, pareciam pessoas de confiança".
    Isto leva-me a reflectir que a confiança aparente, é capaz de enganar uma experiência de vida, com largos anos de existência.
    ;)

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  13. Caro Bartolomeu
    Na confiança como em outras qualidades/características a aparência também ilude. A história que nos conta é disso um bom exemplo.
    Temos muitos exemplos de ”lobos vestidos de cordeiros”. Um caso fora de série é o caso Madoff que enganou, à escala mundial, tudo e todos durante anos a fio, tendo sido autor de uma das maiores fraudes financeiras levadas a cabo por uma só pessoa. Não só enganou entidades oficiais e instituições financeiras, investidores e clientes, como fundações e organizações caritativas. Madoff tinha aliás fama de filantropo. A confiança que todos lhe mereciam foi minuciosa e sofisticadamente construída.
    Mas as histórias de “lobos vestidos de cordeiros” não devem a meu ver desconsiderar a confiança como um valor fundamental para o desenvolvimento das relações que se estabelecem na convivência em sociedade, incluindo a relação entre eleitos e eleitores. A sofisticação dos “lobos que se vestem de cordeiros” mostra-nos, com efeito, como é importante sermos exigentes na escolha daqueles que são merecedores da nossa confiança. A exigência pode realmente ter várias graduações. Informação, conhecimento, educação e formação são requisitos que moldam a exigência e que ajudam, mais ou menos, a descortinar os níveis de confiança.

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  14. Chegámos finalmente ao verdadeiro cerne da questão.
    A outra conclusão seria impossível de chegar, dado a enorme sensibilidade, acuidade e inteligência que a cara Drª. Margarida possui.
    "Informação, conhecimento, educação e formação são requisitos que moldam a exigência e que ajudam, mais ou menos, a descortinar os níveis de confiança."
    Sabemos o que nos falta, resta encontrar a forma de o obter.

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  15. Caro Bartolomeu
    Obrigada pelas suas simpáticas palavras. Conversar com o Caro Bartolomeu é sempre muito estimulante.
    Investir na educação e formação das pessoas e no desenvolvimento humano é absolutamente necessário, como o pão para a boca. A ignorância é o nosso pior inimigo...

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  16. Completamente de acordo, cara Drª. Margarida. Foi essa aliás a receita que empechou o desenvolvimento do nosso país, durante décadas.
    Actualmente, dado as diversas formas de aceder à informação que temos à disposição, cumpre-nos saltar sobre a inércia e dispormo-nos a conhecer.
    Retribuo-lhe os agradecimentos.
    ;)

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